Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Operação turca na Síria é limpeza étnica, diz porta-voz de partido pró-curdos https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/16/operacao-turca-na-siria-e-limpeza-etnica-diz-porta-voz-de-partido-pro-curdos/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/16/operacao-turca-na-siria-e-limpeza-etnica-diz-porta-voz-de-partido-pro-curdos/#respond Wed, 16 Oct 2019 16:03:19 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/curdos-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3417 A operação militar deflagrada pelo Exército da Turquia no norte da Síria há uma semana gera o risco de limpeza étnica. A avaliação é de Eyüp Doru, representante na Europa da legenda pró-curdos HDP (Partido Democrático dos Povos), terceira maior força política da Turquia.

“Entendemos que a Turquia tem ambições expansionistas … Seu objetivo é tomar as zonas controladas pelos curdos na Síria e reassentar ali milhões de árabes que vivem como refugiados na Turquia. Isso é limpeza étnica”, disse Doru por telefone ao blog Mundialíssimo.

Na quarta-feira passada (9), o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deu início à Operação Paz da Primavera em territórios controlados pela minoria étnica curda no norte da Síria.

A justificativa da Turquia é combater o grupo armado YPG (Unidades de Defesa Popular), que vê como uma extensão de organizações separatistas curdas em seu próprio território, como o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). O YPG e o PKK são considerados organizações terroristas pelo governo turco.

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a operação já forçou mais de 160 mil civis a deixar suas casas. Também surgiram relatos de massacres contra civis perpetrados por milícias apoiadas pela Turquia.

A iniciativa foi repudiada por governos estrangeiros, inclusive alguns parceiros na Otan (aliança militar ocidental), que passaram a exigir a suspensão da venda de armas à Turquia. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que inicialmente havia dado aval à ofensiva turca ao ordenar a retirada de tropas americanas da região, passou a defender a aplicação de sanções contra o governo de Erdogan.

Em entrevista publicada pela Folha nesta quarta-feira (16), o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, disse que a operação possibilitará um “retorno em massa” de até 2 milhões de refugiados sírios.

A Turquia abriga atualmente 3,5 milhões de pessoas que fugiram da guerra civil na Síria. Muitos desses refugiados vêm de áreas predominantemente árabes da Síria, e os territórios para onde deverão ser enviados têm maioria curda.

“Esta guerra, feita sob o pretexto de ajudar os refugiados, acaba produzindo ainda mais refugiados”, afirmou Doru. Seu partido HDP também é acusado de colaborar com o PKK, e vários de seus líderes foram presos na Turquia nos últimos anos.

Os curdos são uma minoria étnica com mais de 30 milhões de integrantes, e que vive há séculos no Oriente Médio. Sem um Estado próprio, eles habitam uma partes dos territórios de Irã, Iraque, Síria, Armênia e Turquia, onde têm sido historicamente marginalizados.

Qual é a posição do HDP sobre a operação turca no norte da Síria?

O HDP condena esta operação nos mais fortes termos. Pensamos que se trata de uma guerra contra os curdos. Entendemos que a Turquia tem ambições expansionistas, otomanas.

Não se trata de uma luta contra o terrorismo, mas um esforço para conquistar novos territórios. Seu objetivo é tomar estas zonas controladas pelos curdos na Síria e reassentar ali milhões de árabes que vivem como refugiados na Turquia. Isso é limpeza étnica.

Consideramos que os bombardeios turcos no Curdistão sírio são a crimes contra a humanidade, pois atingem áreas ocupadas por civis e danificam a infraestrutura da região. Assim, a operação ameaça deixar milhões de pessoas sem acesso à eletricidade e à água, além de forçar milhares de pessoas a fugirem de suas casas.

Esta guerra, feita sob o pretexto de ajudar os refugiados, acaba produzindo ainda mais refugiados.

Assim que as forças americanas deixaram o norte da Síria, os curdos firmaram um acordo com o regime de Bashar al-Assad e a Rússia, e as forças pró-regime já estão avançando sobre as áreas curdas. Você acredita que este é o fim da autonomia curda na Síria?

O acordo feito com o Exército sírio é exclusivamente militar, permitindo que o regime se instale dentro das fronteiras reconhecidas internacionalmente. O acordo não significa que o regime sírio vai ocupar a estrutura de governo autônomo da região, isso não faz parte do acordo.

Os curdos deram suas vidas, milhares de combatentes das YPG morreram na luta contra o Daesh [acrônimo em árabe que denomina a facção terrorista Estado Islâmico]. Agora os EUA deixam os curdos sem proteção.

A Turquia está massacrando o povo curdo e as outras minorias étnicas da região. Ali há curdos, árabes, assírios, armênios, que convivem pacificamente. A verdade é que os Estados da região querem eliminar qualquer tipo de convivência democrática na região.

Qual deve ser a atitude da comunidade internacional à Turquia?

Em primeiro lugar, a comunidade internacional deve impedir as vendas de armas a este regime genocida, e o Conselho de Segurança da ONU deve exigir que a Turquia se retire das zonas ocupadas por civis.

Não estamos pedindo apoio para lutar contra a ocupação, só pedimos que a população civil seja protegida. Pedimos que a comunidade internacional declare uma zona de exclusão aérea no norte da Síria para impedir novos bombardeios da Turquia, feitos com aviões fornecidos pela Otan.

Acima de tudo, acreditamos que Erdogan deveria ser julgado por crimes contra a humanidade.

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Caos na Síria e no Iraque aumenta risco de nova ofensiva do Estado Islâmico.

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Caos na Síria e no Iraque aumenta risco de nova ofensiva do Estado Islâmico https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/09/caos-na-siria-e-no-iraque-aumenta-risco-de-nova-ofensiva-do-estado-islamico/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/09/caos-na-siria-e-no-iraque-aumenta-risco-de-nova-ofensiva-do-estado-islamico/#respond Wed, 09 Oct 2019 13:29:05 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/baghdadi-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3403 Engana-se quem pensava que o Estado Islâmico (EI) estava morto.

Após perder o controle sobre vastos territórios na Síria e no Iraque, o grupo vinha esperando a hora certa para iniciar uma contraofensiva. Novos desenvolvimentos na região nas últimas semanas sinalizam que esta hora pode estar chegando.

Na Síria, as tropas curdas que lideraram a batalha contra o EI foram abandonadas pelos Estados Unidos, e se preparam para uma invasão iminente da Turquia. Anunciada no domingo (6), a decisão do presidente Donald Trump representou um giro na estratégia antiterrorismo americana e lançou incertezas sobre o status de milhares de jihadistas presos na região.

Já no Iraque, uma série de protestos contra o premiê Adil Abdul-Mahdi vem testando os limites do frágil equilíbrio de forças que tem impedido o país de mergulhar em uma nova guerra civil –até a última segunda-feira (7), havia mais de cem manifestantes mortos e 6.000 feridos. É neste caldo de insatisfação popular que o EI costuma encontrar solo fértil.

Fundado em 1999, o EI alcançou seu auge entre 2014 e 2018, quando aproveitou o caos deixado pela guerra civil na Síria e pela retirada das tropas americanas no Iraque para proclamar um califado e inspirar atentados ao redor do mundo.

Foi assim que o EI se tornou a mais poderosa e temida organização terrorista que o mundo já viu, mas uma reação coordenada entre diversos países levou a facção a perder muito de seu poder e prestígio nos últimos anos.

“Existem oportunidades para o EI assentar suas raízes onde quer que a autoridade governamental seja fraca ou inexistente”, escreveu Patrick Cockburn, correspondente do jornal britânico The Independent no Iraque, em abril, poucas semanas após os combatentes do EI serem expulsos do vilarejo de Baghuz, seu último enclave na Síria.

Na ocasião, Cockburn alertou: “O EI foi eliminado enquanto entidade territorial, mas isso não significa que [a facção] perdeu as capacidades de orquestrar atividades de guerrilha e atentados terroristas”.

Também em abril, o líder do EI, Abu Bakr Al-Baghdadi, que muitos governos acreditavam estar morto, apareceu em um vídeo reafirmando sua autoridade sobre a facção e prometendo conduzir sua “jihad (guerra santa) até o fim dos tempos”.

De fato, enquanto resistia à ofensiva de seus inimigos, o EI deslocou muitos de seus combatentes e armamentos para células dormentes em regiões isoladas da Síria e do Iraque, preparando-se para uma nova insurgência.

Além disso, o EI segue contando com uma rede global de financiadores, formada por facções aliadas nas Filipinas, no Afeganistão e na Nigéria, entre outros países.

“A insurgência do EI deverá crescer porque as áreas que perdeu no Iraque e na Síria ainda não estão estáveis ou seguras”, diz um relatório do Institute for the Study of War publicado em julho.

O estudo alertava que o objetivo da facção era “alimentar a desconfiança da população em relação ao governo do Iraque”, e que uma eventual retirada americana da Síria “criaria ainda mais espaço para o ressurgimento do EI”.

Embora seja cedo demais para decretar a volta do EI, o caos na Síria e no Iraque produz as condições necessárias para o retorno do grupo. Baghdadi e seus seguidores não deixarão a oportunidade passar batida.

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Estado Islâmico passa últimos dias encurralado na Síria; veja trajetória do grupo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/estado-islamico-passa-ultimos-dias-encurralado-na-siria-veja-trajetoria-do-grupo/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/26/estado-islamico-passa-ultimos-dias-encurralado-na-siria-veja-trajetoria-do-grupo/#respond Tue, 26 Feb 2019 15:44:50 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/baghuz-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2955 O grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que há poucos anos controlava largas porções da Síria e do Iraque reunindo milhares de jihadistas, vive seus últimos dias encurralado no vilarejo sírio de Baghuz.

Nas últimas semanas, milhares de civis e combatentes abandonaram o enclave. Os membros do EI que permanecem no local se preparam para enfrentar uma ofensiva final liderada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), coalizão de milícias curdas e árabes apoiada militarmente pelos Estados Unidos.

A batalha deve pôr fim ao califado proclamado em junho de 2014 pelo líder da facção, Abu Bakr al-Baghdadi –o paradeiro do terrorista iraquiano é desconhecido, e não se sabe se ele está vivo ou morto.

Veja a trajetória do EI:

1999: Fundação e lealdade à Al Qaeda

Em 1999, o extremista iraquiano Abu Musaab al-Zarqawi fundou a milícia Tawhid wa al-Jihad, que mais tarde se transformaria no EI –o grupo é adepto do salafismo, vertente radical do islã sunita. Após a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, a facção declarou lealdade à rede terrorista Al Qaeda e participou de batalhas contra os americanos.

Zarqawi foi morto em uma operação militar americana em 2006, e o grupo mergulhou em crise. Em 2010, Baghdadi assumiu o poder e reorganizou a facção, incorporando soldados iraquianos que haviam servido ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Posteriormente, o EI se desvinculou da Al Qaeda, acusando-a de ser demasiado moderada.

2014: Expansão territorial e reino de terror

A eclosão da guerra civil na Síria em 2011, somada ao crescente ressentimento da minoria sunita no Iraque em relação ao governo de Bagdá, criou um solo fértil para os jihadistas do EI. O grupo se beneficiou de recursos transferidos para rebeldes na Síria pela Arábia Saudita e o Qatar; além disso, a facção se apoderou de armas americanas abandonadas pelo Exército iraquiano após tomar Mossul (segunda maior cidade do Iraque), em junho de 2014.

A partir de então, o EI se expandiu em velocidade surpreendente em porções de deserto entre a Síria e o Iraque, chegando a controlar um território equivalente à área do Estado de São Paulo. Por onde passava, o grupo implementava um regime teocrático, subjugando mulheres e massacrando minorias étnicas e religiosas, além de decapitar jornalistas e destruir o patrimônio cultural da região.

Abu Bakr al-Baghdadi durante discurso em Mossul, em 2014 (Crédito: Reuters)

2015-2017: EI inspira atentados em outros países

No auge de seu califado, o EI atraiu até 40 mil jihadistas de mais de cem países e serviu de referência para grupos extremistas ao redor do mundo, da Nigéria às Filipinas, passando por Egito e Afeganistão.

Além disso, a facção inspirou diversos atentados além das fronteiras de seu califado: o EI reivindicou a autoria dos ataques em Paris em novembro de 2015 (130 mortos), bem como o massacre na boate LGBT Pulse em Orlando em junho de 2016 (49 mortos) e a explosão na saída de um show de Ariana Grande em Manchester em maio de 2017 (22 mortos). A maior parte dos atentados do EI, porém, tinha como alvos muçulmanos em países do Oriente Médio.

2017-2019: O declínio do califado

O rastro de morte deixado pelo EI motivou uma reação ligeira em diferentes frentes. No Iraque, a facção resistia a ofensivas do Exército de Bagdá e dos combatentes peshmergas curdos, sendo expulsa de sua autoproclamada capital, Mossul, em julho de 2017.

Enquanto isso, na Síria, o grupo passou a ser atacado pelas FDS e pelo regime de Bashar al-Assad, perdendo controle da cidade de Raqqa, seu centro de operações no país, em outubro de 2017. Em ambos os países, o EI se tornou alvo de bombardeios de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

A ofensiva por todos os lados enfraqueceu o grupo gradualmente, até que ficasse isolado em Baghuz. A derrota militar do EI acaba com seu sonho de construir um califado, mas não há garantias de que a facção encerrará por completo suas operações.

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Entenda a iminente batalha de Idlib, capítulo final da guerra na Síria https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/09/14/entenda-a-iminente-batalha-de-idlib-capitulo-final-da-guerra-na-siria/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/09/14/entenda-a-iminente-batalha-de-idlib-capitulo-final-da-guerra-na-siria/#respond Fri, 14 Sep 2018 11:00:24 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/idlib-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2578 Milhares de civis e combatentes da oposição síria se preparam para uma provável ofensiva do regime do ditador Bashar al-Assad sobre a província de Idlib, último reduto rebelde no país.

A batalha será decisiva para determinar o desfecho da guerra civil que assola a Síria há mais de sete anos, e pode provocar uma catástrofe humanitária sem precedentes em um conflito que já deixou ao menos meio milhão de mortos.

Os ataques aéreos sobre territórios controlados pelos rebeldes se intensificaram nas últimas semanas, levando aproximadamente 30 mil civis a fugirem para a região de fronteira com a Turquia, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Em breve, pode ter início uma grande ofensiva por terra planejada pelas tropas de Assad junto à Rússia e ao Irã, seus principais aliados externos.

Entenda, abaixo, a batalha de Idlib e sua importância para a região:

1. Batalha pode levar ao ‘pior desastre humanitário’ do século

A ONU alertou que, caso o regime sírio siga adiante com sua ofensiva sobre os rebeldes, Idlib poderá ser o palco do “pior desastre humanitário” do século 21.

“Nós tememos que o pior ainda esteja pela frente”, disse nesta semana Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês). “Eles [tropas do regime sírio] têm capacidade para matar e destruir (…) Existe o risco de que esta seja a pior crise humanitária do século 21.”

Até aqui, Idlib era considerada uma zona de desescalada do conflito, estando sob um cessar-fogo parcial e servindo de porto seguro para rebeldes e civis que fugiram de outras partes do país nos últimos anos. Mas os demais enclaves insurgentes foram gradualmente retomados pelo regime de Assad, e os combatentes da oposição não têm mais para onde fugir. Com isso, Idlib deve se tornar o palco da última batalha entre os rebeldes e o Exército sírio.

Na semana passada, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, se reuniu com os líderes da Rússia, Vladimir Putin, e do Irã, Hassan Rouhani, em busca de um cessar-fogo na Síria, mas o esforço diplomático caiu por terra. A Turquia quer conter a ofensiva do regime sírio pois, além de apoiar grupos rebeldes em Idlib, o país seria o principal destino dos milhares de refugiados que fugiriam dali. A Turquia já hospeda 3,5 milhões de sírios –a maior população de refugiados do mundo— e diz que não tem condições de abrigar mais pessoas.

Alguns observadores na região, porém, dizem que o início da ofensiva ainda pode demorar.

2. Mais de um terço dos civis em Idlib fugiu de outras partes do país

Há cerca de 3 milhões de civis nas áreas controladas pelos rebeldes em Idlib e, segundo a organização humanitária Reach, cerca de 36% das pessoas em Idlib são deslocadas internas –ou seja, fugiram de ofensivas do regime sírio sobre outras partes do país nos últimos anos, principalmente nas províncias de Aleppo, Hama, Homs e Damasco.

A grande presença de deslocados internos sobrecarrega a já limitada infraestrutura da região. Além disso, muitos dos deslocados internos vivem em campos superlotados, onde é escasso o acesso a comida, eletricidade e atendimento médico. A ofensiva sobre a região deve agravar ainda mais sua situação.

A retomada de Idlib é estratégica para o regime sírio pois deve colocar o último prego no caixão da rebelião que teve início em março de 2011, na esteira dos protestos da Primavera Árabe. A batalha também é importante do ponto de vista econômico: a província tem cerca de 6 mil quilômetros quadrados –quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo— e é cortada pela rodovia M4, uma das mais importantes do país. Retomar o controle total da estrada contribuiria para reintegrar o país territorialmente.

Criança recebendo oxigênio através de respiradores após suposto ataque com gás venenoso na cidade de Douma, perto de Damasco, na Síria
Um ataque químico em Douma, em abril, deixou dezenas de mortos (Crédito: Syrian Civil Defense White Helmets/Associated Press)

3. Civis estão vulneráveis a ataques com armas químicas

Assim como em outros momentos na guerra civil, os civis em Idlib estão vulneráveis a ataques químicos, proibidos pela lei internacional.

Os Estados Unidos e aliados europeus alertaram o regime de Assad contra o uso de armas químicas, ameaçando retaliar com ataques contra instalações militares –tal como fizeram em abril, após um ataque químico em Douma, na periferia de Damasco.

Enquanto isso, a Rússia acusa rebeldes sírios de armarem ataques químicos falsos para responsabilizar o regime de Assad e provocar uma reação internacional. A Rússia nega que o regime sírio tenha armas químicas e culpa os rebeldes por ataques registrados anteriormente.

4. Muitos dos rebeldes em Idlib são jihadistas

Estima-se que haja aproximadamente 50 mil combatentes rebeldes em Idlib. Muitos fazem parte da Frente de Libertação Nacional, que é apoiada pela Turquia e congrega vários grupos armados, incluindo islamitas. Outro grupo influente na região é o Hay’at Tahrir al-Sham, uma ex-filial da rede terrorista Al Qaeda que possui cerca de 10 mil homens.

A presença de jihadistas em Idlib complica as perspectivas para um eventual acordo de paz. Não tendo para onde fugir, muitos rebeldes se comprometeram a lutar até a morte. De resto, há os combatentes que foram radicalizados no exterior e viajaram à Síria para lutar, e que ao retornarem para seus países podem vir a realizar atentados.

5. Retomada de Idlib não resolve violência na Síria

A eventual retomada de Idlib pelas forças do regime sírio deve confirmar o fracasso dos rebeldes em derrubar Assad. Há tempos, os grupos que lutam contra o regime sírio foram capturados por interesses externos e já não representam as aspirações democráticas da Primavera Árabe.

Mesmo com a derrota dos rebeldes, a violência na Síria tende a continuar. Há o risco de ataques esporádicos de combatentes ressentidos que venham a se reintegrar na sociedade síria, além da repressão historicamente promovida pelo regime.

Ademais, novas frentes de batalha se abriram no decorrer do conflito, o que deve prolongar a insegurança. Por exemplo, Israel vem intervindo na Síria para tentar conter a crescente influência de seu rival Irã no país.

Outro potencial ponto de atrito diz respeito à minoria curda, cujos combatentes conquistaram largas porções de território no nordeste do país após assumirem a linha de frente da luta conta o Estado Islâmico. Historicamente marginalizados pelos governos da região, os curdos precisarão negociar sua autonomia com regime de Assad e também se proteger de ofensivas da Turquia –nos últimos anos, o governo de Erdogan interveio no norte da Síria para conter o avanço dos curdos, aliados de insurgentes curdos no sul da Turquia.

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5 livros para entender a guerra na Síria https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/5-livros-para-entender-a-guerra-na-siria/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/09/5-livros-para-entender-a-guerra-na-siria/#respond Thu, 09 Aug 2018 10:00:23 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/siria-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2490 Iniciada em 2011, a guerra civil na Síria é a principal tragédia humanitária deste início de século e o capítulo mais sangrento da Primavera Árabe. O conflito já deixou mais de 500 mil mortos e forçou 11 milhões de pessoas, metade da população do país, a sair de suas casas. Além disso, o enfrentamento entre grupos rebeldes e as tropas do ditador Bashar al-Assad agravou-se graças à intervenção de potências regionais e globais, transformando o país em uma arena de disputa geopolítica.

O “Mundialíssimo” recomenda cinco livros para entender o conflito. Confira:

1. A BATALHA PELA SÍRIA

Escrito em 2016 por Christopher Phillips, o livro apresenta uma análise detalhada das dinâmicas internacionais que ajudaram a moldar o conflito na Síria. Segundo o autor, para entender o conflito é necessário levar em conta os interesses dos principais atores externos envolvidos: Rússia, Estados Unidos, Arábia Saudita, Turquia, Irã e Qatar. A intervenção desses atores foi fundamental para a escalada e a continuação da guerra, mas o grau de destruição da Síria dá a entender que todos os lados saíram perdendo. “The Battle For Syria: International Rivalry In The New Middle East” está disponível em inglês.

2. SÍRIA: A QUEDA DA CASA DOS ASSAD

Escrito em 2012, ainda no início da guerra na Síria, o livro de David Lesch ajuda a entender as circunstâncias domésticas que levaram à eclosão do conflito. O autor viajou à Síria diversas vezes e teve contatos regulares com Bashar al-Assad nos anos que antecederam a guerra, resultando em um relato detalhado das dinâmicas internas do regime sírio no decorrer da crise no país. Além disso, o livro descreve como Assad, que chegou ao poder no ano 2000 com a promessa de modernizar a Síria, se transformou em um líder autoritário que massacra seu povo. “Syria: The Fall of the House of Assad” está disponível em inglês.

3. LUA DE MEL EM KOBANE

O livro, escrito em 2017 por Patrícia Campos Mello, repórter especial da Folha, relata a vida de um casal de sírios que se conheceu pela internet e instalou-se em uma cidade sitiada pelos extremistas do Estado Islâmico. O pano de fundo da história de amor de Barzan e Raushan é a violência da guerra civil na Síria, bem como a revolução levada a cabo pela minoria curda no norte do país. Resistindo ao avanço do EI, os curdos conquistaram autonomia em seus territórios e buscam cultivar um modo de vida democrático e igualitário. “Lua de Mel em Kobane” está disponível em português.

4. A ORIGEM DO ESTADO ISLÂMICO

Neste livro de 2014, o jornalista britânico Patrick Cockburn, veterano em coberturas no Oriente Médio, oferece um relato aprofundado do surpreendente avanço dos extremistas do EI sobre porções da Síria e do Iraque. O grupo terrorista, nascido como uma dissidência radical da Al Qaeda no Iraque, chegou a controlar 50% do território da Síria em seu apogeu, alterando os rumos da guerra civil. Cockburn não poupa críticas à Arábia Saudita, que vê como principal fiadora do wahabismo, uma versão radical do islã que dá sustentação à visão de mundo propagada pelo EI. “A Origem Do Estado Islâmico: O Fracasso Da ‘Guerra Ao Terror’ E A Ascensão Jihadista” está disponível em português.

5. A BATALHA PELO LAR

O livro, publicado em 2016, fornece um relato da guerra na Síria a partir do relato de Marwa al-Sabouni, uma arquiteta da cidade de Homs. Segundo a autora, o conflito é resultado de uma crise de identidade refletida no ambiente das cidades do país, em que erros urbanísticos alimentaram o sectarismo e o ódio. Sabouni também tenta imaginar como essas cidades, devastadas pela guerra, podem ser reconstruídas no futuro de modo a promover um senso de pertencimento entre os diferentes setores da população. “The Battle for Home: The Vision of a Young Architect in Syria” está disponível em inglês.

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Qual é a dimensão real da tal crise de refugiados na Europa? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/qual-e-a-dimensao-real-da-tal-crise-de-refugiados-na-europa/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/qual-e-a-dimensao-real-da-tal-crise-de-refugiados-na-europa/#respond Thu, 28 Jun 2018 10:01:32 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Refugiado-e1530177652891-320x213.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2360 A julgar pelas manchetes dos jornais, a União Europeia está à beira de um apocalipse migratório. Desde 2015, o ano que registrou o ápice da chegada de refugiados ao bloco econômico, os governos tratam dessa questão como uma de suas prioridades absolutas. A presença de tantos solicitantes de asilo alimentou, ademais, o crescimento de partidos ultranacionalistas de direita — como a Liga, que hoje governa na Itália.

Existe sim uma crise no continente, com um enorme impacto entre os cidadãos. Mas afinal qual é o seu tamanho real? Para contribuir ao debate, este Mundialíssimo blog fuçou alguns bancos de dados oficiais sobre a migração. Vocês podem, aliás, fazer a mesma coisa quando estiverem em uma discussão de bar sobre se os refugiados sírios de fato ameaçam a identidade europeia: busquem informações no Eurostat, no arquivos da agência da ONU e no escritório europeu para o asilo. São fontes mais confiáveis do que seu grupo de Whatsapp.

1. O NÚMERO DE PEDIDOS DE ASILO ESTÁ CAINDO
Um relatório recente do EASO (Escritório Europeu de Apoio ao Asilo) mostra que o número de pedidos de asilo na União Europeia caiu 44% em 2017, em comparação a 2016. A queda parece ser uma tendência desde o pico em 2015, e o valor de 2017 é bastante semelhante ao de 2014. Ou seja: ainda há uma crise, sim, mas pode estar arrefecendo. Este Mundialíssimo blog recolheu os dados disponíveis no estudo do EASO e plotou o gráfico abaixo, para ajudar na visualização da crise:

2. A EUROPA NÃO É A REGIÃO MAIS AFETADA PELA CRISE
Não parece, pela quantidade de notícias que vêm dali, mas a União Europeia não é a região mais afetada no mundo pela chegada de migrantes. Tampouco é o continente com menos recursos para lidar com o problema. Os dados do Eurostat e da agência da ONU para refugiados mostram que o país mais afetado é a Turquia — se contarmos apenas os sírios, há 3,5 milhões de pessoas refugiadas ali, em um país de 80 milhões. São quase 1 milhão no Líbano, onde vivem 6 milhões de libaneses. Para comparação: há 1 milhão de sírios na União Europeia, que congrega cerca de 500 milhões de cidadãos.

3. A MAIOR PARTE DOS SÍRIOS ESTÁ DESLOCADA NO PRÓPRIO PAÍS
Dos 12 milhões de sírios que tiveram de deixar suas casas na guerra civil, metade está dentro do próprio país. Ou seja: não afetam nem Europa, nem Oriente Médio. São pessoas que ainda vivem cercadas pelo conflito e sem nenhuma perspectiva de voltar aos seus lares.

4. OS REFUGIADOS DEIXAM SEU PAÍS PARA SOBREVIVER
Existe um argumento recorrente entre movimentos nacionalistas na Europa. Simpatizantes de partidos como a Alternativa para a Alemanha e a Liga dizem que os refugiados na verdade deixam seus países em busca de uma vida melhor, em termos econômicos. Não é bem verdade. Segundo o EASO, a maior parte dos pedidos de asilo na União Europeia em 2017 veio da Síria (15%), um país em guerra civil desde 2011 — meio milhão de pessoas já morreu. Iraque e Afeganistão representam 7% cada um. As outras principais origens são Nigéria, Paquistão e Eritreia.

Casa destruída em Homs, na Síria, em foto de 2013. Crédito Yazen Homsy/Reuters
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5 perguntas sobre o ataque químico na Síria https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/04/18/5-perguntas-sobre-o-suposto-ataque-quimico-na-siria/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/04/18/5-perguntas-sobre-o-suposto-ataque-quimico-na-siria/#respond Wed, 18 Apr 2018 11:26:02 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/Siria-e1524050493120-320x213.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2038 Com as acusações de outro ataque químico na Síria, culminando nos recentes bombardeios liderados pelos EUA, vocês Mundialíssimos leitores talvez evoquem uma pergunta legítima: o regime sírio ainda tem um arsenal químico? Afinal, alguns de nós se lembram que a Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas) recebeu o Nobel da Paz de 2013 devido a seu trabalho de desarmamento químico na Síria.

O debate em torno desse tema é fundamental para os próximos episódios da guerra civil síria, iniciada em 2011, e também influencia as relações entre potências como EUA, Rússia, Irã, França e Reino Unido. Mas o que de fato sabemos sobreo caso? Vejam abaixo cinco pontos:

Douma, na Síria. Crédito Bassam Khabieh/Reuters

DE QUE ATAQUE QUÍMICO ESTAMOS FALANDO?
O ataque em questão — “suposto” porque alguns atores políticos disputam sua veracidade — foi registrado em 7 de abril na cidade síria de Douma, um bastião rebelde. A Organização Mundial da Saúde afirmou que cerca de 500 pessoas foram tratadas por “sinais e sintomas condizentes com a exposição a produtos químicos tóxicos”. Ao menos 43 pessoas morreram devido a essa exposição, segundo a organização. EUA e aliados culpam o regime sírio de Bashar al-Assad.

MAS A SÍRIA AINDA TEM ARMAS QUÍMICAS?
O jornal britânico Guardian fez essa mesma pergunta nesta quarta-feira (18). Após um ataque químico em 2013, a Síria concordou em eliminar seu arsenal. Havia ameaças de um ataque americano, nunca realizado. Uma comissão conjunta entre ONU e Opaq supervisionou a destruição de um estoque de 1.300 mil toneladas. Em 2016, foi declarada a eliminação completa do arsenal. Mas havia já naquela época a suspeita de que 10% dos estoques estivessem escondidos.

QUEM DISCORDA DE QUE A SÍRIA É A CULPADA?
A Rússia tem insistido em que o ataque químico de Douma foi forjado. É a versão na boca de seus porta-vozes e na imprensa controlada por Moscou. Circulam nas redes sociais imagens sugerindo que os vídeos do ataque foram encenados — algo descartado, no entanto, por quem está no terreno na Síria, entre eles, jornalistas e grupos humanitários. A embaixadora do Reino Unido nas Nações Unidas, Karen Pierce, afirmou que as acusações russas são uma “mentira grotesca”.

HÁ REALMENTE ESPAÇO PARA A DÚVIDA?
Depende de a quem vocês perguntarem. Há algum consenso entre potências como EUA e França de que Assad é culpado. Mas diversas vozes alertam alguma cautela. Entre elas, a do jornalista brasileiro Guga Chacra, que escreveu uma coluna ao jornal O Globo sobre como uma ação química de Assad “não tem lógica”. “Para quê, aos 45 do segundo tempo, ele ordenaria um ataque químico cujo único resultado seria provocar os EUA, correndo o risco de ser bombardeado?”

MAS E QUANTO ÀS PROVAS? EXISTEM?
Os EUA e a França dizem ter provas, mas ainda não foram apresentadas evidências concretas relacionando o regime sírio ao ataque. Inspetores da Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas) tentam agora entrar na região de Douma para recolher informações. A imprensa estatal síria diz que eles já chegaram, mas os EUA negam. Por enquanto, a maior parte das informações é repassada por atores locais.

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7 perguntas sobre o ataque americano à Síria https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/04/07/7-perguntas-sobre-o-ataque-americano-a-siria/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/04/07/7-perguntas-sobre-o-ataque-americano-a-siria/#respond Fri, 07 Apr 2017 19:51:06 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/Destroyer-e1491594325126-180x82.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1476 Os Estados Unidos bombardearam a Síria nesta sexta-feira (7) pela primeira vez desde o início da guerra civil, em março de 2011. A decisão, tomada pelo presidente Donald Trump, é um sério desenvolvimento desse conflito. Líderes internacionais observam, agora, quais serão os próximos passos de uma administração que ainda não conhecem bem –e que já lhes surpreendeu.

Vocês não precisam se acanhar se estiverem confusos. Não é um cenário simples. Por isso mesmo este Mundialíssimo blog responde aqui a sete perguntas sobre o ataque e suas consequências. Para quem quiser saber ainda mais — há informações no site Vox.com e na rede britânica BBC.

*

O QUE ACONTECEU EXATAMENTE? ME DÊ OS DETALHES.
Os EUA  dispararam 59 mísseis Tomahawk a partir dos destróieres USS Porter e USS Ross, no mar Mediterrâneo. O bombardeio, às 4h40 locais (22h40 em Brasília)  atingiu a base aérea de Shayrat, na cidade de Homs. Aeronaves e estoques foram destruídos. A agência estatal síria Sana informou que nove civis morreram, incluindo quatro crianças — as cifras ainda não são confiáveis.

MAS POR QUÊ?
O bombardeio foi ordenado pelo presidente americano, Donald Trump, em resposta a um suposto ataque químico do regime sírio à cidade de Khan Sheikhun na terça-feira (4) — segundo o Ministério da Saúde turco, a arma utilizada foi o gás sarin. Ao menos 80 pessoas morreram. Os EUA afirmaram, dessa maneira, que sua resposta foi “proporcional” ao crime cometido pela Síria.

OUVI DIZER QUE É O COMEÇO DA 3ª GUERRA MUNDIAL… É MESMO?
Não. Os Estados Unidos indicam, por enquanto, que o bombardeio foi uma resposta pontual a uma crise específica. Não parece haver interesse em lançar uma campanha militar para derrubar Bashar al-Assad, que governa a Síria desde 2000. O regime sírio tampouco está interessado em agravar essa crise, já que mais ataques significariam a sua ruína, em meio à fragilidade do Estado.

MAS ENTÃO QUAL É A GRAVIDADE DE TUDO ISSO?
Um dos problemas é que a Rússia é a principal aliada do regime sírio. Sua única base naval no Mediterrâneo está na cidade de Tartus. O bombardeio americano esbarra, assim, nos interesses de Moscou, com que antagoniza. Por isso foi tão importante que os EUA tenham notificado a Rússia com horas de antecedência. Teria sido catastrófico destruir aviões russos ali.

PARECE GRAVE. COMO A RÚSSIA REAGIU?
Não muito bem. O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o ataque americano foi uma “agressão contra um Estado soberano em violação das normas da lei internacional”. Já o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, disse que o bombardeio foi justificado com um “pretexto inventado”, segundo a agência de notícias estatal Sputnik. Haverá bastante ruído nos próximos dias.

E O RESTO DO MUNDO? ESTÁ DE ACORDO?
Aliados dos EUA demonstraram seu apoio durante a sexta-feira. A França e a Alemanha, por exemplo, responsabilizaram o regime sírio pela crise. Israel, que tem fronteira com a Síria, disse que essa é uma mensagem ao Irã e à Coreia do Norte — não cruzem mais as linhas vermelhas.

O QUE OS EUA FIZERAM É PERMITIDO?
É uma pergunta complicada. Os EUA questionam a legitimidade do regime sírio — Bashar al-Assad está no poder desde 2000, substituindo seu próprio pai. A Síria, ademais, teria cometido um crime de guerra, o que pode ser utilizado como legitimação ao ataque americano. Mas a Síria é um Estado soberano, e esse debate será bastante polêmico nas Nações Unidas.

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