Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Protestos por democracia no Líbano dão lugar à violência sectária; entenda https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/27/protestos-por-democracia-no-libano-dao-lugar-a-violencia-sectaria-entenda/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/27/protestos-por-democracia-no-libano-dao-lugar-a-violencia-sectaria-entenda/#respond Wed, 27 Nov 2019 19:33:55 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/lebanon-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3477 A escalada dos confrontos sectários em meio às manifestações pró-democracia no Líbano nos últimos dias gera preocupação sobre um possível retorno às divisões que marcaram o país nos anos de guerra civil, há cerca de meio século.

Na noite de domingo (24), integrantes dos movimentos xiitas Hizbullah e Amal atacaram os participantes de um ato no centro Beirute, e os manifestantes revidaram atirando pedras. Nos dias seguintes, os confrontos se espalharam para outras áreas da capital libanesa, deixando dezenas de pessoas feridas.

O Conselho de Segurança das ONU (Organização das Nações Unidas) pediu na segunda-feira (25) que as forças políticas do Líbano “estabeleçam um diálogo nacional intensivo e mantenham o caráter pacífico dos protestos”.

Entenda a escalada da violência nos protestos no Líbano:

1. Manifestações expressam revolta generalizada contra o governo

Os libaneses sofrem há anos com a corrupção dos governantes e com uma economia em frangalhos. A atual onda de protestos explodiu em outubro após o governo anunciar novas tarifas sobre ligações telefônicas feitas pelo WhatsApp e outros aplicativos, equivalentes a R$ 0,83 por dia. 

Após derrubar as tarifas, o governo apresentou um plano de modernização econômica e de combate à corrupção, e o primeiro-ministro Saad Hariri renunciou, sem, contudo, conseguir acalmar as ruas do país. 

As manifestações não têm líderes claros e expressam uma revolta generalizada contra as instituições de poder. Os protestos provocaram a paralisação do Parlamento, que parece incapaz de atender às demandas da população.

“A situação está se encaminhando para uma fase perigosa porque, após quarenta dias de protestos, as pessoas estão começando a se sentir cansadas e frustradas, podendo recorrer a ações fora de controle”, disse Fadia Kiwan, professora da Universidade Saint Joseph em Beirute, à agência de notícias Associated Press.

2. Democracia libanesa se sustenta sobre frágil equilíbrio de poder

O sistema político do Líbano, principal alvo da raiva dos manifestantes, se sustenta sobre um frágil equilíbrio de forças que reflete as divisões sectárias da população: no país há cristãos maronitas, muçulmanos sunitas e xiitas, bem como minorias de drusos, armênios e refugiados palestinos.

As tensões entre os diferentes grupos atingiram seu ápice durante a Guerra Civil Libanesa (1975 – 1990); mais de 120 mil pessoas morreram no período. Após o término do conflito, foi estabelecido um arranjo de poder que perdura até hoje, pelo qual metade das cadeiras do Parlamento devem ser ocupadas por cristãos, e a outra metade por muçulmanos. Além disso, o presidente do país deve ser cristão, enquanto o primeiro-ministro deve ser sunita e o líder do Parlamento, xiita.

Até os últimos episódios de violência, os protestos eram majoritariamente pacíficos e desafiavam a lógica sectária que rege a política libanesa.

“As mobilizações dos últimos dias mostraram o início da emergência de uma nova aliança de classe entre os subempregados, desempregados, trabalhadores e classes médias contra as oligarquias dominantes. Isto é uma ruptura”, escreveu Rima Majed, professora da Universidade Americana de Beirute, para o site Open Democracy.

3. Aliado do Irã, Hizbullah teme ser o próximo alvo da ira popular

A milícia xiita Hizbullah, apontada como um dos grupos responsáveis pelos últimos ataques contra os manifestantes, teme ser o próximo alvo da ira popular. O grupo vê nos planos de reformar o sistema político do país uma ameaça à sua posição de poder; o líder do Hizbullah, Hasan Nasrallah, acusa os manifestantes de atenderem a interesses externos.

Fundado em 1985, em meio à guerra civil, o Hizbullah é uma das principais forças políticas do Líbano e conta com um poderoso braço armado, que opera com independência em relação ao Exército.

Além disso, o Hizbullah é financiado pelo Irã. O regime iraniano vem enfrentando uma onda de protestos em seu próprio país há duas semanas a repressão das forças de segurança já deixou mais de 143 mortos.

“O Hizbullah é visto cada vez mais como parte dos obstáculos para a mudança no Líbano … Para os xiitas libaneses que participam dos protestos, foi um choque por que o Hizbullah fica de guarda para um statu quo que é extremamente corrupto e está levando o país em direção à crise econômica e financeira?”, disse Mohanad Hage Ali, diretor do centro de estudos Carnegie Middle East Center, à revista Foreign Policy.

 

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Eleições distritais em Hong Kong serão termômetro da revolta popular https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/22/eleicoes-distritais-em-hong-kong-serao-termometro-da-revolta-popular/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/22/eleicoes-distritais-em-hong-kong-serao-termometro-da-revolta-popular/#respond Fri, 22 Nov 2019 15:27:52 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/hk-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3473 Os moradores de Hong Kong se preparam para ir às urnas no próximo domingo (24) para eleger representantes distritais, em meio à maior onda de protestos que o território autônomo já viveu.

A votação, que costuma ser inexpressiva e ter altos níveis de abstenção, será um termômetro do descontentamento da população com o governo local, leal às autoridades de Pequim.

Esta será a primeira eleição desde que as manifestações por maior autonomia regional tiveram início em junho, e a única votação feita por meio de sufrágio universal no território.

No total, serão escolhidos 452 integrantes dos 18 conselhos distritais da cidade, responsáveis por decisões administrativas de baixo impacto político, como a alocação de orçamento para trabalhos de zeladoria.

Há 4,1 milhões de pessoas habilitadas a votar, incluindo 390 mil eleitores recém-registrados.

Os partidos da situação, que controlam a maioria dos distritos atualmente, esperam manter sua vantagem contando com os votos de eleitores insatisfeitos com a escalada da violência nas manifestações de rua.

Por sua vez, os partidos de oposição fazem campanha por um voto de protesto a fim de mandar um recado para a cada vez mais impopular líder do governo local, Carrie Lam.

Nas semanas que antecederam a votação, houve ataques contra candidatos dos dois lados do espectro político.

Há ainda o temor de que a votação seja cancelada de última hora devido aos protestos, mas as autoridades locais calculam que adiar a eleição poderia acabar colocando mais lenha na fogueira da revolta popular.

“Esta é uma das poucas vias que sobram para fazer valer nossa voz”, disse Lokman Tsui, professor da Universidade Chinesa de Hong Kong, ao jornal britânico The Guardian.

“Quando você é contínua e estruturalmente marginalizado, você se agarra a qualquer direito que ainda tiver”.

AUTONOMIA REGIONAL

A mais recente onda de protestos em Hong Kong começou como uma reação a um projeto de lei que facilitaria a extradição de suspeitos para a China continental.

As manifestações passaram a abarcar outras demandas pela preservação dos direitos civis e por maior autonomia em relação ao regime de Pequim, que exerce cada vez mais poder no território.

A polícia tem reprimido os protestos com violência, deixando mais de 2.000 feridos e 4.500 manifestantes detidos desde o inicio da revolta.

Nas últimas semanas, os confrontos passaram ao campus da Universidade Politécnica de Hong Kong, onde centenas de manifestantes pró-democracia se encontram sitiados pelas forças de segurança.

Por mais de cem anos, Hong Kong foi uma colônia britânica. Um acordo firmado entre as autoridades de Londres e Pequim estipulou que, após a transferência da soberania em 1997, o território usufruiria de autonomia administrativa por 50 anos antes de ser incorporado integralmente pela China.

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Colômbia segue vizinhança e registra protestos contra o governo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/21/colombia-segue-vizinhanca-e-registra-protestos-contra-o-governo/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/21/colombia-segue-vizinhanca-e-registra-protestos-contra-o-governo/#respond Thu, 21 Nov 2019 16:21:02 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/colombia-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3467 A Colômbia registra nesta quinta-feira (21) manifestações contra o governo do presidente Iván Duque, semanas após ondas de protestos sacudirem outros países da América do Sul.

Já pela manhã, a polícia usou gás lacrimogêneo para dispersar manifestantes nas ruas da capital, Bogotá. Também houve protestos em outras cidades do país, como Medellín, Cáli e Baranquilla.

As marchas fazem parte de uma greve geral convocada por vários movimentos sociais, incluindo sindicatos, organizações estudantis e grupos indígenas.

Assim como em protestos recentes no Equador, no Chile e na Bolívia, as autoridades da Colômbia adotaram uma estratégia de enfrentamento com os manifestantes, acusando-os de incitar a violência e o vandalismo.

O presidente Duque assinou na terça-feira (19) um decreto para “preservar a ordem pública” durante os protestos. A medida ordena o fechamento das fronteiras e permite que autoridades locais imponham toque de recolher.

Também na terça, a polícia fez operações contra ativistas em diferentes cidades. Em Bogotá, agentes de segurança cumpriram mandado de busca na sede da revista Cartel Urbano e chegaram a interrogar funcionários da publicação. 

Em nota, a organização colombiana Fundação para a Liberdade de Imprensa descreveu o incidente como uma tentativa de “intimidar e obstruir o trabalho dos jornalistas” na cobertura de protestos. A polícia negou que as buscas tivessem relação com a greve geral.

DEMANDAS DOS MANIFESTANTES

Dentre as demandas dos manifestantes colombianos, estão o aumento dos repasses para a educação pública e o rechaço às propostas de reforma do sistema previdenciário e das leis trabalhistas.

Ademais, pede-se o fim da violência contra povos indígenas no país e o cumprimento do acordo de paz firmado em 2016 com as Farc (antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Nos últimos meses, guerrilheiros dissidentes anunciaram o retorno à luta armada, acusando o governo de violar seus compromissos no tratado de paz.

As manifestações são um desafio para o governo Duque, que enfrenta uma queda na popularidade. Segundo pesquisa do instituto Gallup, a taxa de reprovação ao presidente chegou a 69% em outubro, a pior desde a posse do líder direitista em agosto de 2018.

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Missão internacional vê abusos generalizados contra manifestantes no Chile https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/08/missao-internacional-ve-abusos-generalizados-contra-manifestantes-no-chile/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/08/missao-internacional-ve-abusos-generalizados-contra-manifestantes-no-chile/#respond Fri, 08 Nov 2019 14:56:10 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/chile-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3452 As forças de segurança do Chile são responsáveis por abusos generalizados contra manifestantes, afirma Camila Marques, coordenadora da ONG Artigo 19 no Brasil.

Ela está em Santiago desde quarta-feira (6) junto a representantes de outras organizações de direitos humanos da região para monitorar as violações cometidas no contexto da onda de protestos que vem sacudindo o país sul-americano há três semanas.

“Essas violações ao direito à manifestação e à integridade física não estão acontecendo em um protesto ou outro, elas ocorrem de norte a sul do país de maneira absolutamente generalizada e preocupante”, diz Marques.

Em entrevista por telefone ao blog Mundialíssimo, ela falou sobre o uso indiscriminado da força por parte da polícia e das Forças Armadas e sobre os relatos de tortura e violência sexual.

Para Marques, o Estado chileno deveria reconhecer sua parcela de responsabilidade pelas atrocidades e indenizar as vítimas. “O policial que está ali na rua não está agindo por vontade própria, ele está cumprindo uma ordem de seu comandante e do chefe do Executivo”, diz.

A onda de protestos é a pior crise enfrentada pelo Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973 – 1990) —ao menos 20 pessoas morreram, cerca de 7.000 foram detidas e 1.459, feridas.

As manifestações, que começaram como uma revolta contra um aumento na tarifa do transporte público, passaram a simbolizar a rejeição contra o modelo político e econômico herdado do período militar.

O que você viu aí no Chile até agora?

Existe um quadro de violações sistemáticas aos direitos humanos. Essas violações ao direito à manifestação e à integridade física não estão acontecendo em um protesto ou outro, elas ocorrem de norte a sul do país de maneira absolutamente generalizada e preocupante. Não há diálogo com os manifestantes, a primeira reação da polícia tem sido atirar para dispersa-los.

Nós identificamos alguns padrões nessas violações. Inicialmente, constatamos o uso desproporcional e desnecessário da força: há um número alarmante de pessoas que foram golpeadas por policiais ou atingidas por balas de borracha, spray de pimenta e bombas de gás lacrimogêneo.

Nós também coletamos relatos preocupantes de que estas munições têm sido manipuladas. Por exemplo, há indícios de que os canhões de água usados para dispersar os manifestantes têm componentes químicos fortes, mas não há informação sobre sua composição. Da mesma forma, foi identificado que as balas de borracha têm núcleo metálico, o que vem causando ferimentos graves —foram registradas mais de 160 lesões oculares, e pelo menos nove pessoas perderam completamente o globo ocular. Isso demonstra uma prática da polícia chilena de atirar na parte superior do corpo, contrariando protocolos internacionais.

Nesta semana, policiais entraram em um colégio de Santiago, o que é proibido no país, e dispararam armamentos menos letais contra crianças e adolescentes. Há denúncias de violência sexual, incluindo desnudamento e estupro, mas esses casos são subnotificados pois as vítimas da violência de gênero muitas vezes se sentem intimidadas em reportar as violações.

Também há relatos de uso de armas de fogo e tortura por parte das forças de segurança. Manifestantes foram encontrados mortos em duas delegacias, mas a versão da polícia é de que cometeram suicídio. Muitas violações têm sido cometidas por policiais disfarçados de civis ou infiltrados em movimentos sociais. Em alguns casos, manifestantes têm sido levados para a delegacia em carros comuns em vez de viaturas, o que pode vir a ser entendido como sequestro.

Estes relatos são muito graves e precisam ser investigados, mas o Chile tem um problema enorme de falta de informação. Os números de detidos e feridos não são uniformizados, e não há transparência sobre os tipos de munições utilizadas pela polícia. E vários jornalistas que cobrem os protestos têm sido atingidos, muitas vezes sem poder contar com o amparo de seus empregadores.

O presidente Sebastián Piñera diz que as atrocidades cometidas pelas forças de segurança são casos isolados, e que “qualquer excesso cometido pelos agentes será punido”. O que deve ser feito para corrigir essas violações?

Não dá para dizer que são casos pontuais, pois a ação do Estado já deixou milhares de presos e feridos. Há uma tendência entre governantes de tentar afastar sua responsabilidade, dizendo que os abusos são isolados e pondo a culpa nos agentes de segurança.

O Ministério Público já abriu processos para investigar alguns destes casos, mas é importante que as ações de responsabilização busquem ir além de inquéritos individuais no âmbito disciplinar ou criminal. Sobretudo, estas investigações devem demonstrar que o policial que está ali na rua não está agindo por vontade própria, ele está cumprindo uma ordem de seu comandante e do chefe do Executivo. É preciso esclarecer esta cadeia de comando para estabelecer as responsabilidades do Estado.

Por outro lado, é importante que as autoridades chilenas reconheçam este quadro de violações sistemáticas e promovam ações de reparação e indenização às vítimas de violência policial.

Daqui para a frente, o Chile deveria discutir como melhor garantir a proteção dos direitos humanos. Em vez disso, o presidente Piñera anunciou nesta quinta-feira (7) um pacote de medidas que visa conter as manifestações, incluindo projetos de lei para criminalizar manifestantes mascarados e para punir quem ergue barricadas nas ruas, enquanto outras iniciativas buscam proteger as forças de segurança e aprimorar o sistema de inteligência.

O povo chileno espera que seus governantes defendam as pessoas que estão nas ruas para exigir seus direitos.

Integrantes do governo Bolsonaro já demonstraram apoio à ação repressiva das autoridades chilenas e indicaram que lançariam mão de estratégias parecidas caso uma revolta estourasse no Brasil. Quais os riscos para o direito à manifestação por aqui?

O Brasil tem todo um conjunto de técnicas, artefatos e instrumentos de repressão que são muito semelhantes às estratégias usadas no Chile. De junho de 2013 para cá, o que a gente vê é que o Estado brasileiro vem se preparando para reprimir qualquer tipo de manifestação popular com cada vez mais força.

A sociedade como um todo precisa estar atenta ao que está acontecendo no Chile porque isso pode provocar reflexos no Brasil e em outros países da região.

Uma das primeiras reações do presidente Jair Bolsonaro foi dizer que trataria eventuais manifestações desse tipo no Brasil como atos terroristas. Atualmente, há 22 projetos de lei que visam modificar a Lei Antiterrorismo, sancionada em 2016, no sentido de ampliá-la para enquadrar movimentos sociais e ativistas. O governo também vem adotando iniciativas para incrementar o sistema de inteligência visando monitorar qualquer tipo de mobilização popular.

Quando olhamos para o Chile, é muito preocupante perceber que existe um movimento idêntico em curso no Brasil no sentido de reprimir as ruas e silenciar vozes dissonantes.

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América do Sul vive outubro caótico; relembre as crises em curso na região https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/29/america-do-sul-vive-outubro-caotico-relembre-as-crises-em-curso-na-regiao/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/29/america-do-sul-vive-outubro-caotico-relembre-as-crises-em-curso-na-regiao/#respond Tue, 29 Oct 2019 15:17:09 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/chile-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3435 Outubro de 2019 deverá ficar marcado como um dos meses mais turbulentos da história recente da América do Sul.

Ao longo do último mês, crises pipocaram em diferentes cantos do subcontinente, chacoalhando as peças do tabuleiro regional e reacendendo temores sobre o estado de saúde da democracia em alguns países sul-americanos.

O ritmo acelerado das transformações em curso na região torna mais difícil acompanhar o noticiário e pode gerar confusão. Tendo isso em vista, o blog Mundialíssimo preparou um resumo dos últimos acontecimentos na vizinhança.

Relembre as principais crises do mês de outubro na América do Sul:

1. Revoltas populares encurralaram os governos do Equador e do Chile

No dia 3 de outubro, uma onda de protestos eclodiu no Equador após o governo extinguir subsídios sobre combustíveis, atendendo a exigências de ajuste fiscal em troca de empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional). Assim como em outros momentos de turbulência, foram os grupos indígenas que ocuparam a linha de frente das mobilizações.

Em meio aos enfrentamentos entre manifestantes e policiais, o presidente Lenín Moreno decretou um estado de emergência e transferiu a capital do país de Quito para Guayaquil. Mas os manifestantes não cederam, e Moreno se viu forçado a suspender a retirada dos subsídios no dia 14.

Enquanto a crise arrefecia no Equador, estudantes chilenos passaram protestar contra o aumento da tarifa do transporte público. Após algumas estações de metrô serem depredadas, o presidente Sebastián Piñera decretou um estado de emergência e impôs um toque de recolher em partes do país no dia 19. A violência nas ruas deixou ao menos 20 mortos.

A reação desproporcional do governo colocou lenha na fogueira da revolta popular: na última sexta-feira (25), mais de 1 milhão de pessoas tomaram as ruas da capital, Santiago, no maior protesto desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet (1973- 1990). Acuado, Piñera suspendeu as medidas de exceção e a anunciou um plano de reformas para combater a desigualdade econômica.

2. Líderes de Peru e Bolívia esgarçaram os limites da ordem constitucional

O Congresso do Peru amanheceu fechado em 1º de outubro, um dia depois de o presidente Martín Vizcarra acionar um dispositivo constitucional que permite a suspensão do poder Legislativo. A medida foi uma resposta aos esforços da oposição fujimorista, que tentava emplacar juízes alinhados a seu projeto político no Tribunal Constitucional do país.

O Congresso não reconheceu a legitimidade da decisão de Vizcarra e votou por seu afastamento; em meio ao impasse institucional, o país chegou a ter dois presidentes em exercício por algumas horas. Enfim, Vizcarra conseguiu se manter no poder, e agora o país se prepara para novas eleições legislativas a serem realizadas em janeiro.

Na Bolívia, o presidente Evo Morales conquistou a reeleição para um quarto mandato consecutivo no pleito do dia 20. Após idas e vindas na apuração dos votos, o Tribunal Supremo Eleitoral do país declarou Morales vencedor já no primeiro turno, mas o candidato opositor Carlos Mesa enxergou partidarismo na decisão dos magistrados e não reconheceu o resultado. Houve protestos em diferentes cidades, e ao menos 30 pessoas ficaram feridas.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) e a ONU (Organização das Nações Unidas) recomendaram a realização de um segundo turno, e o governo convidou observadores internacionais a realizarem uma auditoria eleitoral. Antes mesmo do impasse, a candidatura de Morales já era alvo de controvérsia, pois ele fez vista grossa às regras constitucionais e ao resultado de um plebiscito realizado em 2016 que negavam ao presidente o direito de concorrer ao cargo indefinidamente.

3. Esquerda deu sinais de vida em eleições na Argentina e na Colômbia

O peronismo se prepara para voltar ao poder na Argentina após a vitória da chapa composta por Alberto Fernández e pela ex-presidente Cristina Kirchner nas eleições de domingo (27). Eles derrotaram o presidente Mauricio Macri no primeiro turno, impulsionados pelo descontentamento da população com o aumento dos níveis de inflação e de pobreza. Após trocarem ofensas durante a campanha, Fernández e Macri foram cordiais ao iniciar a transição do governo; a posse está marcada para 10 de dezembro.

A animosidade com o resultado veio do Brasil, após o presidente Jair Bolsonaro –que passou os últimos meses fazendo campanha aberta contra Fernández– declarar que não pretendia parabenizar o candidato vencedor. O desentendimento entre os líderes dos dois maiores países sul-americanos pode pôr em risco as parcerias comerciais do Mercosul.

Já na Colômbia, a ex-senadora Claudia López venceu a eleição para a prefeitura da capital, Bogotá, que também foi realizada no domingo. Ela será a primeira mulher e a primeira lésbica a ocupar o cargo, considerado o segundo principal do país, atrás apenas da Presidência. Além de López, candidaturas opositoras saíram vitoriosas nas disputas pelas prefeituras de Medellín e Cáli, respectivamente a segunda e a terceira maiores cidades do país.

Os resultados são amargos para o presidente Iván Duque e sua coalizão de centro-direita. As eleições locais foram marcadas por ameaças e ataques contra candidatos; ainda assim, o pleito foi considerado um dos mais pacíficos dos últimos tempos no país, que vive incertezas ao tentar colocar em prática o acordo de paz firmado em 2016 com as Farc (antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

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Entenda os protestos contra alta dos combustíveis no Equador https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/04/entenda-os-protestos-contra-alta-dos-combustiveis-no-equador/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/04/entenda-os-protestos-contra-alta-dos-combustiveis-no-equador/#respond Fri, 04 Oct 2019 13:37:38 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/ecuador-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3399 O Equador registrou uma série de protestos após o governo anunciar a suspensão dos subsídios sobre combustíveis.

Na quinta-feira (3), houve confronto entre manifestantes e policiais em várias partes do país. Ao menos 19 manifestantes foram presos até agora.

O presidente Lenín Moreno anunciou um estado de exceção, que proíbe a realização de protestos por 60 dias. Ainda assim, sindicatos de motoristas convocaram novos atos para esta sexta-feira (4).

Entenda os protestos no Equador:

1. Manifestantes desafiam estado de exceção

Os protestos contra a alta dos preços dos combustíveis levaram ao bloqueio de avenidas e rodovias. Imagens que circulam nas redes sociais mostram cenas de batalha campal no centro da capital, Quito.

Há o temor de que a violência se intensifique com a promulgação do estado de exceção, que prevê a mobilização das Forças Armadas para conter protestos em todo o território equatoriano.

“Estamos em uma ação indefinida até que o governo revogue o decreto sobre subsídios. Estamos paralisando a nação” declarou o à agência de notícias Reuters o líder sindicalista Abel Gómez.

2. Alta dos preços responde a demandas do FMI

Após o anúncio da suspensão dos subsídios, os preços da gasolina e do diesel subiram em até 123%. Motoristas do sistema do sistema de transporte público, que lideram os protestos, são uma das categorias mais afetadas pelo decreto.

A medida integra um pacote de controle de gastos públicos e responde às exigências do FMI (Fundo Monetário Internacional) em troca de empréstimos de US$ 10,2 bilhões (R$ 41,6 bilhões), segundo acordo firmado com as autoridades equatorianas em março.

O presidente Lenín Moreno não deu sinais de que recuará da decisão para acalmar os protestos: “[as manifestações] nos fazem presumir que, no melhor dos casos, a intenção … é definitivamente desestabilizar o governo democraticamente e legalmente constituído”, afirmou, de acordo com o jornal El Comercio.

3. Ex-presidente Correa declara apoio aos protestos

Ex-aliado de Moreno, o ex-presidente Rafael Correa declarou apoio às manifestações no Equador.

Moreno foi eleito presidente em abril de 2017, prometendo dar continuidade às políticas de esquerda de Correa. No entanto, após chegar ao poder, Moreno se distanciou de seu padrinho político e forjou alianças com partidos de centro e de direita.

“Isto demonstra a crise moral que vive a pátria, por conta do pior governo da história … Fora todos! Convoquem eleições. Recuperemos a paz”, disse Correa em um rede social.

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Entenda os protestos contra a ditadura de Sisi, no Egito https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/25/entenda-os-protestos-contra-a-ditadura-de-sisi-no-egito/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/25/entenda-os-protestos-contra-a-ditadura-de-sisi-no-egito/#respond Wed, 25 Sep 2019 15:23:47 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/egypt-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3385 O povo retornou às ruas do Egito, repetindo as cenas registradas na revolução de 2011 em meio à Primavera Árabe.

Na sexta-feira (20), centenas de manifestantes se reuniram na capital, Cairo, e em outras cidades do país norte-africano para exigir a queda do ditador Abdel Fattah el-Sisi. Outros atos foram registrados no sábado (21).

A polícia dispersou os protestos com violência. Desde então, mais de 500 pessoas foram presas sob a acusação de participar de manifestações ilegais, de acordo com a ONG Centro Egípcio para Direitos Econômicos e Sociais.

O movimento é o principal desafio até agora para o regime de Sisi, que chegou ao poder por meio de um golpe de Estado em 2013. Novas manifestações foram convocadas para a próxima sexta-feira (27).

Entenda os protestos no Egito:

1. Protestos são os primeiros desde golpe militar de 2013

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram manifestantes gritando “fora, Sisi” e “o povo quer a queda do regime”. No Cairo, os protestos alcançaram as proximidades da praça Tahrir, palco das manifestações que, em 2011, puseram fim a três décadas do regime de Hosni Mubarak.

Manifestações de dissenso como as que ocorreram na semana passada são raras no Egito de Sisi. Ele, 64, praticamente proibiu a realização de protestos no país desde que liderou um golpe de Estado em 3 de julho de 2013 –a última ocasião em que opositores ocuparam as ruas, em agosto daquele ano, terminou com mais de 800 civis mortos em massacres perpetrados pelas forças de segurança.

Sisi se mantém no poder graças ao apoio do Exército, instituição na qual chegou a ocupar o cargo de general antes de virar presidente. No campo internacional, o ditador conta com o apoio do governo dos Estados Unidos e do regime da Arábia Saudita.

“Sisi reprimiu quaisquer protestos cruelmente, então o fato de que as pessoas estão preparadas para ir às ruas hoje … reflete a frustração enorme, a raiva enorme que egípcios comuns sentem em relação a Sisi”, disse o analista britânico Bill Law à emissora catariana Al Jazeera.

2. Atos foram convocados por empresário e ator exilado

As manifestações ocorreram após um chamado feito pelo empresário e ator Mohamed Ali, que vive em exílio voluntário na Espanha. Em vídeos que viralizaram no Facebook e no Twitter, ele acusa Sisi de corrupção e pede que seus seguidores saiam às ruas contra o regime.

Nos últimos anos, Ali, 45, firmou contratos lucrativos com o Exército, que controla grande parte das atividades econômicas no Egito. Ele reclama que o governo lhe deve 220 milhões de libras egípcias (o equivalente a R$ 56 milhões) em pagamentos referentes à construção de um hotel de luxo, e diz ter fugido do país por temer sofrer retaliações.

Os novos protestos no Egito ocorrem após vitórias de manifestantes em países da região: uma série de manifestações provocou a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika na Argélia em abril; no mesmo mês, o ditador Omar al-Bashir foi deposto em um golpe militar no Sudão, após meses de protestos por democracia.

“Você é um opressor e um fracassado. O povo está passando fome”, diz Ali a respeito de Sisi em um dos vídeos. O ditador diz que as acusações feitas por Ali são “mentiras e calúnias”.

3. Sisi sufoca liberdades conquistadas na Primavera Árabe

Sisi é responsável por reverter as principais liberdades conquistadas pelo povo egípcio após a onda de protestos da Primavera Árabe, que chacoalhou diversos países do Norte da África e do Oriente Médio entre 2010 e 2011.

Em 2014 e 2018, Sisi venceu eleições presidenciais sem a participação de candidatos opositores, pondo fim à breve experiência democrática no Egito. A única vez em que cidadãos do país foram às urnas em eleições livres foi em 2012, quando elegeram como presidente Mohammed Mursi, do partido islamita Irmandade Muçulmana –deposto no golpe liderado por Sisi no ano seguinte, Mursi passou seus últimos dias na prisão até a sua morte, em junho.

O regime egípcio prende opositores sob a acusação, nem sempre justificada, de colaborar com a Irmandade Muçulmana, considerada um grupo terrorista pelas autoridades do país. Além disso, sob Sisi, o Egito se tornou o terceiro país que mais prende jornalistas no mundo, atrás da China e da Turquia: havia 25 profissionais da imprensa atrás das grades no país em dezembro, de acordo com o relatório mais recente do Comitê para a Proteção de Jornalistas.

“As agências de segurança do presidente Sisi usaram a força em diferentes ocasiões para reprimir brutalmente protestos pacíficos”, disse em nota Michael Page, vice-diretor da ONG Human Rights Watch para o Oriente Médio e o Norte da África, após os protestos mais recentes no Egito. “As autoridades devem reconhecer que o mundo está de olho e adotar todos os passos necessários para evitar a repetição de atrocidades do passado.”

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Protesto no Masp na sexta-feira se junta a greve pelo clima em 150 países https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/18/protesto-no-masp-na-sexta-feira-se-junta-a-greve-pelo-clima-em-150-paises/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/18/protesto-no-masp-na-sexta-feira-se-junta-a-greve-pelo-clima-em-150-paises/#respond Wed, 18 Sep 2019 15:25:54 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/strike-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3363 Movimentos ambientalistas convocam um protesto pelo clima em São Paulo nesta sexta-feira (20), a partir das 16h no vão livre do Masp.

A manifestação integra eventos programados em mais de 150 países na Greve Global pelo Clima, movimento inspirado pela ativista sueca Greta Thunberg.

“Somos parte deste movimento global para chamar a atenção da sociedade e dos governantes para a emergência climática”, disse por telefone Ricardo Serra, membro da Coalizão pelo Clima, um dos grupos que convocam o protesto em São Paulo.

Os organizadores do ato exigem que as autoridades brasileiras neutralizem as emissões de carbono até 2030 e reflorestem 12 milhões de hectares até 2025, de acordo com os compromissos assumidos pelo país no Acordo de Paris sobre o clima.

O protesto também é uma resposta às queimadas na Amazônia, que nas últimas semanas intensificaram a pressão internacional contra as políticas ambientais do governo de Jair Bolsonaro.

“Certamente a defesa da Amazônia e das políticas de conservação ambiental é parte da nossa luta”, afirmou Serra, 38, estudante de doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Além de São Paulo, há atos marcados em outras cidades brasileiras, incluindo Brasília, Rio de Janeiro e Recife (a lista completa de eventos no Brasil e no mundo pode ser acessada aqui).

GREVE GLOBAL

Nos últimos meses, estudantes ao redor do mundo têm se mobilizado para evitar as mudanças climáticas. Os protestos desta sexta-feira buscam repetir o sucesso das manifestações de 15 de março, que reuniram mais de 1,6 milhão de pessoas em 133 países.

A Greve Global pelo Clima se inspira no gesto solitário de Thunberg, 16, que no ano passado passou a faltar às aulas às sextas-feiras para protestar em frente à sede do Parlamento sueco, em Estocolmo. A adolescente está nos Estados Unidos para encontros com congressistas e o ex-presidente Barack Obama.

Na sexta, Thunberg deverá participar do protesto pelo clima em Nova York. A cidade hospedará na semana que vem uma conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre o clima, bem como a cerimônia de abertura da Assembleia Geral do organismo, em que o presidente Bolsonaro deverá discursar perante outros líderes mundiais.

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ligado à ONU, estima que a humanidade tem até 2030 para evitar mudanças irreversíveis no clima. Os principais efeitos de uma catástrofe climática incluiriam secas e ondas de calor recordes, bem como o derretimento acelerados das calotas polares e a elevação dos níveis dos oceanos.

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Posse de premiê civil inaugura nova fase da Revolução Sudanesa https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/22/posse-de-premie-civil-inaugura-nova-fase-da-revolucao-sudanesa/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/22/posse-de-premie-civil-inaugura-nova-fase-da-revolucao-sudanesa/#respond Thu, 22 Aug 2019 13:26:17 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/sudan-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3321 A revolução em curso no Sudão entrou em uma nova fase na quarta-feira (21), com a posse de um primeiro-ministro civil e a formação de um conselho encarregado da transição à democracia após uma onda de protestos pôr fim ao regime do ditador Omar al-Bashir.

Em cerimônia na capital, Cartum, o economista Abdalla Hamdok tomou posse como premiê. Ele prestará contas ao recém-formado Conselho Soberano, órgão integrado por militares e civis e que deverá transferir o poder para um governo eleito daqui a três anos.

A posse do novo governo ocorre após meses de negociação entre as Forças Armadas e líderes dos protestos no país. Com este novo arranjo de poder, os militares deixam de ter controle absoluto sobre a política do Sudão pela primeira vez desde a chegada de Bashir ao poder, em 1989.

Entenda o processo de transição democrática no Sudão:

1. Novo premiê declara apoio aos princípios da revolução

Novo premiê do Sudão, Hamdok promete modernizar a economia do país e pôr fim a décadas de conflito armado. Ele foi apontado para o cargo pelas Forças pela Liberdade e Mudança, coalizão que agrega os principais grupos de oposição do país.

Hamdok, 63, cursou doutorado na Universidade de Manchester e foi vice-secretário-executivo da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África entre 2011 e 2018. Ele chegou a ser apontado como ministro da Economia do regime de Bashir no ano passado, mas recusou o convite.

“O slogan enraizado da revolução –paz, liberdade e justiça– formará o programa do período de transição”, disse Hamdok em entrevista coletiva após tomar posse, de acordo com a agência de notícias Reuters.

2. Militares seguirão tutelando a transição por 21 meses

Apesar da posse de um primeiro-ministro civil, as Forças Armadas do Sudão seguirão tendo influência política nos próximos anos. Os militares ocupam cinco cadeiras do Conselho Soberano ao lado de seis civis apontados pela oposição.

O novo organismo substitui o Conselho Militar Transitório (CMT), que passou a governar o país norte-africano depois da deposição de Bashir em um golpe militar em 11 de abril em meio à onda de protestos. Sob o acordo de transição, os militares chefiarão o Conselho Soberano por 21 meses –depois deste período, os civis assumirão o poder por 18 meses até a realização de eleições livres.

O tenente-general Abdel Fattah al-Burhan, que chefiava o CMT, assumiu na quarta-feira a liderança do Conselho Soberano. Também integra o organismo o general Mohamed Hamdan Dagalo, líder de um grupo paramilitar responsável por atrocidades contra civis em Darfur, região no sudoeste do Sudão que vive em estado de guerra civil desde 2003.

3. Revolução Sudanesa arranca conquistas apesar de repressão

Até poucos meses atrás, a posse de um governo civil no Sudão era algo improvável. O regime islamita de Bashir controlava a população com punho de ferro, perseguindo minorias e reprimindo protestos com o apoio de outras ditaduras da região.

Após o início da mais recente onda de protestos, em dezembro, Bashir impôs um estado de emergência e suspendeu o acesso à internet. Mesmo após sua deposição, as Forças Armadas continuaram reprimindo as manifestações –mais de cem ativistas foram mortos em um massacre em Cartum em 3 de junho, segundo grupos de oposição. Ainda assim, os militares não conseguiram sufocar a revolução.

“Os manifestantes adotaram uma estratégia pacífica desde o início”, disse Samahir Elmubarak, porta-voz da Associação de Profissionais Sudaneses (SPA, na sigla em inglês), uma das principais organizações à frente da revolta popular, em entrevista à Folha no mês passado. “Sabemos que os custos de uma guerra são muito altos. O povo fez uma escolha bastante consciente sobre a resistência não violenta.”

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Por que Greta Thunberg incomoda tanta gente? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/20/por-que-greta-thunberg-incomoda-tanta-gente/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/20/por-que-greta-thunberg-incomoda-tanta-gente/#respond Tue, 20 Aug 2019 13:31:50 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/greta-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3312 Ela é apenas uma adolescente sueca. Como muitos jovens ao redor do mundo, ela não entende por que os adultos têm feito tão pouco para evitar a destruição do planeta. Mas nada do que ela diz é novo: há décadas os cientistas nos avisam da catástrofe ambiental que se aproxima.

Então por que é que tanta gente se incomoda com Greta Thunberg? A julgar por comentários nas páginas de jornal e nas redes sociais, o desconforto com a ativista de 16 anos é um fenômeno tão global quanto as mudanças do clima.

No início do mês, Andrew Bolt, colunista do jornal australiano Herald Sun, disse que Thunberg é “estranha” e “profundamente perturbada”. O comentário foi amplamente interpretado como uma ofensa contra autistas –a ativista é portadora da síndrome de Asperger.

Já na semana passada, o colunista da Folha João Pereira Coutinho escreveu que a atitude da jovem sueca diante da crise climática é uma “neurose”, e que o movimento que ela lidera tem características messiânicas. De acordo com Coutinho, “o fenômeno Greta Thunberg não tem nada de científico nem se pode confundir com qualquer discussão séria sobre o tema”.

Também na semana passada, o magnata britânico Aaron Banks, principal financiador da campanha em favor do brexit, causou indignação ao sugerir que Thunberg poderia morrer em um acidente de barco. “Malditos acidente de iatismo acontecem em Agosto…”, disse Banks em uma rede social.

A ativista acabara de embarcar em um veleiro com destino a Nova York, onde participará de uma conferência sobre o clima na sede da ONU (Organização das Nações Unidas) –ela se recusa a viajar de avião para não contribuir com a emissão de carbono. A jornada transatlântica deve durar duas semanas e pode ser acompanhada em tempo real pela internet.

Thunberg ganhou notoriedade ao longo do último ano, após decidir faltar às aulas às sextas-feiras para protestar em frente à sede do Parlamento sueco, em Estocolmo, para exigir que o governo tomasse ações mais efetivas para combater as mudanças climáticas.

O protesto solitário de Thunberg inspirou mobilizações lideradas por estudantes ao redor do mundo: mais de 1,6 milhão de pessoas participaram de protestos pelo clima em 133 países em 15 de março.

Assim, a jovem sueca se tornou símbolo de uma nova geração de ativistas que lutam por um planeta habitável. Graças à sua defesa do meio ambiente, Thunberg já se encontrou com personalidades como o ex-presidente americano Barack Obama e o papa Francisco. Ela também foi nomeada para o Prêmio Nobel da Paz.

“Nossa casa está pegando fogo. E eu estou aqui para dizer: nossa casa está pegando fogo”, afirmou Thunberg em janeiro durante um discurso para líderes mundiais no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

“Resolver a crise do clima é o maior e mais complexo desafio que o homo sapiens já enfrentou. A principal solução, porém, é tão simples que até uma criança consegue entender. Nós precisamos parar as nossas emissões de gases do efeito estufa.”

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ligado à ONU, estima que a humanidade tem até 2030 para evitar mudanças irreversíveis no clima. Os principais efeitos de uma catástrofe climática incluiriam secas e ondas de calor recordes, bem como o derretimento acelerados das calotas polares e a elevação dos níveis dos oceanos.

Talvez Thunberg incomode tanta gente justamente por dar visibilidade a uma verdade inconveniente. O movimento que ela inspirou é uma pedra no sapato dos adultos que têm ignorado o tema em nome de seu próprio conforto, bem como dos governantes que seguem insistindo que o aquecimento global é uma farsa.

Mesmo que alguns de seus seguidores errem ao ver na ativista a última esperança contra o apocalipse do clima, a mensagem que ela vocaliza segue sendo pertinente. De fato, diante das críticas e dos ataques recorrentes, Thunberg demonstra mais maturidade que muitos de seus detratores.

“Eu penso que há muito foco sobre mim como pessoa e não sobre o próprio clima”, disse Thurnberg em entrevista à emissora alemã Deutsche Welle. “Acredito que nós devemos nos concentrar mais na questão do clima, porque isto não é sobre mim.”

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