Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A ‘Nova Guerra Fria’ no Oriente Médio está prestes a esquentar? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/#respond Mon, 23 Sep 2019 10:48:17 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/saudi-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3376 A “Nova Guerra Fria” no Oriente Médio está prestes a esquentar?

Para Gregory Gause, professor de relações internacionais na Universidade Texas A&M que cunhou o termo para descrever a rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã, as duas potências regionais não têm dado sinais de que buscarão uma confrontação militar direta.

Gause enxerga nas dinâmicas de poder que definem o Oriente Médico contemporâneo elementos do conflito geopolítico que dividiu a região, e o mundo, entre polos antagônicos na segunda metade do século 20.

Assim como Estados Unidos e União Soviética evitavam uma escalada militar que aniquilaria as duas partes, as autoridades de Riad e Teerã não buscam uma guerra direta: em vez disso, competem por hegemonia apoiando facções rivais em países mais fracos da região, como a Síria, o Líbano e o Iêmen.

O que poderia deflagrar um conflito de grande escala seria um ataque dos Estados Unidos contra o Irã, acrescenta o professor, para quem a política americana de “pressão máxima” contra o regime iraniano tem sido um “fracasso”.

“Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la”, diz Gause por e-mail ao blog Mundialíssimo.

Na conversa, o professor discute as consequências dos ataques de drones contra refinarias de petróleo em Abqaiq e Khuais, na Arábia Saudita, no último dia 14. A Arábia Saudita e os Estados Unidos acusam o Irã de ter orquestrado os ataques; o regime iraniano nega responsabilidade, e diz que eventuais retaliações em seu território conduziriam à “guerra total”.

Leia, abaixo, a entrevista:

Mundialíssimo – Os ataques na Arábia Saudita geraram temores de uma escalada regional contra o Irã. Quais são os riscos de que a “Nova Guerra Fria” do Oriente Médio poderá evoluir para um confronto direto entre a Arábia Saudita e o Irã?

Gregory Gause – Se confronto direto significar um conflito entre Forças Armadas, eu acredito que não. Os iranianos evitam este tipo de ataque direto, conforme indicam suas negativas reiteradas sobre o ataque em Abqaiq. O Exército saudita não tem obtido sucesso no Iêmen. Eu duvido que eles adotariam uma postura ofensiva contra o Irã.

O confronto militar direto mais provável seria entre os Estados Unidos e o Irã, mas eu acredito que a resposta americana se dará nos bastidores.

O governo Trump tem demonstrado apoio contínuo ao regime saudita. O que explica a relação especial entre Washington e Riad? Quais são os possíveis resultados da estratégia de “pressão máxima” da Casa Branca em relação ao Irã?

As relações próximas entre o governo Trump e o saudita não são uma novidade. A maioria dos presidentes americanos teve estas relações, mesmo com altos e baixos. Talvez não tenham sido tão descarados quanto Trump, mas seu estilo é diferente dos governos passados em todos os aspectos. A oposição do Congresso também não é algo novo, mas é mais intensa que no passado, em parte como resposta ao assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi.

A política de “pressão máxima” é o que levou ao ataque de Abqaiq. É realmente um fracasso, não levou ao colapso do regime nem à sua rendição na mesa de negociação. Mas o governo Trump não parece ter uma política alternativa em vista. Sua resposta ao ataque em Abqaiq foi ordenar ainda mais sanções, o que torna outro ataque do Irã mais provável.

A saída dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 levou o regime iraniano a recomeçar seu programa nuclear. O que a comunidade internacional pode fazer para impedir o Irã de obter armas nucleares? Há espaço para a diplomacia?

Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la. Havia sinais de que Trump estava aberto a conversar, mas o ataque em Abqaiq fez a iniciativa recuar, se é que era de fato uma possibilidade. Os iranianos demonstraram que negociarão sobre este assunto, mas terão cuidado, tendo em vista a saída americana do acordo nuclear em 2018.

O ataque em Abqaiq foi o ataque mais grave contra a infraestrutura petrolífera desde a Guerra do Golfo de 1990-91. O fato de que os preços não foram tão afetados se deu por causa do atual quadro de excesso de oferta. Mas se o Irã perceber que o ataque teve sucesso, poderá ser atraído a buscar ataques similares. Isso traria bastante instabilidade para o mercado de petróleo mundial e para a região do golfo Pérsico.

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Israel e Hizbullah evitam nova guerra, ao menos por enquanto https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/israel-e-hizbullah-evitam-nova-guerra-ao-menos-por-enquanto/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/israel-e-hizbullah-evitam-nova-guerra-ao-menos-por-enquanto/#respond Mon, 02 Sep 2019 15:10:58 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/israel-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3336 O fim de semana foi de tensão na fronteira entre Israel e Líbano, com a troca de foguetes entre as Forças de Defesa Israelenses e a milícia xiita Hizbullah.

No domingo (1º), o Hizbullah disparou mísseis antitanque contra um veículo militar de Israel, que respondeu lançando dezenas de foguetes contra alvos da milícia no sul do Líbano. Embora não tenham deixado vítimas, as hostilidades causaram pânico dos dois lados da fronteira e geraram o temor de uma escalada militar no Oriente Médio.

O episódio de violência ocorreu uma semana depois de dois drones israeleneses caírem sobre o centro de mídia do Hizbullah na capital libanesa, Beirute, de acordo com as autoridades do país árabe. O presidente Michel Aoun classificou o incidente de “declaração de guerra”, e o líder do Hizbullah, Hassan Nasrallah, disse que Israel “pagaria o preço” pela agressão.

Já o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, declarou estar “preparado para qualquer cenário”, e afirmou que o Exército “decidirá como agir em seguida dependendo de como as coisas se desenrolarem”.

O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) advertiu que as hostilidades “podem levar a um novo conflito” e pediu que as partes envolvidas tenham “calma”. Escaramuças entre os militares israelenses e os combatentes do Hizbullah são comuns, mas os eventos recentes representam a escalada mais grave dos últimos anos.

A fronteira, que é separada por uma zona tampão administrada pela ONU, amanheceu mais silenciosa nesta segunda-feira (2), afastando as perspectivas de uma nova guerra –ao menos por enquanto.

A última vez em que os dois lados se enfrentaram para valer foi entre julho e agosto de 2006, após o Hizbullah sequestrar dois soldados do país vizinho. Na ocasião, Israel invadiu o sul do Líbano, enquanto o Hizbullah disparou mísseis através da fronteira. O conflito terminou após 34 dias com quase 1.200 mortos do lado libanês e mais de 160 mortos em Israel.

Fundado em 1985, em meio à guerra civil no Líbano, o Hizbullah diz atuar em nome dos seguidores do ramo xiita do islã, que formam um dos diversos grupos religiosos país. A sociedade libanesa também é formada por muçulmanos sunitas, cristãos maronitas e drusos, bem como numerosas minorias de refugiados palestinos, sírios e armênios.

O Hizbullah, de orientação islamita, é uma das principais forças políticas no Líbano –seu nome significa “Partido de Deus”. Seu braço armado é independente do Exército libanês e forma um dos grupos armados mais poderosos da região.

Responsável por diversos atentados ao redor do mundo entre as décadas de 1980 e 1990, o Hizbullah é considerado um grupo terrorista por Israel (seu inimigo declarado) e pelos Estados Unidos. O Brasil, que possui uma expressiva comunidade libanesa, não o classifica como tal, mas o governo de Jair Bolsonaro anunciou recentemente que pretende seguir o tratamento dispensado à milícia por seus aliados em Jerusalém e Washington.

A QUESTÃO IRANIANA

Os recentes confrontos entre o Hizbullah e o Exército israelense se inserem em um contexto de crescente rivalidade no Oriente Médio entre o regime iraniano e os países aliados do Ocidente, especialmente Israel e Arábia Saudita.

O Hizbullah é financiado e treinado pelo Irã. Nos últimos anos, a milícia libanesa participou da guerra civil na vizinha Síria ao lado de forças iranianas para ajudar o regime de Bashar al-Assad a derrotar grupos armados da oposição. Assim, o Hizbullah adquiriu novos equipamentos e experiência de batalha.

Israel vê no retorno dos combatentes do Hizbullah ao Líbano e na presença redobrada de agentes iranianos na Síria uma ameaça existencial. Tendo isso em vista, o governo Netanyahu tem agido para deter a expansão da influência militar iraniana na região.

No ano passado, o premiê israelense ajudou a convencer o presidente Donald Trump a retirar os Estados Unidos do acordo nuclear iraniano firmado em 2015, resultando em rigorosas sanções econômicas contra o país persa. Ademais, Israel tem atacado alvos ligados ao regime de Teerã na Síria e no Iraque, além dos bombardeios contra o Hizbullah no Líbano.

Por outro lado, a estratégia israelense de enfrentamento com o Hizbullah também encontra explicações no campo doméstico. Netanyahu parece apostar em um acirramento da disputa com seus inimigos externos para colher dividendos eleitorais no pleito de 17 de setembro. O primeiro-ministro israelense saiu vitorioso das eleições parlamentares de abril, mas seu fracasso em formar uma coalizão o forçou a convocar os eleitores novamente às urnas.

“Se houver algum tipo de reação maior por parte dos iranianos, eu entendo por que Netanyahu veria como isso seria benéfico para ele”, disse Trita Parsi, do think tank americano Quincy Institute for Responsible Statetcraft, à emissora catariana Al Jazeera. “O público israelense provavelmente se mobilizaria em torno da bandeira e seria difícil trocar a liderança no processo … Pode ser exatamente isso o que Netanyahu está buscando”.

As nuvens de guerra parecem ter se dissipado após a mais recente troca de foguetes, mas as raízes políticas da instabilidade na região se mantêm. Episódios como o deste final de semana revelam os limites do frágil equilíbrio de forças que tem protegido o Oriente Médio de uma conflagração de grande escala.

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Há 40 anos: retorno de líder xiita ao Irã selou destino da Revolução Islâmica https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/01/ha-40-anos-retorno-de-lider-xiita-ao-ira-selou-destino-da-revolucao-islamica/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/01/ha-40-anos-retorno-de-lider-xiita-ao-ira-selou-destino-da-revolucao-islamica/#respond Fri, 01 Feb 2019 13:52:19 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/khomeini-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2912 Há exatos quarenta anos, o aiatolá Ruhollah Khomeini retornava do exílio ao Irã, consagrando-se líder da Revolução Islâmica que mudaria o destino do Oriente Médio.

Na manhã de 1º de fevereiro de 1979, Khomeini pousou no aeroporto Mehrabad, em Teerã, e foi recepcionado por uma multidão de apoiadores. Crítico do regime do xá Reza Pahlevi, o líder xiita, 78, havia passado 15 anos exilado na Turquia, no Iraque e na França.

No dia seguinte, a Folha destacou o acontecimento na capa do jornal. “Quando Khomeini, envolto em suas vestimentas escuras, firme porém visivelmente emocionado, apareceu na porta do avião, a multidão que cercava o aeroporto irrompeu em uma aclamação”, diz a reportagem na página 14 daquela edição.

Capa da Folha de 2 de fevereiro de 1979 destacou retorno de Khomeini ao Irã (Crédito: reprodução/Acervo Folha)

“Após deixar o aeroporto, Khomeini seguiu em carro aberto na direção do cemitério de Behechte Zahra, onde está sepultada a maior parte das vítimas da violência dos últimos meses no Irã … A recepção ao aiatolá contou com cerca de cinco milhões de pessoas e contribuiu para uma avaliação do apoio que Khomeini receberá no Irã”, complementa o texto.

Poucas semanas antes do retorno do aiatolá, Pahlevi havia deixado o país. O monarca, no poder havia quase quatro décadas, estava doente e enfrentava greves e protestos organizados por seguidores de Khomeini, bem como grupos de esquerda e movimentos estudantis.

Após pôr fim a mais de 2.500 anos de monarquia na Pérsia, Khomeini assumiu o cargo de líder supremo da república islâmica –no qual se manteve até a sua morte, em 3 de junho de 1989.

IMPORTÂNCIA HISTÓRICA

A Revolução Islâmica liderada por Khomeini mudaria os rumos do Oriente Médio. O Irã, até então um país subserviente aos Estados Unidos, se tornaria a principal potência revisionista na região, apoiando insurgentes xiitas em outros lugares.

Em reação ao governo de Khomeini, os Estados Unidos apoiaram a invasão do Irã em setembro de 1980 pelo então ditador do Iraque, Saddam Hussein. A guerra entre Irã e Iraque se arrastou até 1988, deixando aproximadamente 1 milhão de mortos.

Atualmente, o Irã é liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, sucessor de Khomeini. O regime iraniano é acusado de reprimir dissidentes, além de subjugar mulheres e minorias religiosas. O país é alvo de sanções econômicas dos Estados Unidos, reimpostas após o governo de Donald Trump romper com o acordo de 2015 para pôr limites ao programa nuclear da república islâmica.

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O que a Europa pode fazer para salvar o acordo nuclear iraniano? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/09/o-que-a-europa-pode-fazer-para-salvar-o-acordo-nuclear-iraniano/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/09/o-que-a-europa-pode-fazer-para-salvar-o-acordo-nuclear-iraniano/#respond Wed, 09 May 2018 13:43:00 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/Trump-e1525872953715-320x213.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2145 Uma metáfora geográfica para resumir o noticiário internacional desta semana: a placa tectônica americana se afastou um pouco mais da europeia na terça-feira (8) com a decisão do presidente Donald Trump de abandonar o acordo nuclear com o Irã. O anúncio feito em Washington, afinal, desafiou os extensos esforços diplomáticos da União Europeia e colocou em risco o que era até então um projeto conjunto. O pacto havia sido negociado em 2015 por Barack Obama.

Os três principais países europeus –França, Alemanha e Reino Unido– responderam ao discurso de Trump e insistiram em que vão manter, sozinhos, o trato com o Irã. É sua saída para evitar que o governo de Teerã não deixe o pacto e volte a investir em seu programa nuclear.

Mas como isso pode ser feito? Este Mundialíssimo tenta explicar:

1. QUAL É A TESE DO ACORDO NUCLEAR?
O pacto firmado em 2015 sob a liderança de Obama –e ainda em vigor– exige que o Irã interrompa seu programa nuclear. Em contrapartida, o acordo oferece a suspensão de uma série de sanções econômicas impostas ao país. A tese é de que, sem aquelas sanções, firmas internacionais podem fazer negócio em Teerã e, assim, beneficiar a população local. Nesse cálculo, o governo iraniano poderia ter mais interesse em sua abertura econômica do que em seu programa nuclear.

2. SE É TÃO BOM, POR QUE HÁ RESISTÊNCIA?
Porque o acordo não parece favorável a todos os atores envolvidos. Há desconfiança de que o Irã tenha a intenção de produzir um arsenal nuclear, algo visto por Israel como uma ameaça existencial — não à toa o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, fez campanha pela saída americana do acordo. Em seu discurso de terça-feira, Trump descreveu o regime iraniano como um parceiro pouco confiável para o pacto.

3. OS LÍDERES EUROPEUS CONCORDAM COM ISSO?
Não. A avaliação feita pelos líderes da União Europeia é de que o acordo nuclear vinha funcionando. Por isso houve tamanho esforço, com visitas oficiais feitas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e pelo chanceler britânico, Boris Johnson. Criticando a posição americana, eles descreveram o pacto como a única maneira de evitar que o Irã retomasse as suas tão temidas ambições nucleares.

4. COMO A EUROPA PODE REAGIR AO ANÚNCIO?
Em uma nota conjunta, os governos de França, Alemanha e Reino Unido disseram que vão garantir que o pacto seja preservado. Para que isso seja cumprido, esses países precisam garantir que a tese do acordo — descrita no primeiro item deste post — se mantenha. Ou seja, que o governo iraniano continue a avaliar que há vantagens em suspender seu programa nuclear, aceitando em troca benefícios econômicos.

5. MAS QUAL É O PROBLEMA NESSA ESTRATÉGIA?
Voltando ao que dissemos no primeiro item, o problema é que os benefícios econômicos dependem da suspensão das sanções. Mesmo que os países europeus não introduzam suas próprias sanções ao Irã, ainda assim os bloqueios americanos podem ter um efeito decisivo para minar a estratégia. A ameaça são as chamadas “sanções secundárias”, que afetam não só um país mas também quem negocie com ele. Se uma empresa alemã exportar ao Irã, por exemplo, pode ser punida pelos EUA. O próprio embaixador americano em Berlim disse isso na terça — em um tuíte recebido com alguma surpresa, aliás.

6. O QUE EXATAMENTE PODE SER DETERMINANTE?
Um dos indícios do futuro do acordo será a atuação das empresas europeias que tinham começado a fazer negócio no Irã ou planejavam fazê-lo em breve. Essas firmas precisam decidir como vão atuar em um ambiente agora potencialmente hostil aos seus interesses — um fator-chave nesse sentido será a extensão das tais sanções secundárias. A pergunta que os empresários provavelmente estão se fazendo neste momento é: “Se mantiver meus negócios no Irã, vou ser multado?”

7. COMO A EUROPA PODE RESPONDER NESTE PONTO?
Maja Kocijančič, uma porta-voz da UE para os assuntos externos, disse na terça-feira que o bloco está “trabalhando em planos para proteger os interesses das empresas europeias”. Isso já foi feito no passado. Em 1996, o Congresso americano aprovou sanções à Líbia e ao Irã e, em resposta, os europeus legislaram para que a medida não tivesse efeito legal para as firmas europeias. Segundo o jornal britânico Guardian, a UE também ameaçou naquele ano levar o caso à Organização Mundial do Comércio. Como resultado, os EUA parcialmente recuaram.

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Netanyahu discursa sobre o Irã, e a internet responde com memes https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/01/netanyahu-discursa-sobre-o-ira-e-internet-responde-com-memes/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/05/01/netanyahu-discursa-sobre-o-ira-e-internet-responde-com-memes/#respond Tue, 01 May 2018 10:27:33 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/05/Netanyahu-e1525159092721-320x213.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2117 O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, voltou a discursar contra o Irã. Em uma fala em inglês, na segunda-feira (30), ele acusou o país inimigo de ter trapaceado em seu acordo nuclear com os EUA. Exibiu um slide com a frase “Iran lied” (o Irã mentiu). A internet revidou com humor: editou aquela fotografia para que dissesse “I lie” (eu minto).

O popular satirista Karl Sharro, que costuma ridicularizar a política médio-oriental, descreveu a apresentação de Netanyahu como “o pior número de Eurovision”. O Eurovision é um concurso musical do qual Israel também participa, e conhecido pelos atos algo cafonas.

Esse humor lida, é claro, com um assunto bastante sério. Potências como os Estados Unidos e a França travaram um acordo com o Irã oferecendo retirar sanções econômicas em troca do fim de seu programa nuclear. A ideia incomoda Israel, que enxerga no Irã uma ameaça a sua sobrevivência. Vêm daí, pois, os esforços de Netanyahu de azedar o trato. É significativo, ademais, que ele tenha discursado em inglês: seu alvo era o presidente americano, Donald Trump, que ameaça rever o acordo firmado por seu antecessor, Barack Obama.

Apesar da seriedade da questão, Netanyahu pode ter inaugurado uma fábrica de memes com sua frase “Iran lied”. Os memes são essas imagens cômicas circuladas pela internet, modificadas pelos usuários, como explica o blog da Folha #Hashtag. O “Iran lied” do premiê israelense se transformou inúmeras vezes durante o dia e, aparentemente, já virou camiseta (a prenda vale cerca de R$ 70).

Comparando o discurso desta semana com a já clássica apresentação de Netanyahu na ONU em 2012, esta usuária do Twitter apontou a evolução dos gráficos israelenses. O premiê foi ridicularizado pelo diagrama com o desenho de uma bomba há seis anos. “A evolução da propaganda de Netanyahu sobre o programa nuclear iraniano”, Partisangirl escreveu em inglês. “Está ficando mais sofisticado.”

No tuíte abaixo, o especialista no Oriente Médio Aron Lund compila outros discursos de Netanyahu apoiado em recursos audiovisuais e sugere que o premiê é uma variação sombria do “prop comedian” — um tipo de comediante que usa adereços para as suas esquetes.

Outro usuário, identificado como “um homem sob o sol”, fez troça da qualidade gráfica da apresentação. Israel é um dos polos mundiais da tecnologia, o que não passou batido pela internet. O texto diz: “Uau. Netanyahu realmente não poupou em sua apresentação de hoje”.

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Por que iranianas estão desvestindo o véu islâmico? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/01/31/por-que-iranianas-estao-desvestindo-o-veu-islamico/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/01/31/por-que-iranianas-estao-desvestindo-o-veu-islamico/#respond Wed, 31 Jan 2018 10:21:28 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/Ira-e1517393996847-180x58.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1874 Um pedaço de pano dependurado em um graveto pode não significar muito para um leitor brasileiro deste Mundialíssimo blog. Mas, no Irã, o gesto tem beirado uma pequena revolução. Algumas mulheres subiram nas últimas semanas nas calçadas do país, retiraram o véu islâmico e protestaram contra a imposição conservadora de cobrir o cabelo. Ao menos duas foram detidas.

As “meninas da rua da Revolução” –#GirlsOfRevolutionSt, no hashtag do Twitter– fazem parte de um movimento mais amplo de contestação da política iraniana e podem sinalizar mudanças para o próximos anos. Mas o que exatamente está acontecendo? Algumas perguntas e respostas abaixo:

O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
Ao menos seis mulheres iranianas protestaram na segunda-feira contra a imposição do véu. Elas subiram na calçada e colocaram seus lenços em um graveto. O gesto não é nada trivial no Irã, onde tais desafios à autoridade costumam ser punidos. Mas, segundo o jornal americano “New York Times”, “ninguém se manifestou” quando uma daquelas mulheres retirou o véu na capital, Teerã. “Na verdade, ela foi aplaudida por muitas pessoas. Taxistas e uma mulher mais velha tiraram uma foto dela. A polícia, que mantém uma base na praça, ou não a viu ou decidiu não interferir.”

POR QUE PROTESTAR AGORA?
Essas pequenas e isoladas manifestações seguem o exemplo de Vida Movahed, 31, que retirou seu véu no dia 27 na rua Enghelab –ou rua da Revolução, daí o nome do movimento. Movahed, que participava de uma onda de protestos políticos contra o regime iraniano, foi detida por mais de um mês e hoje é defendida pela renomada advogada Nasrin Sotoudeh. Sotoudeh anunciou a soltura dela, mas seu paradeiro segue desconhecido. Outra mulher foi detida nesta semana devido ao véu.

O QUE TUDO ISSO SIGNIFICA?
A onda de protestos de dezembro, com centenas de detenções, deixou evidente a insatisfação popular contra o governo do país. As manifestações começaram em um reduto conservador, inicialmente motivadas pela crise econômica — o desemprego entre jovens ultrapassa os 40% em algumas regiões do país, segundo estimativas não oficiais. Conversei recentemente sobre isso com o pesquisador americano-iraniano Esfandyar Batmanghelidj. Nesse contexto, os protestos contra o véu são mais uma rachadura, e mais uma pressão ao governo do presidente Hassan Rouhani.

AS MULHERES VÃO ABANDONAR O VÉU?
É pouco provável. Mesmo se fosse opcional, o véu ainda assim seria vestido por uma porção considerável da população. A prenda está enraizada na cultura local e em uma tradição islâmica mais ampla como símbolo de piedade e modéstia. O que parece importante nestes últimos meses é o relaxamento das leis — as autoridades anunciaram recentemente, por exemplo, que mulheres dirigindo sem o véu não serão mais detidas, e sim receberão multas de pequeno porte. O cenário ideal, para as ativistas, é que as mulheres possam escolher se querem ou não vestir o lenço.

POR QUE O VÉU É OBRIGATÓRIO NO IRÃ?
O regime iraniano, instituído após a Revolução de 1979, considera o véu islâmico um símbolo da religiosidade do país. A prenda é obrigatória a todas as mulheres, inclusive as estrangeiras, desde 1983. Mas a situação já foi a inversa: nos anos 1930, o xá Reza Pahlavi proibiu o lenço, retirado à força pela polícia. Como na Turquia, o véu era visto como um símbolo do atraso dessa região.

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