Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A ‘Nova Guerra Fria’ no Oriente Médio está prestes a esquentar? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/#respond Mon, 23 Sep 2019 10:48:17 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/saudi-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3376 A “Nova Guerra Fria” no Oriente Médio está prestes a esquentar?

Para Gregory Gause, professor de relações internacionais na Universidade Texas A&M que cunhou o termo para descrever a rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã, as duas potências regionais não têm dado sinais de que buscarão uma confrontação militar direta.

Gause enxerga nas dinâmicas de poder que definem o Oriente Médico contemporâneo elementos do conflito geopolítico que dividiu a região, e o mundo, entre polos antagônicos na segunda metade do século 20.

Assim como Estados Unidos e União Soviética evitavam uma escalada militar que aniquilaria as duas partes, as autoridades de Riad e Teerã não buscam uma guerra direta: em vez disso, competem por hegemonia apoiando facções rivais em países mais fracos da região, como a Síria, o Líbano e o Iêmen.

O que poderia deflagrar um conflito de grande escala seria um ataque dos Estados Unidos contra o Irã, acrescenta o professor, para quem a política americana de “pressão máxima” contra o regime iraniano tem sido um “fracasso”.

“Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la”, diz Gause por e-mail ao blog Mundialíssimo.

Na conversa, o professor discute as consequências dos ataques de drones contra refinarias de petróleo em Abqaiq e Khuais, na Arábia Saudita, no último dia 14. A Arábia Saudita e os Estados Unidos acusam o Irã de ter orquestrado os ataques; o regime iraniano nega responsabilidade, e diz que eventuais retaliações em seu território conduziriam à “guerra total”.

Leia, abaixo, a entrevista:

Mundialíssimo – Os ataques na Arábia Saudita geraram temores de uma escalada regional contra o Irã. Quais são os riscos de que a “Nova Guerra Fria” do Oriente Médio poderá evoluir para um confronto direto entre a Arábia Saudita e o Irã?

Gregory Gause – Se confronto direto significar um conflito entre Forças Armadas, eu acredito que não. Os iranianos evitam este tipo de ataque direto, conforme indicam suas negativas reiteradas sobre o ataque em Abqaiq. O Exército saudita não tem obtido sucesso no Iêmen. Eu duvido que eles adotariam uma postura ofensiva contra o Irã.

O confronto militar direto mais provável seria entre os Estados Unidos e o Irã, mas eu acredito que a resposta americana se dará nos bastidores.

O governo Trump tem demonstrado apoio contínuo ao regime saudita. O que explica a relação especial entre Washington e Riad? Quais são os possíveis resultados da estratégia de “pressão máxima” da Casa Branca em relação ao Irã?

As relações próximas entre o governo Trump e o saudita não são uma novidade. A maioria dos presidentes americanos teve estas relações, mesmo com altos e baixos. Talvez não tenham sido tão descarados quanto Trump, mas seu estilo é diferente dos governos passados em todos os aspectos. A oposição do Congresso também não é algo novo, mas é mais intensa que no passado, em parte como resposta ao assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi.

A política de “pressão máxima” é o que levou ao ataque de Abqaiq. É realmente um fracasso, não levou ao colapso do regime nem à sua rendição na mesa de negociação. Mas o governo Trump não parece ter uma política alternativa em vista. Sua resposta ao ataque em Abqaiq foi ordenar ainda mais sanções, o que torna outro ataque do Irã mais provável.

A saída dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 levou o regime iraniano a recomeçar seu programa nuclear. O que a comunidade internacional pode fazer para impedir o Irã de obter armas nucleares? Há espaço para a diplomacia?

Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la. Havia sinais de que Trump estava aberto a conversar, mas o ataque em Abqaiq fez a iniciativa recuar, se é que era de fato uma possibilidade. Os iranianos demonstraram que negociarão sobre este assunto, mas terão cuidado, tendo em vista a saída americana do acordo nuclear em 2018.

O ataque em Abqaiq foi o ataque mais grave contra a infraestrutura petrolífera desde a Guerra do Golfo de 1990-91. O fato de que os preços não foram tão afetados se deu por causa do atual quadro de excesso de oferta. Mas se o Irã perceber que o ataque teve sucesso, poderá ser atraído a buscar ataques similares. Isso traria bastante instabilidade para o mercado de petróleo mundial e para a região do golfo Pérsico.

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Ao abandonar conversas com Taleban, Trump prolonga guerra no Afeganistão https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/10/ao-abandonar-conversas-com-taleban-trump-prolonga-guerra-no-afeganistao/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/10/ao-abandonar-conversas-com-taleban-trump-prolonga-guerra-no-afeganistao/#respond Tue, 10 Sep 2019 11:56:26 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/cabul-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3351 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (9) que as conversas de paz que seu governo vinha mantendo com os militantes islamitas do Taleban estão “mortas”. A decisão de abandonar as negociações deve prolongar ainda mais o envolvimento americano na guerra no Afeganistão, que já se arrasta por quase 18 anos.

O anúncio de Trump causou surpresa. Membros de sua administração vinham sugerindo estar perto de alcançar um acordo definitivo e planejavam receber integrantes do Taleban para conversas nos Estados Unidos, mas o encontro foi cancelado no fim de semana após o grupo admitir ser responsável por um ataque que matou 12 pessoas no Afeganistão, incluindo um soldado americano.

“Eles pensavam que precisavam matar gente para se colocar em uma posição de negociação um pouco melhor”, disse Trump, acrescentando que o atentado foi um “grande erro”. Já o Taleban afirmou, por meio de um porta-voz, que os Estados Unidos seriam quem “mais perderia” ao se retirar da mesa de negociação.

Em janeiro, o governo Trump iniciou uma série de rodadas de negociação com representantes do Taleban em Doha, capital do Qatar. As conversas visavam à retirada dos 14 mil soldados americanos que seguem operando no Afeganistão, a fim de encerrar a guerra mais longeva em que os Estados Unidos já se envolveram.

A guerra no Afeganistão deixou quase 150 mil mortos, incluindo 38 mil civis afegãos e 2.400 militares americanos, de acordo com um levantamento do Watson Institute for International and Public Affairs da Universidade Brown.

Iniciada na esteira dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a invasão americana do Afeganistão buscava pôr fim ao regime fundamentalista do Taleban, que vinha dando cobertura a Osama bin Laden e sua rede terrorista Al Qaeda.

As tropas dos Estados Unidos conseguiram expulsar rapidamente o Taleban da capital, Cabul. Mas, uma vez fora do poder, o grupo passou a operar uma insurgência prolongada contra as forças de segurança nos rincões do Afeganistão e no vizinho Paquistão, dando dor de cabeça para sucessivos líderes da maior potência militar do planeta.

FRACASSOS NO AFEGANISTÃO

O presidente George W. Bush, que iniciou a guerra no Afeganistão, encerrou seu mandato em 2009 sem conseguir extinguir o Taleban. Já Barack Obama, que havia sido eleito com a promessa de encerrar as guerras iniciadas por seu antecessor, também fracassou na tarefa e viu o Taleban expandir sua influência em meio à retirada gradual de tropas americanas do país asiático.

Por sua vez, Donald Trump dizia na campanha presidencial de 2016 que a guerra no Afeganistão era um desperdício de dinheiro, mas o fracasso das conversas de paz com o Taleban indica que o conflito deverá prosseguir nos próximos anos. E, mesmo que os Estados Unidos consigam terminar seu envolvimento militar no Afeganistão, nada garante que a população do país finalmente veja o fim de décadas de violência.

“Enquanto os Estados Unidos buscam finalizar um acordo com o Taleban, o país deve se reconciliar com duas verdades contraditórias: uma é que os Estados Unidos erraram gravemente ao pensar que poderiam derrotar uma insurgência no Afeganistão …, e a outra é que o acordo negociado agora pode aumentar em vez de reduzir a violência”, escreveu Laurel Miller, analista do think tank International Crisis Group, em artigo na revista Foreign Policy.

“Entre estas duas verdades há um espaço estreito em que o governo americano pode ao mesmo tempo encerrar sua guerra mais duradoura e evitar uma guerra civil intensificada na sequência. Se o acordo esperado conseguirá atingir estes objetivos dependerá dos detalhes.”

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Com El Paso, terroristas de direita matam mais que jihadistas nos EUA https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/05/com-el-paso-terroristas-de-direita-matam-mais-que-jihadistas-nos-eua/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/05/com-el-paso-terroristas-de-direita-matam-mais-que-jihadistas-nos-eua/#respond Mon, 05 Aug 2019 13:18:09 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/el-paso-320x213.png https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3282 O massacre em El Paso, que deixou 20 mortos no sábado (3), confirma uma tendência alarmante nos Estados Unidos: a violência promovida por extremistas de direita já deixa mais vítimas do que os ataques perpetrados por jihadistas.

De acordo com dados do centro de estudos New America, atos terroristas provocados por jihadistas deixaram 104 mortos desde os atentados de 11 de setembro de 2001; já os ataques motivados pelo extremismo de direita deixaram 107 vítimas no mesmo período –incluindo os mortos em El Paso.

Em inglês, gráfico do New America mostra número de vítimas de atentados nos EUA de acordo com ideologia (Crédito: reprodução)

O ataque a tiros em um supermercado da rede Wal Mart em El Paso, no Estado americano do Texas, está sendo investigado como um caso de terrorismo doméstico. O suspeito, detido após o incidente, foi identificado como Patrick Crusius, um homem branco de 21 anos.

Um manifesto racista circulou na internet dizendo que o ataque era uma resposta a uma suposta “invasão hispânica” dos Estados Unidos. O documento também detalha um plano para separar o país por raças e menciona o massacre contra muçulmanos na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, em 15 março.

Os dados do New America indicam que o ataque em El Paso não é isolado, e que houve um aumento no número de vítimas de ataques perpetrados por extremistas de direita nos últimos anos nos Estados Unidos.

Por exemplo, em 27 de outubro, um radical de direita abriu fogo em uma sinagoga em Pittsburgh, matando 11 fiéis. Pouco antes, em 24 de outubro, um extremista havia matado um casal negro em uma loja em Kentucky após proferir ofensas raciais.

Sobre o ataque em El Paso, o presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira (5) que não há lugar nos Estados Unidos para “ódio, intolerância e supremacia branca”.

Ele vinha sendo pressionado a denunciar a ideologia racista que motivou o atentado. Críticos do republicano dizem que sua retórica inflamada contra imigrantes coloca lenha na fogueira dos crimes de ódio.

“Suas palavras foram alimentando a supremacia branca e dando licença a ela, e nós estamos vendo os resultados horríveis desse ódio hoje”, disse o senador Cory Booker, de New Jersey, sobre o presidente americano.

Atençã0: Este post foi atualizado às 11h40 para incluir novas declarações de Donald Trump sobre o ataque em El Paso.

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Bolsonaro segue os passos de Trump ao apostar na radicalização da retórica https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/01/bolsonaro-segue-os-passos-de-trump-ao-apostar-na-radicalizacao-da-retorica/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/01/bolsonaro-segue-os-passos-de-trump-ao-apostar-na-radicalizacao-da-retorica/#respond Thu, 01 Aug 2019 14:28:22 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/bolsonaro-trump-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3270 Jair Bolsonaro tem seguido à risca a cartilha de poder de seu ídolo Donald Trump.

O Brasil mal se recupera da polarização que rachou o país de vez na eleição de outubro, e o presidente faz de tudo para intoxicar ainda mais o debate público com mentiras e impropérios.

Só nos últimos dias, Bolsonaro fez ataques sem precedentes contra povos indígenas, a comunidade científica, a imprensa livre e a memória das vítimas da ditadura militar, dentre outros alvos. Desnorteada, a sociedade tem encontrado dificuldades para oferecer respostas rápidas à sequência de ameaças que emana do Alvorada.

Não estamos sozinhos: os Estados Unidos enfrentam desafios semelhantes impostos pelo atual ocupante da Casa Branca. O problema surgiu por lá ainda em 2015, quando Trump lançou sua pré-candidatura à Presidência com declarações estapafúrdias contra mulheres, imigrantes e as instituições de poder.

Na época, a verborragia de Trump não era levada à sério. O deboche em relação ao magnata nova-iorquino era tanto que o site Huffington Post chegou a noticiar sua campanha na seção de entretenimento em vez da de política.

Em vez de enfraquecerem sua candidatura, os disparates de Trump sequestraram a atenção do eleitorado e o levaram a vencer as primárias do Partido Republicano. Mais tarde, em novembro de 2016, ele derrotou a favorita Hillary Clinton na votação do colégio eleitoral, surpreendendo o establishment político.

Uns esperavam em vão que a cadeira presidencial ajudasse a moderar o comportamento errático do republicano. Desde a posse, Trump faz da virulência –tanto ao vivo quanto no Twitter– a principal marca de seu governo.

Em agosto de 2017, alguns meses após a cerimônia de inauguração, o presidente causou indignação quando, ao comentar os incidentes de tensão racial em Charlottesville, igualou a violência dos extremistas da Ku Klux Klan à reação pacífica de manifestantes antifascistas. O episódio ficou gravado na opinião pública americana como um triste lembrete de que as estruturas racistas herdadas do tempo da escravidão seguem vivas e fortes nos Estados Unidos.

Já em novembro de 2018, Trump elevou o nível de seus despautérios contra a mídia independente –rotineiramente taxada de “inimiga da nação” e “fake news”– ao revogar as credenciais de acesso à Casa Branca do repórter Jim Acosta, da emissora CNN. Amplamente vista como um ataque à liberdade de imprensa, a medida foi logo revertida pela Justiça.

O republicano atingiu o pico de suas ameaças contra as instituições de poder no mês passado, quando sugeriu que quatro deputadas da ala progressista do Partido Democrata, todas cidadãs americanas e integrantes de minorias raciais, odiavam a América e deveriam retornar aos “países totalmente infestados pela criminalidade de onde vêm”. A declaração racista foi imediatamente rechaçada pela Câmara dos Deputados, controlada pela oposição.

“Ao longo da nossa história, o linguajar racista tem sido usado para colocar um americano contra o outro de modo a beneficiar a elite rica”, escreveu Ilhan Omar, uma das deputadas alvejadas por Trump, em artigo de opinião publicado na semana passada pelo New York Times.

LÓGICA SECTÁRIA

A experiência dos Estados Unidos na era Trump mostra que a postura agressiva do presidente deve ser levada a sério. Quem apostava que o republicano morreria pela boca já se enganou uma vez em 2016.

Trump tem avançado a passos largos em pontos estratégicos de sua agenda populista, como o nacionalismo econômico e o combate à imigração, deixando um rastro de ódio e divisão à medida em que revoga direitos de minorias e demole princípios caros à democracia.

Apesar das inúmeras controvérsias que produz, o líder americano tem conseguido manter sua popularidade em nível estável. A retórica agressiva de Trump energiza seus seguidores mais fiéis nos meses que antecedem a batalha pela reeleição no pleito de novembro de 2020.

Esta lógica sectária parece ter sido adotada por Bolsonaro no Brasil. Confrontado após a nova leva de disparates, o presidente não dá sinais de que corrigirá o comportamento: “Sou assim mesmo”, ele disse em entrevista ao jornal O Globo.

Enquanto a maioria dos líderes de países democráticos mantém uma distância cautelosa em relação Trump, o presidente americano tem encontrado em Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo –provável futuro embaixador do Brasil em Washington– dois de seus mais subservientes admiradores ao sul do continente.

Ainda que traga ecos do líder americano, o estilo de Bolsonaro antecede o republicano em muitas décadas. O presidente brasileiro construiu sua carreira na Câmara dos Deputados defendendo o retorno da ditadura militar e ofendendo mulheres, LGBTs, negros, índios e nordestinos. A recente escalada do discurso agressivo de Bolsonaro não deveria surpreender ninguém.

Nos Estados Unidos, quem tem feito contrapeso aos abusos do presidente são movimentos sociais e a imprensa independente —e, de modo mais limitado, as instituições de poder como o Legislativo e a Justiça.

Por aqui, o discurso tóxico de Bolsonaro enfrenta alguma resistência da sociedade civil. Mas o nosso sistema de pesos e contrapesos, essencial para a preservação do Estado de Direito, é mais frágil que nos Estados Unidos.

“Cada vez que o presidente dispara contra seus críticos, cada vez que ele agrava a linguagem do racismo e do ódio, torna-se mais difícil convencer a nós mesmos de que vivemos em uma sociedade que valoriza a civilidade, a compaixão e a tolerância”, escreveu Francine Prose, integrante da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos, em artigo recente para o jornal britânico The Guardian.

A autora se referia ao “linguajar cruel” de Trump, mas o alerta também vale para o Brasil de Bolsonaro: “Se estamos com raiva, nós podemos dar a ela um uso positivo … Vamos canalizar nosso descontentamento para um propósito maior que supere o divisionismo, o descaso e o redemoinho caótico e acelerado da violência verbal e física”.


P.S.: Fui para o Twitter, siga @danielavelar_ 

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Entenda os protestos contra o governador de Porto Rico https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/23/entenda-os-protestos-contra-o-governador-de-porto-rico/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/23/entenda-os-protestos-contra-o-governador-de-porto-rico/#respond Tue, 23 Jul 2019 13:37:32 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/porto-rico-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3255 Milhares de manifestantes têm ocupado as ruas de Porto Rico desde a semana passada contra o governador Ricardo Rosselló. O movimento forçou Rosselló a anunciar, no domingo (21), que não buscará a reeleição no pleito de 2020 e que deixará a liderança do Novo Partido Progressista, de orientação conservadora.

A onda de protestos, considerada a mais expressiva na história recente da ilha caribenha, segue com força apesar dos episódios de repressão policial. Os manifestantes retornaram às ruas na segunda (22) para exigir a renúncia imediata do governador –mais de 500 mil pessoas participaram do protesto na capital, San Juan, de acordo com a imprensa local.

Entenda as manifestações em Porto Rico:

1. Protestos começaram após vazamento de mensagens

O estopim dos protestos em Porto Rico foi o vazamento de centenas de páginas contendo mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram entre Rosselló e um grupo de auxiliares. Nas mensagens, reveladas no último dia 13 pelo Centro de Jornalismo Investigativo, o governador faz comentários ofensivos contra políticos e celebridades da ilha.

Rosselló também aparece fazendo piadas sobre as vítimas do furacão Maria, que deixou mais de 3.000 mortos após passar pela ilha em setembro de 2017. Sua administração vinha sendo criticada por falhar na reconstrução da infraestrutura após o desastre e por sucessivos escândalos de corrupção: poucos dias antes do vazamento das mensagens, o FBI (polícia federal americana) havia detido membros do governo porto-riquenho acusados de desviar US$ 15,5 milhões (R$ 58 milhões) em ajuda humanitária para as vítimas do furacão.

“Eu cometi erros e me desculpei por eles”, disse Rosselló em pronunciamento transmitido nas redes sociais no domingo. “Sou um homem de bem que tem um grande amor pela ilha. Mas reconheço que pedir desculpas não é suficiente.”

2. Celebridades porto-riquenhas impulsionam movimento

As manifestações têm sido impulsionadas por celebridades da ilha caribenha, como os cantores Resident, Bad Bunny e Ricky Martin –este foi alvo de ataques homofóbicos nas mensagens vazadas.

Na manifestação de segunda-feira, Martin apareceu em cima de um carro de som carregando uma bandeira do orgulho LGBT. “Nós não obedecemos ditadores em Porto Rico. É hora de você [Rosselló] cair fora” disse Martin, 47, à multidão.

“Os chats são apenas a ponta do iceberg” disse a manifestante Benedicta Villegas, enfermeira aposentada de 69 anos, à agência de notícias Associated Press. “Ainda há gente desabrigada e estradas sem iluminação … O povo acordou depois de tanto ódio.”

3. Manifestações põem em evidência status colonial da ilha

Os protestos em Porto Rico põem em evidência a dependência em relação aos Estados Unidos –a ilha está subordinada à autoridade de Washington desde o fim do século 19, mas não integra a federação americana. Assim, seus 3,2 milhões de habitantes não participam das eleições para a Presidência e o Congresso dos Estados Unidos, embora sejam cidadãos americanos.

Além de exigir a renúncia de Rosselló, alguns dos manifestantes pedem o cancelamento da dívida externa porto-riquenha –que chega a US$ 70 bilhões (R$ 262 bilhões)– e a extinção da Junta de Supervisão Fiscal, órgão criado pelo Congresso americano para implementar medidas de austeridade fiscal. Os cortes de gastos têm afetado a provisão de serviços públicos e agravado a situação dos setores mais vulneráveis: mais de 40% dos habitantes de Porto Rico vivem na pobreza.

“As manifestações miram um alvo muito maior que Ricardo Rosselló”, escreveu Fernando Tormos-Apontes, professor porto-riquenho da Universidade de Missouri-St. Louis, para a revista americana Jacobin. “Eles estão cada vez mais conscientes de que os problemas que originaram esta revolta são sistêmicos, e que suas soluções devem ser formuladas adequadamente.”

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Quem são e o que pregam as deputadas democratas atacadas por Trump? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/19/quem-sao-e-o-que-pregam-as-deputadas-democratas-atacadas-por-trump/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/19/quem-sao-e-o-que-pregam-as-deputadas-democratas-atacadas-por-trump/#respond Fri, 19 Jul 2019 15:34:45 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/squad-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3248 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a causar indignação ao redor do mundo na última semana por conta de suas declarações racistas. Em uma série de tuítes no domingo (14), Trump sugeriu que quatro deputadas democratas integrantes de minorias raciais retornassem aos “países totalmente infestados pela criminalidade de onde vêm”, embora sejam cidadãs americanas.

Os ataques presidenciais colocaram as congressistas, conhecidas informalmente como “o esquadrão”, no centro do debate político nacional. Elas são Ilhan Omar, representante de Minessotta; Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York; Rashida Tlaib, de Michigan; e Ayanna Pressley, de Massachusetts.

O episódio levou a Câmara dos Deputados, controlada pela oposição democrata, a aprovar na terça-feira (16) uma moção de repúdio contra o presidente. A casa legislativa também discutiu a abertura de um processo de impeachment, mas a proposta foi derrotada.

Apesar das críticas da oposição e até mesmo dentro de seu próprio partido, Trump insiste que “não tem um osso racista” em seu corpo. Na quarta (17), durante um comício na Carolina do Norte, o presidente voltou a acusar Omar de querer destruir os Estados Unidos, e o público gritou “mande-a de volta!”. No dia seguinte, o republicano ensaiou um mea-culpa, dizendo discordar dos gritos da multidão.

Saiba quem são e o que defendem as deputadas democratas atacadas por Trump:

1. Deputadas representam a renovação da política americana

Apesar de serem novatas –elas foram eleitas no pleito legislativo de novembro–, as congressistas ganharam destaque na oposição contra o governo Trump. Elas representam a renovação da política americana, tradicionalmente dominada por homens brancos.

As deputadas nasceram nos Estados Unidos, com a exceção de Omar, que nasceu na Somália e se naturalizou americana quando era criança. Ocasio-Cortez tem ascendência porto-riquenha, Tlaib é filha de imigrantes palestinos e Pressley é afro-americana.

“Este é um presidente que violou abertamente os valores que este país diz defender”, afirmou Omar em entrevista coletiva na segunda-feira (15). “E para gerar distração, ele lançou um ataque descaradamente racista contra representantes eleitas … Esta é a agenda dos nacionalistas brancos.”

2. À esquerda, ‘esquadrão’ desafia establishment democrata

Além de enfrentarem Trump, as deputadas do “esquadrão” têm comprado brigas com a liderança do Partido Democrata no Congresso para exigir o apoio a políticas progressivas.

Elas defendem, por exemplo, a taxação de grandes fortunas em até 70%, bem como a universalização do sistema de saúde do país, atualmente controlado por empresas privadas. Além disso, as deputadas querem a extinção da ICE, agência responsável pela detenção de imigrantes sem documentos, e sugerem que o governo adote um plano de investimentos para combater as mudanças climáticas.

“O Partido Democrata de hoje acredita que, para vencer, é preciso enfocar um centro hipotético”, disse Saikat Chakrabarti, chefe de gabinete de Ocasio-Cortez, ao Washington Post. “Nós temos uma teoria da mudança completamente diferente: você faz a coisa mais incrível que puder, e isso animará as pessoas a sair para votar.”

3. Ataques racistas revelam estratégia de Trump para buscar reeleição

As declarações racistas de Trump não são novidade. Em sua campanha à Presidência nas eleições de 2016, ele afirmou que imigrantes mexicanos são “traficantes, criminosos, estupradores”. Já no poder, ele disse ver “gente de bem” entre os participantes de uma manifestação violenta convocada pela Ku Klux Klan na cidade de Charlottesville, realizada em agosto de 2017.

Desta vez, os ataques racistas do republicano parecem indicar sua estratégia para buscar a reeleição nas eleições de 2020. Ao colocar o “esquadrão” em evidência, Trump força o Partido Democrata a se unir em defesa de sua ala mais radical, acirrando a polarização do eleitorado.

“Este é o tipo de batalha de que o presidente gosta”, diz uma reportagem do New York Times publicada na terça-feira. “A estratégia de reeleição de Trump é … apresentar seus oponentes não só como quem não gosta dele e de suas políticas, mas como [gente] que não gosta da própria América.”

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Veja vantagens e obstáculos à frente de Joe Biden na corrida pela Casa Branca https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/25/veja-vantagens-e-obstaculos-a-frente-de-joe-biden-na-corrida-pela-casa-branca/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/25/veja-vantagens-e-obstaculos-a-frente-de-joe-biden-na-corrida-pela-casa-branca/#respond Thu, 25 Apr 2019 15:29:05 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/biden-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3101 Joe Biden entrou de vez na corrida pela Presidência dos Estados Unidos. Vice-presidente no governo de Barack Obama (2009-2017), o político democrata é um dos favoritos para enfrentar Donald Trump nas eleições de novembro de 2020.

“Estamos em uma batalha pela alma desta nação”, afirmou Biden, 76, em vídeo de lançamento de sua campanha divulgado nesta quinta-feira (25). Ele também disse acreditar que a Presidência de Trump é um “momento aberrante” na história do país e que a própria democracia “está em jogo”.

Entenda as vantagens e os obstáculos à frente de Biden na corrida pela Casa Branca:

1. Vantagem: Biden é favorito desde a largada

É a terceira vez que Biden tenta ser o candidato democrata à Presidência do país. Ele já disputou as primárias do partido em 1988 e 2008, período em que era senador, mas fracassou em obter a nomeação. Desta vez, ele começa a campanha à frente dos demais competidores.

De acordo com uma pesquisa do RealClearPolitics, Biden é o favorito para obter a indicação do partido com 29,3%, seguido por Bernie Sanders, senador que foi pré-candidato à presidência em 2016, que tem 23% de apoio.

2. Obstáculo: seu passado é alvo de escrutínio

A longa carreira de Biden na política fez ele ser bastante conhecido pela população, mas algumas manchas em seu histórico voltam agora para atormentá-lo. Por exemplo, Biden é criticado por ter declarado apoio à invasão do Iraque em 2003, encabeçada pelo então presidente George W. Bush. A intervenção, que culminou na deposição do ditador Saddam Hussein, deixou um rastro de violações de direitos humanos e agravou a instabilidade no Oriente Médio.

Além disso, Biden é frequentemente questionado sobre seu papel no processo de indicação do juiz Clarence Thomas para uma vaga na Suprema Corte, em 1991. Na época, o democrata presidia a Comissão de Justiça do Senado e permitiu que congressistas atacassem Anitta Hill, uma ex-funcionária de Thomas que o acusava de assédio sexual. Apesar da denúncia, o juiz teve sua indicação aprovada.

Por fim, nos últimos meses diversas mulheres vieram a público para acusar Biden de tê-las tocado e beijado de maneira inapropriada. Após as denúncias, o democrata prometeu corrigir seu comportamento, mas o desgaste de sua imagem é inevitável diante da força do movimento #MeToo, que desafia o machismo na política e na indústria do entretenimento.

3. Vantagem: ele tem o apoio do establishment democrata

Veterano da política americana, Biden tem o respaldo tácito da direção do Partido Democrata. Espera-se que nos próximos meses diversas figuras de peso da agremiação declarem suporte à sua candidatura –o rol de possíveis apoiadores inclui a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, além, é claro, de Obama.

A posição privilegiada de Biden entre os democratas facilita seu acesso a doadores e à máquina de campanha do partido. Isso pode fazer toda a diferença na disputa das primárias democratas, que já conta com cerca de vinte candidatos.

4. Obstáculo: ele está distante da ala progressista do partido

Por outro lado, Biden está distante das bases progressistas do partido, que vêm ocupando cada vez mais espaço na agremiação. Além de contar com militantes aguerridos, a esquerda do Partido Democrata tem quadros ascendentes, como as deputadas em início de mandato Alexandria Ocasio-Cortez e Ilhan Omar.

O grupo tem se destacado na oposição ao governo Trump e apresentado propostas inovadoras, como a taxação de grandes fortunas, a universalização do sistema de saúde (Medicare for All) e um plano de combate às mudanças climáticas (Green New Deal). Algumas destas medidas têm o apoio de candidatos fortes nas primárias democratas, como Bernie Sanders e Elizabeth Warren.

Até agora, porém, Biden não deixou claro quais são suas propostas de campanha para além da defesa do legado dos anos Obama. Caso falhe em apresentar ideias novas, Biden corre o risco de ser visto pelo eleitorado democrata como uma mera reedição da candidatura de Hillary Clinton, derrotada por Trump em 2016.

De fato, ser um representante da política tradicional parece ser um revés para Biden em um momento em que as bases do partido exigem renovação nas estruturas de poder dos Estados Unidos.

Atenção: O post informava que Joe Biden tem 78 anos. A informação está errada: o político democrata tem 76 anos. O texto foi corrigido.

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Paralisação do governo nos EUA já custa mais que o muro que Trump quer erguer https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/01/25/paralisacao-do-governo-nos-eua-ja-custa-mais-que-o-muro-que-trump-quer-erguer/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/01/25/paralisacao-do-governo-nos-eua-ja-custa-mais-que-o-muro-que-trump-quer-erguer/#respond Fri, 25 Jan 2019 10:53:32 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/muro-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2897 A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, que se arrasta por 35 dias, já custa cerca de US$ 6 bilhões (R$ 22,6 bilhões) para a economia do país, segundo estimativas da agência Standard & Poor’s (S&P).

O valor é maior do que os US$ 5,7 bilhões (R$ 21,5 bilhões) pedidos pelo presidente Donald Trump para construir um muro na fronteira com o México. A disputa entre republicanos e democratas no Congresso a respeito da concessão da verba para o muro é o que deu início à paralisação, em dezembro.

A S&P estima que cada semana com o governo fechado tem um impacto negativo de US$ 1,2 bilhões (R$ 4,5 bilhões) no PIB (Produto Interno Bruto) americano. Isto porque, após a reabertura do governo, a administração federal terá de pagar retroativamente os mais de 800 mil funcionários impedidos de trabalhar.

Trump e seus aliados republicanos no Congresso defendem que a construção de uma barreira na fronteira com o México é essencial para impedir a entrada de imigrantes sem documento. A oposição democrata, que passou a controlar a Câmara após as eleições legislativas de novembro, vê o muro como uma proposta populista e ineficaz.

Até agora, não há sinais de que a paralisação, a mais longa da história do país, terá fim. Na quinta-feira (24), o Senado rejeitou duas propostas de orçamento –uma delas foi apresentada pelos republicanos e previa a verba para a construção do muro, enquanto a outra, defendida pelos democratas, não incluía o dinheiro para a barreira. Embora os republicanos controlem a casa legislativa, eles não têm os 60 votos necessários (entre 100 senadores) para aprovar o orçamento.

PARALISAÇÃO POR TEMPO INDEFINIDO

Há algumas semanas, Trump afirmou que poderia manter o governo fechado por “meses ou até mesmo anos” caso não conseguisse o dinheiro para construir seu muro. O presidente também ameaçou declarar emergência nacional e ofereceu concessões para imigrantes irregulares no país em troca da verba, mas não obteve sucesso.

Devido à paralisação, Trump precisou adiar o Discurso sobre o Estado da União, tradicional pronunciamento anual do presidente ao Congresso. O discurso estava inicialmente marcado para o dia 29, mas a liderança democrata na Câmara alertou que o fechamento do governo atrapalharia a organização do evento.

Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos americanos culpa Trump pela paralisação, e que a popularidade do presidente caiu alguns pontos desde o início do fechamento do governo. Críticos acusam Trump de usar a paralisação para desviar a atenção do público sobre as suspeitas de conluio entre integrantes de sua campanha eleitoral e autoridades da Rússia.

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O que está em jogo nas midterms, eleições desta terça nos EUA? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/o-que-esta-em-jogo-nas-midterms-eleicoes-desta-terca-nos-eua/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/o-que-esta-em-jogo-nas-midterms-eleicoes-desta-terca-nos-eua/#respond Tue, 06 Nov 2018 10:00:06 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/midterms-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2704 Eleitores americanos irão às urnas nesta terça-feira (6) para escolher os novos integrantes da Câmara e do Senado. A votação representa o primeiro desafio eleitoral do governo de Donald Trump, vencedor da corrida presidencial há dois anos.

As midterms, eleições realizadas na metade do mandato presidencial, servem de termômetro da popularidade do governo e determinam a correlação de forças no Congresso nos anos seguintes. Neste ano, os democratas têm a oportunidade de retomar o controle das duas casas legislativas; caso obtenham sucesso, podem minar a agenda congressual de Trump.

Em seu favor, o presidente conta com índices positivos na economia e aposta na reação do eleitorado conservador a uma caravana com milhares de migrantes da América Central que avança em direção à fronteira com os Estados Unidos. Por outro lado, o republicano pode ser afetado por ataques recentes de extremistas de direita contra negros, judeus e personalidades do Partido Democrata. Na campanha, Trump e seu antecessor, o democrata Barack Obama, têm trocado farpas em comícios de correligionários, em uma disputa de narrativas sobre seus próprios legados.

Entenda o que está em jogo na votação:

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante comício em Chattanooga, no estado do Tennessee (Crédito: Nicholas Kamm/AFP)

1. Republicanos podem perder a maioria no Congresso

Nestas eleições, serão disputados 35 dos 100 assentos no Senado, além de todas as 435 cadeiras na Câmara. Atualmente, o Partido Republicano possui maioria nas duas casas: tem 51 senadores e 240 deputados.

Apesar da maioria estreita, o partido de Trump tem mais chances de manter o controle do Senado, pois a maioria das cadeiras em disputa é ocupada pela oposição. Para reverter a situação, os democratas precisariam defender 26 assentos atualmente controlados pela oposição, além de conquistar algumas das 9 cadeiras que pertencem ao governo. A tarefa é hercúlea porque todos Estados têm a mesma representação no Senado, e os republicanos têm amplo favoritismo em alguns Estados com população pequena e rural –ainda assim, há disputas acirradas em Estados tradicionalmente republicanos, como o Texas. O site FiveThirtyEight, que produz modelos estatísticos com base em pesquisas de intenção de voto, estima que os republicanos têm 85% de chance de manter o controle do Senado.

Por outro lado, os democratas têm mais chances de vencer na disputa pela Câmara –eles precisam conquistar 23 novos assentos para obter a maioria. Aqui, a votação é distrital, com representação relativamente proporcional ao tamanho da população, de modo que os democratas podem surfar na onda de descontentamento com Trump –pesquisas de opinião indicam que a maioria da população está insatisfeita com o governo. Por isso, o FiveThirtyEight projeta que os democratas têm 85% de chance de ganhar a maioria da Câmara.

2. Resultado definirá o futuro do governo Trump

Caso as projeções se confirmem e os republicanos percam a maioria da Câmara, Trump terá problemas para fazer avançar sua agenda legislativa. Até aqui, o presidente obteve sucesso em votações no Congresso que desmontaram regulações ambientais e baixaram os impostos para os mais ricos. Porém, mesmo com maioria nas duas casas, o republicano não conseguiu apoio para entregar importantes promessas de campanha, como a construção de um muro ao longo da fronteira com o México e a extinção do Obamacare, sistema de subsídio de planos de saúde.

A provável manutenção da maioria republicana no Senado dará força para que Trump aprove membros de seu gabinete e indicados para a Suprema Corte, além de ajudar a blindá-lo em um eventual processo de impeachment –a equipe de campanha do republicano é investigada por suspeitas de conspiração com autoridades russas na corrida eleitoral de 2016.

O enfraquecimento de Trump no Congresso deixaria o presidente com mão atadas para lidar com assuntos domésticos que dependem de apoio parlamentar. Isso não significa a inviabilização do governo: presidentes americanos que não têm apoio do Congresso costumam concentrar suas iniciativas na política externa, área na qual o ocupante do Executivo tem amplos poderes.

3. Mulheres alcançam protagonismo inédito

A onda de insatisfação com Trump deu impulso a um número recorde de mulheres disputando cargos legislativos: há 234 candidatas para a Câmara e 22 para o Senado, a maioria filiada ao partido democrata. Ainda assim, as mulheres representam apenas 11,5% do total de candidatos democratas e republicanos ao Congresso.

A participação de mulheres nas eleições reflete o avanço do movimento feminista #MeToo e é uma resposta aos escândalos do governo Trump. Conhecido por sua retórica misógina, o presidente é acusado de assediar mulheres e de pagar pelo silêncio de uma atriz pornô com quem manteve relações extraconjugais. Além disso, mulheres lideraram protestos recentes contra Brett Kavanaugh, jurista escolhido pelo presidente para ocupar uma vaga na Suprema Corte –ele é alvo de denúncias de assédio sexual e deverá ser voto decisivo para reverter a jurisprudência sobre o direito ao aborto no país.

4. Votação pode ter comparecimento acima da média

O voto é facultativo nos Estados Unidos, e os índices de comparecimento às urnas costumam ser baixos nas midterms. Porém, os altos índices de votação antecipada apontam que a participação neste ano poderá ser a maior em 50 anos.

O alto comparecimento às cabines de votação é a grande aposta do Partido Democrata, que trata estas eleições como uma espécie de referendo sobre a figura polarizadora de Trump. As prévias do partido deram resultados expressivos para os Democratas Socialistas, corrente apoiada pelo senador Bernie Sanders, com um programa progressista que mobiliza parte do eleitorado jovem.

5. Alguns Estados terão plebiscitos e eleições para governador

Além de eleger integrantes do Congresso, diversos Estados terão consultas sobre temas que vão da legalização da maconha ao aumento do salário mínimo. Outras propostas em votação dizem respeito ao direito ao voto de pessoas com antecedentes criminais, à legalização de cassinos e ao estímulo ao uso de energias renováveis. Ao todo, 155 propostas serão colocadas para consulta popular em 37 estados.

Ademais, 26 Estados terão eleições para governadores e outros cargos locais; atualmente, os republicanos controlam cerca de dois terços dos Estados do país. Muitos dos governadores eleitos nestas midterms poderão influenciar a próxima rodada de redefinição de distritos eleitorais, que ocorrerá em 2021 –é comum que governantes lancem mão do “gerrymandering”, método em que o desenho de distritos é manipulado para beneficiar um partido. Desse modo, as eleições desta terça poderão ter impactos duradouros em votações realizadas na próxima década.

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Os ataques de radicais de direita nos EUA são atos de terrorismo? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/01/os-ataques-de-radicais-de-direita-nos-eua-sao-atos-de-terrorismo/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/01/os-ataques-de-radicais-de-direita-nos-eua-sao-atos-de-terrorismo/#respond Thu, 01 Nov 2018 17:52:28 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/pittsburgh-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2698 Uma série de episódios de violência perpetrados por extremistas de direita nos Estados Unidos na semana passada gerou um debate sobre a parcialidade no emprego do termo “terrorismo”.

No primeiro incidente, pacotes explosivos foram enviados ao longo da semana para líderes do Partido Democrata, incluindo a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e o ex-presidente Barack Obama, além de alvos como a emissora CNN –ninguém ficou ferido, e um suspeito foi detido na Flórida na sexta-feira (26). Além disso, dois idosos negros foram assassinados a tiros em uma loja em Kentucky na quarta (24) –antes do ataque, o suspeito havia proferido ofensas raciais. E, no sábado (27), um atirador invadiu uma sinagoga em Pittsburgh, matando 11 fiéis –o massacre é considerado o ataque antissemita mais sangrento na história do país.

Os três ataques foram cometidos por homens brancos de extrema direita, e os dois últimos incidentes estão sendo investigados como crimes de ódio. Por outro lado, grande parte dos políticos e veículos de comunicação do país evitam empregar o termo “terrorismo” para descrever os episódios. Enquanto isso, ataques recentes motivados pelo extremismo islâmico, como o massacre em uma boate em Orlando e uma série de explosões nos Estados de Nova York e Nova Jersey, ambos em 2016, foram prontamente associados ao terrorismo.

A legislação americana diz que o “terrorismo inclui o uso ilegal da força e de violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, a população civil ou um segmento dela em prol de objetivos políticos ou sociais”. De fato, o texto da lei não faz distinção de motivação para o emprego de violência com fins políticos, de forma que os ataques da semana passada poderiam ser entendidos como atos de terrorismo.

“Desde os atentados de 11 de Setembro, os Estados Unidos entendem o terrorismo quase exclusivamente como um problema relacionado a jihadistas”, diz Daniel Byman em artigo publicado na revista Foreign Policy no sábado. “Muito menos atenção foi dada à violência de extrema direita, como a cometida por neonazistas, cidadãos soberanos (movimento ultraliberal americano), grupos anti-imigração, entre outros.”

Para o autor, é um erro deixar de classificar ataques da extrema direita, tal qual o atentado em Pittsburgh, como terrorismo. Identificar grupos radicais como terroristas, diz, “poderia forçar os Estados Unidos a empregar mais recursos no combate a antissemitas, nacionalistas brancos e extremistas violentos”.

Em artigo publicado na segunda (29) pela emissora Al Jazeera, Khaled Beydon também critica a associação quase exclusiva entre o terrorismo e os muçulmanos. “Esses perpetradores [não -muçulmanos] costumam ser taxados de ‘lobos solitários’ ou apenas de ‘atiradores violentos’, rótulos que os livram da associação com o terrorismo na mente dos americanos”, afirma.

“O Islã, para os políticos e parte da grande mídia, tem o monopólio da ideologia por trás do terrorismo” acrescenta. O autor diz que a parcialidade no uso do termo “terrorismo” alimenta a islamofobia, além de esvaziar o sentido da palavra. Por isso, ele sugere que se deixe de empregá-la.

Ademais, a distinção no emprego do termo para descrever episódios de violência política não reflete o fato de que, desde o 11 de Setembro, extremistas islâmicos e radicais de direita deixaram um número parecido de vítimas no país –104 pessoas foram assassinadas por aqueles, enquanto estes mataram 86, de acordo com levantamento do centro de estudos New America.

A discussão sobre o significado do terrorismo não se limita aos Estados Unidos. No Brasil, parlamentares conservadores propõem endurecer a lei antiterrorismo, sancionada por Dilma Rousseff em 2016 –críticos temem que a mudança leve à criminalização de movimentos sociais e prejudique a liberdade de manifestação.

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