Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Protestos por democracia no Líbano dão lugar à violência sectária; entenda https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/27/protestos-por-democracia-no-libano-dao-lugar-a-violencia-sectaria-entenda/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/27/protestos-por-democracia-no-libano-dao-lugar-a-violencia-sectaria-entenda/#respond Wed, 27 Nov 2019 19:33:55 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/lebanon-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3477 A escalada dos confrontos sectários em meio às manifestações pró-democracia no Líbano nos últimos dias gera preocupação sobre um possível retorno às divisões que marcaram o país nos anos de guerra civil, há cerca de meio século.

Na noite de domingo (24), integrantes dos movimentos xiitas Hizbullah e Amal atacaram os participantes de um ato no centro Beirute, e os manifestantes revidaram atirando pedras. Nos dias seguintes, os confrontos se espalharam para outras áreas da capital libanesa, deixando dezenas de pessoas feridas.

O Conselho de Segurança das ONU (Organização das Nações Unidas) pediu na segunda-feira (25) que as forças políticas do Líbano “estabeleçam um diálogo nacional intensivo e mantenham o caráter pacífico dos protestos”.

Entenda a escalada da violência nos protestos no Líbano:

1. Manifestações expressam revolta generalizada contra o governo

Os libaneses sofrem há anos com a corrupção dos governantes e com uma economia em frangalhos. A atual onda de protestos explodiu em outubro após o governo anunciar novas tarifas sobre ligações telefônicas feitas pelo WhatsApp e outros aplicativos, equivalentes a R$ 0,83 por dia. 

Após derrubar as tarifas, o governo apresentou um plano de modernização econômica e de combate à corrupção, e o primeiro-ministro Saad Hariri renunciou, sem, contudo, conseguir acalmar as ruas do país. 

As manifestações não têm líderes claros e expressam uma revolta generalizada contra as instituições de poder. Os protestos provocaram a paralisação do Parlamento, que parece incapaz de atender às demandas da população.

“A situação está se encaminhando para uma fase perigosa porque, após quarenta dias de protestos, as pessoas estão começando a se sentir cansadas e frustradas, podendo recorrer a ações fora de controle”, disse Fadia Kiwan, professora da Universidade Saint Joseph em Beirute, à agência de notícias Associated Press.

2. Democracia libanesa se sustenta sobre frágil equilíbrio de poder

O sistema político do Líbano, principal alvo da raiva dos manifestantes, se sustenta sobre um frágil equilíbrio de forças que reflete as divisões sectárias da população: no país há cristãos maronitas, muçulmanos sunitas e xiitas, bem como minorias de drusos, armênios e refugiados palestinos.

As tensões entre os diferentes grupos atingiram seu ápice durante a Guerra Civil Libanesa (1975 – 1990); mais de 120 mil pessoas morreram no período. Após o término do conflito, foi estabelecido um arranjo de poder que perdura até hoje, pelo qual metade das cadeiras do Parlamento devem ser ocupadas por cristãos, e a outra metade por muçulmanos. Além disso, o presidente do país deve ser cristão, enquanto o primeiro-ministro deve ser sunita e o líder do Parlamento, xiita.

Até os últimos episódios de violência, os protestos eram majoritariamente pacíficos e desafiavam a lógica sectária que rege a política libanesa.

“As mobilizações dos últimos dias mostraram o início da emergência de uma nova aliança de classe entre os subempregados, desempregados, trabalhadores e classes médias contra as oligarquias dominantes. Isto é uma ruptura”, escreveu Rima Majed, professora da Universidade Americana de Beirute, para o site Open Democracy.

3. Aliado do Irã, Hizbullah teme ser o próximo alvo da ira popular

A milícia xiita Hizbullah, apontada como um dos grupos responsáveis pelos últimos ataques contra os manifestantes, teme ser o próximo alvo da ira popular. O grupo vê nos planos de reformar o sistema político do país uma ameaça à sua posição de poder; o líder do Hizbullah, Hasan Nasrallah, acusa os manifestantes de atenderem a interesses externos.

Fundado em 1985, em meio à guerra civil, o Hizbullah é uma das principais forças políticas do Líbano e conta com um poderoso braço armado, que opera com independência em relação ao Exército.

Além disso, o Hizbullah é financiado pelo Irã. O regime iraniano vem enfrentando uma onda de protestos em seu próprio país há duas semanas a repressão das forças de segurança já deixou mais de 143 mortos.

“O Hizbullah é visto cada vez mais como parte dos obstáculos para a mudança no Líbano … Para os xiitas libaneses que participam dos protestos, foi um choque por que o Hizbullah fica de guarda para um statu quo que é extremamente corrupto e está levando o país em direção à crise econômica e financeira?”, disse Mohanad Hage Ali, diretor do centro de estudos Carnegie Middle East Center, à revista Foreign Policy.

 

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Fraude? Golpe? Entenda o que está acontecendo na Bolívia https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/11/fraude-golpe-entenda-o-que-esta-acontecendo-na-bolivia/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/11/11/fraude-golpe-entenda-o-que-esta-acontecendo-na-bolivia/#respond Mon, 11 Nov 2019 12:11:25 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/evo-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3457 A Bolívia amanhece nesta segunda-feira (11) um país diferente do que foi nos últimos anos. Na véspera, o presidente Evo Morales anunciou sua renúncia, dizendo ser vítima de um golpe de Estado, e foi acompanhado pelos demais nomes na linha sucessória.

A queda de Morales ocorre em meio a confrontos violentos nas ruas do país, desencadeados por denúncias de fraude nas eleições presidenciais de 20 de outubro. Ninguém sabe ao certo o que acontecerá em seguida.

No poder desde 2006, Morales foi o primeiro presidente indígena do país e um dos expoentes da esquerda na América Latina. Ele é aclamado por ter promovido a redução dos níveis de pobreza, mas nos últimos anos passou a ser criticado por deturpar regras constitucionais para se manter no cargo.

Entenda o que está acontecendo na Bolívia:

1. Denúncias de fraude eleitoral geraram convulsão nas ruas

A crise em curso na Bolívia começou com as eleições presidenciais de 20 de outubro. Após idas e vindas na apuração, Morales foi declarado vencedor no primeiro turno, mas o líder opositor Carlos Mesa não reconheceu o resultado.

A candidatura do líder socialista já era alvo de controvérsia, pois ele fez vista grossa às regras constitucionais e ao resultado de um plebiscito realizado em 2016 que negavam ao presidente o direito de concorrer ao cargo indefinidamente.

O impasse nas urnas gerou protestos de simpatizantes e detratores de Morales. Em meio à violência generalizada, houve saques a estabelecimentos comerciais e ataques às residências de figuras ligadas ao governo –ao menos três pessoas morreram e 300 ficaram feridas.

Na semana passada, integrantes das forças de segurança passaram a recusar as ordens de reprimir as manifestações. Para resolver a crise, Morales convidou observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos) a realizar uma auditoria eleitoral.

2. Morales renunciou após pressão da OEA e das Forças Armadas

A crise na Bolívia atingiu seu  ápice no domingo (10). Durante a manhã, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, declarou ter encontrado indícios de fraude no pleito de outubro. Pouco depois, Morales anunciou a convocação de novas eleições.

Mas a tensão só aumentou ao longo do dia. O chefe das Forças Armadas, Williams Kaliman, fez um pronunciamento à tarde recomendando que Morales renunciasse ao cargo para apaziguar o país.

Cada vez mais isolado, o presidente voou para Cochabamba, seu reduto eleitoral, e anunciou sua renúncia dizendo ser vítima de “um golpe cívico, político, policial”. Ele foi seguido por seu vice-presidente e pelos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, os próximos nomes na linha sucessória.

A renúncia foi festejada por opositores nas ruas das principais cidades do país; em La Paz, Mesa declarou o “fim da tirania” e pediu a realização de novas eleições. À noite, a polícia prendeu membros do Tribunal Supremo Eleitoral.

3. Vácuo de poder sugere que crise está longe de terminar

Já fora do poder, Morales disse que a sua casa havia sido vandalizada. Ele também afirmou ser alvo de uma ordem de prisão, mas os militares desmentiram a informação. Autoridades do México ofereceram asilo ao ex-presidente e anunciaram que 20 ministros e deputados já estão refugiados na embaixada mexicana em La Paz.

Para complicar ainda mais a situação, a renúncia de Morales precisa ser aprovada pela Assembleia Legislativa, onde ele conta com maioria. Como todos na linha sucessória também renunciaram, não está claro o que acontecerá em seguida.

Em meio ao vácuo de poder, a opositora Jeanine Áñez, que ocupa a segunda vice-presidência do Senado, disse estar preparada para “assumir formalmente a responsabilidade segundo a ordem sucessória” e prometeu organizar novas eleições.

No fim das contas, o impasse deixa mais perguntas do que respostas. Quem ocupará a Presidência? Haverá novas eleições? Se for o caso, Morales poderá concorrer? Que papel cumprirão as Forças Armadas na transição? O fato de estas perguntas não poderem ser respondidas agora é mau sinal para a democracia na Bolívia.

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América do Sul vive outubro caótico; relembre as crises em curso na região https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/29/america-do-sul-vive-outubro-caotico-relembre-as-crises-em-curso-na-regiao/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/29/america-do-sul-vive-outubro-caotico-relembre-as-crises-em-curso-na-regiao/#respond Tue, 29 Oct 2019 15:17:09 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/chile-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3435 Outubro de 2019 deverá ficar marcado como um dos meses mais turbulentos da história recente da América do Sul.

Ao longo do último mês, crises pipocaram em diferentes cantos do subcontinente, chacoalhando as peças do tabuleiro regional e reacendendo temores sobre o estado de saúde da democracia em alguns países sul-americanos.

O ritmo acelerado das transformações em curso na região torna mais difícil acompanhar o noticiário e pode gerar confusão. Tendo isso em vista, o blog Mundialíssimo preparou um resumo dos últimos acontecimentos na vizinhança.

Relembre as principais crises do mês de outubro na América do Sul:

1. Revoltas populares encurralaram os governos do Equador e do Chile

No dia 3 de outubro, uma onda de protestos eclodiu no Equador após o governo extinguir subsídios sobre combustíveis, atendendo a exigências de ajuste fiscal em troca de empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional). Assim como em outros momentos de turbulência, foram os grupos indígenas que ocuparam a linha de frente das mobilizações.

Em meio aos enfrentamentos entre manifestantes e policiais, o presidente Lenín Moreno decretou um estado de emergência e transferiu a capital do país de Quito para Guayaquil. Mas os manifestantes não cederam, e Moreno se viu forçado a suspender a retirada dos subsídios no dia 14.

Enquanto a crise arrefecia no Equador, estudantes chilenos passaram protestar contra o aumento da tarifa do transporte público. Após algumas estações de metrô serem depredadas, o presidente Sebastián Piñera decretou um estado de emergência e impôs um toque de recolher em partes do país no dia 19. A violência nas ruas deixou ao menos 20 mortos.

A reação desproporcional do governo colocou lenha na fogueira da revolta popular: na última sexta-feira (25), mais de 1 milhão de pessoas tomaram as ruas da capital, Santiago, no maior protesto desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet (1973- 1990). Acuado, Piñera suspendeu as medidas de exceção e a anunciou um plano de reformas para combater a desigualdade econômica.

2. Líderes de Peru e Bolívia esgarçaram os limites da ordem constitucional

O Congresso do Peru amanheceu fechado em 1º de outubro, um dia depois de o presidente Martín Vizcarra acionar um dispositivo constitucional que permite a suspensão do poder Legislativo. A medida foi uma resposta aos esforços da oposição fujimorista, que tentava emplacar juízes alinhados a seu projeto político no Tribunal Constitucional do país.

O Congresso não reconheceu a legitimidade da decisão de Vizcarra e votou por seu afastamento; em meio ao impasse institucional, o país chegou a ter dois presidentes em exercício por algumas horas. Enfim, Vizcarra conseguiu se manter no poder, e agora o país se prepara para novas eleições legislativas a serem realizadas em janeiro.

Na Bolívia, o presidente Evo Morales conquistou a reeleição para um quarto mandato consecutivo no pleito do dia 20. Após idas e vindas na apuração dos votos, o Tribunal Supremo Eleitoral do país declarou Morales vencedor já no primeiro turno, mas o candidato opositor Carlos Mesa enxergou partidarismo na decisão dos magistrados e não reconheceu o resultado. Houve protestos em diferentes cidades, e ao menos 30 pessoas ficaram feridas.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) e a ONU (Organização das Nações Unidas) recomendaram a realização de um segundo turno, e o governo convidou observadores internacionais a realizarem uma auditoria eleitoral. Antes mesmo do impasse, a candidatura de Morales já era alvo de controvérsia, pois ele fez vista grossa às regras constitucionais e ao resultado de um plebiscito realizado em 2016 que negavam ao presidente o direito de concorrer ao cargo indefinidamente.

3. Esquerda deu sinais de vida em eleições na Argentina e na Colômbia

O peronismo se prepara para voltar ao poder na Argentina após a vitória da chapa composta por Alberto Fernández e pela ex-presidente Cristina Kirchner nas eleições de domingo (27). Eles derrotaram o presidente Mauricio Macri no primeiro turno, impulsionados pelo descontentamento da população com o aumento dos níveis de inflação e de pobreza. Após trocarem ofensas durante a campanha, Fernández e Macri foram cordiais ao iniciar a transição do governo; a posse está marcada para 10 de dezembro.

A animosidade com o resultado veio do Brasil, após o presidente Jair Bolsonaro –que passou os últimos meses fazendo campanha aberta contra Fernández– declarar que não pretendia parabenizar o candidato vencedor. O desentendimento entre os líderes dos dois maiores países sul-americanos pode pôr em risco as parcerias comerciais do Mercosul.

Já na Colômbia, a ex-senadora Claudia López venceu a eleição para a prefeitura da capital, Bogotá, que também foi realizada no domingo. Ela será a primeira mulher e a primeira lésbica a ocupar o cargo, considerado o segundo principal do país, atrás apenas da Presidência. Além de López, candidaturas opositoras saíram vitoriosas nas disputas pelas prefeituras de Medellín e Cáli, respectivamente a segunda e a terceira maiores cidades do país.

Os resultados são amargos para o presidente Iván Duque e sua coalizão de centro-direita. As eleições locais foram marcadas por ameaças e ataques contra candidatos; ainda assim, o pleito foi considerado um dos mais pacíficos dos últimos tempos no país, que vive incertezas ao tentar colocar em prática o acordo de paz firmado em 2016 com as Farc (antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

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Caos na Síria e no Iraque aumenta risco de nova ofensiva do Estado Islâmico https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/09/caos-na-siria-e-no-iraque-aumenta-risco-de-nova-ofensiva-do-estado-islamico/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/09/caos-na-siria-e-no-iraque-aumenta-risco-de-nova-ofensiva-do-estado-islamico/#respond Wed, 09 Oct 2019 13:29:05 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/baghdadi-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3403 Engana-se quem pensava que o Estado Islâmico (EI) estava morto.

Após perder o controle sobre vastos territórios na Síria e no Iraque, o grupo vinha esperando a hora certa para iniciar uma contraofensiva. Novos desenvolvimentos na região nas últimas semanas sinalizam que esta hora pode estar chegando.

Na Síria, as tropas curdas que lideraram a batalha contra o EI foram abandonadas pelos Estados Unidos, e se preparam para uma invasão iminente da Turquia. Anunciada no domingo (6), a decisão do presidente Donald Trump representou um giro na estratégia antiterrorismo americana e lançou incertezas sobre o status de milhares de jihadistas presos na região.

Já no Iraque, uma série de protestos contra o premiê Adil Abdul-Mahdi vem testando os limites do frágil equilíbrio de forças que tem impedido o país de mergulhar em uma nova guerra civil –até a última segunda-feira (7), havia mais de cem manifestantes mortos e 6.000 feridos. É neste caldo de insatisfação popular que o EI costuma encontrar solo fértil.

Fundado em 1999, o EI alcançou seu auge entre 2014 e 2018, quando aproveitou o caos deixado pela guerra civil na Síria e pela retirada das tropas americanas no Iraque para proclamar um califado e inspirar atentados ao redor do mundo.

Foi assim que o EI se tornou a mais poderosa e temida organização terrorista que o mundo já viu, mas uma reação coordenada entre diversos países levou a facção a perder muito de seu poder e prestígio nos últimos anos.

“Existem oportunidades para o EI assentar suas raízes onde quer que a autoridade governamental seja fraca ou inexistente”, escreveu Patrick Cockburn, correspondente do jornal britânico The Independent no Iraque, em abril, poucas semanas após os combatentes do EI serem expulsos do vilarejo de Baghuz, seu último enclave na Síria.

Na ocasião, Cockburn alertou: “O EI foi eliminado enquanto entidade territorial, mas isso não significa que [a facção] perdeu as capacidades de orquestrar atividades de guerrilha e atentados terroristas”.

Também em abril, o líder do EI, Abu Bakr Al-Baghdadi, que muitos governos acreditavam estar morto, apareceu em um vídeo reafirmando sua autoridade sobre a facção e prometendo conduzir sua “jihad (guerra santa) até o fim dos tempos”.

De fato, enquanto resistia à ofensiva de seus inimigos, o EI deslocou muitos de seus combatentes e armamentos para células dormentes em regiões isoladas da Síria e do Iraque, preparando-se para uma nova insurgência.

Além disso, o EI segue contando com uma rede global de financiadores, formada por facções aliadas nas Filipinas, no Afeganistão e na Nigéria, entre outros países.

“A insurgência do EI deverá crescer porque as áreas que perdeu no Iraque e na Síria ainda não estão estáveis ou seguras”, diz um relatório do Institute for the Study of War publicado em julho.

O estudo alertava que o objetivo da facção era “alimentar a desconfiança da população em relação ao governo do Iraque”, e que uma eventual retirada americana da Síria “criaria ainda mais espaço para o ressurgimento do EI”.

Embora seja cedo demais para decretar a volta do EI, o caos na Síria e no Iraque produz as condições necessárias para o retorno do grupo. Baghdadi e seus seguidores não deixarão a oportunidade passar batida.

LEIA MAIS:

Veja a trajetória do Estado Islâmico.

Estado Islâmico volta a ganhar força no Iraque e na Síria.

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A ‘Nova Guerra Fria’ no Oriente Médio está prestes a esquentar? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/23/a-nova-guerra-fria-do-oriente-medio-esta-prestes-a-esquentar/#respond Mon, 23 Sep 2019 10:48:17 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/saudi-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3376 A “Nova Guerra Fria” no Oriente Médio está prestes a esquentar?

Para Gregory Gause, professor de relações internacionais na Universidade Texas A&M que cunhou o termo para descrever a rivalidade entre a Arábia Saudita e o Irã, as duas potências regionais não têm dado sinais de que buscarão uma confrontação militar direta.

Gause enxerga nas dinâmicas de poder que definem o Oriente Médico contemporâneo elementos do conflito geopolítico que dividiu a região, e o mundo, entre polos antagônicos na segunda metade do século 20.

Assim como Estados Unidos e União Soviética evitavam uma escalada militar que aniquilaria as duas partes, as autoridades de Riad e Teerã não buscam uma guerra direta: em vez disso, competem por hegemonia apoiando facções rivais em países mais fracos da região, como a Síria, o Líbano e o Iêmen.

O que poderia deflagrar um conflito de grande escala seria um ataque dos Estados Unidos contra o Irã, acrescenta o professor, para quem a política americana de “pressão máxima” contra o regime iraniano tem sido um “fracasso”.

“Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la”, diz Gause por e-mail ao blog Mundialíssimo.

Na conversa, o professor discute as consequências dos ataques de drones contra refinarias de petróleo em Abqaiq e Khuais, na Arábia Saudita, no último dia 14. A Arábia Saudita e os Estados Unidos acusam o Irã de ter orquestrado os ataques; o regime iraniano nega responsabilidade, e diz que eventuais retaliações em seu território conduziriam à “guerra total”.

Leia, abaixo, a entrevista:

Mundialíssimo – Os ataques na Arábia Saudita geraram temores de uma escalada regional contra o Irã. Quais são os riscos de que a “Nova Guerra Fria” do Oriente Médio poderá evoluir para um confronto direto entre a Arábia Saudita e o Irã?

Gregory Gause – Se confronto direto significar um conflito entre Forças Armadas, eu acredito que não. Os iranianos evitam este tipo de ataque direto, conforme indicam suas negativas reiteradas sobre o ataque em Abqaiq. O Exército saudita não tem obtido sucesso no Iêmen. Eu duvido que eles adotariam uma postura ofensiva contra o Irã.

O confronto militar direto mais provável seria entre os Estados Unidos e o Irã, mas eu acredito que a resposta americana se dará nos bastidores.

O governo Trump tem demonstrado apoio contínuo ao regime saudita. O que explica a relação especial entre Washington e Riad? Quais são os possíveis resultados da estratégia de “pressão máxima” da Casa Branca em relação ao Irã?

As relações próximas entre o governo Trump e o saudita não são uma novidade. A maioria dos presidentes americanos teve estas relações, mesmo com altos e baixos. Talvez não tenham sido tão descarados quanto Trump, mas seu estilo é diferente dos governos passados em todos os aspectos. A oposição do Congresso também não é algo novo, mas é mais intensa que no passado, em parte como resposta ao assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi.

A política de “pressão máxima” é o que levou ao ataque de Abqaiq. É realmente um fracasso, não levou ao colapso do regime nem à sua rendição na mesa de negociação. Mas o governo Trump não parece ter uma política alternativa em vista. Sua resposta ao ataque em Abqaiq foi ordenar ainda mais sanções, o que torna outro ataque do Irã mais provável.

A saída dos Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 levou o regime iraniano a recomeçar seu programa nuclear. O que a comunidade internacional pode fazer para impedir o Irã de obter armas nucleares? Há espaço para a diplomacia?

Eu acredito que há espaço para a diplomacia, mas o governo Trump precisará se movimentar para reiniciá-la. Havia sinais de que Trump estava aberto a conversar, mas o ataque em Abqaiq fez a iniciativa recuar, se é que era de fato uma possibilidade. Os iranianos demonstraram que negociarão sobre este assunto, mas terão cuidado, tendo em vista a saída americana do acordo nuclear em 2018.

O ataque em Abqaiq foi o ataque mais grave contra a infraestrutura petrolífera desde a Guerra do Golfo de 1990-91. O fato de que os preços não foram tão afetados se deu por causa do atual quadro de excesso de oferta. Mas se o Irã perceber que o ataque teve sucesso, poderá ser atraído a buscar ataques similares. Isso traria bastante instabilidade para o mercado de petróleo mundial e para a região do golfo Pérsico.

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Fuga de traficante do Comando Vermelho gera crise no Paraguai https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/13/fuga-de-traficante-do-comando-vermelho-gera-crise-no-paraguai/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/13/fuga-de-traficante-do-comando-vermelho-gera-crise-no-paraguai/#respond Fri, 13 Sep 2019 07:39:12 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/benitez-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3357 A fuga de um traficante de drogas ligado à facção brasileira Comando Vermelho na cidade de Assunção, capital do Paraguai, gerou o caos na política do país, revelando a vulnerabilidade da nação vizinha à crise na segurança pública no Brasil.

Na tarde de quarta-feira (11), um grupo de homens armados vestidos com uniformes falsos da polícia paraguaia abriu fogo contra um comboio em que estava o traficante Jorge Teófilo Samudio, conhecido como “Samura”, que conseguiu fugir de carro com o bando.

A operação ocorreu na avenida Costanera Norte, enquanto Samura era transferido de uma audiência no tribunal, cancelada de última hora, de volta para a prisão. O ataque, que durou menos de três minutos, deixou um policial morto e três pessoas feridas, informou o jornal ABC Color.

Samura, 47, é cidadão paraguaio, e foi preso em outubro de 2018 próximo à fronteira com o Mato Grosso do Sul. Ele vinha sendo procurado há pelo menos cinco anos –estima-se que contrabandeava até US$ 20 milhões (R$ 81 milhões) em drogas para o Brasil a cada mês.

O incidente levou à renúncia do ministro da Justiça, Julio Javier Ríos, e a uma troca no comando da polícia. O presidente Mario Abdo Benítez afirmou que pretende emendar a Constituição para autorizar o emprego das Forças Armadas no combate ao crime organizado.

“Não podermos esperar mais, temos uma capacidade ociosa e temos que utilizá-la para fortalecer nossa política de segurança”, declarou Benítez na quinta-feira (12).

O anúncio de Benítez foi alvo de críticas de grupos de defesa de direitos humanos, que temem o retorno das violações praticadas pelas Forças Armadas durante a ditadura de Alfredo Stroessner, encerrada em 1989.

Vidal Acevedo, da ONG Serviço para a Paz e Justiça, declarou ao jornal britânico The Guardian que o uso das Forças Armadas no combate a grupos guerrilheiros no Paraguai produziu “violações de direitos humanos em larga escala”, e que a militarização no combate ao crime organizado em outros países latino-americanos, como México e Brasil, havia gerado “ainda mais violência”.

DEPENDÊNCIA PARAGUAIA

Os eventos desta semana revelam a dependência do Paraguai em relação ao Brasil, e sua vulnerabilidade a eventos ocorridos do lado de cá da fronteira.

O país vizinho, origem de grande parte da maconha e de outros produtos contrabandeados para cidades brasileiras, tem sofrido com disputas entre facções brasileiras, como o Comando Vermelho e o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Além disso, no mês passado, o presidente Benítez quase sofreu impeachment após a revelação de um acordo que favoreceria o Brasil na contratação de energia da usina hidrelétrica de Itaipu, que é administrada em conjunto pelos dois países. O acordo acabou cancelado, e Benítez conseguiu se manter no poder.

Com 6,8 milhões de habitantes, o Paraguai é um dos países mais pobres da América do Sul, e tem no Brasil seu maior parceiro comercial.

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Ao abandonar conversas com Taleban, Trump prolonga guerra no Afeganistão https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/10/ao-abandonar-conversas-com-taleban-trump-prolonga-guerra-no-afeganistao/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/10/ao-abandonar-conversas-com-taleban-trump-prolonga-guerra-no-afeganistao/#respond Tue, 10 Sep 2019 11:56:26 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/cabul-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3351 O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (9) que as conversas de paz que seu governo vinha mantendo com os militantes islamitas do Taleban estão “mortas”. A decisão de abandonar as negociações deve prolongar ainda mais o envolvimento americano na guerra no Afeganistão, que já se arrasta por quase 18 anos.

O anúncio de Trump causou surpresa. Membros de sua administração vinham sugerindo estar perto de alcançar um acordo definitivo e planejavam receber integrantes do Taleban para conversas nos Estados Unidos, mas o encontro foi cancelado no fim de semana após o grupo admitir ser responsável por um ataque que matou 12 pessoas no Afeganistão, incluindo um soldado americano.

“Eles pensavam que precisavam matar gente para se colocar em uma posição de negociação um pouco melhor”, disse Trump, acrescentando que o atentado foi um “grande erro”. Já o Taleban afirmou, por meio de um porta-voz, que os Estados Unidos seriam quem “mais perderia” ao se retirar da mesa de negociação.

Em janeiro, o governo Trump iniciou uma série de rodadas de negociação com representantes do Taleban em Doha, capital do Qatar. As conversas visavam à retirada dos 14 mil soldados americanos que seguem operando no Afeganistão, a fim de encerrar a guerra mais longeva em que os Estados Unidos já se envolveram.

A guerra no Afeganistão deixou quase 150 mil mortos, incluindo 38 mil civis afegãos e 2.400 militares americanos, de acordo com um levantamento do Watson Institute for International and Public Affairs da Universidade Brown.

Iniciada na esteira dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a invasão americana do Afeganistão buscava pôr fim ao regime fundamentalista do Taleban, que vinha dando cobertura a Osama bin Laden e sua rede terrorista Al Qaeda.

As tropas dos Estados Unidos conseguiram expulsar rapidamente o Taleban da capital, Cabul. Mas, uma vez fora do poder, o grupo passou a operar uma insurgência prolongada contra as forças de segurança nos rincões do Afeganistão e no vizinho Paquistão, dando dor de cabeça para sucessivos líderes da maior potência militar do planeta.

FRACASSOS NO AFEGANISTÃO

O presidente George W. Bush, que iniciou a guerra no Afeganistão, encerrou seu mandato em 2009 sem conseguir extinguir o Taleban. Já Barack Obama, que havia sido eleito com a promessa de encerrar as guerras iniciadas por seu antecessor, também fracassou na tarefa e viu o Taleban expandir sua influência em meio à retirada gradual de tropas americanas do país asiático.

Por sua vez, Donald Trump dizia na campanha presidencial de 2016 que a guerra no Afeganistão era um desperdício de dinheiro, mas o fracasso das conversas de paz com o Taleban indica que o conflito deverá prosseguir nos próximos anos. E, mesmo que os Estados Unidos consigam terminar seu envolvimento militar no Afeganistão, nada garante que a população do país finalmente veja o fim de décadas de violência.

“Enquanto os Estados Unidos buscam finalizar um acordo com o Taleban, o país deve se reconciliar com duas verdades contraditórias: uma é que os Estados Unidos erraram gravemente ao pensar que poderiam derrotar uma insurgência no Afeganistão …, e a outra é que o acordo negociado agora pode aumentar em vez de reduzir a violência”, escreveu Laurel Miller, analista do think tank International Crisis Group, em artigo na revista Foreign Policy.

“Entre estas duas verdades há um espaço estreito em que o governo americano pode ao mesmo tempo encerrar sua guerra mais duradoura e evitar uma guerra civil intensificada na sequência. Se o acordo esperado conseguirá atingir estes objetivos dependerá dos detalhes.”

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Entenda, na medida do possível, o que está acontecendo com o brexit https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/04/entenda-na-medida-do-possivel-o-que-esta-acontecendo-com-o-brexit/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/04/entenda-na-medida-do-possivel-o-que-esta-acontecendo-com-o-brexit/#respond Wed, 04 Sep 2019 11:06:04 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/brexit-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3342 Uma votação no Parlamento britânico na noite de terça-feira (3) complicou a possibilidade de o primeiro-ministro Boris Johnson conduzir um divórcio litigioso entre o Reino Unido e a União Europeia em 31 de outubro. A sessão na Câmara dos Comuns, descrita por alguns dos presentes como “decisiva” e “histórica”, gerou ainda mais incerteza sobre os rumos do brexit.

Os parlamentares decidiram, por 328 votos a 301, retirar do premiê o controle sobre a pauta da Casa legislativa. Agora, a oposição corre contra o tempo para aprovar um projeto de lei que tenta adiar a saída britânica até o ano que vem caso o governo fracasse em obter um novo acordo com as autoridades de Bruxelas antes que o prazo de negociações se esgote.

Aprovado por margem apertada em plebiscito em junho de 2016, o brexit mergulhou o Reino Unido –até então considerado uma das democracias mais estáveis do mundo– em crise política permanente. A poucas semanas da data planejada, ninguém sabe se, como e quando a saída do bloco regional irá ocorrer, e já se fala até em eleições antecipadas no curto espaço de tempo que resta para o país decidir o seu futuro.

Entenda, na medida do possível, o que está acontecendo no Reino Unido:

1. Aliança rebelde humilha premiê, apesar de ameaça de expulsão

Com os parlamentares britânicos de volta do recesso de verão, esta foi a primeira sessão da Câmara dos Comuns desde que Johnson assumiu o cargo de primeiro-ministro, em julho. E foi uma estreia traumática para o novo líder: ele viu 21 correligionários do Partido Conservador apoiarem a moção apresentada pela oposição trabalhista, desafiando as ameaças de expulsão da legenda.

A chamada “aliança rebelde” incluiu figurões da legenda, como Philip Hammond (ex-ministro da Economia) e Sir Nicholas Soames (neto do ex-chanceler Winston Churchill). O grupo reclama que Johnson não apresentou planos factíveis para evitar uma ruptura radical com a UE, que teria consequências desastrosas para a economia do país.

2. Parlamento tenta bloquear brexit sem acordo às vésperas de suspensão

O resultado da votação desta terça-feira dá aos adversários de Johnson uma margem estreita para influenciar os rumos do brexit –o Parlamento tem poucas sessões agendadas até que comece sua suspensão por cinco semanas. Anunciada na semana passada, a interrupção alongada dos trabalhos do Legislativo foi interpretada como uma estratégia do premiê para cercear a voz da oposição no período que antecede a saída do bloco regional.

Os parlamentares deverão votar já nesta quarta-feira (4) um projeto de lei que busca adiar o divórcio com a UE pelo menos até janeiro de 2020, caso o governo fracasse em obter um novo acordo durante uma cúpula com líderes europeus em 17 de outubro. Ainda que seja aprovado na Câmara dos Comuns, o projeto precisará tramitar na Câmara dos Lordes e ser assinado pela rainha Elizabeth 2ª para ter validade.

3. Johnson perde maioria na Câmara e propõe eleições adiantadas

A votação tumultuada desta terça-feira também viu o governo perder a estreita maioria que tinha na Câmara dos Comuns. Enquanto Johnson discursava, o parlamentar conservador Phillip Lee cruzou a sala e se juntou à fileira dos Liberais Democratas, partido centrista que integra a oposição –em sua carta de ruptura, Lee lamentou que seu antigo partido havia sido contaminado pela “doença do populismo”.

Assim, a coalizão de Johnson não tem mais os votos necessários para aprovar projetos no Parlamento. Após ser derrotado, o premiê declarou que iria propor a realização de eleições gerais para que o país decida quem deverá seguir conduzindo as negociações do brexit: ele ou o líder da oposição, Jeremy Corbyn. Especula-se que a votação possa ocorrer já em 15 de outubro, mas, para que um novo pleito seja convocado, pelo menos dois terços dos parlamentares precisam aprovar a dissolução da atual legislatura.

4. Fronteira entre as Irlandas está no centro do impasse

O principal impasse sobre os rumos do brexit envolve o futuro da fronteira que separa a Irlanda do Norte (que integra o Reino Unido) e a República da Irlanda (que seguirá sendo membro da UE). Um brexit litigioso levaria ao restabelecimento de controles alfandegários na região, ignorando a vontade dos habitantes dos dois lados da fronteira e contrariando o Acordo da Sexta-Feira Santa, de 1998, que pôs fim a três décadas de conflito sangrento entre nacionalistas irlandeses e unionistas na Irlanda do Norte.

Para evitar a imposição de uma “fronteira dura” na região, as autoridades de Bruxelas propõem que o Reino Unido siga sendo parte do sistema alfandegário da UE após o brexit até que novas regras de comércio sejam negociadas. Johnson se opõe a esta exigência, conhecida como “backstop”, dizendo que um divórcio litigioso é preferível à manutenção das atuais regras de comércio com o bloco regional. Até agora, porém, Johnson não apresentou alternativas factíveis para resolver o dilema, pondo em risco um dos pilares da paz na Irlanda do Norte.

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Israel e Hizbullah evitam nova guerra, ao menos por enquanto https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/israel-e-hizbullah-evitam-nova-guerra-ao-menos-por-enquanto/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/israel-e-hizbullah-evitam-nova-guerra-ao-menos-por-enquanto/#respond Mon, 02 Sep 2019 15:10:58 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/israel-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3336 O fim de semana foi de tensão na fronteira entre Israel e Líbano, com a troca de foguetes entre as Forças de Defesa Israelenses e a milícia xiita Hizbullah.

No domingo (1º), o Hizbullah disparou mísseis antitanque contra um veículo militar de Israel, que respondeu lançando dezenas de foguetes contra alvos da milícia no sul do Líbano. Embora não tenham deixado vítimas, as hostilidades causaram pânico dos dois lados da fronteira e geraram o temor de uma escalada militar no Oriente Médio.

O episódio de violência ocorreu uma semana depois de dois drones israeleneses caírem sobre o centro de mídia do Hizbullah na capital libanesa, Beirute, de acordo com as autoridades do país árabe. O presidente Michel Aoun classificou o incidente de “declaração de guerra”, e o líder do Hizbullah, Hassan Nasrallah, disse que Israel “pagaria o preço” pela agressão.

Já o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, declarou estar “preparado para qualquer cenário”, e afirmou que o Exército “decidirá como agir em seguida dependendo de como as coisas se desenrolarem”.

O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) advertiu que as hostilidades “podem levar a um novo conflito” e pediu que as partes envolvidas tenham “calma”. Escaramuças entre os militares israelenses e os combatentes do Hizbullah são comuns, mas os eventos recentes representam a escalada mais grave dos últimos anos.

A fronteira, que é separada por uma zona tampão administrada pela ONU, amanheceu mais silenciosa nesta segunda-feira (2), afastando as perspectivas de uma nova guerra –ao menos por enquanto.

A última vez em que os dois lados se enfrentaram para valer foi entre julho e agosto de 2006, após o Hizbullah sequestrar dois soldados do país vizinho. Na ocasião, Israel invadiu o sul do Líbano, enquanto o Hizbullah disparou mísseis através da fronteira. O conflito terminou após 34 dias com quase 1.200 mortos do lado libanês e mais de 160 mortos em Israel.

Fundado em 1985, em meio à guerra civil no Líbano, o Hizbullah diz atuar em nome dos seguidores do ramo xiita do islã, que formam um dos diversos grupos religiosos país. A sociedade libanesa também é formada por muçulmanos sunitas, cristãos maronitas e drusos, bem como numerosas minorias de refugiados palestinos, sírios e armênios.

O Hizbullah, de orientação islamita, é uma das principais forças políticas no Líbano –seu nome significa “Partido de Deus”. Seu braço armado é independente do Exército libanês e forma um dos grupos armados mais poderosos da região.

Responsável por diversos atentados ao redor do mundo entre as décadas de 1980 e 1990, o Hizbullah é considerado um grupo terrorista por Israel (seu inimigo declarado) e pelos Estados Unidos. O Brasil, que possui uma expressiva comunidade libanesa, não o classifica como tal, mas o governo de Jair Bolsonaro anunciou recentemente que pretende seguir o tratamento dispensado à milícia por seus aliados em Jerusalém e Washington.

A QUESTÃO IRANIANA

Os recentes confrontos entre o Hizbullah e o Exército israelense se inserem em um contexto de crescente rivalidade no Oriente Médio entre o regime iraniano e os países aliados do Ocidente, especialmente Israel e Arábia Saudita.

O Hizbullah é financiado e treinado pelo Irã. Nos últimos anos, a milícia libanesa participou da guerra civil na vizinha Síria ao lado de forças iranianas para ajudar o regime de Bashar al-Assad a derrotar grupos armados da oposição. Assim, o Hizbullah adquiriu novos equipamentos e experiência de batalha.

Israel vê no retorno dos combatentes do Hizbullah ao Líbano e na presença redobrada de agentes iranianos na Síria uma ameaça existencial. Tendo isso em vista, o governo Netanyahu tem agido para deter a expansão da influência militar iraniana na região.

No ano passado, o premiê israelense ajudou a convencer o presidente Donald Trump a retirar os Estados Unidos do acordo nuclear iraniano firmado em 2015, resultando em rigorosas sanções econômicas contra o país persa. Ademais, Israel tem atacado alvos ligados ao regime de Teerã na Síria e no Iraque, além dos bombardeios contra o Hizbullah no Líbano.

Por outro lado, a estratégia israelense de enfrentamento com o Hizbullah também encontra explicações no campo doméstico. Netanyahu parece apostar em um acirramento da disputa com seus inimigos externos para colher dividendos eleitorais no pleito de 17 de setembro. O primeiro-ministro israelense saiu vitorioso das eleições parlamentares de abril, mas seu fracasso em formar uma coalizão o forçou a convocar os eleitores novamente às urnas.

“Se houver algum tipo de reação maior por parte dos iranianos, eu entendo por que Netanyahu veria como isso seria benéfico para ele”, disse Trita Parsi, do think tank americano Quincy Institute for Responsible Statetcraft, à emissora catariana Al Jazeera. “O público israelense provavelmente se mobilizaria em torno da bandeira e seria difícil trocar a liderança no processo … Pode ser exatamente isso o que Netanyahu está buscando”.

As nuvens de guerra parecem ter se dissipado após a mais recente troca de foguetes, mas as raízes políticas da instabilidade na região se mantêm. Episódios como o deste final de semana revelam os limites do frágil equilíbrio de forças que tem protegido o Oriente Médio de uma conflagração de grande escala.

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Disputas entre monarquias do Golfo agravam violência no Iêmen https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/29/disputas-entre-monarquias-do-golfo-agravam-violencia-no-iemen/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/29/disputas-entre-monarquias-do-golfo-agravam-violencia-no-iemen/#respond Thu, 29 Aug 2019 17:07:12 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/iemen-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3332 Novas disputas de poder entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, até então aliados estratégicos no Oriente Médio, arriscam abrir novas frentes de batalha na guerra civil no Iêmen, país que vive uma das piores crises humanitárias da atualidade.

As duas monarquias do Golfo Pérsico vinham atuando em conjunto na intervenção militar no Iêmen desde março de 2015. Nas últimas semanas, porém, forças iemenitas apoiadas por Riad e Abu Dabhi passaram a lutar pelo controle da cidade de Áden, deixando dezenas de mortos e feridos.

Os confrontos em Áden opõem as tropas do presidente Abdo Rabbo Mansur Hadi, apoiado pela Arábia Saudita, e as forças Conselho Transitório do Sul (CTS), grupo separatista financiado pelos Emirados Árabes.

As facções vinham lutando lado a lado contra os rebeldes xiitas huthis, que controlam porções do norte do país, mas passaram a guerrear entre si após a morte de Munir “Abu al-Yamama” al-Yafei, comandante do CTS, em um bombardeio em 1º de agosto.

Após semanas de violência, as forças de Hadi anunciaram ter assumido o controle de Áden na quarta-feira (28). O CTS prometeu “vingança” e, nesta quinta (29), um ataque aéreo atribuído aos Emirados Árabes matou pelo menos 30 soldados do regime iemenita, de acordo com as forças de Hadi; as autoridades de Abu Dhabi não se pronunciaram sobre o incidente.

“Nós consideramos os Emirados Árabes inteiramente responsáveis por estes assassinatos extrajudiciais explícitos”, disse em uma rede social o vice-chanceler do governo de Hadi, Mohammad al-Hadrami.

Áden é uma importante cidade portuária no sul do Iêmen, que se tornou capital provisória após o presidente Hadi ser expulso da capital, Sanaa, em meio a uma ofensiva militar dos rebeldes huthis em setembro de 2014.

O avanço dos huthis levou a Arábia Saudita a iniciar uma intervenção militar no Iêmen em março de 2016 junto a outros países da região, inclusive os Emirados Árabes. A Arábia Saudita acusa os huthis de representar os interesses do Irã, seu arqui-inimigo na disputa por hegemonia no Oriente Médio.

SEPARATISMO

Áden é um bastião do movimento separatista encabeçado pelo CTS. A cidade era capital do Iêmen do Sul, país independente governado por um regime socialista que deixou de existir após a reunificação com o Iêmen do Norte em 1990.

As tensões separatistas não foram resolvidas com a reunificação, mas vinham sido abafadas em meio à guerra civil. A escalada da violência em Áden mostra que o problema segue latente, arriscando criar “uma guerra civil dentro da guerra civil no Iêmen”, nas palavras do think-thank americano International Crisis Group.

Ao apoiar forças separatistas no sul do Iêmen, os Emirados Árabes demonstram buscar uma política externa com um maior grau de independência em relação à Arábia Saudita. A escalada dos enfrentamentos em Áden deu origem a especulações sobre uma eventual expulsão dos Emirados Árabes da coalizão internacional que atua no Iêmen.

Enquanto as potências da região se engalfinham pelo controle do Iêmen, a população segue sofrendo. Dezenas de milhares de pessoas morreram desde o início da guerra civil e, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 24 milhões de pessoas –cerca de 80% da população do Iêmen– dependem de ajuda humanitária para sobreviver; dentre estas, quase 10 milhões estão à beira da fome.

“À comunidade humanitária internacional: é hora de fazer mais e dizer mais”, disse em nota a ONG Médicos Sem Fronteiras, que oferece atendimento humanitário no Iêmen. “A história vai julgar todos nós, e os iemenitas já o estão fazendo”.

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