Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Autobiografia de Snowden detalha como os EUA espionaram o mundo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/20/autobiografia-de-snowden-detalha-como-os-eua-espionaram-o-mundo/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/20/autobiografia-de-snowden-detalha-como-os-eua-espionaram-o-mundo/#respond Fri, 20 Sep 2019 19:04:43 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/snowden-1-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3370 Esqueça os equipamentos mirabolantes dos filmes do agente secreto James Bond. Hoje em dia, a principal arma de espionagem é o smartphone, computador ou tablet em que você está lendo este texto.

Parece obra de ficção, mas não é. Se hoje nós sabemos que as nossas comunicações digitais podem estar sendo monitoradas a todo instante, isso se deve, em parte, ao esforço de Edward Snowden, ex-agente da NSA (Agência de Segurança Nacional americana) que veio a público em 2013 para delatar um sistema de vigilância em massa que ajudara a montar nos anos anteriores.

Os detalhes do escândalo de espionagem que mudou para sempre nossa relação com a tecnologia ocupam as páginas de “Eterna Vigilância”, a recém-publicada autobiografia de Snowden. A versão em português foi lançada pela editora Planeta (o título original é “Permanent Record”).

“Nas profundezas de um túnel sob uma plantação de abacaxis –uma antiga fábrica de aviões da época de Pearl Harbor–, eu me sentava diante de um terminal do qual tinha acesso praticamente ilimitado às comunicações de quase todos os homens, mulheres e crianças da Terra que fizessem uma ligação ou usassem um computador”, conta Snowden na obra, descrevendo o tempo em que trabalhou em uma base secreta no Havaí.

O livro conta a trajetória do garoto nerd que cresceu na cidade de Elizabeth City, na Carolina do Norte, e passou trabalhar como freelancer para a NSA e a CIA (serviço secreto americano), até que sua decisão de vazar segredos de Estado o forçou a viver no exílio.

Nascido em 1983, Snowden faz parte de uma geração que acompanhou a internet e os computadores em sua fase de crescimento. Pessoas como ele foram moldadas pelas novas tecnologias ao passo em que ajudavam a desenvolvê-las.

No livro, Snowden relembra o passado idílico do mundo interconectado que oferecia oportunidades infinitas. Ele lamenta que o anonimato online tenha sido substituído pela perda quase completa de privacidade, e que a colaboração voluntária entre indivíduos que marcava os primórdios da internet tenha dado lugar a uma cultura digital pautada pelos interesses comerciais de uns poucos conglomerados de mídia.

É neste abismo entre o sonho do que a internet poderia ter sido e o pesadelo em que ela se tornou que reside a frustação de Snowden, e que o motivou a pôr tudo em risco quando decidiu revelar os segredos da NSA.

PRIVACIDADE IMPOSSÍVEL

As informações trazidas à luz do dia por Snowden mostram como o governo dos Estados Unidos, sob a justificativa de combater seus inimigos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, criou um vasto sistema de coleta de informações pessoais que tornava a privacidade no mundo digital praticamente impossível.

De certa forma, o ato rebelde de Snowden provocou uma crise de identidade nos Estados Unidos, que até então acreditavam ser o guardião da democracia e das liberdades individuais.

O escândalo deixou claro que a maior potência do mundo havia adotado –à revelia da ordem legal e da vontade de seus cidadãos– práticas de espionagem em massa comuns a regimes autoritários, como a China, a União Soviética e a Alemanha nazista.

“Deixa de ser, efetivamente, uma democracia todo governo eleito que dependa da vigilância para manter o controle [de seus cidadãos]”, escreve Snowden. Para o autor, as autoridades de inteligência dos Estados Unidos “hackearam a Constituição”.

O escândalo revelado por Snowden já foi abordado em outras ocasiões, como o livro “Sem Lugar Para Se Esconder”, do jornalista americano Glenn Greenwald, e o documentário “Citizenfour”, da cineasta Laura Poitras (Greenwald e Poitras são também os autores das primeiras reportagens sobre os documentos vazados da NSA por Snowden).

Já “Eterna Vigilância” é a primeira versão do caso contada por seu protagonista. Embora não traga revelações bombásticas, o livro oferece um relato detalhado sobre o funcionamento das agências de inteligência mais poderosas do mundo a partir do ponto de vista de um ex-funcionário que decidiu virar delator.

A delação de Snowden inaugurou um debate global necessário sobre as ameaças às liberdades individuais na era da informação, dando impulso a ferramentas de criptografia de mensagens e a avanços legislativos como o GDPR (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados), implementado pela União Europeia em 2018.

Por outro lado, desde que as revelações de Snowden vieram à tona, em 2013, as redes sociais se tornaram um lugar mais sombrio, em que nossos dados pessoais passaram a ser explorados por corporações privadas e campanhas políticas interessadas em analisar e influenciar o comportamento de milhões de usuários.

INTERESSE PÚBLICO

Mais de seis anos após ter vindo a público, Snowden segue exilado em uma terra que jamais escolheu, a Rússia, sem saber se e quando poderá voltar em segurança a seu país de origem. Longe de reconhecer qualquer interesse público que tenha motivado sua delação, os Estados Unidos seguem tratando Snowden como um traidor que colocou a segurança da nação em risco.

Lançado na terça-feira (17), “Eterna Vigilância” já provocou reações das autoridades americanas. O Departamento de Justiça entrou, no mesmo dia, com uma ação para reter todos os lucros que resultem da publicação do livro –para o governo americano, Snowden violou as regras da CIA e da NSA, que exigem que seus ex-funcionários submetam suas obras à revisão prévia.

O livro é particularmente interessante para o público brasileiro: entre as revelações de Snowden estava a informação de que o governo americano vinha rastreando as comunicações da então presidente Dilma Rousseff, o que gerou uma crise diplomática sem precedentes entre Brasília e Washington.

Além disso, o caso Snowden atravessa questões importantes debatidas atualmente no Brasil, dos riscos representados por autoridades não eleitas que violam prerrogativas elementares do estado de Direito em nome de combater um mal maior, à legitimidade das ações de hackers e jornalistas que expõem essas violações.

Considere-se Snowden um herói ou um traidor, “Eterna Vigilância” é fundamental para compreender um dos personagens mais interessantes deste início de século, e para entender o potencial criativo e destrutivo das novas tecnologias de comunicação.

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Documentário ‘Privacidade Hackeada’ mostra como o Facebook envenena a democracia https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/24/documentario-privacidade-hackeada-mostra-como-o-facebook-envenena-a-democracia/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/24/documentario-privacidade-hackeada-mostra-como-o-facebook-envenena-a-democracia/#respond Wed, 24 Jul 2019 17:45:31 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/fb-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3259 O documentário “Privacidade Hackeada”, lançado nesta quarta-feira (24) pela Netflix, é um pesadelo para os executivos do Facebook e demais gigantes da tecnologia.

A obra mostra como as redes sociais, que surgiram com a promessa de ajudar o mundo a se conectar, viraram uma indústria trilionária de monitoramento de dados e se tornaram uma arma valiosa nas mãos de agentes políticos que buscam fomentar a divisão e o ódio ao redor do planeta.

“Privacidade Hackeada” é o primeiro longa a abordar o escândalo de coleta de dados pessoais de milhões de usuários da rede social criada por Mark Zuckerberg pela empresa britânica Cambridge Analytica. O documentário explica como a firma de marketing político ajudou Donald Trump a vencer a corrida presidencial americana de 2016 e discute sua colaboração com a campanha em favor do brexit no referendo britânico daquele mesmo ano.

O escândalo eclodiu em março de 2018, quando o jornal britânico The Guardian publicou relatos de Christopher Wilye, ex-funcionário da Cambridge Analytica, sobre a coleta ilegal de dados de mais de 50 milhões de usuários do Facebook. Segundo o delator, a empresa havia acessado informações pessoais por meio de uma enquete comportamental e criado anúncios personalizados em favor da candidatura de Trump.

As revelações deram origem a investigações criminais nos Estados Unidos e no Reino Unido, e levaram a Cambridge Analytica à falência. O caso continua tendo repercussões: nesta quarta-feira, a Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos ordenou o Facebook a pagar uma multa de US$ 5 bilhões (R$ 18,8 bilhões) por causa das informações pessoais vazadas para a firma britânica.

Dirigido por Jehane Noujaim e Karim Ame, “Privacidade Hackeada” não traz novidades bombásticas, mas apresenta de maneira didática os bastidores do escândalo de coleta de dados. Com a participação de ativistas digitais, jornalistas e ex-funcionários da Cambridge Analytica, o documentário pinta um cenário perturbador sobre o direito à privacidade e o futuro da democracia na era da informação.

“A maior parte dos nossos recursos foi utilizada para atingir aqueles [eleitores] que podiam mudar de ideia”, diz no filme Brittany Kaiser, ex-diretora da Cambridge Analytica que veio a público para denunciar as irregularidades cometidas pela empresa.

“A nossa equipe criativa criou conteúdo personalizado para atingir esses indivíduos. Nós os bombardeamos com blogs, sites, artigos, vídeos, anúncios, todas as plataformas que se possa imaginar, até que vissem o mundo como nós queríamos. Até que votassem em nosso candidato. É como um bumerangue: você envia seus dados, eles são analisados e voltam para você na forma de mensagens direcionadas para mudar o seu comportamento”, acrescenta Kaiser.

Todos os usuários de redes sociais sabem que estão disponibilizando suas informações pessoais para desconhecidos, mesmo que não leiam os termos e condições dos serviços que estão contratando. À primeira vista, compartilhar fotos da família ou curtir vídeos de bichos fofinhos podem parecer atos inofensivos, mas o filme mostra que não o são: estas interações ficam armazenadas e geram partículas de dados preciosas que alimentam uma extensa máquina de propaganda digital.

“As pessoas não querem admitir que propaganda funciona, porque admitir isso significa confrontar nossas próprias susceptibilidades, a terrível falta de privacidade e dependência incorrigível das plataformas de tecnologia que estão arruinando nossas democracias”, afirma no documentário David Carroll, um professor da mídia digital em Nova York que acionou a Cambridge Analytica na Justiça britânica para tentar obter seus dados pessoais de volta, sem sucesso.

Há quem duvide dos efeitos eleitorais das táticas de propaganda digital promovidas por empresas como a Cambridge Analytica. No livro “Network Propaganda”, de 2018, os pesquisadores Yochai Benkler, Robert Faris e Hal Roberts argumentam que a vitória de Donald Trump foi possibilitada por fatores estruturais que vêm transformando a política americana há décadas, e que a ameaça representada pela Cambridge Analytica havia sido “superestimada”.

Wilye, o primeiro delator da Cambridge Analytica, parece discordar desta avaliação. Em depoimento ao Parlamento britânico reproduzido no “Privacidade Hackeada”, ele diz: “Quando [um atleta] é pego nas Olimpíadas por doping, ninguém discute quanta droga ilícita foi usada, certo? … Não importa, se você é pego trapaceando, você perde a sua medalha. Se nós permitirmos trapaças no nosso processo democrático, o que acontecerá da próxima vez? E a vez seguinte? Não se deve ganhar trapaceando”.

Para Carole Cadwalladr, repórter do The Guardian que publicou os primeiros relatos de Wilye, as redes sociais “são agora usadas como armas” por forças obscuras. “Isso tudo parece meio apocalíptico … Podemos ver que governos autoritários estão em ascensão e estão usando essa política de ódio e medo no Facebook”, diz a jornalista no filme.

Cadwalladr menciona brevemente o Brasil de Jair Bolsonaro como um exemplo dos efeitos nefastos da internet sobre a democracia. Ela descreve o presidente como um “extremista de direita” que foi eleito em meio à circulação de notícias falsas em larga escala pelo WhatsApp, plataforma controlada pelo Facebook –a Folha revelou, em outubro, que empresários aliados a Bolsonaro haviam contratado agências de marketing político, à revelia da legislação eleitoral brasileira, para disseminar mensagens contra o PT no aplicativo durante a campanha.

Sem dúvida, “Privacidade Hackeada” é um dos piores desastres de relações públicas para o Facebook até agora. Disponível em mais de 190 países, o filme tem potencial para atingir uma audiência muito maior do que a dos meios de comunicação que vêm noticiando as sucessivas violações de privacidade praticadas pelos gigantes do Vale do Silício.

É impossível terminar de assistir a “Privacidade Hackeada” sem pensar em sair do Facebook de uma vez por todas.

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Conheça alguns canais que combatem ideias extremistas no YouTube https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/06/conheca-alguns-canais-que-combatem-ideias-extremistas-no-youtube/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/06/06/conheca-alguns-canais-que-combatem-ideias-extremistas-no-youtube/#respond Thu, 06 Jun 2019 13:02:59 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/contra-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3132 O YouTube deixou de ser apenas um site de vídeos de entretenimento e se tornou um campo de batalha ideológica.

Extremistas de todo tipo –de simpatizantes de teorias da conspiração a neonazistas– usam a plataforma do Google para propagar suas ideias odientas a uma audiência global.

Sob pressão, a empresa anunciou na quarta-feira (5) novas regras para tentar conter a disseminação de discurso de ódio, e avisou que irá suspender e desmonetizar vídeos com conteúdo discriminatório.

Mas há também quem use a plataforma para combater a intolerância e o extremismo. O Mundialíssimo recomenda três destes canais (todos em inglês, infelizmente):

1. ContraPoints

Natalie Wynn, ou ContraPoints, é uma youtuber transgênero americana que tomou para si a missão de desmistificar e desconstruir as ideias da alt-right (direita alternativa, em inglês).

Ela produz vídeos teatrais, tão engraçados quanto educativos, sobre os mais variados assuntos: do humor negro aos incels (celibatários involuntários, um tipo de subcultura da internet), passando pelo capitalismo e pelo fascismo.

Até mesmo alguns extremistas foram convencidos a abandonar o caminho da radicalização após assistirem aos seus vídeos –por isso, ContraPoints ganhou o apelido de “domadora de nazistas”.

2. Hbomberguy

Harry Brewis, também conhecido como Hbomberguy, conhece como poucos a linguagem das redes.

O youtuber britânico faz referências a videogames e filmes para rebater as teorias pseudocientíficas, como o negacionismo climático e o terraplanismo, defendidas por ícones da ultradireita.

Com paciência e didática, Hbomberguy nos ajuda a entender por que tantas pessoas são seduzidas por ideias radicais.

3. Strikethrough

Na série Strikethrough, produzida pelo site americano Vox, o jornalista Carlos Maza discute o papel da mídia na era Trump.

Em seus vídeos, Maza explica as estratégias de propaganda usadas pelo presidente americano e sua emissora favorita, Fox News, para controlar o ambiente informacional do país.

Strikethough é referência obrigatória para quem busca entender como as ideias de extremistas vão parar no mainstream político e midiático dos Estados Unidos.

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Eleição na Indonésia será o próximo teste do combate às fake news https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/21/eleicao-na-indonesia-sera-o-proximo-teste-do-combate-as-fake-news/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/21/eleicao-na-indonesia-sera-o-proximo-teste-do-combate-as-fake-news/#respond Thu, 21 Mar 2019 12:44:47 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/indo-320x213.png https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3014 A Indonésia se prepara para ir às urnas em meio à proliferação de notícias falsas e desinformação. As eleições, marcadas para 17 de abril, deverão ser o próximo campo de batalha no combate global contra as fake news.

Com aproximadamente 270 milhões de habitantes, a Indonésia é a terceira maior democracia do mundo, ficando atrás da Índia e dos Estados Unidos. A população do país é bastante ativa nas redes sociais.

Até aqui, as mentiras têm dado sinal de força. Um relatório da ONG indonésia Mafindo indica que a disseminação de fake news com conteúdo político aumentou em 61% entre dezembro e janeiro. O estudo foi divulgado na quarta-feira (20) pelo jornal britânico The Guardian.

Alguns dos rumores em circulação jogam dúvidas sobre a lisura do pleito. Por exemplo, certas mensagens virais alegam que milhões de cédulas já teriam sido marcadas.

“Isso é muito perigoso … Se o processo eleitoral for contestado, independentemente de quem vencer, a população pode acabar perdendo a confiança nos resultados, seria o caos”, disse Septiaji Eko Nugroho, da Mafindo, ao The Guardian.

O relatório aponta que o Facebook é o principal meio de propagação de notícias falsas, registrando 45% das mensagens inverídicas checadas pela Mafindo. Em janeiro, a empresa de Mark Zuckerberg anunciou a remoção de centenas de páginas e grupos que compartilhavam conteúdo falso e discurso de ódio.

O governo do país do Sudeste Asiático mantém uma campanha para tentar coibir a divulgação de fake news. Ainda assim, as mentiras atingem os principais candidatos no pleito.

O presidente Joko Widodo, que tem favoritismo na busca pela reeleição, foi alvo de aproximadamente 29% das notícias falsas, enquanto seu rival Prabowo Subianto foi atacado em quase 21% das mensagens, de acordo com a Mafindo.

Os dois candidatos, que também se enfrentaram nas eleições de 2014, negam responsabilidade pela divulgação de fake news. O pleito daquele ano já havia registrado campanhas de desinformação, mas o alcance das redes sociais no país era menor.

EPIDEMIA GLOBAL

A disseminação de notícias falsas marcou votações ao redor do mundo nos últimos anos.

O termo “fake news” se popularizou após a vitória de Donald Trump na corrida presidencial dos Estados Unidos em 2016. O republicano se beneficiou da circulação de mentiras nas redes sociais nos meses que antecederam o pleito.

As eleições de outubro no Brasil também registraram a propagação de conteúdo inverídico, principalmente no WhatsApp. A Polícia Federal passou a investigar o fenômeno após a Folha revelar que aliados de Jair Bolsonaro financiaram o disparo de mensagens contra adversários do capitão reformado –o presidente nega responsabilidade pela campanha de desinformação.

Depois das eleições na Indonésia, será a vez de a Índia testar o combate às fake news. O país de 1,3 bilhão de habitantes, que terá eleições parlamentares em maio, também enfrenta a disseminação massiva de notícias falsas no WhatsApp –boa parte do conteúdo inverídico impulsiona o nacionalismo hindu, corrente política representada pelo primeiro-ministro Narendra Modi.

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O que os massacres em Suzano e na Nova Zelândia têm em comum? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/o-que-os-massacres-em-suzano-e-na-nova-zelandia-tem-em-comum/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/15/o-que-os-massacres-em-suzano-e-na-nova-zelandia-tem-em-comum/#respond Fri, 15 Mar 2019 13:18:23 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/suzano-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2998 O Brasil e a Nova Zelândia choram.

Do lado de cá do planeta, gerou perplexidade o massacre em uma escola em Suzano, na Grande São Paulo, que deixou oito mortos na quarta-feira (13). Já o país da Oceania vive “um de seus dias mais sombrios”, nas palavras da primeira-ministra Jacinda Ardern, após 49 pessoas morrerem em atentados contra duas mesquitas na cidade de Christchurch nesta sexta-feira (15) –noite de quinta no Brasil.

Não há nenhum indício de que as tragédias em Suzano e Christchurch tenham relação entre si, e as autoridades de cada país ainda investigam as circunstâncias dos ataques. Porém, saltam aos olhos algumas semelhanças entre os episódios:

1. Suspeitos parecem ter simpatia por ideologias extremistas

Autoridades e veículos de imprensa internacionais já tratam os eventos em Christchurch como ataques terroristas de extrema direita. Um homem que diz ser responsável pelos atentados publicou um manifesto de 74 páginas em que acusa imigrantes muçulmanos de tentarem promover um “genocídio contra os brancos”, ressoando o discurso de grupos radicais na Europa e nos Estados Unidos. Até o momento, quatro suspeitos foram presos.

Por outro lado, os atiradores de Suzano eram obcecados por jogos de tiro e sofriam bullying –eles, que foram encontrados mortos na cena do ataque, eram ex-alunos da escola Raul Brasil. Um dos jovens usava uma máscara de caveira, símbolo de supremacistas americanos, mas não está claro se o ataque teve motivação política. Promotores investigam a possibilidade de o massacre ter ligação com organizações radicais que promovem crimes de ódio ao redor do mundo.

2. Atiradores usaram as redes sociais para divulgar atentados

Um dos suspeitos dos atentados na Nova Zelândia transmitiu o massacre ao vivo pelas redes sociais. Após a repercussão negativa entre usuários, companhias de tecnologia procuraram apagar o vídeo –que, apesar disso, continuou sendo postado por outros perfis.

Já no Brasil, antes do ataque um dos atiradores publicou fotos em que aparece com um revólver e a máscara de caveira. O perfil do jovem no Facebook foi apagado, mas as imagens seguem circulando nas redes sociais e em sites de notícia.

3. Massacres reacendem debate sobre porte de armas

Os atentados em Christchurch devem reacender o debate sobre as regras de porte de armas na Nova Zelândia. O país tem uma das legislações sobre o tema mais flexíveis da região: há checagem de antecedentes para a emissão de licenças, mas não é necessário ter registro para a maioria das armas de fogo. Ainda não está claro se os suspeitos do massacre obtiveram as armas legalmente.

Da mesma forma, os acontecimentos em Suzano trouxeram à tona o debate sobre o direito à posse de armas, uma das principais bandeiras de campanha do presidente Jair Bolsonaro. O senador Major Olímpio (PSL-SP) chegou a dizer que a tragédia poderia ter sido minimizada se funcionários da escola estivessem armados. Por outro lado, opositores do governo temem que a flexibilização da posse de armas aumente a incidência de episódios de violência.

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4 livros para entender o impacto da internet na política https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/05/4-livros-para-entender-o-impacto-da-internet-na-politica/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/05/4-livros-para-entender-o-impacto-da-internet-na-politica/#respond Tue, 05 Feb 2019 15:13:17 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/whatsapp-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2920 A internet mudou para sempre a forma de se fazer política no mundo contemporâneo.

No Brasil, a campanha das eleições de outubro, que levou Jair Bolsonaro à Presidência, foi marcada pelo papel inédito das redes sociais e pela divulgação massiva de fake news, particularmente no WhatsApp.

Antes disso, as novas tecnologias de comunicação haviam afetado as eleições presidenciais de 2016 nos Estados Unidos, além de outros países. A disseminação de notícias falsas pelo WhatsApp também é muito frequente na Índia, que deverá ser palco do próximo grande teste do impacto da internet em eleições –o país irá às urnas entre abril e maio.

O blog Mundialíssimo recomenda quatro livros para entender o impacto da internet na política:

1. Network Propaganda (2018)

O livro é um dos principais estudos com megadata sobre o impacto da internet nas eleições de 2016 nos Estados Unidos. Os autores discutem o efeito das campanhas de desinformação articuladas por agentes da Rússia, bem como o impacto de coleta de dados de milhões de eleitores no Facebook pela empresa Cambridge Analytica.

O estudo conclui que o principal impacto da internet na política americana foi contribuir para a polarização do eleitorado, levando a um afastamento gradual do público conservador em relação a veículos de imprensa confiáveis e aproximando-o de sites hiperpartidários e propagadores de fake news. “Network Propaganda: Manipulation, Disinformation, and Radicalization in American Politics”, de Yochai Benkler, Robert Faris e Hal Roberts, está disponível em inglês (ed. Oxford University Press).

2. LikeWar (2018)

O livro começa com uma apresentação da evolução dos meios de comunicação (da prensa tipográfica às redes sociais, passando pelo telégrafo e pela televisão) e seu impacto na política e na guerra. Depois, os autores detalham inúmeros casos, em diversos países, em que a internet foi utilizada por atores políticos –para o bem e para o mal.

Um dos argumentos centrais da obra é que a internet mal começou sua fase adulta, de modo que os efeitos das redes sociais na política até agora são só o começo de novas dinâmicas políticas. Todos nós, usuários de internet, fazemos parte deste campo de batalha. “LikeWar: The Weaponization of Social Media”, de P. W. Singer e Emerson T. Brooking, está disponível em inglês (ed. Houghton Mifflin Harcourt).

Um dos autores do livro falou com a Folha em novembro. Você pode ler a entrevista aqui.

3. Networks of Outrage and Hope (2ª edição, 2015)

O livro analisa o uso da internet por movimentos sociais nos anos que se seguiram à crise financeira global de 2008. O estudo detalha o papel das redes sociais em diferentes países, das revoluções da Primavera Árabe às manifestações de junho de 2013 no Brasil, passando pelo Occupy Wall Street nos EUA e movimentos similares na Espanha, no Chile e na Turquia.

A obra, que precede o fenômeno da divulgação massiva de fake news e os debates sobre os efeitos nocivos das redes sociais sobre a democracia, avalia que a internet dá espaço para novas formas de participação política. “Networks of Outrage and Hope: Social Movements in the Internet Age”, de Manuel Castells, está disponível em inglês (ed. Polity).

4. Cyber Racism (2009)

O livro é um dos primeiros estudos sobre como a internet oferece um solo fértil para grupos racistas, facilitando o acesso a conteúdo extremista. A obra analisa as estratégias on-line de grupos nacionalistas brancos nos Estados Unidos, ajudando a compreender a ascensão, anos mais tarde, da alt-right (direita alternativa, rede de ativistas conservadores que ajudou a levar Donald Trump ao poder).

A autora argumenta que as corporações de tecnologia, ao promoverem a ideia de que a internet é um espaço para a circulação ilimitada de ideias, acabam favorecendo a propagação do discurso de ódio. Nesse sentido, o combate ao racismo na internet deve ser compartilhado por empresas e governos, além de movimentos sociais. “Cyber Racism: White Supremacy Online and the New Attack on Civil Rights”, de Jessie Daniels, está disponível em inglês (ed. Rowman & Littlefield Publishers).

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