Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Dois anos após genocídio, refugiados rohingyas temem retorno a Mianmar https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/dois-anos-apos-genocidio-refugiados-rohingyas-temem-retorno-a-mianmar/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/dois-anos-apos-genocidio-refugiados-rohingyas-temem-retorno-a-mianmar/#respond Mon, 26 Aug 2019 12:10:20 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/rohingya-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3325 Os refugiados da minoria étnica rohingya que vivem em Bangladesh têm resistido aos esforços do governo do país para que retornem a Mianmar, temendo a continuidade da violência das Forças Armadas que os levou a fugir de suas casas dois anos atrás.

Em agosto de 2017, militares birmaneses iniciaram uma campanha de ataques aos rohingyas no Estado de Rakhine, no oeste do país. Em meio à onda de massacres e estupros, mais de 10 mil pessoas foram mortas e dezenas de vilarejos foram demolidos.

A violência, que foi classificada de genocídio pela ONU (Organização das Nações Unidas), forçou mais de 700 mil pessoas a fugir para Bangladesh.

Reclamando da superlotação de campos de refugiados improvisados, as autoridades de Bangladesh deram início na semana passada a um programa de repatriação voluntária de rohingyas. O governo de Mianmar havia aceitado receber de volta mais de 3.000 pessoas.

Até agora, porém, nenhum dos refugiados aceitou voltar para seu país de origem, de acordo com a agência de refugiados da ONU. Uma primeira tentativa de repatriação, em novembro, também havia fracassado.

“Me perguntaram se eu queria voltar para Mianmar, mas eu disse que não”, afirmou o refugiado Noor Hossain à emissora catariana Al Jazeera.

“Me perguntaram o porquê, e eu lhes contei que casas foram queimadas, nossos familiares foram estuprados e mortos. É por isso que nós sofríamos tanto e viemos para cá. Como podemos voltar sem saber se estaremos seguros?”

DISCRIMINAÇÃO ROTINEIRA

Muçulmanos em um país de maioria budista, os rohingyas sofrem discriminação rotineira em Mianmar. Integrantes da minoria étnica sofriam com a violência das Forças Armadas, conhecidas como Tatmadaw, muito antes da ofensiva iniciada em 2017.

A lei de cidadania do país reconhece 135 etnias, mas exclui os rohingyas, embora vivam no Sudeste Asiático há gerações. Tratados como imigrantes clandestinos de origem bengali, eles não têm acesso a saúde, educação, mobilidade e outros direitos básicos.

As autoridades de Mianmar rejeitam as acusações de violação dos direitos humanos, e dizem que as ações do Exército se limitam ao combate a grupos armados insurgentes em Rakhine e outras partes do país.

O drama dos rohingyas fez crescer a pressão internacional contra a líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi. Ela, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1991 por sua luta por democracia no país, tem sido criticada por estimular o nacionalismo budista enquanto se cala diante da violência do Exército contra a população.

“Quando é que os governos estrangeiros, que dizem se importar com os direitos humanos, … irão tomar ações contra os perpetradores de um genocídio dos dias modernos em Mianmar?”, escreveu Mehdi Hassan, colunista do site The Intercept, em texto intitulado “Chegou a hora de indiciar Aung San Suu Kyi por genocídio contra os rohingyas em Mianmar”.

“A recusa em impor sanções contra Suu Kyi … não é só um insulto contra os milhares de refugiados rohingyas, em Bangladesh e outros lugares, que esperam algum tipo de responsabilização. Isso põe em perigo as outras minorias de Mianmar, como os cristãos kachin no norte, que também têm sido alvo da violência e do terror da Tatmadaw nos últimos anos.”

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Violência em protestos xenófobos evoca passado nazista na Alemanha https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/31/violencia-em-protestos-xenofobos-evoca-passado-nazista-na-alemanha/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/31/violencia-em-protestos-xenofobos-evoca-passado-nazista-na-alemanha/#respond Fri, 31 Aug 2018 10:00:28 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/chemnitz-320x213.jpeg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2542 Alemães fazendo saudação nazista em público. Grupos de extrema direita perseguindo imigrantes nas ruas. Milhares de manifestantes pedindo a expulsão de estrangeiros.

Cenas como essas, que ecoam o período do nazismo, foram registradas na Alemanha no início desta semana. A violência em Chemnitz, cidade localizada no Estado da Saxônia, no leste do país, fez os alemães voltarem a discutir a ascensão de movimentos de extrema direita.

A tensão em Chemnitz teve início no domingo (26), após um alemão de 35 anos ser morto a facadas. Os principais suspeitos do crime são um iraquiano e um sírio, que foram detidos pela polícia.

A notícia do assassinato levou grupos de extrema direita a convocarem um protesto anti-imigrantes no mesmo dia. A manifestação, que atraiu algumas centenas de participantes, se repetiu na segunda-feira (27), reunindo cerca de 6.000 pessoas e provocando confrontos entre neonazistas e militantes de esquerda que participavam de uma manifestação contrária.

O incidente gerou reações das principais autoridades alemãs, além de reacender o debate sobre imigração e xenofobia no país. Entenda, abaixo, o que a violência em Chemnitz representa para a Alemanha:

Multidão participa de protesto da extrema direita em Chemnitz; em um dos cartazes se lê "refugiados não são bem-vindos".Cerca de 6.000 pessoas foram ao protesto da extrema direita na segunda (27) (Crédito: Jens Meyer/Associated Press)

A violência nos protestos deixou feridos

Dezenas de pessoas ficaram feridas, algumas gravemente, em confrontos entre militantes da extrema direita e participantes de uma manifestação contrária. Além disso, segundo o jornal britânico “The Guardian”, a perseguição contra imigrantes ocorrida durante os tumultos deixou um sírio, um búlgaro e um afegão feridos.

A violência nas ruas refletiu o tom das manifestações da extrema direita, em que militantes gritaram palavras de ordem nacionalistas e xenófobas, como “Chemnitz é nossa, fora estrangeiros” e “para cada alemão morto, um estrangeiro morto”. Ao menos dez pessoas estão sendo investigadas por fazerem a saudação nazista, que é proibida na Alemanha.

Há suspeitas de que a polícia colaborou com grupos de extrema direita

As forças de segurança foram duramente criticadas por permitir que a situação em Chemnitz fugisse do controle. Ademais, o vazamento de um relatório sobre o esfaqueamento de domingo para militantes xenófobos levantou suspeitas de que tenha havido colaboração entre agentes da polícia e grupos da extrema direita.

O primeiro-ministro da Saxônia, Michael Kretschmer, acusou a extrema direita de tirar proveito do assassinato de domingo e pediu que os habitantes de Chemnitz “se posicionem juntos dos nossos concidadãos estrangeiros”. A chanceler alemã, Angela Merkel, repudiou a violência xenófoba e declarou que “o que vimos é algo que não tem lugar em uma democracia constitucional”.

Fake news impulsionaram atos xenófobos

As manifestações da extrema direita foram impulsionadas por notícias falsas, incluindo as alegações de que a vítima do esfaqueamento de domingo teria sido atacada ao tentar proteger uma mulher, e de que um outro homem havia sido morto por estrangeiros. A polícia desmentiu essas histórias.

Os principais responsáveis pela disseminação das fake news são organizações de extrema direita, incluindo o grupo que convocou as manifestações em Chemnitz.

A ultradireita não está só nas ruas, mas também no Parlamento

Manifestações da extrema direita não são novidade na Alemanha. Em 2015, protestos convocados pelo grupo xenófobo Pegida reuniram dezenas de milhares de pessoas contra a entrada de refugiados no país. A novidade, agora, é que a extrema direita também está no Parlamento, após o partido AfD (alternativa para a Alemanha, na sigla em alemão) conquistar a terceira maior bancada no Bundestag nas eleições do ano passado.

A representação da extrema direita no Parlamento, fato inédito na Alemanha desde a queda do nazismo, oferece um canal institucional para ideias xenófobas. De fato, alguns líderes da AfD declararam apoio aos manifestantes de Chemnitz. Um dos parlamentares da sigla, Markus Frohnmaier, disse que “se o Estado não protege mais seus cidadãos, então as pessoas devem tomar as ruas e proteger a si mesmas. É simples assim!”.

A xenofobia na Alemanha tem resultados alarmantes

A violência xenófoba na Alemanha não está limitada aos incidentes em Chemnitz. Em 2017, houve mais de mil ataques contra abrigos para refugiados no país. Grande parte dos incidentes foi registrada em Estados do leste da Alemanha, membros do bloco comunista durante a Guerra Fria, mas também houve episódios xenófobos em outras partes do país.

O aumento dos ataques xenófobos na Alemanha é uma reação à chegada de imigrantes e refugiados, que alcançou seu pico em 2015 com a política de portas abertas do governo Merkel –mais de 1 milhão de estrangeiros entraram no país naquele ano. Desde então, o governo tem restringido a imigração, em parte devido à pressão da extrema direita.

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Qual é a dimensão real da tal crise de refugiados na Europa? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/qual-e-a-dimensao-real-da-tal-crise-de-refugiados-na-europa/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/qual-e-a-dimensao-real-da-tal-crise-de-refugiados-na-europa/#respond Thu, 28 Jun 2018 10:01:32 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Refugiado-e1530177652891-320x213.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2360 A julgar pelas manchetes dos jornais, a União Europeia está à beira de um apocalipse migratório. Desde 2015, o ano que registrou o ápice da chegada de refugiados ao bloco econômico, os governos tratam dessa questão como uma de suas prioridades absolutas. A presença de tantos solicitantes de asilo alimentou, ademais, o crescimento de partidos ultranacionalistas de direita — como a Liga, que hoje governa na Itália.

Existe sim uma crise no continente, com um enorme impacto entre os cidadãos. Mas afinal qual é o seu tamanho real? Para contribuir ao debate, este Mundialíssimo blog fuçou alguns bancos de dados oficiais sobre a migração. Vocês podem, aliás, fazer a mesma coisa quando estiverem em uma discussão de bar sobre se os refugiados sírios de fato ameaçam a identidade europeia: busquem informações no Eurostat, no arquivos da agência da ONU e no escritório europeu para o asilo. São fontes mais confiáveis do que seu grupo de Whatsapp.

1. O NÚMERO DE PEDIDOS DE ASILO ESTÁ CAINDO
Um relatório recente do EASO (Escritório Europeu de Apoio ao Asilo) mostra que o número de pedidos de asilo na União Europeia caiu 44% em 2017, em comparação a 2016. A queda parece ser uma tendência desde o pico em 2015, e o valor de 2017 é bastante semelhante ao de 2014. Ou seja: ainda há uma crise, sim, mas pode estar arrefecendo. Este Mundialíssimo blog recolheu os dados disponíveis no estudo do EASO e plotou o gráfico abaixo, para ajudar na visualização da crise:

2. A EUROPA NÃO É A REGIÃO MAIS AFETADA PELA CRISE
Não parece, pela quantidade de notícias que vêm dali, mas a União Europeia não é a região mais afetada no mundo pela chegada de migrantes. Tampouco é o continente com menos recursos para lidar com o problema. Os dados do Eurostat e da agência da ONU para refugiados mostram que o país mais afetado é a Turquia — se contarmos apenas os sírios, há 3,5 milhões de pessoas refugiadas ali, em um país de 80 milhões. São quase 1 milhão no Líbano, onde vivem 6 milhões de libaneses. Para comparação: há 1 milhão de sírios na União Europeia, que congrega cerca de 500 milhões de cidadãos.

3. A MAIOR PARTE DOS SÍRIOS ESTÁ DESLOCADA NO PRÓPRIO PAÍS
Dos 12 milhões de sírios que tiveram de deixar suas casas na guerra civil, metade está dentro do próprio país. Ou seja: não afetam nem Europa, nem Oriente Médio. São pessoas que ainda vivem cercadas pelo conflito e sem nenhuma perspectiva de voltar aos seus lares.

4. OS REFUGIADOS DEIXAM SEU PAÍS PARA SOBREVIVER
Existe um argumento recorrente entre movimentos nacionalistas na Europa. Simpatizantes de partidos como a Alternativa para a Alemanha e a Liga dizem que os refugiados na verdade deixam seus países em busca de uma vida melhor, em termos econômicos. Não é bem verdade. Segundo o EASO, a maior parte dos pedidos de asilo na União Europeia em 2017 veio da Síria (15%), um país em guerra civil desde 2011 — meio milhão de pessoas já morreu. Iraque e Afeganistão representam 7% cada um. As outras principais origens são Nigéria, Paquistão e Eritreia.

Casa destruída em Homs, na Síria, em foto de 2013. Crédito Yazen Homsy/Reuters
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5 belas respostas às restrições migratórias nos EUA https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/02/01/5-belas-respostas-as-restricoes-migratorias-nos-eua/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/02/01/5-belas-respostas-as-restricoes-migratorias-nos-eua/#respond Wed, 01 Feb 2017 11:09:06 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/advogados2-e1485947061625-180x71.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1413 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, restringiu na sexta-feira (27) a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana, incluindo Síria, Iraque e Irã. A medida foi amplamente repudiada por potências internacionais, como a Alemanha e a França. Houve protestos no Reino Unido e uma petição assinada por milhões para que Trump não visite Londres neste ano.

Essa crise, que afeta também o Brasil, não deve ser resolvida no curto prazo. Mas há, entre todas as consequências nefastas, um lado positivo — um sem-fim de manifestações de solidariedade circulando nos últimos dias. Este Mundialíssimo blog escolheu cinco delas, abaixo.

STARBUCKS CONTRATA REFUGIADOS
A rede de café Starbucks anunciou que vai contratar 10 mil refugiados durante os próximos cinco anos em resposta às medidas de Trump. Howard Schultz, CEO da empresa, enviou uma carta aos funcionários no domingo (29) anunciando os esforços de empregar “aqueles que serviram os EUA como intérpretes” em conflitos como o do Iraque. Schultz havia apoiado a candidatura da democrata Hillary Clinton, derrotada nas eleições de novembro.

PREMIÊ CANADENSE DÁ AS BOAS-VINDAS A REFUGIADOS
Justin Trudeau, premiê-celebridade do Canadá, escreveu no Twitter que seu país receberá refugiados a despeito de quem sejam. “Àqueles fugindo de perseguição, terror ou guerra, os canadenses irão dar as boas-vindas a vocês, independentemente de sua fé. A diversidade é a nossa força. #BemVindosAoCanadá”, disse.

ARTISTAS CRITICAM A MEDIDA
Diversos atores e músicos se posicionaram contra a restrição à entrada de muçulmanos nos EUA. Há uma lista com dezenas de mensagens publicadas nas redes sociais. O ator Ewan McGregor, de “Trainspotting” e “Moulin Rouge”, escreveu no Twitter sobre “todas as famílias sírias que conheci no Iraque no ano passado nos desesperados campos de refugiados”. Jennifer Lopez, Julianne Moore, J.K. Rowling e Kim Kardashian também se manifestaram.

ADVOGADOS SE VOLUNTARIAM NOS AEROPORTOS
Centenas de advogados deixaram seus afazeres e se voluntariaram em aeroportos americanos para ajudar refugiados e suas famílias. Há boas reportagens sobre essas histórias, por exemplo, nos jornais “New York Times” e “Washington Post”. As fotografias mostram os profissionais sentados no chão, carregando computadores e improvisando cartazes.

Advogados em um aeroporto americano assessorando migrantes. Crédito Credit Victor J. Blue/"New York Times".
Advogados em um aeroporto americano assessorando migrantes. Crédito Credit Victor J. Blue/”New York Times”.

AIRBNB OFERECE HOSPEDAGEM GRATUITA
A empresa de acomodação AirBnb está disponibilizando alojamento a refugiados e quem mais não puder entrar nos EUA, segundo um anúncio do co-fundador Brian Chesky na rede social Twitter. “Nós devemos apoiar aqueles que foram afetados”, Chesky escreveu, pedindo que solicitações urgentes sejam encaminhadas diretamente a ele. Em uma carta a empregados, o co-fundador disse: “Acredito que vocês deveriam poder viajar e viver em qualquer comunidade no mundo”.

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Notícias falsas afetam a tragédia de Aleppo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/12/20/noticias-falsas-afetam-a-tragedia-de-aleppo/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/12/20/noticias-falsas-afetam-a-tragedia-de-aleppo/#respond Tue, 20 Dec 2016 13:53:00 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2016/12/yarmouk-e1482242038692-180x78.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1389 O termo “fake news”, “notícias falsas” em inglês, é o novo clichê da internet nestes últimos meses. Desde a eleição do republicano Donald Trump nos EUA, em novembro passado, a expressão tem tomado a rede — e tem sido utilizada com diferentes interesses. A vitória de Trump e o “brexit”, a decisão britânica de deixar a União Europeia, parecem ter sido influenciadas por uma série de inverdades ou, no mínimo, pela desinformação dos eleitores. A questão é tão grave que o Facebook tem criado novas ferramentas para monitorar seu conteúdo.

O fenômeno afeta, também, a cobertura da tragédia em Aleppo, na Síria. A cidade, que está cercada pelo Exército e foi bombardeada pela Rússia, tornou-se assunto de diversos relatos inverídicos. Um dos mais graves foi o uso de uma imagem do campo de refugiados palestinos de Yarmouk como se fosse uma fotografia de Aleppo (é a imagem que ilustra este relato, no topo).

O jornal britânico “Independent” relatou, ainda, que cinco pessoas foram detidas no Egito após tentar simular um vídeo sobre Aleppo. Eles admitiram planejar distribuir as imagens como se fossem da cidade síria. Outro caso foi o vídeo de uma garota correndo entre destroços — era o trecho de um clipe musical.

A estratégia, que serve para reforçar o argumento de que há uma crise humanitária ali, causa evidente dano. É saudável questionar as notícias e confirmá-las antes de apertar o botão de “compartilhar” no Facebook. Mas a desconfiança em relação a Aleppo, por exemplo, tornou-se cínica e serviu a outros objetivos: contrariar o fato de que essa cidade síria, outrora a mais importante do país, foi destruída por meses de ataques do regime e da Rússia.

A mídia iraniana PressTV, por exemplo, publicou recentemente uma análise sobre como “a mente ocidental está desorientada com as notícias falsas”. O texto afirma haver um “império anglo-americano-sionista” em busca de dividir o Oriente Médio para que Israel continue a expandir-se na região. O Irã, não por coincidência, apoia o regime sírio e os bombardeios russos.

O jornal britânico “Telegraph” publicou uma interessante reflexão sobre o assunto, citando o caso de Bana Alabed — uma menina de 7 anos de idade que vinha relatando o cerco em Aleppo. Ela foi recentemente retirada da cidade. Nas palavras do diário:

A primeira resposta on-line a ela não foi de empatia, mas de total cinismo: “Uau! Estou chorando mas consigo tuitar… Propaganda.” Enquanto bombas estavam sendo lançadas em Aleppo, uma guerra de palavras estava sendo travada virtualmente fazendo com que o ‘fake news’ dos EUA parecesse brincadeira de criança. Moradores da cidade, alguns deles ativistas anti-governo, publicaram vídeos do que diziam temer serem suas últimas mensagens ao mundo antes de um massacre em potencial. Comentadores imediatamente disseram que os vídeos eram propaganda coordenada.

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Quem não venceu o prêmio Nobel da Paz? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/10/07/quem-nao-venceu-o-premio-nobel-da-paz/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/10/07/quem-nao-venceu-o-premio-nobel-da-paz/#respond Fri, 07 Oct 2016 15:00:47 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/nobel-e1475852099530-180x97.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1294 Juan Manuel Santos, presidente da Colômbia, venceu nesta sexta-feira (7) o prêmio Nobel da Paz por seus esforços de negociação com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O anúncio, feito em Oslo, surpreendeu. Afinal, seu acordo de paz foi rejeitado no domingo (2) em um referendo.

Mas, deixando de lado as comemorações em Bogotá e as análises políticas sobre os efeitos benéficos do prêmio, os mais negativos entre nós perguntam agora: e quem foi que NÃO ganhou o Nobel? A vitória de Santos significou, afinal, a derrota de 375 outros candidatos. O Mundialíssimo blog premia, abaixo, quatro deles com um troféu imaginário e sem valor real.

1. CAPACETES BRANCOS SÍRIOS
As redes sociais estavam tomadas nos últimos dias por simpatizantes da Defesa Civil Síria, mais conhecidos como Capacetes Brancos. Esses voluntários receberam, ademais, o apoio de personalidades e de grandes veículos de imprensa. E é fácil de entender as razões — esses 3.000 ativistas resgatam vítimas dos bombardeios na Síria, em um conflito que já deixou quase 500 mil mortos desde março de 2011. Vejam abaixo um trailer do documentário exibido pelo Netflix sobre eles.

2. ILHAS GREGAS
Segundo a revista “Time”, um grupo de moradores de ilhas gregas foi nomeado como representante de todos os cidadãos desse país que ajudaram os refugiados. A ilha de Lesbos, por exemplo, recebeu aproximadamente 800 mil migrantes fugindo de conflitos e da pobreza extrema. Essa é uma das crises mais importantes da década, e tem tido um impacto considerável na União Europeia — opondo líderes contra e a favor da abertura do bloco econômico. Um dos representantes nomeados é Elena Kamvisi, 86, que foi retratada alimentando um bebê sírio.

3. ACORDO NUCLEAR IRANIANO
Outro dos grandes temas da década, o acordo nuclear iraniano era uma das apostas do jornal britânico “Telegraph”. As negociações afastaram o Irã de uma bomba nuclear — algo que, de toda maneira, o governo negava buscar — e possibilitaram o fim gradual das sanções que vinham debilitando a economia local desde 2006. O prêmio poderia ter sido entregue a John Kerry, chefe da diplomacia americana, e a Javad Zarif, sua contraparte iraniana. Federica Mogherini, chefa da política externa europeia, também poderia ter sido incluída na festa.

4. PAPA FRANCISCO
Seria a primeira vez do Vaticano, mas o papa Francisco era cotado para o prêmio desta sexta-feira. O jornal britânico “Guardian” incluiu ele em sua lista. O pontífice tem encantado o público com diversos de seus gestos a respeito de refugiados, pobreza e mudança climática. Ele pediu que políticos recebessem bem os migrantes e ofereceu santuário a 12 refugiados no Vaticano. Ele também descreveu a destruição do planeta como um pecado. Ademais, o papa pediu que as nações mais ricas pagassem sua “grave dívida social” com os pobres.

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5 mapas sobre a crise dos refugiados na Europa https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/09/15/5-mapas-sobre-a-crise-dos-refugiados/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/09/15/5-mapas-sobre-a-crise-dos-refugiados/#respond Thu, 15 Sep 2016 19:45:33 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2016/09/mapa0-180x59.png http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1270 Líderes da União Europeia vão se reunir, na sexta-feira (16), para uma cúpula em Bratislava. Uma das questões mais urgentes para o debate será a crise dos refugiados. A Alemanha quer abrir as portas, a Hungria quer fechá-las, e no meio-tempo centenas de milhares de pessoas vagam pelo continente fugindo da guerra e da pobreza de seus países-natais.

Mais de um milhão de refugiados chegou ao continente entre janeiro de 2015 e março de 2015. Quase metade deles (47%) eram sírios — vindos de um país devastado pela guerra civil desde 2011. Mas onde estão esses refugiados, e como alguém pode ajudá-los?

O Mundialíssimo blog reúne aqui cinco mapas que ajudam a explicar essa crise. No primeiro deles, é possível consultar informações para doar ou se voluntariar. O segundo é uma representação detalhada de como um refugiado vive no norte da França. O terceiro oferece uma perspectiva histórica. O quarto é exemplo de como essas mesmas ferramentas podem servir para prejudicar os refugiados, nas mãos de grupos xenófobos. Por fim, o último mapa traz uma reflexão sobre a própria tarefa de mapear esses campos.

 

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1. MAPA DE VOLUNTÁRIOS E REFUGIADOS
Este projeto mapeia campos de refugiados na Europa e grupos de voluntários. É possível obter informações sobre a condição dos campos e que doações específicas são necessárias. Há detalhes de contato, páginas de Facebook e endereços aos interessados. Os campos são classificados por cor, a partir da urgência de ajuda.

Mapa com informações sobre refugiados e voluntários. Crédito Reprodução
Mapa com informações sobre refugiados e voluntários. Crédito Reprodução

 

2. MAPFUGEES
Mapas detalhados de dois campos no norte da França, Calais e Dunquerque. O projeto é desenvolvido com a ajuda dos próprios refugiados, e contêm informações práticas, como a localização de banheiros. O mapa de Calais, por exemplo, registra com precisão as lojas informais e as mesquitas operando dentro do campo.

Mapa detalhado do campo de Calais, no norte da França. Crédito Reprodução
Mapa detalhado do campo de Calais, no norte da França. Crédito Reprodução

 

3. O PROJETO DOS REFUGIADOS
Projeto que mostra a progressão da crise de refugiados desde 1975. É possível consultar o número de pessoas que saiu de um país específico, e também ver para onde migraram. O mapa também destaca notícias relevantes que agravaram a situação humanitária, incrementando o fluxo de refugiados no período.

Projeto registra fluxo de refugiados desde 1975. Crédito Reprodução
Projeto registra fluxo de refugiados desde 1975. Crédito Reprodução

 

4. SEM REFUGIADOS NO MEU QUINTAL
O nome deste mapa, “Kein Asylantenheim in meiner Nachbarschaft”, pode ser traduzido como “sem centros de refugiados no meu quintal”. Há informações sobre a localização de refugiados ao redor da Alemanha. Segundo a rede alemã DW, o projeto tem vínculos com grupos neo-nazistas. O Mundialíssimo prefere não disponibilizar o link.

Mapa ligado a grupo neo-nazista, com localização de refugiados. Crédito Reprodução
Mapa ligado a grupo neo-nazista, com localização de refugiados. Crédito Reprodução

 

5. CARTOGRAFIA DO CONTROLE
O arquiteto Shahed Saleem mapeou o campo de refugiados de Calais, no norte da França, em um projeto artístico exibido no Projeto Museu de Migração. O primeiro objetivo de Saleem era registrar a variedade humana e as micro-relações estabelecidas no local. Mas, com a convicção de que o próprio ato de mapear está relacionado ao projeto colonialista, ele decidiu mapear o campo a partir de suas percepções subjetivas. Clique aqui e aqui se estiver interessado nesse debate.

Projeto do arquiteto Shahed Saleem. Crédito Divulgação
Projeto do arquiteto Shahed Saleem. Crédito Reprodução
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