Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Ao abandonar conversas com Taleban, Trump prolonga guerra no Afeganistão https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/10/ao-abandonar-conversas-com-taleban-trump-prolonga-guerra-no-afeganistao/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/10/ao-abandonar-conversas-com-taleban-trump-prolonga-guerra-no-afeganistao/#respond Tue, 10 Sep 2019 11:56:26 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/cabul-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3351 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (9) que as conversas de paz que seu governo vinha mantendo com os militantes islamitas do Taleban estão “mortas”. A decisão de abandonar as negociações deve prolongar ainda mais o envolvimento americano na guerra no Afeganistão, que já se arrasta por quase 18 anos.

O anúncio de Trump causou surpresa. Membros de sua administração vinham sugerindo estar perto de alcançar um acordo definitivo e planejavam receber integrantes do Taleban para conversas nos Estados Unidos, mas o encontro foi cancelado no fim de semana após o grupo admitir ser responsável por um ataque que matou 12 pessoas no Afeganistão, incluindo um soldado americano.

“Eles pensavam que precisavam matar gente para se colocar em uma posição de negociação um pouco melhor”, disse Trump, acrescentando que o atentado foi um “grande erro”. Já o Taleban afirmou, por meio de um porta-voz, que os Estados Unidos seriam quem “mais perderia” ao se retirar da mesa de negociação.

Em janeiro, o governo Trump iniciou uma série de rodadas de negociação com representantes do Taleban em Doha, capital do Qatar. As conversas visavam à retirada dos 14 mil soldados americanos que seguem operando no Afeganistão, a fim de encerrar a guerra mais longeva em que os Estados Unidos já se envolveram.

A guerra no Afeganistão deixou quase 150 mil mortos, incluindo 38 mil civis afegãos e 2.400 militares americanos, de acordo com um levantamento do Watson Institute for International and Public Affairs da Universidade Brown.

Iniciada na esteira dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a invasão americana do Afeganistão buscava pôr fim ao regime fundamentalista do Taleban, que vinha dando cobertura a Osama bin Laden e sua rede terrorista Al Qaeda.

As tropas dos Estados Unidos conseguiram expulsar rapidamente o Taleban da capital, Cabul. Mas, uma vez fora do poder, o grupo passou a operar uma insurgência prolongada contra as forças de segurança nos rincões do Afeganistão e no vizinho Paquistão, dando dor de cabeça para sucessivos líderes da maior potência militar do planeta.

FRACASSOS NO AFEGANISTÃO

O presidente George W. Bush, que iniciou a guerra no Afeganistão, encerrou seu mandato em 2009 sem conseguir extinguir o Taleban. Já Barack Obama, que havia sido eleito com a promessa de encerrar as guerras iniciadas por seu antecessor, também fracassou na tarefa e viu o Taleban expandir sua influência em meio à retirada gradual de tropas americanas do país asiático.

Por sua vez, Donald Trump dizia na campanha presidencial de 2016 que a guerra no Afeganistão era um desperdício de dinheiro, mas o fracasso das conversas de paz com o Taleban indica que o conflito deverá prosseguir nos próximos anos. E, mesmo que os Estados Unidos consigam terminar seu envolvimento militar no Afeganistão, nada garante que a população do país finalmente veja o fim de décadas de violência.

“Enquanto os Estados Unidos buscam finalizar um acordo com o Taleban, o país deve se reconciliar com duas verdades contraditórias: uma é que os Estados Unidos erraram gravemente ao pensar que poderiam derrotar uma insurgência no Afeganistão …, e a outra é que o acordo negociado agora pode aumentar em vez de reduzir a violência”, escreveu Laurel Miller, analista do think tank International Crisis Group, em artigo na revista Foreign Policy.

“Entre estas duas verdades há um espaço estreito em que o governo americano pode ao mesmo tempo encerrar sua guerra mais duradoura e evitar uma guerra civil intensificada na sequência. Se o acordo esperado conseguirá atingir estes objetivos dependerá dos detalhes.”

]]>
0
Com El Paso, terroristas de direita matam mais que jihadistas nos EUA https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/05/com-el-paso-terroristas-de-direita-matam-mais-que-jihadistas-nos-eua/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/05/com-el-paso-terroristas-de-direita-matam-mais-que-jihadistas-nos-eua/#respond Mon, 05 Aug 2019 13:18:09 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/el-paso-320x213.png https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3282 O massacre em El Paso, que deixou 20 mortos no sábado (3), confirma uma tendência alarmante nos Estados Unidos: a violência promovida por extremistas de direita já deixa mais vítimas do que os ataques perpetrados por jihadistas.

De acordo com dados do centro de estudos New America, atos terroristas provocados por jihadistas deixaram 104 mortos desde os atentados de 11 de setembro de 2001; já os ataques motivados pelo extremismo de direita deixaram 107 vítimas no mesmo período –incluindo os mortos em El Paso.

Em inglês, gráfico do New America mostra número de vítimas de atentados nos EUA de acordo com ideologia (Crédito: reprodução)

O ataque a tiros em um supermercado da rede Wal Mart em El Paso, no Estado americano do Texas, está sendo investigado como um caso de terrorismo doméstico. O suspeito, detido após o incidente, foi identificado como Patrick Crusius, um homem branco de 21 anos.

Um manifesto racista circulou na internet dizendo que o ataque era uma resposta a uma suposta “invasão hispânica” dos Estados Unidos. O documento também detalha um plano para separar o país por raças e menciona o massacre contra muçulmanos na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, em 15 março.

Os dados do New America indicam que o ataque em El Paso não é isolado, e que houve um aumento no número de vítimas de ataques perpetrados por extremistas de direita nos últimos anos nos Estados Unidos.

Por exemplo, em 27 de outubro, um radical de direita abriu fogo em uma sinagoga em Pittsburgh, matando 11 fiéis. Pouco antes, em 24 de outubro, um extremista havia matado um casal negro em uma loja em Kentucky após proferir ofensas raciais.

Sobre o ataque em El Paso, o presidente Donald Trump afirmou nesta segunda-feira (5) que não há lugar nos Estados Unidos para “ódio, intolerância e supremacia branca”.

Ele vinha sendo pressionado a denunciar a ideologia racista que motivou o atentado. Críticos do republicano dizem que sua retórica inflamada contra imigrantes coloca lenha na fogueira dos crimes de ódio.

“Suas palavras foram alimentando a supremacia branca e dando licença a ela, e nós estamos vendo os resultados horríveis desse ódio hoje”, disse o senador Cory Booker, de New Jersey, sobre o presidente americano.

Atençã0: Este post foi atualizado às 11h40 para incluir novas declarações de Donald Trump sobre o ataque em El Paso.

]]>
0
Bolsonaro segue os passos de Trump ao apostar na radicalização da retórica https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/01/bolsonaro-segue-os-passos-de-trump-ao-apostar-na-radicalizacao-da-retorica/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/01/bolsonaro-segue-os-passos-de-trump-ao-apostar-na-radicalizacao-da-retorica/#respond Thu, 01 Aug 2019 14:28:22 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/bolsonaro-trump-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3270 Jair Bolsonaro tem seguido à risca a cartilha de poder de seu ídolo Donald Trump.

O Brasil mal se recupera da polarização que rachou o país de vez na eleição de outubro, e o presidente faz de tudo para intoxicar ainda mais o debate público com mentiras e impropérios.

Só nos últimos dias, Bolsonaro fez ataques sem precedentes contra povos indígenas, a comunidade científica, a imprensa livre e a memória das vítimas da ditadura militar, dentre outros alvos. Desnorteada, a sociedade tem encontrado dificuldades para oferecer respostas rápidas à sequência de ameaças que emana do Alvorada.

Não estamos sozinhos: os Estados Unidos enfrentam desafios semelhantes impostos pelo atual ocupante da Casa Branca. O problema surgiu por lá ainda em 2015, quando Trump lançou sua pré-candidatura à Presidência com declarações estapafúrdias contra mulheres, imigrantes e as instituições de poder.

Na época, a verborragia de Trump não era levada à sério. O deboche em relação ao magnata nova-iorquino era tanto que o site Huffington Post chegou a noticiar sua campanha na seção de entretenimento em vez da de política.

Em vez de enfraquecerem sua candidatura, os disparates de Trump sequestraram a atenção do eleitorado e o levaram a vencer as primárias do Partido Republicano. Mais tarde, em novembro de 2016, ele derrotou a favorita Hillary Clinton na votação do colégio eleitoral, surpreendendo o establishment político.

Uns esperavam em vão que a cadeira presidencial ajudasse a moderar o comportamento errático do republicano. Desde a posse, Trump faz da virulência –tanto ao vivo quanto no Twitter– a principal marca de seu governo.

Em agosto de 2017, alguns meses após a cerimônia de inauguração, o presidente causou indignação quando, ao comentar os incidentes de tensão racial em Charlottesville, igualou a violência dos extremistas da Ku Klux Klan à reação pacífica de manifestantes antifascistas. O episódio ficou gravado na opinião pública americana como um triste lembrete de que as estruturas racistas herdadas do tempo da escravidão seguem vivas e fortes nos Estados Unidos.

Já em novembro de 2018, Trump elevou o nível de seus despautérios contra a mídia independente –rotineiramente taxada de “inimiga da nação” e “fake news”– ao revogar as credenciais de acesso à Casa Branca do repórter Jim Acosta, da emissora CNN. Amplamente vista como um ataque à liberdade de imprensa, a medida foi logo revertida pela Justiça.

O republicano atingiu o pico de suas ameaças contra as instituições de poder no mês passado, quando sugeriu que quatro deputadas da ala progressista do Partido Democrata, todas cidadãs americanas e integrantes de minorias raciais, odiavam a América e deveriam retornar aos “países totalmente infestados pela criminalidade de onde vêm”. A declaração racista foi imediatamente rechaçada pela Câmara dos Deputados, controlada pela oposição.

“Ao longo da nossa história, o linguajar racista tem sido usado para colocar um americano contra o outro de modo a beneficiar a elite rica”, escreveu Ilhan Omar, uma das deputadas alvejadas por Trump, em artigo de opinião publicado na semana passada pelo New York Times.

LÓGICA SECTÁRIA

A experiência dos Estados Unidos na era Trump mostra que a postura agressiva do presidente deve ser levada a sério. Quem apostava que o republicano morreria pela boca já se enganou uma vez em 2016.

Trump tem avançado a passos largos em pontos estratégicos de sua agenda populista, como o nacionalismo econômico e o combate à imigração, deixando um rastro de ódio e divisão à medida em que revoga direitos de minorias e demole princípios caros à democracia.

Apesar das inúmeras controvérsias que produz, o líder americano tem conseguido manter sua popularidade em nível estável. A retórica agressiva de Trump energiza seus seguidores mais fiéis nos meses que antecedem a batalha pela reeleição no pleito de novembro de 2020.

Esta lógica sectária parece ter sido adotada por Bolsonaro no Brasil. Confrontado após a nova leva de disparates, o presidente não dá sinais de que corrigirá o comportamento: “Sou assim mesmo”, ele disse em entrevista ao jornal O Globo.

Enquanto a maioria dos líderes de países democráticos mantém uma distância cautelosa em relação Trump, o presidente americano tem encontrado em Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo –provável futuro embaixador do Brasil em Washington– dois de seus mais subservientes admiradores ao sul do continente.

Ainda que traga ecos do líder americano, o estilo de Bolsonaro antecede o republicano em muitas décadas. O presidente brasileiro construiu sua carreira na Câmara dos Deputados defendendo o retorno da ditadura militar e ofendendo mulheres, LGBTs, negros, índios e nordestinos. A recente escalada do discurso agressivo de Bolsonaro não deveria surpreender ninguém.

Nos Estados Unidos, quem tem feito contrapeso aos abusos do presidente são movimentos sociais e a imprensa independente —e, de modo mais limitado, as instituições de poder como o Legislativo e a Justiça.

Por aqui, o discurso tóxico de Bolsonaro enfrenta alguma resistência da sociedade civil. Mas o nosso sistema de pesos e contrapesos, essencial para a preservação do Estado de Direito, é mais frágil que nos Estados Unidos.

“Cada vez que o presidente dispara contra seus críticos, cada vez que ele agrava a linguagem do racismo e do ódio, torna-se mais difícil convencer a nós mesmos de que vivemos em uma sociedade que valoriza a civilidade, a compaixão e a tolerância”, escreveu Francine Prose, integrante da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos, em artigo recente para o jornal britânico The Guardian.

A autora se referia ao “linguajar cruel” de Trump, mas o alerta também vale para o Brasil de Bolsonaro: “Se estamos com raiva, nós podemos dar a ela um uso positivo … Vamos canalizar nosso descontentamento para um propósito maior que supere o divisionismo, o descaso e o redemoinho caótico e acelerado da violência verbal e física”.


P.S.: Fui para o Twitter, siga @danielavelar_ 

]]>
0
Quem são e o que pregam as deputadas democratas atacadas por Trump? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/19/quem-sao-e-o-que-pregam-as-deputadas-democratas-atacadas-por-trump/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/19/quem-sao-e-o-que-pregam-as-deputadas-democratas-atacadas-por-trump/#respond Fri, 19 Jul 2019 15:34:45 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/squad-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3248 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a causar indignação ao redor do mundo na última semana por conta de suas declarações racistas. Em uma série de tuítes no domingo (14), Trump sugeriu que quatro deputadas democratas integrantes de minorias raciais retornassem aos “países totalmente infestados pela criminalidade de onde vêm”, embora sejam cidadãs americanas.

Os ataques presidenciais colocaram as congressistas, conhecidas informalmente como “o esquadrão”, no centro do debate político nacional. Elas são Ilhan Omar, representante de Minessotta; Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York; Rashida Tlaib, de Michigan; e Ayanna Pressley, de Massachusetts.

O episódio levou a Câmara dos Deputados, controlada pela oposição democrata, a aprovar na terça-feira (16) uma moção de repúdio contra o presidente. A casa legislativa também discutiu a abertura de um processo de impeachment, mas a proposta foi derrotada.

Apesar das críticas da oposição e até mesmo dentro de seu próprio partido, Trump insiste que “não tem um osso racista” em seu corpo. Na quarta (17), durante um comício na Carolina do Norte, o presidente voltou a acusar Omar de querer destruir os Estados Unidos, e o público gritou “mande-a de volta!”. No dia seguinte, o republicano ensaiou um mea-culpa, dizendo discordar dos gritos da multidão.

Saiba quem são e o que defendem as deputadas democratas atacadas por Trump:

1. Deputadas representam a renovação da política americana

Apesar de serem novatas –elas foram eleitas no pleito legislativo de novembro–, as congressistas ganharam destaque na oposição contra o governo Trump. Elas representam a renovação da política americana, tradicionalmente dominada por homens brancos.

As deputadas nasceram nos Estados Unidos, com a exceção de Omar, que nasceu na Somália e se naturalizou americana quando era criança. Ocasio-Cortez tem ascendência porto-riquenha, Tlaib é filha de imigrantes palestinos e Pressley é afro-americana.

“Este é um presidente que violou abertamente os valores que este país diz defender”, afirmou Omar em entrevista coletiva na segunda-feira (15). “E para gerar distração, ele lançou um ataque descaradamente racista contra representantes eleitas … Esta é a agenda dos nacionalistas brancos.”

2. À esquerda, ‘esquadrão’ desafia establishment democrata

Além de enfrentarem Trump, as deputadas do “esquadrão” têm comprado brigas com a liderança do Partido Democrata no Congresso para exigir o apoio a políticas progressivas.

Elas defendem, por exemplo, a taxação de grandes fortunas em até 70%, bem como a universalização do sistema de saúde do país, atualmente controlado por empresas privadas. Além disso, as deputadas querem a extinção da ICE, agência responsável pela detenção de imigrantes sem documentos, e sugerem que o governo adote um plano de investimentos para combater as mudanças climáticas.

“O Partido Democrata de hoje acredita que, para vencer, é preciso enfocar um centro hipotético”, disse Saikat Chakrabarti, chefe de gabinete de Ocasio-Cortez, ao Washington Post. “Nós temos uma teoria da mudança completamente diferente: você faz a coisa mais incrível que puder, e isso animará as pessoas a sair para votar.”

3. Ataques racistas revelam estratégia de Trump para buscar reeleição

As declarações racistas de Trump não são novidade. Em sua campanha à Presidência nas eleições de 2016, ele afirmou que imigrantes mexicanos são “traficantes, criminosos, estupradores”. Já no poder, ele disse ver “gente de bem” entre os participantes de uma manifestação violenta convocada pela Ku Klux Klan na cidade de Charlottesville, realizada em agosto de 2017.

Desta vez, os ataques racistas do republicano parecem indicar sua estratégia para buscar a reeleição nas eleições de 2020. Ao colocar o “esquadrão” em evidência, Trump força o Partido Democrata a se unir em defesa de sua ala mais radical, acirrando a polarização do eleitorado.

“Este é o tipo de batalha de que o presidente gosta”, diz uma reportagem do New York Times publicada na terça-feira. “A estratégia de reeleição de Trump é … apresentar seus oponentes não só como quem não gosta dele e de suas políticas, mas como [gente] que não gosta da própria América.”

]]>
0
Veja vantagens e obstáculos à frente de Joe Biden na corrida pela Casa Branca https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/25/veja-vantagens-e-obstaculos-a-frente-de-joe-biden-na-corrida-pela-casa-branca/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/25/veja-vantagens-e-obstaculos-a-frente-de-joe-biden-na-corrida-pela-casa-branca/#respond Thu, 25 Apr 2019 15:29:05 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/biden-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3101 Joe Biden entrou de vez na corrida pela Presidência dos Estados Unidos. Vice-presidente no governo de Barack Obama (2009-2017), o político democrata é um dos favoritos para enfrentar Donald Trump nas eleições de novembro de 2020.

“Estamos em uma batalha pela alma desta nação”, afirmou Biden, 76, em vídeo de lançamento de sua campanha divulgado nesta quinta-feira (25). Ele também disse acreditar que a Presidência de Trump é um “momento aberrante” na história do país e que a própria democracia “está em jogo”.

Entenda as vantagens e os obstáculos à frente de Biden na corrida pela Casa Branca:

1. Vantagem: Biden é favorito desde a largada

É a terceira vez que Biden tenta ser o candidato democrata à Presidência do país. Ele já disputou as primárias do partido em 1988 e 2008, período em que era senador, mas fracassou em obter a nomeação. Desta vez, ele começa a campanha à frente dos demais competidores.

De acordo com uma pesquisa do RealClearPolitics, Biden é o favorito para obter a indicação do partido com 29,3%, seguido por Bernie Sanders, senador que foi pré-candidato à presidência em 2016, que tem 23% de apoio.

2. Obstáculo: seu passado é alvo de escrutínio

A longa carreira de Biden na política fez ele ser bastante conhecido pela população, mas algumas manchas em seu histórico voltam agora para atormentá-lo. Por exemplo, Biden é criticado por ter declarado apoio à invasão do Iraque em 2003, encabeçada pelo então presidente George W. Bush. A intervenção, que culminou na deposição do ditador Saddam Hussein, deixou um rastro de violações de direitos humanos e agravou a instabilidade no Oriente Médio.

Além disso, Biden é frequentemente questionado sobre seu papel no processo de indicação do juiz Clarence Thomas para uma vaga na Suprema Corte, em 1991. Na época, o democrata presidia a Comissão de Justiça do Senado e permitiu que congressistas atacassem Anitta Hill, uma ex-funcionária de Thomas que o acusava de assédio sexual. Apesar da denúncia, o juiz teve sua indicação aprovada.

Por fim, nos últimos meses diversas mulheres vieram a público para acusar Biden de tê-las tocado e beijado de maneira inapropriada. Após as denúncias, o democrata prometeu corrigir seu comportamento, mas o desgaste de sua imagem é inevitável diante da força do movimento #MeToo, que desafia o machismo na política e na indústria do entretenimento.

3. Vantagem: ele tem o apoio do establishment democrata

Veterano da política americana, Biden tem o respaldo tácito da direção do Partido Democrata. Espera-se que nos próximos meses diversas figuras de peso da agremiação declarem suporte à sua candidatura –o rol de possíveis apoiadores inclui a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, além, é claro, de Obama.

A posição privilegiada de Biden entre os democratas facilita seu acesso a doadores e à máquina de campanha do partido. Isso pode fazer toda a diferença na disputa das primárias democratas, que já conta com cerca de vinte candidatos.

4. Obstáculo: ele está distante da ala progressista do partido

Por outro lado, Biden está distante das bases progressistas do partido, que vêm ocupando cada vez mais espaço na agremiação. Além de contar com militantes aguerridos, a esquerda do Partido Democrata tem quadros ascendentes, como as deputadas em início de mandato Alexandria Ocasio-Cortez e Ilhan Omar.

O grupo tem se destacado na oposição ao governo Trump e apresentado propostas inovadoras, como a taxação de grandes fortunas, a universalização do sistema de saúde (Medicare for All) e um plano de combate às mudanças climáticas (Green New Deal). Algumas destas medidas têm o apoio de candidatos fortes nas primárias democratas, como Bernie Sanders e Elizabeth Warren.

Até agora, porém, Biden não deixou claro quais são suas propostas de campanha para além da defesa do legado dos anos Obama. Caso falhe em apresentar ideias novas, Biden corre o risco de ser visto pelo eleitorado democrata como uma mera reedição da candidatura de Hillary Clinton, derrotada por Trump em 2016.

De fato, ser um representante da política tradicional parece ser um revés para Biden em um momento em que as bases do partido exigem renovação nas estruturas de poder dos Estados Unidos.

Atenção: O post informava que Joe Biden tem 78 anos. A informação está errada: o político democrata tem 76 anos. O texto foi corrigido.

]]>
0
Na política externa, Bolsonaro mostra sua face mais radical https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/08/na-politica-externa-bolsonaro-mostra-sua-face-mais-radical/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/08/na-politica-externa-bolsonaro-mostra-sua-face-mais-radical/#respond Fri, 08 Mar 2019 11:00:06 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/15519110985c8048bab75c3_1551911098_3x2_xl-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2977 Jair Bolsonaro faz de tudo para frustrar as expectativas de quem achava que o poder ajudaria a moderar suas posições extremadas. O Bolsonaro deputado que elogiava o ditador chileno Augusto Pinochet (1973-1990) é o mesmo que, na Presidência, homenageia o ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989).

O radicalismo é marca de várias áreas do novo governo, mas é na política externa que o presidente expressa uma de suas faces mais cruentas. Ao contrário das promessas de conduzir as relações internacionais do Brasil “sem viés ideológico”, a diplomacia bolsonarista se mostra cada vez mais conservadora e autoritária.

É uma estratégia que faz sentido: nas relações exteriores, o ocupante do Planalto tem um maior grau de autonomia para tomar decisões, sem precisar se submeter aos contrapesos exercidos pelo Congresso e pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Na nova administração, o Itamaraty passa por transformações profundas sob a batuta do chanceler Ernesto Araújo (aquele que dizia que o aquecimento global é um “complô marxista” para destruir a civilização ocidental).

Na posição de líder da trupe olavista na Esplanada, o chefe do MRE (Ministério das Relações Exteriores) parece desconsiderar décadas de tradição diplomática baseada nos princípios da independência, do pragmatismo e da resolução pacífica de conflitos.

Demonstrando alinhamento à Casa Branca, Araújo dá voz a quem deseja uma aventura intervencionista na Venezuela, com consequências imprevisíveis para a ordem regional. A atitude do chanceler arrisca mergulhar as Forças Armadas em uma guerra contra um país vizinho –algo inédito desde a Guerra do Paraguai, há um século e meio.

Mesmo após ter suas asas cortadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão, o chanceler deixou evidente sua intransigência ao demitir o embaixador Paulo Roberto de Almeida no início desta semana. O diplomata fazia críticas ao tratamento dado pela nova gestão à crise venezuelana, mas estava longe de representar o fantasma do “lulopetismo” que Araújo diz combater.

Ernesto Araújo, novo chanceler, olha para Jair Bolsonaro durante evento em Brasília (Crédito: Sergio Lima/AFP)

Os novos ventos que sopram do Itamaraty impulsionam a reconfiguração do eixo de alianças internacionais do país. É bastante simbólico que Bolsonaro inaugure sua agenda no exterior prestando visitas a Donald Trump e Binyamin Netanyahu, marcadas para as próximas semanas (o Chile, governado pelo direitista Sebastian Piñera, também está no roteiro da viagem).

Os líderes dos Estados Unidos e de Israel estão na linha de frente da cruzada internacional, à qual o Brasil agora se soma, contra a ONU (Organização das Nações Unidas) e demais instituições de governança global. Na nova ordem mundial proposta por este grupo, o multilateralismo e a promoção dos direitos humanos não são prioridades.

Se Bolsonaro levasse a sério a bandeira do combate à corrupção, estaria andando com gente de outra laia. Vários aliados de Trump foram parar na cadeia por práticas financeiras escusas, e há suspeitas de conspiração com autoridades da Rússia na campanha eleitoral de 2016. Já Netanyahu deverá ser indiciado por suborno e fraude às vésperas de novas eleições gerais. Pensando bem, a companhia até que combina com o governo dos laranjas e do Queiroz.

Mais grave que qualquer escândalo de corrupção, porém, é que os parceiros internacionais prioritários de Bolsonaro não escondam seu racismo e sua simpatia por grupos extremistas.

Todos ainda se lembram de que Trump promoveu a separação de famílias de imigrantes centro-americanos na fronteira, deixando que crianças morressem em jaulas. Também não dá para esquecer que o presidente americano viu “pessoas de bem” entre os participantes de uma manifestação violenta convocada pela Ku Klux Klan em Charlottesville em agosto de 2017.

Em comparação, o histórico de Netanyhahu não deixa a desejar: seu governo é responsável pela morte de centenas de civis palestinos na faixa de Gaza, em ações que podem constituir crimes de guerra, segundo a ONU. Além disso, o premiê israelense recentemente abriu as portas de sua coalizão para os extremistas do partido Otzma Yehudit (Poder Judaico) –o convite provocou críticas até mesmo da Aipac, o poderoso grupo de lobby pró-Israel em Washington.

O radicalismo da política externa de Bolsonaro se contrapõe à moderação (sempre em termos relativos) da diplomacia de Trump. Em seus primeiros anos em Washington, o republicano precisou retroceder em algumas de suas políticas internacionais mais amalucadas graças às intervenções dos secretários de Estado, Rex Tillerson, e de Defesa, Jim Mattis. Não por acaso, ambos acabaram deixando o governo eventualmente.

Já no Brasil, as expectativas de moderação são depositadas em um Mourão repaginado, bem como nos ministros Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça), encarregados de executar boa parte da agenda doméstica do governo.

Mas não custa lembrar que política externa também é política pública e produz resultados concretos na vida da população, embora pouco visíveis no curto prazo. A condução das relações exteriores na nova gestão ameaça desmoralizar o Itamaraty e arranhar a imagem que o Brasil apresenta para o mundo.

Em um passado recente, o Brasil esboçava alguma iniciativa diplomática, posicionando-se como referência positiva entre os países emergentes e procurando remodelar as instituições internacionais em favor da soberania.

Havia problemas, é claro, mas ao menos existia a ambição de se sentar à mesa dos adultos. Agora, o país parece se contentar com o papel de bobo da corte.

]]>
0
Paralisação do governo nos EUA já custa mais que o muro que Trump quer erguer https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/01/25/paralisacao-do-governo-nos-eua-ja-custa-mais-que-o-muro-que-trump-quer-erguer/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/01/25/paralisacao-do-governo-nos-eua-ja-custa-mais-que-o-muro-que-trump-quer-erguer/#respond Fri, 25 Jan 2019 10:53:32 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/muro-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2897 A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, que se arrasta por 35 dias, já custa cerca de US$ 6 bilhões (R$ 22,6 bilhões) para a economia do país, segundo estimativas da agência Standard & Poor’s (S&P).

O valor é maior do que os US$ 5,7 bilhões (R$ 21,5 bilhões) pedidos pelo presidente Donald Trump para construir um muro na fronteira com o México. A disputa entre republicanos e democratas no Congresso a respeito da concessão da verba para o muro é o que deu início à paralisação, em dezembro.

A S&P estima que cada semana com o governo fechado tem um impacto negativo de US$ 1,2 bilhões (R$ 4,5 bilhões) no PIB (Produto Interno Bruto) americano. Isto porque, após a reabertura do governo, a administração federal terá de pagar retroativamente os mais de 800 mil funcionários impedidos de trabalhar.

Trump e seus aliados republicanos no Congresso defendem que a construção de uma barreira na fronteira com o México é essencial para impedir a entrada de imigrantes sem documento. A oposição democrata, que passou a controlar a Câmara após as eleições legislativas de novembro, vê o muro como uma proposta populista e ineficaz.

Até agora, não há sinais de que a paralisação, a mais longa da história do país, terá fim. Na quinta-feira (24), o Senado rejeitou duas propostas de orçamento –uma delas foi apresentada pelos republicanos e previa a verba para a construção do muro, enquanto a outra, defendida pelos democratas, não incluía o dinheiro para a barreira. Embora os republicanos controlem a casa legislativa, eles não têm os 60 votos necessários (entre 100 senadores) para aprovar o orçamento.

PARALISAÇÃO POR TEMPO INDEFINIDO

Há algumas semanas, Trump afirmou que poderia manter o governo fechado por “meses ou até mesmo anos” caso não conseguisse o dinheiro para construir seu muro. O presidente também ameaçou declarar emergência nacional e ofereceu concessões para imigrantes irregulares no país em troca da verba, mas não obteve sucesso.

Devido à paralisação, Trump precisou adiar o Discurso sobre o Estado da União, tradicional pronunciamento anual do presidente ao Congresso. O discurso estava inicialmente marcado para o dia 29, mas a liderança democrata na Câmara alertou que o fechamento do governo atrapalharia a organização do evento.

Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos americanos culpa Trump pela paralisação, e que a popularidade do presidente caiu alguns pontos desde o início do fechamento do governo. Críticos acusam Trump de usar a paralisação para desviar a atenção do público sobre as suspeitas de conluio entre integrantes de sua campanha eleitoral e autoridades da Rússia.

]]>
0
O que está em jogo nas midterms, eleições desta terça nos EUA? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/o-que-esta-em-jogo-nas-midterms-eleicoes-desta-terca-nos-eua/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/11/06/o-que-esta-em-jogo-nas-midterms-eleicoes-desta-terca-nos-eua/#respond Tue, 06 Nov 2018 10:00:06 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/midterms-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2704 Eleitores americanos irão às urnas nesta terça-feira (6) para escolher os novos integrantes da Câmara e do Senado. A votação representa o primeiro desafio eleitoral do governo de Donald Trump, vencedor da corrida presidencial há dois anos.

As midterms, eleições realizadas na metade do mandato presidencial, servem de termômetro da popularidade do governo e determinam a correlação de forças no Congresso nos anos seguintes. Neste ano, os democratas têm a oportunidade de retomar o controle das duas casas legislativas; caso obtenham sucesso, podem minar a agenda congressual de Trump.

Em seu favor, o presidente conta com índices positivos na economia e aposta na reação do eleitorado conservador a uma caravana com milhares de migrantes da América Central que avança em direção à fronteira com os Estados Unidos. Por outro lado, o republicano pode ser afetado por ataques recentes de extremistas de direita contra negros, judeus e personalidades do Partido Democrata. Na campanha, Trump e seu antecessor, o democrata Barack Obama, têm trocado farpas em comícios de correligionários, em uma disputa de narrativas sobre seus próprios legados.

Entenda o que está em jogo na votação:

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante comício em Chattanooga, no estado do Tennessee (Crédito: Nicholas Kamm/AFP)

1. Republicanos podem perder a maioria no Congresso

Nestas eleições, serão disputados 35 dos 100 assentos no Senado, além de todas as 435 cadeiras na Câmara. Atualmente, o Partido Republicano possui maioria nas duas casas: tem 51 senadores e 240 deputados.

Apesar da maioria estreita, o partido de Trump tem mais chances de manter o controle do Senado, pois a maioria das cadeiras em disputa é ocupada pela oposição. Para reverter a situação, os democratas precisariam defender 26 assentos atualmente controlados pela oposição, além de conquistar algumas das 9 cadeiras que pertencem ao governo. A tarefa é hercúlea porque todos Estados têm a mesma representação no Senado, e os republicanos têm amplo favoritismo em alguns Estados com população pequena e rural –ainda assim, há disputas acirradas em Estados tradicionalmente republicanos, como o Texas. O site FiveThirtyEight, que produz modelos estatísticos com base em pesquisas de intenção de voto, estima que os republicanos têm 85% de chance de manter o controle do Senado.

Por outro lado, os democratas têm mais chances de vencer na disputa pela Câmara –eles precisam conquistar 23 novos assentos para obter a maioria. Aqui, a votação é distrital, com representação relativamente proporcional ao tamanho da população, de modo que os democratas podem surfar na onda de descontentamento com Trump –pesquisas de opinião indicam que a maioria da população está insatisfeita com o governo. Por isso, o FiveThirtyEight projeta que os democratas têm 85% de chance de ganhar a maioria da Câmara.

2. Resultado definirá o futuro do governo Trump

Caso as projeções se confirmem e os republicanos percam a maioria da Câmara, Trump terá problemas para fazer avançar sua agenda legislativa. Até aqui, o presidente obteve sucesso em votações no Congresso que desmontaram regulações ambientais e baixaram os impostos para os mais ricos. Porém, mesmo com maioria nas duas casas, o republicano não conseguiu apoio para entregar importantes promessas de campanha, como a construção de um muro ao longo da fronteira com o México e a extinção do Obamacare, sistema de subsídio de planos de saúde.

A provável manutenção da maioria republicana no Senado dará força para que Trump aprove membros de seu gabinete e indicados para a Suprema Corte, além de ajudar a blindá-lo em um eventual processo de impeachment –a equipe de campanha do republicano é investigada por suspeitas de conspiração com autoridades russas na corrida eleitoral de 2016.

O enfraquecimento de Trump no Congresso deixaria o presidente com mão atadas para lidar com assuntos domésticos que dependem de apoio parlamentar. Isso não significa a inviabilização do governo: presidentes americanos que não têm apoio do Congresso costumam concentrar suas iniciativas na política externa, área na qual o ocupante do Executivo tem amplos poderes.

3. Mulheres alcançam protagonismo inédito

A onda de insatisfação com Trump deu impulso a um número recorde de mulheres disputando cargos legislativos: há 234 candidatas para a Câmara e 22 para o Senado, a maioria filiada ao partido democrata. Ainda assim, as mulheres representam apenas 11,5% do total de candidatos democratas e republicanos ao Congresso.

A participação de mulheres nas eleições reflete o avanço do movimento feminista #MeToo e é uma resposta aos escândalos do governo Trump. Conhecido por sua retórica misógina, o presidente é acusado de assediar mulheres e de pagar pelo silêncio de uma atriz pornô com quem manteve relações extraconjugais. Além disso, mulheres lideraram protestos recentes contra Brett Kavanaugh, jurista escolhido pelo presidente para ocupar uma vaga na Suprema Corte –ele é alvo de denúncias de assédio sexual e deverá ser voto decisivo para reverter a jurisprudência sobre o direito ao aborto no país.

4. Votação pode ter comparecimento acima da média

O voto é facultativo nos Estados Unidos, e os índices de comparecimento às urnas costumam ser baixos nas midterms. Porém, os altos índices de votação antecipada apontam que a participação neste ano poderá ser a maior em 50 anos.

O alto comparecimento às cabines de votação é a grande aposta do Partido Democrata, que trata estas eleições como uma espécie de referendo sobre a figura polarizadora de Trump. As prévias do partido deram resultados expressivos para os Democratas Socialistas, corrente apoiada pelo senador Bernie Sanders, com um programa progressista que mobiliza parte do eleitorado jovem.

5. Alguns Estados terão plebiscitos e eleições para governador

Além de eleger integrantes do Congresso, diversos Estados terão consultas sobre temas que vão da legalização da maconha ao aumento do salário mínimo. Outras propostas em votação dizem respeito ao direito ao voto de pessoas com antecedentes criminais, à legalização de cassinos e ao estímulo ao uso de energias renováveis. Ao todo, 155 propostas serão colocadas para consulta popular em 37 estados.

Ademais, 26 Estados terão eleições para governadores e outros cargos locais; atualmente, os republicanos controlam cerca de dois terços dos Estados do país. Muitos dos governadores eleitos nestas midterms poderão influenciar a próxima rodada de redefinição de distritos eleitorais, que ocorrerá em 2021 –é comum que governantes lancem mão do “gerrymandering”, método em que o desenho de distritos é manipulado para beneficiar um partido. Desse modo, as eleições desta terça poderão ter impactos duradouros em votações realizadas na próxima década.

]]>
0
Entenda a caravana de migrantes da América Central que desafia Trump https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/23/entenda-a-caravana-de-migrantes-da-america-central-que-desafia-trump/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/23/entenda-a-caravana-de-migrantes-da-america-central-que-desafia-trump/#respond Tue, 23 Oct 2018 15:35:23 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/caravana-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2681 Uma caravana com mais de 7.200 migrantes de países da América Central está marchando em direção aos Estados Unidos, em um movimento que desafia a política migratória linha dura do presidente Donald Trump.

Na segunda-feira (22), o grupo cruzou a fronteira com o México, e precisa atravessar mais de 1.800 quilômetros até alcançar a fronteira americana. Em resposta, Trump afirmou que a caravana representa uma “emergência nacional” e ameaçou cortar a ajuda financeira que os Estados Unidos dão aos países de origem dos migrantes.

Entenda a caravana por meio de perguntas e respostas:

  1. Quem são os imigrantes em marcha?

O grupo, que contava com apenas 160 integrantes quando iniciou a jornada no dia 13 em Honduras, gradualmente ganhou adesão de milhares de moradores de El Salvador, Guatemala e Nicarágua que pretendem ingressar nos Estados Unidos. Muitos pegam carona em caminhões que viajam rumo ao norte e, segundo os organizadores do movimento, cerca de 60% dos migrantes devem permanecer no México em vez de completar a viagem.

“Queremos apenas trabalhar, e se aparecer um emprego no México, eu aceitaria. Nós faríamos de tudo, menos coisas ruins”, disse à agência de notícias Associated Press a guatemalteca Ana Luisa Espana, que integra o grupo.

Caravanas semelhantes foram registradas nos últimos anos, mas o grupo atual gerou surpresa devido ao volume de migrantes. Além disso, o movimento aumenta a pressão sobre Trump a poucas semanas das eleições legislativas de 6 de novembro, em que os republicanos correm o risco de perder a maioria no Congresso.

  1. Trump insinuou que há terroristas infiltrados. É verdade?

Trump disse que “criminosos e pessoas do Oriente Médio não identificadas estão misturados” no movimento. A declaração de Trump ocorreu pouco após um âncora do programa matinal Fox & Friends, do qual o presidente é espectador assíduo, alegar que há membros da organização terrorista Estado Islâmico infiltrados na caravana.

No entanto, repórteres da Associated Press que acompanham a caravana não identificaram pessoas do Oriente Médio em meio ao grupo.

“Não há um único terrorista aqui”, disse à Associated Press o hondurenho Denis Omar Contreras, um dos organizadores da caravana. “Nós somos pessoas de Honduras, El Salvador, Guatemala e Nicarágua. E até onde eu saiba não há terroristas nestes quatro governos, a não ser os corruptos do governo.”

  1. Trump disse que democratas financiam o grupo com fins políticos. É verdade?

O presidente também acusou os democratas de financiar a caravana para tentar “prejudicar os republicanos nas eleições legislativas”. No Twitter, ele compartilhou um vídeo que mostra os migrantes recebendo dinheiro, mas não apresentou evidências de que os democratas estejam por trás do movimento.

De fato, não há indícios de que a caravana seja apoiada por grupos americanos com fins políticos. O pouco dinheiro que os migrantes recebem no trajeto é uma ajuda de custo para que comprem água e comida.

Além disso, embora os democratas tenham um discurso menos rígido que o de Trump sobre imigração, o partido não é favorável à abertura das fronteiras. Durante seu governo, Barack Obama (2009-2017) reforçou o policiamento da fronteira e deteve dezenas de milhares de pessoas que tentaram entrar ilegalmente no país.

  1. Como a caravana desafia Trump?

A caravana de migrantes centro-americanos traz à tona, às vésperas das eleições legislativas, o debate sobre imigração, no qual o governo Trump tem colecionado polêmicas.

Poucos dias após tomar posse, em janeiro de 2017, o republicano assinou um decreto barrando viajantes de uma série de países de maioria muçulmana. A medida gerou protestos e foi alvo de uma longa disputa nos tribunais até que a Suprema Corte declarou sua legalidade, em junho.

Além disso, Trump foi alvo de críticas pela política de separar famílias detidas ao cruzar a fronteira, pondo milhares de crianças em campos de detenção. O presidente teve de recuar na iniciativa, mas muitas crianças permanecem separadas de seus pais.

Por fim, até agora Trump não conseguiu entregar a construção de um muro ao longo de toda a fronteira com o México, uma de suas principais promessas de campanha. Uma eventual derrota dos republicanos nas eleições legislativas deve dificultar ainda mais as negociações sobre o projeto no Congresso.

]]>
0
Trump incita tensão racial em debate sobre reforma agrária na África do Sul https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/23/trump-incita-tensao-racial-em-debate-sobre-reforma-agraria-na-africa-do-sul/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/08/23/trump-incita-tensao-racial-em-debate-sobre-reforma-agraria-na-africa-do-sul/#respond Thu, 23 Aug 2018 16:22:28 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/08/trump-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2526 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pôs lenha no conflito racial da África do Sul ao sugerir que um projeto de reforma agrária em debate no país estaria provocando o “assassinato em massa de fazendeiros brancos”.

Em um tuíte postado na noite de quarta-feira (22), o republicano diz ter pedido ao seu secretário de Estado, Mike Pompeo, que “investigue de perto as tomadas e expropriações de terras e fazendas” na África do Sul, bem como uma suposta onda de homicídios contra latifundiários brancos.

O governo sul-africano reagiu nesta quinta (23) dizendo que Trump propagou “informações falsas” e que seu tuíte reflete uma “perspectiva que apenas busca dividir nossa nação e lembrar-nos do nosso passado colonial”. Autoridades sul-africanas pediram à embaixada americana que prestasse esclarecimentos sobre o episódio.

A declaração de Trump foi publicada pouco após a exibição de um programa da Fox News em que o âncora Tucker Carlson, frequentemente elogiado pelo presidente, acusou o governo sul-africano de “expropriar terras de seus cidadãos sem compensação porque têm a cor de pele errada”.

REFORMA AGRÁRIA

A África do Sul vem debatendo uma emenda constitucional que permitiria ao governo acelerar o processo de reforma agrária, eliminando a necessidade de indenizar proprietários que tiverem suas terras confiscadas.

O projeto busca corrigir distorções econômicas herdadas do período do Apartheid (1948-1994), em que a maioria negra da população era impedida de ter propriedades rurais em grande parte do território nacional. Atualmente, os negros compõem 80% da população, mas possuem só 4% das terras do país, segundo o governo.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, sorri durante sessão do Congresso na Cidade do Cabo (Crédito: Mike Hutchings - 15.fev.2018/AP)
O presidente Cyril Ramaphosa (Crédito: Mike Hutchings – 15.fev.2018/AP)

O presidente Cyril Ramaphosa, do partido Congresso Nacional Africano, diz que a reforma agrária aumentaria as terras disponíveis para cultivo e que as expropriações começariam com terras públicas. Porém, críticos do projeto dizem que a reforma agrária pode assustar investidores estrangeiros, prejudicando a economia do país.

Além disso, ativistas que representam os interesses da minoria branca no país afirmam que o projeto contribuiria para uma onda de ataques contra fazendeiros com motivações raciais. Nos últimos anos, o número de fazendeiros mortos tem subido, chegando a 74 vítimas entre abril de 2016 e março de 2017.

Membros da ultradireita nos EUA dizem que os crimes contra fazendeiros na África do Sul são evidência de um suposto projeto de “genocídio branco” no país.

Entretanto, os dados sobre a violência contra proprietários de terra não indicam um viés racial nos assassinatos, nem permitem dizer que a minoria branca sofreria mais do que os negros, historicamente marginalizados no país.

Com o tuíte de quarta-feira, Trump criou atrito diplomático com a África do Sul e deixou claro a influência de âncoras de TV conservadores sobre sua agenda política. Além disso, o presidente deu voz a grupos de extrema direita que associam políticas de reparação a negros a um projeto inexistente de extermínio dos brancos.

]]>
0