Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A ‘Nova Guerra Fria’ no Oriente Médio está prestes a esquentar? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/#respond Mon, 23 Sep 2019 10:48:17 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/saudi-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3376 A “Nova Guerra Fria” no Oriente Médio está prestes a esquentar?

Para Gregory Gause, professor de relações internacionais na Universidade Texas A&M que cunhou o termo para descrever a rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã, as duas potências regionais não têm dado sinais de que buscarão uma confrontação militar direta.

Gause enxerga nas dinâmicas de poder que definem o Oriente Médico contemporâneo elementos do conflito geopolítico que dividiu a região, e o mundo, entre polos antagônicos na segunda metade do século 20.

Assim como Estados Unidos e União Soviética evitavam uma escalada militar que aniquilaria as duas partes, as autoridades de Riad e Teerã não buscam uma guerra direta: em vez disso, competem por hegemonia apoiando facções rivais em países mais fracos da região, como a Síria, o Líbano e o Iêmen.

O que poderia deflagrar um conflito de grande escala seria um ataque dos Estados Unidos contra o Irã, acrescenta o professor, para quem a política americana de “pressão máxima” contra o regime iraniano tem sido um “fracasso”.

“Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la”, diz Gause por e-mail ao blog Mundialíssimo.

Na conversa, o professor discute as consequências dos ataques de drones contra refinarias de petróleo em Abqaiq e Khuais, na Arábia Saudita, no último dia 14. A Arábia Saudita e os Estados Unidos acusam o Irã de ter orquestrado os ataques; o regime iraniano nega responsabilidade, e diz que eventuais retaliações em seu território conduziriam à “guerra total”.

Leia, abaixo, a entrevista:

Mundialíssimo – Os ataques na Arábia Saudita geraram temores de uma escalada regional contra o Irã. Quais são os riscos de que a “Nova Guerra Fria” do Oriente Médio poderá evoluir para um confronto direto entre a Arábia Saudita e o Irã?

Gregory Gause – Se confronto direto significar um conflito entre Forças Armadas, eu acredito que não. Os iranianos evitam este tipo de ataque direto, conforme indicam suas negativas reiteradas sobre o ataque em Abqaiq. O Exército saudita não tem obtido sucesso no Iêmen. Eu duvido que eles adotariam uma postura ofensiva contra o Irã.

O confronto militar direto mais provável seria entre os Estados Unidos e o Irã, mas eu acredito que a resposta americana se dará nos bastidores.

O governo Trump tem demonstrado apoio contínuo ao regime saudita. O que explica a relação especial entre Washington e Riad? Quais são os possíveis resultados da estratégia de “pressão máxima” da Casa Branca em relação ao Irã?

As relações próximas entre o governo Trump e o saudita não são uma novidade. A maioria dos presidentes americanos teve estas relações, mesmo com altos e baixos. Talvez não tenham sido tão descarados quanto Trump, mas seu estilo é diferente dos governos passados em todos os aspectos. A oposição do Congresso também não é algo novo, mas é mais intensa que no passado, em parte como resposta ao assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi.

A política de “pressão máxima” é o que levou ao ataque de Abqaiq. É realmente um fracasso, não levou ao colapso do regime nem à sua rendição na mesa de negociação. Mas o governo Trump não parece ter uma política alternativa em vista. Sua resposta ao ataque em Abqaiq foi ordenar ainda mais sanções, o que torna outro ataque do Irã mais provável.

A saída dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 levou o regime iraniano a recomeçar seu programa nuclear. O que a comunidade internacional pode fazer para impedir o Irã de obter armas nucleares? Há espaço para a diplomacia?

Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la. Havia sinais de que Trump estava aberto a conversar, mas o ataque em Abqaiq fez a iniciativa recuar, se é que era de fato uma possibilidade. Os iranianos demonstraram que negociarão sobre este assunto, mas terão cuidado, tendo em vista a saída americana do acordo nuclear em 2018.

O ataque em Abqaiq foi o ataque mais grave contra a infraestrutura petrolífera desde a Guerra do Golfo de 1990-91. O fato de que os preços não foram tão afetados se deu por causa do atual quadro de excesso de oferta. Mas se o Irã perceber que o ataque teve sucesso, poderá ser atraído a buscar ataques similares. Isso traria bastante instabilidade para o mercado de petróleo mundial e para a região do golfo Pérsico.

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Disputas entre monarquias do Golfo agravam violência no Iêmen https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/29/disputas-entre-monarquias-do-golfo-agravam-violencia-no-iemen/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/29/disputas-entre-monarquias-do-golfo-agravam-violencia-no-iemen/#respond Thu, 29 Aug 2019 17:07:12 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/iemen-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3332 Novas disputas de poder entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, até então aliados estratégicos no Oriente Médio, arriscam abrir novas frentes de batalha na guerra civil no Iêmen, país que vive uma das piores crises humanitárias da atualidade.

As duas monarquias do Golfo Pérsico vinham atuando em conjunto na intervenção militar no Iêmen desde março de 2015. Nas últimas semanas, porém, forças iemenitas apoiadas por Riad e Abu Dabhi passaram a lutar pelo controle da cidade de Áden, deixando dezenas de mortos e feridos.

Os confrontos em Áden opõem as tropas do presidente Abdo Rabbo Mansur Hadi, apoiado pela Arábia Saudita, e as forças Conselho Transitório do Sul (CTS), grupo separatista financiado pelos Emirados Árabes.

As facções vinham lutando lado a lado contra os rebeldes xiitas huthis, que controlam porções do norte do país, mas passaram a guerrear entre si após a morte de Munir “Abu al-Yamama” al-Yafei, comandante do CTS, em um bombardeio em 1º de agosto.

Após semanas de violência, as forças de Hadi anunciaram ter assumido o controle de Áden na quarta-feira (28). O CTS prometeu “vingança” e, nesta quinta (29), um ataque aéreo atribuído aos Emirados Árabes matou pelo menos 30 soldados do regime iemenita, de acordo com as forças de Hadi; as autoridades de Abu Dhabi não se pronunciaram sobre o incidente.

“Nós consideramos os Emirados Árabes inteiramente responsáveis por estes assassinatos extrajudiciais explícitos”, disse em uma rede social o vice-chanceler do governo de Hadi, Mohammad al-Hadrami.

Áden é uma importante cidade portuária no sul do Iêmen, que se tornou capital provisória após o presidente Hadi ser expulso da capital, Sanaa, em meio a uma ofensiva militar dos rebeldes huthis em setembro de 2014.

O avanço dos huthis levou a Arábia Saudita a iniciar uma intervenção militar no Iêmen em março de 2016 junto a outros países da região, inclusive os Emirados Árabes. A Arábia Saudita acusa os huthis de representar os interesses do Irã, seu arqui-inimigo na disputa por hegemonia no Oriente Médio.

SEPARATISMO

Áden é um bastião do movimento separatista encabeçado pelo CTS. A cidade era capital do Iêmen do Sul, país independente governado por um regime socialista que deixou de existir após a reunificação com o Iêmen do Norte em 1990.

As tensões separatistas não foram resolvidas com a reunificação, mas vinham sido abafadas em meio à guerra civil. A escalada da violência em Áden mostra que o problema segue latente, arriscando criar “uma guerra civil dentro da guerra civil no Iêmen”, nas palavras do think-thank americano International Crisis Group.

Ao apoiar forças separatistas no sul do Iêmen, os Emirados Árabes demonstram buscar uma política externa com um maior grau de independência em relação à Arábia Saudita. A escalada dos enfrentamentos em Áden deu origem a especulações sobre uma eventual expulsão dos Emirados Árabes da coalizão internacional que atua no Iêmen.

Enquanto as potências da região se engalfinham pelo controle do Iêmen, a população segue sofrendo. Dezenas de milhares de pessoas morreram desde o início da guerra civil e, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 24 milhões de pessoas –cerca de 80% da população do Iêmen– dependem de ajuda humanitária para sobreviver; dentre estas, quase 10 milhões estão à beira da fome.

“À comunidade humanitária internacional: é hora de fazer mais e dizer mais”, disse em nota a ONG Médicos Sem Fronteiras, que oferece atendimento humanitário no Iêmen. “A história vai julgar todos nós, e os iemenitas já o estão fazendo”.

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Julgamento de mulheres ativistas expõe truculência da Arábia Saudita https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/13/julgamento-de-mulheres-ativistas-expoe-truculencia-da-arabia-saudita/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/13/julgamento-de-mulheres-ativistas-expoe-truculencia-da-arabia-saudita/#respond Wed, 13 Mar 2019 15:31:46 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/saud-320x213.png https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2991 A Arábia Saudita iniciou nesta quarta-feira (13) o julgamento de dez mulheres ativistas, detidas sem acusação desde o ano passado, em um caso que gera revolta internacional e joga luz sobre as violações de direitos humanos cometidas pelo regime de Riad.

As ativistas foram presas em maio do ano passado, semanas antes de o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman anunciar medidas inéditas autorizando que mulheres dirigissem no país. Elas vinham fazendo campanha há anos pela igualdade de gênero, defendendo inclusive o direito das mulheres se sentarem atrás do volante.

Uma das ativistas julgadas é Loujain al-Hathloul, que já havia sido detida em ocasiões anteriores por publicar vídeos em que dirige um carro. “Depois de dez meses na prisão, … Loujain pode finalmente saber quais são as acusações contra ela, mas até agora ninguém sabe quais são as acusações”, disse em rede social Walid al-Hathloul, irmão da ativista.

As autoridades judiciais ainda não revelaram quais são as acusações contra as ativistas, e há o temor de que elas venham a ser julgadas com base em leis antiterrorismo, que estipulam pena de até vinte anos de prisão.

Veículos de imprensa alinhados à monarquia saudita atacaram as mulheres detidas, taxando-as de “traidoras” e “agentes de embaixadas” estrangeiras.

A ONG Anistia Internacional disse ter encontrado evidências de que as ativistas sofreram torturas e assédio sexual na prisão.

Na semana passada, mais de trinta países integrantes do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) emitiram um comunicado conjunto exigindo a libertação das ativistas sauditas.

“Pedimos que a Arábia Saudita adote medidas significativas parara garantir que todos os membros do público, incluindo defensores de direitos humanos e jornalistas, possam exercer livre e integralmente seus direitos”, diz o comunicado.

HISTÓRICO DE VIOLAÇÕES

Desde que foi alçado à posição de príncipe herdeiro em 2017, Bin Salman tem promovido reformas modernizantes na tentativa de melhorar a imagem internacional do país. Além de permitir que mulheres dirigissem, o herdeiro do trono saudita autorizou a abertura de cinemas e aumentou os investimentos em fontes de energia renováveis.

A faceta modernizante que Bin Salman apresenta para o mundo contrasta com o tratamento dispensado a opositores e membros de minorias dentro do país. O julgamento das mulheres ativistas recém-iniciado é mais uma mancha do histórico de direitos humanos da Arábia Saudita.

Não é de hoje que o país prende e tortura dissidentes. Por exemplo, o blogueiro Raif Badawi está preso desde 2012 sob a acusação de “insultar o islã” –crime pelo qual foi condenado a dez anos de prisão e mil chibatadas.

Em outubro, o jornalista saudita Jamal Khashoggi foi assassinado no consulado de seu país em Istambul, em um crime que causou indignação global e aumentou a pressão contra a Arábia Saudita.

Ademais, o reino de Riad é responsável pela morte de milhares de civis em sua intervenção na guerra civil no Iêmen.

Governado desde 1932 pela dinastia dos Saud, a Arábia Saudita é um dos países mais fechados do mundo. O regime saudita se mantém no poder graças às receitas da exportação de petróleo e ao apoio internacional oferecido pelos Estados Unidos e outras potências ocidentais.

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Sumiço de jornalista tensiona relação da Arábia Saudita com Ocidente; entenda https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/12/sumico-de-jornalista-tenciona-relacao-da-arabia-saudita-com-ocidente-entenda/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/10/12/sumico-de-jornalista-tenciona-relacao-da-arabia-saudita-com-ocidente-entenda/#respond Fri, 12 Oct 2018 16:12:49 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/saud-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2661 O desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi, crítico da família real que governa seu país, abalou as relações de Riad com seus aliados no Ocidente.

A suspeita de que Khashoggi tenha sido assassinado em Istambul na semana passada a mando do regime saudita gerou indignação nos Estados Unidos, aumentando pressão sobre o presidente Donald Trump para que reveja seus laços com Riad.

Entenda o caso por meio de perguntas e respostas:

Foto de dezembro de 2014 mostra o jornalista saudita Jamal Khashoggi quando era diretor do canal New Arabic News (C[redito: Hasan Jamali-15.dez.2014/AP)
1. O que aconteceu?

Khashoggi, 59, é um renomado jornalista saudita e colunista do “Washington Post”. Antigo aliado da família real, ele fugiu do país no ano passado e passou a criticar os rumos do país. Em suas colunas, o jornalista acusava Mohammed bin Salman, o poderoso príncipe herdeiro saudita, de intensificar a repressão a dissidentes e de provocar instabilidade em outros países do Oriente Médio.

Khashoggi está desaparecido desde 2 de outubro, quando visitou o consulado saudita em Istambul para regularizar documentos. Imagens de câmeras de segurança mostram o jornalista entrando no prédio, mas não saindo dali. Autoridades turcas suspeitam que o jornalista tenha sido assassinado por 15 agentes sauditas infiltrados no país.

Fontes ligadas à investigação dizem ter evidências de que Khashoggi foi torturado e morto no consulado, tendo seu corpo desmembrado e posteriormente transportado para a residência do cônsul saudita em Istambul. Os detalhes do crime parecem apontar para o envolvimento direto de autoridades sauditas no episódio.

2. O que diz a Arábia Saudita?

A Arábia Saudita nega envolvimento e diz que Khashoggi deixou o consulado pouco após a visita. O consulado saudita em Istambul afirmou em nota que as acusações “não têm fundamento” e questionou a credibilidade das informações vazadas à imprensa por autoridades turcas.

O desaparecimento do jornalista ameaça os planos de Mohammed bin Salman para melhorar a imagem da Arábia Saudita. Desde que assumiu a sucessão do trono saudita, em junho de 2017, o príncipe vem conduzindo uma série de reformas modernizantes –dentre outras iniciativas, destacam-se a permissão para que mulheres dirijam e a prisão de integrantes da família real acusados de corrupção.

Ademais, Mohammed bin Salman é responsável por um giro na política externa da Arábia Saudita com a bênção dos Estados Unidos. Além de alimentar guerras civis na Síria e no Iêmen, o país se aproximou de Israel, isolou seu antigo aliado Qatar e elevou o tom contra o Irã na disputa por hegemonia regional.

Imagem obtida de câmeras de segurança mostra o Jamal Khashoggi entrando no consulado saudita em Istambul antes de desaparecer (Crédito: CCTV/Hurriyet/Associated Press)

3. Qual foi a reação dos Estados Unidos?

O sumiço de Khashoggi provocou indignação nos Estados Unidos, gerando pressão de congressistas republicanos sobre o governo de Donald Trump. O embaixador saudita em Washington retornou ao seu país sem prestar esclarecimentos. “Se for o que todos achamos que é, mas não temos certeza, terá de haver sanções significativas contra as mais altas esferas”, afirmou o senador republicano Bob Cooker, presidente do comitê de relações exteriores do Senado.

Trump mantém relações calorosas com o reino saudita, tendo escolhido Riad como destino de sua primeira viagem ao exterior, na qual fechou um acordo de US$ 110 bilhões (cerca de R$ 410 bilhões) para a venda de armas. O presidente disse “não gostar da situação”, mas descartou a revisão do acordo militar como forma de retaliar a Arábia Saudita. Ele também afirmou ter enviado agentes à Turquia para ajudar na investigação sobre o caso, mas não está claro se as autoridades turcas aceitarão a participação dos americanos.

Após o desaparecimento de Khashoggi, o Washington Post prometeu trabalhar “sem descanso” para esclarecer o episódio e elevou o tom de suas críticas à Arábia Saudita. Em solidariedade, veículos de imprensa como Financial Times, CNN e CNBC decidiram boicotar uma conferência global de investidores em Riad marcada para o fim do mês. O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, também cancelou sua presença no encontro.

4. Como este episódio afeta o Oriente Médio?

É improvável que o sumiço de Khashoggi leve o governo Trump a reorientar drasticamente sua relação com a Arábia Saudita, pois o país exerce um papel central na estratégia dos Estados Unidos para o Oriente Médio. Ainda assim, o caso pode levar outros países do Ocidente a aplicarem sanções contra a Arábia Saudita. Países da Europa e o Canadá, por exemplo, já são mais críticos do que os americanos ao regime de Riad, mesmo que ainda tratem o país como aliado.

É difícil para o Ocidente justificar a inação diante deste caso, pois a comunidade internacional costuma responder de maneira dura a países que tentam assassinar dissidentes no exílio. Por exemplo, o envenenamento do ex-militar russo Sergei Skripal na Inglaterra, em março, levou dezenas de países a expulsarem diplomatas russos, ainda que o Kremlin negue envolvimento no episódio. Da mesma forma, os Estados Unidos impuseram sanções contra a Coreia do Norte depois que um meio-irmão do ditador Kim Jong-Un foi assassinado com uma substância tóxica na Malásia, em fevereiro de 2017.

Caso se comprove que Khashoggi foi assassinado, a Arábia Saudita pode virar alvo de sanções de países que, até então, vinham aplaudindo as reformas de Mohammed bin Salman e relevando as violações de direitos humanos perpetradas pelo reino saudita no próprio país e na vizinhança. O fato é que o episódio joga um balde de água fria nos esforços da Arábia Saudita para melhorar sua imagem no exterior. A comoção que o episódio causou nos Estados Unidos é uma evidência de que a sociedade civil não tolera mais que seu governo se associe a países autoritários sem restrições. Um eventual isolamento da Arábia Saudita reduziria sua capacidade de interferir nos assuntos internos de outros países do Oriente Médio, alterando o equilíbrio de forças na região.

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Arábia Saudita quer cavar canal para transformar rival Qatar em ilha https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/09/06/arabia-saudita-quer-cavar-canal-para-transformar-rival-qatar-em-ilha/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/09/06/arabia-saudita-quer-cavar-canal-para-transformar-rival-qatar-em-ilha/#respond Thu, 06 Sep 2018 10:56:51 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/mbs-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2558 A Arábia Saudita tem planos para construir um canal ao longo da fronteira com o Qatar, transformando o país rival em uma ilha.

O isolamento geográfico do Qatar se somaria ao embargo econômico e político imposto pelo reino saudita contra seu vizinho.

Em junho de 2017, a Arábia Saudita –seguida por seus parceiros Egito, Bahrein e Emirados Árabes– rompeu relações diplomáticas e econômicas com o Qatar, acusando-o de apoiar o terrorismo e aliar-se ao inimigo Irã. Doha nega as acusações.

O projeto de construção do canal foi anunciado pela primeira vez em abril no site Sabq, associado à família real saudita. Na semana passada, a iniciativa pareceu ganhar fôlego após um conselheiro de Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro do reino, comentar o plano.

“Aguardo impacientemente pelos detalhes da implementação do projeto da ilha de Salwa, um projeto grandioso e histórico que irá mudar a geografia da região”, disse Saud al-Qahtani no Twitter.

O canal, orçado em US$ 750 milhões (cerca de R$ 3,1 bilhões), teria 200 metros de largura e 60 quilômetros de extensão. Além de isolar o Qatar, o canal seria usado para o turismo, e parte da obra abrigaria um depósito de lixo nuclear.

O projeto ainda não foi anunciado oficialmente e não há previsão para o início das obras.

REBELDIA

O isolamento imposto ao Qatar é uma reação da Arábia Saudita ao que vê como atos de rebeldia do país vizinho.

As duas monarquias do Golfo sempre foram próximas, mas nas últimas décadas o Qatar tem buscado independência política, usando sua riqueza derivada de reservas de gás natural para exercer seu poder.

O Qatar, que não é uma potência militar, projeta sua influência no Oriente Médio por meio de sua emissora Al Jazeera e do apoio a grupos políticos como a Irmandade Muçulmana, rival da Arábia Saudita.

O Qatar também usa o esporte para afirmar sua influência: além de possuir grandes times de futebol europeus, como o PSG de Neymar, o país sediará a Copa do Mundo de 2022.

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Por que a Arábia Saudita prendeu seus príncipes em um hotel 5 estrelas? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/11/07/por-que-a-arabia-saudita-prendeu-seus-principes-e-seus-executivos-mais-ricos-em-um-hotel-5-estrelas/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2017/11/07/por-que-a-arabia-saudita-prendeu-seus-principes-e-seus-executivos-mais-ricos-em-um-hotel-5-estrelas/#respond Tue, 07 Nov 2017 13:50:57 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2017/11/Saudita-e1510062634688-180x55.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1739 Eis uma pergunta que não fazemos todos os dias: como um dos países mais ricos do mundo prende seus príncipes? A Arábia Saudita nos deu a resposta neste final de semana: em um hotel 5 estrelas.

Os 11 príncipes detidos no expurgo articulado pelo príncipe herdeiro Muhammad bin Salman estão alojados no Ritz-Carlton de Riad. Está entre os detentos o príncipe Alwaleed bin Talal, um dos homens sauditas mais ricos. O Intercept divulgou via Twitter imagens da tal prisão de luxo:

A prisão de príncipes e representantes da elite econômica deixou o país e seus vizinhos arrepiados. Eles são acusados de corrupção e, com sua detenção, a monarquia saudita parece dar um aviso: nem mesmo os poderosos estão acima da lei. A mensagem é especialmente potente porque indica que tipo de país Muhammad bin Salman quer construir quando herdar o trono de seu pai, Salman, hoje com 81 anos. Por outro lado, segundo uma reportagem do jornal “Guardian”, o luxo da prisão mostra que, “mesmo quando acusados de um crime grave, os poderosos mantêm seus privilégios”.

O “Guardian” tem também uma detalhada descrição de como os hóspedes do Ritz-Carlton foram acordados às 23h locais no sábado e levados ao lobby, de onde foram transferidos a outros hotéis sem receber explicações. Chegaram a partir da meia-noite os novos inquilinos: príncipes e empresários que, até a véspera, eram dos mais poderosos e até então vistos como intocáveis.

Como expliquei em uma análise publicada pela Folha nesta terça-feira (7), o poder costuma ser pulverizado entre os diversos ramos da família Al Saud. As forças de segurança, por exemplo, são divididas entre esses braços. Caso os príncipes tivessem sido levados à prisão, Muhammad bin Salman poderia ter rompido os laços que permitem a manutenção da monarquia desde a criação da Arábia Saudita em 1932. Não é uma decisão impossível de ser tomada — mas é improvável.

O luxuoso Ritz-Carlton de Riad, que até recentemente tinha quartos disponíveis por cerca de US$ 350 (R$ 1.140), parece estar temporariamente fechado. O site oficial tinha na terça-feira um aviso de que “por razões imprevisíveis, a internet e as linhas de telefone estão desconectadas”.

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