Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Por que Vladimir Putin deu uma bola para Donald Trump? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/por-que-vladimir-putin-deu-uma-bola-para-donald-trump/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/07/17/por-que-vladimir-putin-deu-uma-bola-para-donald-trump/#respond Tue, 17 Jul 2018 13:16:10 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/07/Bola-e1531833035731-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2414 A entrevista coletiva de Donald Trump e Vladimir Putin na segunda-feira (16), em Helsinque, foi bastante incomum. O presidente americano, por exemplo, negou que o russo tenha interferido em sua eleição em 2016 — ignorando as investigações levadas a cabo em seu país, que apontam justamente o contrário. Ambos deram sinais, ademais, de uma cordialidade incomum entre os líderes das duas nações que disputam a hegemonia global há décadas. Putin chegou a falar no fim da Guerra Fria. Mas um dos momentos mais interessantes do encontro foi a decisão de Putin de presentear Trump com uma bola de futebol, dias depois de encerrar a Copa do Mundo da Rússia.

– Senhor presidente, eu vou lhe dar esta bola – disse Putin, entregando o objeto esférico a Trump – e agora a bola está na sua quadra.
– Isso vai para o meu filho, Barron – respondeu o americano, e depois lançou o presente à mulher – Na verdade, Melania, aqui está.

A própria Casa Branca publicou a cena em sua conta oficial no Twitter:

Não teria sido tão estranho caso o contexto fosse outro, segundo um texto do jornal americano New York Times, em que a repórter Katie Rogers esmiúça o significado do presente. “Em qualquer outra situação diplomática, poderia ter sido engraçado, mesmo insignificante. Mas, nesse caso, de acordo com analistas e legisladores que assistiram à entrevista coletiva, a bola foi uma metáfora para o quanto Putin conseguiu marcar pontos contra o americano nesse exercício diplomático”, escreve Rogers. Um dos entrevistados dela, Brian Taylor, diz que Trump marcou diversos gols contra durante o encontro com o russo — saiu enfraquecido e foi criticado mesmo por seus aliados.

A frase de Putin de que “a bola está na sua quadra” foi provavelmente um revide pelo que o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, havia dito horas antes do encontro em uma mensagem publicada em uma rede social (“a bola está na quadra dos russos”). O embaixador americano na Rússia, Jon Huntsman Jr., havia dito o mesmo recentemente. A expressão funciona melhor em inglês, em que se diz “the ball is in your court” para sugerir que agora cabe ao outro agir.

Mais tarde, em uma entrevista à rede Fox News, Trump disse que “a bola era muito legal, era realmente muito legal”. Em paralelo, analistas nas redes sociais sugeriam que o objeto pudesse estar grampeado e, portanto, não deveria voar aos EUA — ou ao menos precisaria ser estudado antes. Foi o que disse, aliás, o senador republicano Lindsey Graham. Criticando Trump por não ter sido mais duro com Putin, ele comentou sobre o presente: “Se fosse eu, vasculharia a bola em busca de grampos e nunca permitiria que fosse à Casa Branca”.

A ideia não é tão estapafúrdia. Nas últimas semanas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a União Soviética presenteou o embaixador americano Averell Harriman com um selo de madeira como um gesto de amizade. O artefato foi entregue por jovens soviéticos e passou sete anos no escritório da residência do diplomata até ser descoberto em 1952 — era um grampo e monitorava as conversas. Esse selo é conhecido até hoje, no jargão da espionagem americana, como A Coisa.

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Quem venceu a subversiva Copa dos países inexistentes? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/11/quem-venceu-a-subversiva-copa-dos-paises-inexistentes/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/06/11/quem-venceu-a-subversiva-copa-dos-paises-inexistentes/#respond Mon, 11 Jun 2018 12:47:06 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Conifa1-e1528719016414-320x213.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2292 A Copa já terminou.

Não a da Rússia, que começa nesta quinta-feira (14) com a partida entre os anfitriões e a Arábia Saudita. A Copa que se encerrou foi a dos países inexistentes, aqueles que ainda não são reconhecidos pelo restante da comunidade internacional. Após dez dias de campeonato em Londres, a subversiva taça foi entregue no sábado à Carpatália.

Territórios separatistas e minorias étnicas disputam desde 2014 a sua própria Copa para atrair atenção às causas que defendem. Esperam que o restante do globo finalmente lhes inclua no mapa-múndi.

A organização é feita pela Conifa, a Confederação de Associações de Futebol Independente — “uma alternativa à norma geopolítica”, segundo a descrição da rede árabe Al Jazeera. “Nós queremos mostrar que a identidade das pessoas é importante”, Paul Watson, chefe do comitê organizador, disse ao canal. “Nossa visão flexível de identidade é mais adequada ao mundo moderno do que aquela existente.”

A Conifa foi fundada em 2013 e conta hoje com 47 membros, apesar de por enquanto nenhum deles representar a região da América do Sul.

O goleiro Béla Fejér, herói da seleção da Carpatália. Crédito Divulgação

A Carpatália, que venceu o campeonato nos pênaltis, é um território de minoria húngara no oeste da Ucrânia. O Chipre do Norte, que perdeu na final, é a porção turca do Chipre. Também jogou bola a Abcásia, território no leste do mar Negro, — eles venceram ali em 2016 e decretaram um feriado nacional para celebrar. Segundo a Sky Sports, 2.500 entusiasmados espectadores assistiram à final neste ano.

Outras seleções, no entanto, penaram para chegar até ali. A Al Jazeera relata, por exemplo, que o time da Matabelelândia, um território localizado no oeste do Zimbábue, não conseguiu arrecadar o orçamento de R$ 100 mil para viajar ao Reino Unido. Seis jogadores da Cabília, berberes do norte da África, não puderam receber o visto.

As disputas geopolíticas, que devem rondar toda a Copa da Rússia a partir de quinta-feira, estiveram presentes também na Olimpíada de 2016. A medalha de judô para Kosovo, por exemplo, serviu para lançar luz em suas reivindicações nacionais. O país, que foi ao Rio como uma seleção oficial, ainda não é reconhecido nem mesmo pelo Brasil.

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5 partidas de geopolítica nos Jogos Olímpicos de Inverno da Coreia https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/02/12/5-partidas-de-geopolitica-nos-jogos-olimpicos-de-inverno-na-coreia/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2018/02/12/5-partidas-de-geopolitica-nos-jogos-olimpicos-de-inverno-na-coreia/#respond Mon, 12 Feb 2018 11:49:54 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2018/02/Coreia1-e1518436120752-150x150.jpeg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1879 Você pode não dar muita importância a esportes como curling, combinado nórdico e skeleton, disputados de 9 a 25 de fevereiro na Coreia do Sul. Mas estes Jogos Olímpicos de Inverno ganharam uma importância excepcional com as partidas de geopolítica encenadas em paralelo, marcando uma reaproximação talvez histórica entre as duas Coreias — países que estão tecnicamente em guerra desde 1950.

O evento, ainda em sua primeira semana, já contou com uma inédita visita do clã Kim ao sul da fronteira, e também já desagradou aos Estados Unidos de Donald Trump, que preferiam lidar com o conflito exercendo ainda mais pressão econômica e reiterando suas ameaças.

Estes jogos vão encerrar o confronto e finalmente reaproximar os vizinhos? Não. Mas isso não quer dizer que os passos dados nestes dias são irrelevantes. O jornal espanhol “El País”, em um editorial, já se antecipou e deu a medalha simbólica às Coreias, lembrando que:

Se os jogos olímpicos foram estabelecidos na Antiguidade como um período de trégua, se pode afirmar que estes Jogos Olímpicos de Inverno cumpriram com sua função. Os gestos e o diálogo aberto ao nível máximo em apenas algumas horas entre representantes da ditadura do norte e a democracia do sul eram impensáveis poucas semanas atrás.

Recapitulando cinco dos tais gestos da geopolítica de inverno, aos mundialíssimos leitores que não acompanharam estes episódios:

DESFILE
Como relatado pela Folhaas duas coreias desfilaram juntas sob uma bandeira unificada durante a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno. O público aplaudiu de pé. Foi a quarta vez desde o fim da guerra de 1950 em que os países marcharam juntos nesse evento — com ainda mais relevância, pois os jogos são disputados em solo sul-coreano. A Coreia do Norte boicotou os Jogos de Verão de 1988 nesse país. Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, dedicou grande parte de seu discurso para elogiar a atitude das duas Coreias: “Vocês mandaram uma poderosa mensagem de paz para o mundo”.

CONVITE
Esta edição dos jogos também entusiasmou por contar com a presença de Kim Yo-jong, irmã do ditador norte-coreano Kim Jong-un. É a primeira vez em que um membro imediato da família governante norte-coreana pisa na Coreia do Sul.  Kim Yo-jong entregou uma carta ao presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, para que participe de uma reunião de cúpula em Pyongyang, a capital ao norte. Caso o encontro ocorra, será o terceiro do tipo, após as reuniões entre Kim Jong-il –pai do atual ditador– teve com presidentes sul-coreanos em 2000 e 2007.

Kim Yo Jong (esq.) entrega carta do irmão, o ditador norte-coreano, ao presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em Seul – Yonhap/AFP

DIPLOMACIA
Esses gestos olímpicos são resultado de meses de discreta diplomacia conduzida nos bastidores, como informa o jornal americano “New York Times”. Boa parte do trabalho coincidiu com os testes de mísseis balísticos intercontinentais na Coreia do Norte e com a detonação de seu artefato nuclear mais potente até agora. Enquanto os EUA ameaçavam a Coreia do Norte, os organizadores do evento e o governo sul-coreano viram nos Jogos Olímpicos de Inverno uma oportunidade para reativar as conversas entre os países e solucionar a crise nuclear.

ESTADOS UNIDOS
Segundo o jornal britânico “Guardian”, a aproximação entre as duas Coreias durante os Jogos Olímpicos de Inverno desagrada os EUA, que preferiam intensificar a pressão à ditadura de Kim Jong-un. As diferentes abordagens em relação à crise nuclear têm afastado EUA e Coreia do Sul, e Donald Trump já manifestou publicamente seu desdém pelo presidente sul-coreano. Na quinta-feira (8), o vice-presidente americano, Mike Pence, prometeu que os EUA vão em breve “revelar a rodada mais dura e agressiva de sanções econômicas contra o norte”.

REALISMO
Mas, com todos esses gestos nos Jogos Olímpicos de Inverno, as duas Coreias vão poder resolver as décadas de conflito? É pouco provável, segundo uma análise publicada pelo jornal americano “Washington Post”. A Coreia do Norte não deve abrir mão de seu arsenal nuclear, e os Estados Unidos não devem remover suas sanções. Ademais, a reaproximação entre as duas Coreias não é exatamente popular em nenhum dos dois lados de península. Houve protestos na Coreia do Sul, por exemplo, queimando bandeiras do vizinho do norte.

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O que há na Olimpíada além dos pescoços cheios de medalhas? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/08/23/o-que-ha-na-olimpiada-alem-dos-pescocos-cheios-de-medalhas/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/08/23/o-que-ha-na-olimpiada-alem-dos-pescocos-cheios-de-medalhas/#respond Tue, 23 Aug 2016 07:34:37 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/medalha-180x128.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1242 Encerrou-se no domingo (21) o trabalho de escavação ao qual atletas de todo o mundo estavam empenhados, cavoucando em busca de ouro, prata e bronze. Os Estados Unidos, com ou sem escândalo na natação, venceram a competição – 46 medalhas douradas, em um total de 121. O Brasil, em 13º lugar, teve sete ouros entre as 19 insígnias.

Apesar do tal espírito esportivo, a Olimpíada premia os vencedores, e é preciso olhar lá embaixo na lista para ver que dez países empataram com apenas uma medalha de bronze cada um. E vejam só, um bronze ainda é um ótimo resultado, já que 72 dos 206 comitês olímpicos que participam dos jogos nunca ganharam nadica de nada. Países como Bolívia, Mônaco e Nepal seguem sonhando subir ao pódio.

Mas, como esta coluna tentou ressaltar nas últimas semanas, a Olimpíada é mais do que os pescoços pesados de tantas condecorações dependuradas. É uma reunião dos representantes de países que por vezes se detestam, e cenário para constrangimentos diplomáticos como o judoca egípcio que não quis cumprimentar seu rival israelense.

É também um palco para a disputa de crises territoriais, como a que envolve Armênia, Turquia e Azerbaijão em torno de Nagorno-Karabakh. Na rádio pública da Armênia, o contexto da cobertura de seus atletas de luta greco-romana era claro, ao noticiar a vitória de armênios em cima de seus competidores turcos e azeris.

Países participam da Olimpíada também como maneira de criar uma imagem de suas nações, em meio a seus esforços pelo reconhecimento internacional. É o caso de Kosovo, cuja judoca Majlinda Kelmendi venceu o ouro e trouxe de volta ao debate a crise em torno desse território, disputado com a Sérvia (o Brasil não reconhece a independência de Kosovo, por exemplo).

É o caso também do Sudão do Sul, recém-independente, e da Palestina, há décadas em disputa com Israel pelo controle da faixa de Gaza e da Cisjordânia. Ir aos jogos olímpicos é, afinal, uma maneira de fazer parte da máquina do mundo enquanto o reconhecimento pleno pelas Nações Unidas tardar – não chegará a Kosovo, com o veto russo, nem à Palestina, com o veto americano.

A propósito, não por coincidência quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU com poder de veto estão no topo do pódio da Olimpíada: EUA, Reino Unido, China e Rússia. Ficou faltando a França, que chegou em 7º lugar. Mas sobraram evidências do quanto há em comum entre as partidas jogadas no mapa-múndi e aquelas disputadas no Rio.

De vermelho, o atleta armênio Migran Arutyunyan. Crédito Reuters
De vermelho, o atleta armênio Migran Arutyunyan. Crédito Reuters
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Um time de estrangeiros pode representar o Qatar na Olimpíada? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/08/16/um-time-sem-cidadaos-como-o-do-qatar-pode-representar-um-pais-na-olimpiada/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/08/16/um-time-sem-cidadaos-como-o-do-qatar-pode-representar-um-pais-na-olimpiada/#respond Tue, 16 Aug 2016 07:07:28 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/qatar-180x130.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1234 O desempenho do Qatar no handebol masculino chateia muita gente, em sua busca por uma vaga nas quartas de final desta semana. Para além de boladas e gols, que não são a quadra desta coluna, o time árabe tem incomodado pela ideia de que seus atletas não representam de fato a nação. O técnico é espanhol e 70% dos jogadores são naturalizados, incluindo o cubano Rafael Capote e Zarko Markovic, de Montenegro. Se não nasceram no Qatar, estranha a espectadores que carreguem a bandeira do país.

O Qatar, localizado no golfo Árabe, não está driblando as regras. A federação do handebol estipula que um jogador naturalizado que não tenha disputado por outro país nos últimos três anos pode representar outra nação. O Qatar tem 2,2 milhões de habitantes, mas apenas cerca de 12% deles são cidadãos, e o restante, estrangeiros.

Mas a noção é talvez modernosa demais a um evento esportivo nascido no final do século 20, em um contexto de nacionalismos rompantes. Há também desagrado em torno da ideia de que o Qatar tenha “comprado” o time para projetar-se no exterior. Quando a França jogou contra o Qatar, durante a semana passada, um de seus atletas disse que há um prazer especial em derrotar aquela seleção na Olimpíada, evento “em que você vem para representar seu país”. “Nós jogamos por amor ao jogo, eles jogam por dinheiro”, afirmou. No mesmo espírito, comemorou-se a vitória da judoca Majlinda Kelmendi, de Kosovo, com algum orgulho por sua anterior recusa em representar outros países. “Neguei tantas ofertas, tantos milhões”, disse a atleta.

qatar2

Outro caso incômodo à ideia de nação é o do hipista Christian Zimmermann, que disputou na categoria adestramento representando a Palestina. Zimmermann nasceu, cresceu e treinou na Alemanha e, segundo o jornal israelense “Haaretz”, buscou a dupla nacionalidade para competir. Com algum azedume, esse diário disse que o atleta é “bastante não palestino” e tem “aparência de europeu” (o que quer que isso signifique em Israel).

Zimmermann justificou sua participação em nome do território árabe como uma maneira de fazer com que os espectadores reflitam sobre a perspectiva palestina do conflito no Oriente Médio. Por ser alemão, diz, ele tem uma responsabilidade especial em relação à região –o regime nazista matou milhões de judeus durante o Holocausto. Mas Ricki Rothschild Bachar, da Federação Equestre Israelense, escreveu sobre Zimmermann com algum ceticismo, mais uma vez segundo o “Haaretz”: “Você acha que ele sabe onde fica a Palestina? Eu não creio”.

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Existe espírito esportivo, ou a Olimpíada é um arroubo nacionalista? https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/08/09/existe-espirito-esportivo-ou-a-olimpiada-e-um-arroubo-nacionalista/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2016/08/09/existe-espirito-esportivo-ou-a-olimpiada-e-um-arroubo-nacionalista/#respond Tue, 09 Aug 2016 07:09:36 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2016/08/selfie-180x116.jpg http://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=1219 Atletas desfilaram na sexta-feira (5), durante a abertura da Olimpíada do Rio, representando 206 países. A disputa, que segue pelas próximas semanas, é esportiva. Mas, para além da festança, o evento é também espaço de arroubos de nacionalismos e cenário para disputas geopolíticas.

Alguns times mal esperaram o início dos jogos. No dia da inauguração, a delegação libanesa impediu que atletas israelenses entrassem no ônibus com eles, e seu líder foi repreendido pelo COI no domingo (7). Israel e Líbano dividem, além de uma fronteira, um passado marcado por confrontos que não somem diante do tal “espírito esportivo”.

Nas semanas que antecederam o evento, o mundo acompanhou também a polêmica em torno do doping de atletas russos e sua possível eliminação. Foi decidido na quinta (4) que parte da delegação estava livre para competir. Na Rússia, os debates foram entendidos como sintoma da má vontade internacional, em um momento em que o país mantém posturas impopulares –incluindo apoiar o ditador sírio Bashar al-Assad e anexar a região ucraniana da Crimeia. O presidente Vladimir Putin disse que as acusações são parte de uma “política anti-Rússia” do Ocidente.

Tubo de sangue em um laboratório anti-doping em Moscou. Crédito Reuters
Tubo de sangue em um laboratório anti-doping em Moscou. Crédito Reuters

O escritor britânico George Orwell publicou em 1945 um texto tão interessante sobre a política desse evento que minha vontade é reproduzi-lo na íntegra e desistir da minha coluna. Por não ser possível, cito o autor: disputas como a Olimpíada surgem “do lunático hábito moderno de identificar-se com grandes unidades de poder e enxergar tudo em termos de prestígio competitivo”. As competições esportivas internacionais seriam sintomas do nacionalismo. “Imitação de guerra”, em que espectadores creem que “correr, pular e chutar uma bola são testes da virtude nacional”.

E, ao redor do mundo, espectadores vão celebrar neste mês as vitórias dos atletas de seus países, como se tivessem qualquer relação com a performance esportiva de pessoas com quem nunca cruzaram na vida.

Orwell escreveu seu texto nos anos 1940, durante os quais a Alemanha nazista perseguia e matava judeus motivada pela ideia de raça. Mas o nacionalismo não ficou para trás na corrida com obstáculos do tempo. Também hoje os nacionalismos saltam com vara na Europa e nos EUA, nos discursos de figuras como Marine Le Pen e Donald Trump.

Há, é claro, casos como o das atletas das Coreias do Sul e do Norte que fizeram um “selfie” juntas nesta Olimpíada –o que tampouco vai resolver o conflito entre os países, para além das manchetes de jornal.


Este texto foi originalmente publicado como uma coluna em 9 de agosto no caderno especial Rio 2016

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