Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 A jornal britânico, diplomatas brasileiros reclamam de decadência do Itamaraty https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/25/a-jornal-britanico-diplomatas-brasileiros-reclamam-de-decadencia-do-itamaraty/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/25/a-jornal-britanico-diplomatas-brasileiros-reclamam-de-decadencia-do-itamaraty/#respond Tue, 25 Jun 2019 13:35:59 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/araujo-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3179 O Itamaraty vive um processo de desmonte de décadas de tradição diplomática sob a liderança do chanceler Ernesto Araújo. A reclamação foi feita por diversos funcionários do ministério ao jornal britânico The Guardian, em reportagem publicada nesta terça-feira (25).

A reportagem –assinada por Tom Phillips, correspondente do jornal britânico na América Latina– descreve o Ministério das Relações Exteriores como “uma joia do estadismo latino-americano”. Mas, de acordo com o texto, muitos diplomatas temem que a “revolução bolsonariana na política externa” possa prejudicar a posição do Brasil no mundo.

“Eu sinto desgosto”, disse ao jornal Rubens Ricupero, ex-embaixador brasileiro nos Estados Unidos. “O que eu ouço dos meus colegas que ainda estão ativos é que, no corpo diplomático, há quase uma completa rejeição ao ministro e às diretrizes atuais … Ele não é levado a sério –nem dentro nem fora do ministério”.

Já Roberto Abdenur, ex-embaixador na China, Alemanha e Estados Unidos, afirmou que “nossas relações exteriores atuais levam o Brasil de volta a um período da história em que o Brasil nem mesmo existia: a Idade Média”.

Para Marcos Azambuja, ex-secretário-geral do Itamaraty, “houve uma mudança –e temo que seja uma mudança para pior”. “Eu não imaginei que isso pudesse acontecer”, acrescentou.

A reportagem avalia algumas das principais mudanças nas relações internacionais do Brasil desde que Araújo assumiu o comando da pasta. O texto cita, por exemplo, o surgimento de desavenças em relação à China, principal parceiro comercial do país, e a aproximação com líderes da direita nacionalista, como o presidente americano, Donald Trump, e o premiê húngaro, Viktor Orbán.

A reportagem também diz que, graças às mudanças em curso no Itamaraty, o Brasil arrisca perder o papel de liderança na agenda climática internacional e, ao abraçar o governo de Binyamin Netanyahu em Israel, compromete as relações com parceiros do Oriente Médio.

“Eu diria que esta é mudança mais dramática na política externa brasileira em um século”, disse ao jornal britânico Oliver Stuenkel, especialista em relações internacionais na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.

FORMULADORES DE POLÍTICA EXTERNA

No texto, Araújo é descrito como um “chanceler pró-Trump e defensor da Bíblia que diz que o aquecimento global é uma conspiração marxista e que o nazismo é um movimento de esquerda”.

A reportagem também relata o desconforto em relação a Olavo de Carvalho, guru ideológico do governo, e ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente que “é amplamente visto como o chanceler de fato do Brasil”.

Alguns diplomatas reclamam do papel de destaque dado por Eduardo a Steve Bannon. Ex-auxiliar de Trump e líder do grupo populista de direita conhecido como O Movimento, Bannon foi convidado para jantar com Jair Bolsonaro durante sua visita a Washington em março.

“Estamos na situação perversa, absurda de ter um cidadão estrangeiro influenciando a política externa do Brasil”, afirmou Abdenur ao jornal britânico.

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Na política externa, Bolsonaro mostra sua face mais radical https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/08/na-politica-externa-bolsonaro-mostra-sua-face-mais-radical/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/08/na-politica-externa-bolsonaro-mostra-sua-face-mais-radical/#respond Fri, 08 Mar 2019 11:00:06 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/15519110985c8048bab75c3_1551911098_3x2_xl-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2977 Jair Bolsonaro faz de tudo para frustrar as expectativas de quem achava que o poder ajudaria a moderar suas posições extremadas. O Bolsonaro deputado que elogiava o ditador chileno Augusto Pinochet (1973-1990) é o mesmo que, na Presidência, homenageia o ditador paraguaio Alfredo Stroessner (1954-1989).

O radicalismo é marca de várias áreas do novo governo, mas é na política externa que o presidente expressa uma de suas faces mais cruentas. Ao contrário das promessas de conduzir as relações internacionais do Brasil “sem viés ideológico”, a diplomacia bolsonarista se mostra cada vez mais conservadora e autoritária.

É uma estratégia que faz sentido: nas relações exteriores, o ocupante do Planalto tem um maior grau de autonomia para tomar decisões, sem precisar se submeter aos contrapesos exercidos pelo Congresso e pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Na nova administração, o Itamaraty passa por transformações profundas sob a batuta do chanceler Ernesto Araújo (aquele que dizia que o aquecimento global é um “complô marxista” para destruir a civilização ocidental).

Na posição de líder da trupe olavista na Esplanada, o chefe do MRE (Ministério das Relações Exteriores) parece desconsiderar décadas de tradição diplomática baseada nos princípios da independência, do pragmatismo e da resolução pacífica de conflitos.

Demonstrando alinhamento à Casa Branca, Araújo dá voz a quem deseja uma aventura intervencionista na Venezuela, com consequências imprevisíveis para a ordem regional. A atitude do chanceler arrisca mergulhar as Forças Armadas em uma guerra contra um país vizinho –algo inédito desde a Guerra do Paraguai, há um século e meio.

Mesmo após ter suas asas cortadas pelo vice-presidente Hamilton Mourão, o chanceler deixou evidente sua intransigência ao demitir o embaixador Paulo Roberto de Almeida no início desta semana. O diplomata fazia críticas ao tratamento dado pela nova gestão à crise venezuelana, mas estava longe de representar o fantasma do “lulopetismo” que Araújo diz combater.

Ernesto Araújo, novo chanceler, olha para Jair Bolsonaro durante evento em Brasília (Crédito: Sergio Lima/AFP)

Os novos ventos que sopram do Itamaraty impulsionam a reconfiguração do eixo de alianças internacionais do país. É bastante simbólico que Bolsonaro inaugure sua agenda no exterior prestando visitas a Donald Trump e Binyamin Netanyahu, marcadas para as próximas semanas (o Chile, governado pelo direitista Sebastian Piñera, também está no roteiro da viagem).

Os líderes dos Estados Unidos e de Israel estão na linha de frente da cruzada internacional, à qual o Brasil agora se soma, contra a ONU (Organização das Nações Unidas) e demais instituições de governança global. Na nova ordem mundial proposta por este grupo, o multilateralismo e a promoção dos direitos humanos não são prioridades.

Se Bolsonaro levasse a sério a bandeira do combate à corrupção, estaria andando com gente de outra laia. Vários aliados de Trump foram parar na cadeia por práticas financeiras escusas, e há suspeitas de conspiração com autoridades da Rússia na campanha eleitoral de 2016. Já Netanyahu deverá ser indiciado por suborno e fraude às vésperas de novas eleições gerais. Pensando bem, a companhia até que combina com o governo dos laranjas e do Queiroz.

Mais grave que qualquer escândalo de corrupção, porém, é que os parceiros internacionais prioritários de Bolsonaro não escondam seu racismo e sua simpatia por grupos extremistas.

Todos ainda se lembram de que Trump promoveu a separação de famílias de imigrantes centro-americanos na fronteira, deixando que crianças morressem em jaulas. Também não dá para esquecer que o presidente americano viu “pessoas de bem” entre os participantes de uma manifestação violenta convocada pela Ku Klux Klan em Charlottesville em agosto de 2017.

Em comparação, o histórico de Netanyhahu não deixa a desejar: seu governo é responsável pela morte de centenas de civis palestinos na faixa de Gaza, em ações que podem constituir crimes de guerra, segundo a ONU. Além disso, o premiê israelense recentemente abriu as portas de sua coalizão para os extremistas do partido Otzma Yehudit (Poder Judaico) –o convite provocou críticas até mesmo da Aipac, o poderoso grupo de lobby pró-Israel em Washington.

O radicalismo da política externa de Bolsonaro se contrapõe à moderação (sempre em termos relativos) da diplomacia de Trump. Em seus primeiros anos em Washington, o republicano precisou retroceder em algumas de suas políticas internacionais mais amalucadas graças às intervenções dos secretários de Estado, Rex Tillerson, e de Defesa, Jim Mattis. Não por acaso, ambos acabaram deixando o governo eventualmente.

Já no Brasil, as expectativas de moderação são depositadas em um Mourão repaginado, bem como nos ministros Paulo Guedes (Economia) e Sérgio Moro (Justiça), encarregados de executar boa parte da agenda doméstica do governo.

Mas não custa lembrar que política externa também é política pública e produz resultados concretos na vida da população, embora pouco visíveis no curto prazo. A condução das relações exteriores na nova gestão ameaça desmoralizar o Itamaraty e arranhar a imagem que o Brasil apresenta para o mundo.

Em um passado recente, o Brasil esboçava alguma iniciativa diplomática, posicionando-se como referência positiva entre os países emergentes e procurando remodelar as instituições internacionais em favor da soberania.

Havia problemas, é claro, mas ao menos existia a ambição de se sentar à mesa dos adultos. Agora, o país parece se contentar com o papel de bobo da corte.

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