Mundialíssimo https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br Notícias internacionais explicadas tintim por tintim Fri, 24 Jan 2020 11:05:46 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Operação turca na Síria é limpeza étnica, diz porta-voz de partido pró-curdos https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/16/operacao-turca-na-siria-e-limpeza-etnica-diz-porta-voz-de-partido-pro-curdos/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/10/16/operacao-turca-na-siria-e-limpeza-etnica-diz-porta-voz-de-partido-pro-curdos/#respond Wed, 16 Oct 2019 16:03:19 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/curdos-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3417 A operação militar deflagrada pelo Exército da Turquia no norte da Síria há uma semana gera o risco de limpeza étnica. A avaliação é de Eyüp Doru, representante na Europa da legenda pró-curdos HDP (Partido Democrático dos Povos), terceira maior força política da Turquia.

“Entendemos que a Turquia tem ambições expansionistas … Seu objetivo é tomar as zonas controladas pelos curdos na Síria e reassentar ali milhões de árabes que vivem como refugiados na Turquia. Isso é limpeza étnica”, disse Doru por telefone ao blog Mundialíssimo.

Na quarta-feira passada (9), o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, deu início à Operação Paz da Primavera em territórios controlados pela minoria étnica curda no norte da Síria.

A justificativa da Turquia é combater o grupo armado YPG (Unidades de Defesa Popular), que vê como uma extensão de organizações separatistas curdas em seu próprio território, como o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). O YPG e o PKK são considerados organizações terroristas pelo governo turco.

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), a operação já forçou mais de 160 mil civis a deixar suas casas. Também surgiram relatos de massacres contra civis perpetrados por milícias apoiadas pela Turquia.

A iniciativa foi repudiada por governos estrangeiros, inclusive alguns parceiros na Otan (aliança militar ocidental), que passaram a exigir a suspensão da venda de armas à Turquia. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que inicialmente havia dado aval à ofensiva turca ao ordenar a retirada de tropas americanas da região, passou a defender a aplicação de sanções contra o governo de Erdogan.

Em entrevista publicada pela Folha nesta quarta-feira (16), o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, disse que a operação possibilitará um “retorno em massa” de até 2 milhões de refugiados sírios.

A Turquia abriga atualmente 3,5 milhões de pessoas que fugiram da guerra civil na Síria. Muitos desses refugiados vêm de áreas predominantemente árabes da Síria, e os territórios para onde deverão ser enviados têm maioria curda.

“Esta guerra, feita sob o pretexto de ajudar os refugiados, acaba produzindo ainda mais refugiados”, afirmou Doru. Seu partido HDP também é acusado de colaborar com o PKK, e vários de seus líderes foram presos na Turquia nos últimos anos.

Os curdos são uma minoria étnica com mais de 30 milhões de integrantes, e que vive há séculos no Oriente Médio. Sem um Estado próprio, eles habitam uma partes dos territórios de Irã, Iraque, Síria, Armênia e Turquia, onde têm sido historicamente marginalizados.

Qual é a posição do HDP sobre a operação turca no norte da Síria?

O HDP condena esta operação nos mais fortes termos. Pensamos que se trata de uma guerra contra os curdos. Entendemos que a Turquia tem ambições expansionistas, otomanas.

Não se trata de uma luta contra o terrorismo, mas um esforço para conquistar novos territórios. Seu objetivo é tomar estas zonas controladas pelos curdos na Síria e reassentar ali milhões de árabes que vivem como refugiados na Turquia. Isso é limpeza étnica.

Consideramos que os bombardeios turcos no Curdistão sírio são a crimes contra a humanidade, pois atingem áreas ocupadas por civis e danificam a infraestrutura da região. Assim, a operação ameaça deixar milhões de pessoas sem acesso à eletricidade e à água, além de forçar milhares de pessoas a fugirem de suas casas.

Esta guerra, feita sob o pretexto de ajudar os refugiados, acaba produzindo ainda mais refugiados.

Assim que as forças americanas deixaram o norte da Síria, os curdos firmaram um acordo com o regime de Bashar al-Assad e a Rússia, e as forças pró-regime já estão avançando sobre as áreas curdas. Você acredita que este é o fim da autonomia curda na Síria?

O acordo feito com o Exército sírio é exclusivamente militar, permitindo que o regime se instale dentro das fronteiras reconhecidas internacionalmente. O acordo não significa que o regime sírio vai ocupar a estrutura de governo autônomo da região, isso não faz parte do acordo.

Os curdos deram suas vidas, milhares de combatentes das YPG morreram na luta contra o Daesh [acrônimo em árabe que denomina a facção terrorista Estado Islâmico]. Agora os EUA deixam os curdos sem proteção.

A Turquia está massacrando o povo curdo e as outras minorias étnicas da região. Ali há curdos, árabes, assírios, armênios, que convivem pacificamente. A verdade é que os Estados da região querem eliminar qualquer tipo de convivência democrática na região.

Qual deve ser a atitude da comunidade internacional à Turquia?

Em primeiro lugar, a comunidade internacional deve impedir as vendas de armas a este regime genocida, e o Conselho de Segurança da ONU deve exigir que a Turquia se retire das zonas ocupadas por civis.

Não estamos pedindo apoio para lutar contra a ocupação, só pedimos que a população civil seja protegida. Pedimos que a comunidade internacional declare uma zona de exclusão aérea no norte da Síria para impedir novos bombardeios da Turquia, feitos com aviões fornecidos pela Otan.

Acima de tudo, acreditamos que Erdogan deveria ser julgado por crimes contra a humanidade.

LEIA MAIS

Zona de segurança levará a retorno em massa de refugiados sírios, diz chanceler turco.

Entenda quem são os curdos, povo no centro da disputa entre Turquia e EUA.

Caos na Síria e no Iraque aumenta risco de nova ofensiva do Estado Islâmico.

]]>
0
Dois anos após genocídio, refugiados rohingyas temem retorno a Mianmar https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/dois-anos-apos-genocidio-refugiados-rohingyas-temem-retorno-a-mianmar/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/26/dois-anos-apos-genocidio-refugiados-rohingyas-temem-retorno-a-mianmar/#respond Mon, 26 Aug 2019 12:10:20 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/rohingya-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3325 Os refugiados da minoria étnica rohingya que vivem em Bangladesh têm resistido aos esforços do governo do país para que retornem a Mianmar, temendo a continuidade da violência das Forças Armadas que os levou a fugir de suas casas dois anos atrás.

Em agosto de 2017, militares birmaneses iniciaram uma campanha de ataques aos rohingyas no Estado de Rakhine, no oeste do país. Em meio à onda de massacres e estupros, mais de 10 mil pessoas foram mortas e dezenas de vilarejos foram demolidos.

A violência, que foi classificada de genocídio pela ONU (Organização das Nações Unidas), forçou mais de 700 mil pessoas a fugir para Bangladesh.

Reclamando da superlotação de campos de refugiados improvisados, as autoridades de Bangladesh deram início na semana passada a um programa de repatriação voluntária de rohingyas. O governo de Mianmar havia aceitado receber de volta mais de 3.000 pessoas.

Até agora, porém, nenhum dos refugiados aceitou voltar para seu país de origem, de acordo com a agência de refugiados da ONU. Uma primeira tentativa de repatriação, em novembro, também havia fracassado.

“Me perguntaram se eu queria voltar para Mianmar, mas eu disse que não”, afirmou o refugiado Noor Hossain à emissora catariana Al Jazeera.

“Me perguntaram o porquê, e eu lhes contei que casas foram queimadas, nossos familiares foram estuprados e mortos. É por isso que nós sofríamos tanto e viemos para cá. Como podemos voltar sem saber se estaremos seguros?”

DISCRIMINAÇÃO ROTINEIRA

Muçulmanos em um país de maioria budista, os rohingyas sofrem discriminação rotineira em Mianmar. Integrantes da minoria étnica sofriam com a violência das Forças Armadas, conhecidas como Tatmadaw, muito antes da ofensiva iniciada em 2017.

A lei de cidadania do país reconhece 135 etnias, mas exclui os rohingyas, embora vivam no Sudeste Asiático há gerações. Tratados como imigrantes clandestinos de origem bengali, eles não têm acesso a saúde, educação, mobilidade e outros direitos básicos.

As autoridades de Mianmar rejeitam as acusações de violação dos direitos humanos, e dizem que as ações do Exército se limitam ao combate a grupos armados insurgentes em Rakhine e outras partes do país.

O drama dos rohingyas fez crescer a pressão internacional contra a líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi. Ela, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1991 por sua luta por democracia no país, tem sido criticada por estimular o nacionalismo budista enquanto se cala diante da violência do Exército contra a população.

“Quando é que os governos estrangeiros, que dizem se importar com os direitos humanos, … irão tomar ações contra os perpetradores de um genocídio dos dias modernos em Mianmar?”, escreveu Mehdi Hassan, colunista do site The Intercept, em texto intitulado “Chegou a hora de indiciar Aung San Suu Kyi por genocídio contra os rohingyas em Mianmar”.

“A recusa em impor sanções contra Suu Kyi … não é só um insulto contra os milhares de refugiados rohingyas, em Bangladesh e outros lugares, que esperam algum tipo de responsabilização. Isso põe em perigo as outras minorias de Mianmar, como os cristãos kachin no norte, que também têm sido alvo da violência e do terror da Tatmadaw nos últimos anos.”

]]>
0
Confuso sobre a situação na Caxemira? Entenda o que aconteceu nesta semana https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/09/confuso-sobre-a-situacao-na-caxemira-entenda-o-que-aconteceu-nesta-semana/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/08/09/confuso-sobre-a-situacao-na-caxemira-entenda-o-que-aconteceu-nesta-semana/#respond Fri, 09 Aug 2019 14:32:54 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/kashmir-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3299 A Caxemira vive momentos de tensão desde que o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, revogou a autonomia da região na segunda-feira (5).

Logo antes do anúncio, as forças de segurança indianas impuseram um toque de recolher e prenderam líderes políticos locais. Além disso, houve um bloqueio das telecomunicações, alimentando a desinformação sobre o que acontece na região.

A medida gerou temores de perseguição contra a população muçulmana da Caxemira e provocou o agravamento das relações com o vizinho Paquistão, que disputa partes do território com a Índia. Protestos foram convocados para esta sexta-feira (9).

Confuso sobre a situação na Caxemira? Entenda o que aconteceu nesta semana:

1. Premiê Modi revogou autonomia da Caxemira

Na segunda-feira, Modi anunciou a revogação do artigo 370 da Constituição indiana, que garantia aos residentes de Jammu e Caxemira (nome oficial da porção indiana da Caxemira) um certo grau de autonomia sobre os afazeres da região –exceto nas áreas de defesa, política externa e finanças.

O dispositivo era uma exigência dos líderes da Caxemira para se juntar à Índia em 1947, durante a separação da antiga colônia britânica entre a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de população muçulmana. A Caxemira tem maioria muçulmana, mas os marajás hindus que governavam o local declararam lealdade à Índia durante a partilha –a ONU recomendou que a população decidisse o futuro da região em um plebiscito, mas as autoridades da Índia e do Paquistão jamais permitiram que a consulta ocorresse.

Em pronunciamento transmitido pela TV na quinta-feira (8), Modi justificou sua decisão dizendo que o artigo 370 dificultava o combate ao terrorismo na Caxemira, e que sua revogação daria início a uma “nova era” de prosperidade na região. Grupos de oposição afirmam que a medida é inconstitucional e prometem questioná-la na Suprema Corte.

2. Em resposta, Paquistão cortou laços com a Índia

A decisão do governo Modi gerou uma reação imediata do Paquistão, que se apresenta como defensor da população muçulmana na porção indiana da Caxemira. A região já foi palco de duas guerras entre os países, além de incontáveis escaramuças –a mais recente conflagração ocorreu em fevereiro, após um atentado de grupos separatistas contra forças indianas.

Nos últimos dias, o governo do Paquistão expulsou o embaixador indiano e suspendeu o comércio bilateral com o vizinho, incluindo um boicote a filmes produzidos na Índia. A tensão gera temores de uma escalada militar entre os dois países, embora uma nova guerra seja improvável –tanto o Paquistão quanto a Índia têm armas nucleares.

O primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, afirmou na terça-feira (6) que a revogação da autonomia da Caxemira pode incentivar novos atentados. Khan também prometeu acionar as instituições internacionais: “Levaremos o caso da Caxemira à ONU e notificaremos a comunidade internacional sobre o tratamento dispensado às minorias na Índia.”

3. Residentes temem hinduização do território

Os residentes muçulmanos da Caxemira temem que a revogação da autonomia dê lugar a políticas de controle populacional: além de aumentar o poder do governo de Nova Délhi sobre o território, a decisão de Modi abre espaço para que pessoas de fora da Caxemira adquiram terras ali.

O recrudescimento do controle sobre a Caxemira era uma bandeira dos nacionalistas hindus do BJP (sigla em hindi para Partido do Povo Indiano), agremiação do premiê Modi. O partido, que conquistou a maioria do Parlamento nas eleições gerais de maio, defende a reforma das instituições de poder da Índia conforme os preceitos do hinduísmo, em detrimento da laicidade e da pluralidade religiosa do país.

“Hoje é o dia mais sombrio para a democracia indiana”, disse em uma rede social na segunda-feira Mahbooba Mufti, ex-governadora de Jammu e Caxemira que havia sido colocada em prisão domiciliar na véspera. “A intenção do governo é clara e sinistra. Querem transformar a demografia do único Estado de maioria muçulmana na Índia, desapoderando os muçulmanos até que virem cidadãos de segunda classe em seu próprio Estado.”

]]>
0
Carnificina na Líbia reflete fracasso da política migratória da União Europeia https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/05/carnificina-na-libia-reflete-fracassos-da-politica-migratoria-europeia/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/07/05/carnificina-na-libia-reflete-fracassos-da-politica-migratoria-europeia/#respond Fri, 05 Jul 2019 13:04:18 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/libia-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3203 A última semana foi das mais sangrentas para os refugiados na Líbia, refletindo o fracasso da política de portas fechadas para imigrantes adotada nos últimos anos por países europeus.

Na quarta-feira (4), um navio com mais de 80 migrantes que havia partido do país norte-africano rumo à Europa naufragou próximo à costa da Tunísia, informou a Organização Internacional para Migração (OIM).

Poucas horas antes, na noite de terça-feira (3), um bombardeio havia atingido um campo de detenção de refugiados em Tajoura, na periferia da capital, Trípoli. O ataque deixou ao menos 53 mortos e dezenas de feridos, em uma ação que pode vir a ser julgada como crime de guerra, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

A Líbia vive em estado de guerra civil desde a deposição do ditador Muammar Gaddafi, em 2011, facilitada por uma intervenção desastrada da Otan (aliança militar ocidental) na esteira dos protestos da Primavera Árabe.

Em meio ao caos, o país passou a receber milhares de pessoas que fogem da pobreza, de conflitos armados e da ameaça de grupos terroristas em outros países do continente, como Chade, Sudão e Nigéria.

Muitos destes migrantes foram até a Líbia na esperança de seguir viagem por barco em busca de asilo na Europa. Mas o destino que lhes aguarda é, na maioria das vezes, tão trágico quanto os horrores de que enfrentavam em seus países de origem.

Quem fica na Líbia arrisca acabar em um dos terríveis campos de detenção, como o que foi bombardeado nesta semana em Tajoura. Os ataques ocorrem em meio a uma ofensiva das tropas do general insurgente Khalifa Haftar, iniciada em abril, sobre a capital, Trípoli.

“Este ataque pode claramente constituir um crime de guerra, pois matou de surpresa pessoas inocentes cuja situação precária as forçou a estar naquele abrigo”, disse em nota Ghassan Salamé, chefe da missão de suporte da ONU para a Líbia (UNSMIL, na sigla em inglês).

Ainda de acordo com a ONU, os sobreviventes do ataque em Tajoura foram alvejados por guardas enquanto tentavam fugir do local. O episódio levou as autoridades líbias a avaliar a possibilidade de fechar os campos de detenção, que atualmente concentram mais de 6.000 migrantes em todo o país. A situação destes locais é precária e, em alguns casos, há leilões de escravos à luz do dia.

TRAVESSIA PERIGOSA

Os migrantes que conseguem escapar da Líbia de barco estão sujeitos a abusos nas mãos de traficantes de pessoas, e arriscam morrer afogados em alto-mar. De acordo com a OIM, mais de 680 pessoas morreram ao tentar atravessar no Mediterrâneo desde o início do ano, incluindo as vítimas do naufrágio de quarta-feira.

“Mais pessoas morrem nas fronteiras da União Europeia do que em qualquer outra fronteira no mundo”, alertou Nick Megoran, professor de geografia política na Universidade de Newcastle, segundo coluna do correspondente Patrick Cockburn no jornal britânico The Independent.

Nos últimos anos, a União Europeia formulou acordos com autoridades da Líbia para conter a fluxo migratório, e suspendeu a maior parte de suas operações de resgate no Mediterrâneo.

Além disso, a Itália, principal ponto de chegada dos migrantes que partem da Líbia, fechou seus portos para estrangeiros e passou a perseguir ONGs que fazem missões de resgate em alto-mar –o governo italiano vinha há anos reclamando da indisposição dos demais países europeus em compartilhar o acolhimento de estrangeiros.

Estas medidas de restrição à imigração lograram reduzir o número de chegadas pelo mar, mas tornaram as travessias no Mediterrâneo ainda mais perigosas e sobrecarregaram os campos de detenção na Líbia.

Os poucos imigrantes e refugiados que chegam à Europa em segurança enfrentam meses, ou até mesmo anos de espera para regularizar sua situação, quando não são deportados de volta aos seus países de origem. E mesmo quem consegue ficar no continente sofre discriminação no dia a dia e tem dificuldades em arrumar trabalho, além de ser demonizado pelos líderes populistas em ascensão na região.

“Observamos um comportamento contraditório dos governos europeus e da União Europeia: enquanto as autoridades admitem que as pessoas não devem ser mandadas de volta para a Líbia, elas conspiram contra as operações de busca e resgate”, disse Joanne Liu, presidente da ONG Médicos Sem Fronteiras, em discurso durante a Conferência Global sobre Migração em Marraquexe, em dezembro.

“Independentemente do motivo que leva pessoas a deixar seus países de origem, elas precisam de proteção contra a violência e a exploração.”

]]>
0
Confuso sobre a crise na Venezuela? Entenda o que aconteceu nesta semana https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/confuso-sobre-a-crise-na-venezuela-entenda-o-que-aconteceu-nesta-semana/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/05/03/confuso-sobre-a-crise-na-venezuela-entenda-o-que-aconteceu-nesta-semana/#respond Fri, 03 May 2019 14:03:03 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/vene-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3115 A situação na Venezuela, que já era calamitosa, se agravou ainda mais nesta semana, ocupando boa parte do noticiário internacional.

Na madrugada de terça-feira (30), o líder opositor Juan Guaidó publicou um vídeo nas redes sociais convocando integrantes das Forças Armadas a derrubar o ditador Nicolás Maduro.

O que se seguiu ao chamado de Guaidó foram dois dias intensos de protestos e confrontos com as forças de segurança. No entanto, o regime chavista segue no poder.

Está confuso(a)? Entenda o que está acontecendo na Venezuela:

1. Guaidó aumentou a pressão sobre Maduro

As ações encabeçadas por Guaidó nesta semana aumentaram a pressão sobre o ditador Nicolás Maduro. Apesar da derrubada temporária das redes sociais no país, o chamado do líder opositor levou milhares de manifestantes às ruas na terça e na quarta, tanto em Caracas como outras cidades do país.

Onde houve enfrentamento, as forças de segurança usaram bombas de gás lacrimogêneo, jatos d’água e munição letal. Ao menos quatro pessoas morreram nos dois dias de protesto. Novos atos foram marcados para o sábado (4).

As manifestações representam uma nova investida contra o regime de Maduro. Antes disso, em março, Guaidó havia tentado levar ajuda humanitária pelas fronteiras com a Colômbia e o Brasil, sem sucesso.

Guaidó se proclamou presidente interino da Venezuela em janeiro, sob interpretação da Constituição de que Maduro não é um presidente legítimo porque houve fraude nas eleições de 2018.

“Sabemos que somos maioria e que só nos falta exercê-la, construir as capacidades necessárias para ir à transição”, disse Guaidó em entrevista a Sylvia Colombo, correspondente da Folha que acompanha a situação em Caracas.

2. O movimento fracassou em dividir as Forças Armadas

A pressão das ruas não foi suficiente para dividir o regime chavista. Para além de alguns soldados desertores que apareceram ao lado de Guaidó em Caracas, as Forças Armadas permanecem majoritariamente leais a Maduro.

Ainda assim, na terça-feira Guaidó conseguiu convencer alguns agentes do Sebin, a agência de inteligência venezuelana, a libertar o opositor Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar desde julho de 2017. López apareceu ao lado de Guaidó nas ruas de Caracas antes de se hospedar na embaixada da Espanha –ele, que ainda não possui asilo, enfrenta uma nova ordem de prisão.

Maduro qualificou as ações de Guaidó como uma tentativa fracassada de golpe de Estado. Apoiadores do regime também fizeram manifestações e, na quinta-feira (2), o líder chavista participou de uma marcha militar em Caracas para demonstrar que seu governo segue de pé.

“Precisamos avivar para o fogo sagrado dos valores dos militares venezuelanos para o combate que estamos dando contra o imperialismo, contra os traidores e golpistas”, afirmou Maduro na ocasião.

3. O Brasil exerce um papel importante na crise

O governo de Jair Bolsonaro é um dos principais aliados internacionais de Guaidó, ao lado da Colômbia e dos Estados Unidos. O líder opositor venezuelano também conta com o respaldo de dezenas de países da América Latina e da Europa.

Na terça, Bolsonaro concedeu asilo na embaixada brasileira em Caracas a 25 soldados venezuelanos de baixa patente. Os militares dissidentes ainda não se abrigaram em prédios do governo brasileiro, pois o processo depende de uma série de procedimentos.

O governo brasileiro não descarta o envio de tropas em uma eventual intervenção militar na Venezuela. Uma ação do tipo, ventilada pelo chanceler Ernesto Araújo, enfrenta a resistência da cúpula do Exército. Ademais, uma declaração de guerra precisaria ser aprovada pelo Congresso.

“Nós acreditamos no desgaste que o Guaidó pode impingir ao Maduro”, disse Bolsonaro à Folha na quinta. “Nós vamos até o limite do Itamaraty. Sem partir para as vias de fato, vamos fazer de tudo para reestabelecer a democracia na Venezuela”.

4. O risco de uma guerra civil nunca foi tão grande

O cenário na Venezuela é cada vez mais crítico, aumentando o risco de uma guerra civil. Embora esteja isolado, o regime chavista ainda tem o apoio da Rússia e da China. Até aqui, Maduro e Guaidó não deram sinais de que buscarão uma solução negociada.

Na terça-feira, vídeos nas redes sociais mostraram soldados desertores atirando contra as forças de Maduro em meio aos protestos em Caracas. Em outras imagens, militares apareceram prendendo outros agentes fardados. A escalada da violência entre agentes do Estado gera preocupação.

Mesmo que Guaidó fracasse em rachar as Forças Armadas, a oposição venezuelana pode optar por mobilizar civis armados, bem como mercenários e grupos paramilitares colombianos. Por outro lado, Maduro conta com milícias, conhecidas como “coletivos”, e poderia recorrer a combatentes da guerrilha colombiana ELN (Exército de Libertação Nacional).

A população da Venezuela sofre com a hiperinflação, o desabastecimento de produtos básicos e o colapso dos serviços públicos. De acordo com a Organização das Nações Unidas, mais de 3,4 milhões de venezuelanos fugiram do país nos últimos anos, volume equivalente a um décimo da população.

“A lição mais clara dos eventos de 30 de abril é a de que não pode haver uma solução em que o ‘vencedor leva tudo’ na Venezuela”, diz um relatório publicado na quarta-feira pelo International Crisis Group. “Os altos custos infligidos contra o povo venezuelano e o risco de uma escalada local, ou até mesmo internacional, significam que a estabilidade do país segue dependendo de uma saída negociada.”

]]>
0
Protestos na Nicarágua completam um ano enfrentando repressão de Ortega https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/17/protestos-na-nicaragua-completam-um-ano-enfrentando-repressao-de-ortega/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/17/protestos-na-nicaragua-completam-um-ano-enfrentando-repressao-de-ortega/#respond Wed, 17 Apr 2019 16:15:51 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/ortega-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3082 A onda de manifestações na Nicarágua contra o ditador Daniel Ortega completa um ano nesta quinta-feira (18) em meio à repressão crescente e a tentativas fracassadas de negociação.

A reação violenta das forças de segurança ao levante popular deixou pelo menos 325 mortos e levou milhares de pessoas a buscarem asilo em outros países, de acordo com organismos internacionais de direitos humanos.

Além disso, cerca de 600 manifestantes seguem encarcerados no país, sujeitos a maus tratos e torturas. Ortega também atacou a liberdade de imprensa, levando jornalistas dissidentes à prisão ou ao exílio.

O governo se comprometeu a libertar a maioria dos presos políticos ao longo dos próximos meses, mas a oposição reclama da lentidão do processo.

O levante teve início em 18 de abril de 2018 na cidade de León, e rapidamente se espalhou para a capital, Manágua, e outras cidades do país.

O estopim dos protestos foi uma proposta impopular de reforma da Previdência, mas logo os manifestantes passaram a pedir a renúncia de Ortega.

O ditador redobrou sua aposta na truculência para resolver a crise. Em julho, a Assembleia Nacional modificou a lei antiterrorismo do país para enquadrar manifestantes e, em setembro, o regime proibiu a realização de protestos.

Ainda assim, o levante sobrevive. De acordo com o jornal Confidencial, as forças da oposição encontraram formas criativas para protestar, seja bloqueando ruas sem aviso prévio ou convocando “buzinaços”.

“A polícia fica louca, porque não podem te prender com a desculpa que você está buzinando demais”, disse à publicação um manifestante identificado como Gabriel. “Estamos armando um caos responsável.”

ELEIÇÕES QUESTIONADAS

Ortega é uma das principais figuras políticas da Nicarágua desde a Revolução Sandinista, que pôs fim à ditadura de Anastasio Samoza em 1979. O líder esquerdista ocupou a Presidência entre 1985 e 1990, antes de voltar ao poder em 2007.

Desde então, Ortega recorreu a mudanças na Constituição e à perseguição contra políticos da oposição para se manter no poder. Em 2016, uma eleição questionada que lhe deu o terceiro mandato consecutivo. De acordo com as leis do país, a próxima votação deverá ocorrer em 2021.

]]>
0
Caos permanente na Líbia alerta para riscos de intervenção na Venezuela https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/09/caos-permanente-na-libia-alerta-para-riscos-de-intervencao-na-venezuela/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/04/09/caos-permanente-na-libia-alerta-para-riscos-de-intervencao-na-venezuela/#respond Tue, 09 Apr 2019 10:00:18 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/gaddafi-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3058 retomada da violência na Líbia ao longo da última semana reflete a situação caótica em que o país mergulhou após a deposição do ditador Muammar Gaddafi em 2011, facilitada por uma intervenção da Otan (aliança militar ocidental).

Na quinta-feira (4), o general rebelde Khalifa Haftar anunciou uma grande ofensiva sobre a capital, Trípoli, em um desafio ao governo liderado por Fayez al-Sarraj, que tem o respaldo da ONU (Organização das Nações Unidas).

Em um momento em que as potências mundiais voltam a debater a possibilidade de uma ação militar em outro país rico em petróleo, a Venezuela, a derrocada do país norte-africano traz uma lição importante: nenhuma crise humanitária é tão ruim que não possa piorar.

Ocorrida em meio aos tumultos da Primavera Árabe, a intervenção na Líbia visava a proteger a população civil de uma ofensiva das tropas de Gaddafi. A ação foi encabeçada pela França e contou com o aval do Conselho de Segurança da ONU.

O reforço das tropas da Otan contribuiu decisivamente para a derrubada do regime de Gaddafi. O ditador líbio, que chegou ao poder em 1969 prometendo libertar seu país das amarras do imperialismo, passou seus últimos dias foragido, até ser capturado e assassinado por insurgentes.

Os arquitetos da intervenção na Líbia –em particular o então presidente francês, Nicolas Sarkozy– diziam atender aos anseios legítimos da população por democracia. Mas o que sucedeu foi um estado permanente de guerra civil, com a presença de milícias tribais, grupos terroristas e redes de tráfico de pessoas.

Agora, o pretexto de derrotar um regime autoritário para socorrer uma população em apuros volta a ser apresentado como justificativa para uma intervenção na Venezuela. O presidente americano, Donald Trump, insiste que “todas as opções estão na mesa” para resolver a crise no país sul-americano.

Nesta segunda-feira (8), o vice-presidente Hamilton Mourão se reuniu com seu homólogo americano, Mike Pence, e descartou uma intervenção liderada pelos EUA na Venezuela. Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro havia dito que consultaria o Conselho de Segurança Nacional e o Congresso sobre a participação de tropas brasileiras em uma eventual invasão americana no país vizinho.

Assim como Gaddafi fazia na Líbia, o ditador Nicolás Maduro faz da truculência uma marca de seu governo. Desde que o líder chavista assumiu o poder, em 2013, o país viu a economia encolher e as liberdades democráticas serem pouco a pouco tolhidas.

Mas os riscos humanitários e militares de uma invasão na Venezuela são maiores do que havia na Líbia. O nosso vizinho tem população de 32 milhões, cinco vezes maior que a do país norte-africano. De acordo com a ONU, 3,4 milhões de venezuelanos já fugiram do país, número que deve crescer em caso de conflagração.

“Mesmo que uma intervenção militar começasse bem, as forças dos EUA provavelmente se veriam atoladas no trabalho complicado de manter a paz e reconstruir as instituições durante os próximos anos”, escreveu o analista Frank O. Mora em artigo de março na revista americana Foreign Affairs.

Mora estima que uma ofensiva terrestre necessitaria de pelo menos 150 mil soldados. Em contraste, o regime de Maduro conta com 160 mil militares, além de 100 mil membros de grupos paramilitares.

Para complicar a situação, o regime venezuelano tem apoio militar da Rússia. Uma intervenção poderia dar lugar a um conflito por procuração prolongado entre Washington e Moscou.

Na Líbia, o apoio de potências estrangeiras a lados opostos do conflito só faz prolongar o sofrimento da população. Na contramão dos esforços de pacificação da ONU, as forças rebeldes de Haftar receberam suporte da França, do Egito e dos Emirados Árabes Unidos, que viram na fragmentação da Líbia uma oportunidade para fazer avançar seus interesses políticos –além dos lucros provenientes de acordos para extração de petróleo.

Aqueles que defendem o uso da força na Venezuela fariam bem em olhar para o que sobrou da Líbia após a intervenção desastrada da Otan. Se o objetivo é proteger a população venezuelana e restaurar a democracia, uma invasão não parece ser a melhor saída.

]]>
0
Após protestos contra Israel, palestinos em Gaza se levantam contra o Hamas https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/19/apos-protestos-contra-israel-palestinos-em-gaza-se-levantam-contra-o-hamas/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/03/19/apos-protestos-contra-israel-palestinos-em-gaza-se-levantam-contra-o-hamas/#respond Tue, 19 Mar 2019 10:43:46 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/03/gaza-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=3005 Os moradores da faixa de Gaza voltam a protestar. Mas, desta vez, o alvo das manifestações é o Hamas, o grupo islamita que controla o enclave palestino desde 2006.

Na semana passada, centenas de pessoas protestaram –sob o mote “queremos viver”– contra o aumento do custo de vida no território, causado em parte por um aumento de impostos.

As forças de segurança do Hamas reprimiram o movimento, agredindo e prendendo dezenas de manifestantes. As cenas de violência circularam nas redes sociais.

O coordenador da ONU (Organização das Nações Unidas) para a paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, disse em comunicado que “o povo sofrido de Gaza” deve ter seu direito de protestar respeitado.

“Eu condeno fortemente a campanha de detenções e violência feita pelas forças de segurança do Hamas contra os manifestantes”, afirmou Mladenov, de acordo com a agência de notícias Reuters.

O Hamas acusa a facção rival Fatah, que governa partes da Cisjordânia, de provocar os protestos para causar instabilidade.

“Nós enfatizamos nosso apoio a manifestações pacíficas, mas não deixaremos que os protestos sejam explorados para provocar o caos”, declarou um porta-voz do Hamas, Iyad al-Buzom, à emissora catariana Al Jazeera.

PROTESTOS INÉDITOS

Protestos na faixa de Gaza são rotineiros, mas são raras as demonstrações de dissenso contra o Hamas. Há um ano, moradores da faixa de Gaza vêm organizando manifestações próximo à fronteira com Israel para exigir o direito de retornar a suas casas –mais de 70% dos habitantes do território são refugiados.

As forças de segurança de Israel têm respondido aos protestos com gás lacrimogêneo e munição letal, em ações que podem constituir crimes de guerra, de acordo com a ONU. Nos últimos meses, mais de 250 manifestantes foram mortos e 6.000 ficaram feridos.

Os protestos contra Israel foram cancelados na semana passada, em parte devido à onda de descontentamento com o Hamas. Mas havia também o temor de uma escalada da violência: na quinta-feira (14), Israel bombardeou alvos na faixa de Gaza após o disparo de dois foguetes em direção a Tel Aviv.

A faixa de Gaza vive uma crise econômica e humanitária aguda. De acordo com a ONU, cerca de 53% dos moradores do território vivem na miséria, e mais de 49% estão desempregados.

A situação resulta do bloqueio de fronteiras mantido desde 2007 por Israel e Egito. A faixa de Gaza, que tem cerca de um quarto da área da cidade de São Paulo, concentra 2 milhões de habitantes.

]]>
0
Nobel para bombeiros de Brumadinho? Saiba como funciona a indicação para o prêmio https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/06/nobel-para-bombeiros-de-brumadinho-saiba-como-funciona-a-indicacao-para-o-premio/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/02/06/nobel-para-bombeiros-de-brumadinho-saiba-como-funciona-a-indicacao-para-o-premio/#respond Wed, 06 Feb 2019 04:00:20 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/brumadinho-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2926 Diversos brasileiros tomaram as redes sociais nos últimos dias para sugerir que os bombeiros em Brumadinho (MG) recebam o Prêmio Nobel da Paz. Eles têm trabalhado no resgate dos corpos de centenas de pessoas soterradas por um mar de lama desde o rompimento, no dia 25, de uma barragem de resíduos industriais da Vale.

A ideia de premiar os bombeiros surgiu em coluna do jornalista Juan Arias, publicada no diário espanhol El País na segunda-feira (4). “Neste país em que a política quer transformar as mãos das pessoas em armas para matar, esses bombeiros fizeram de suas mãos, mergulhadas na lama mortal, um instrumento de paz e de esperança de poder encontrar vida”, escreveu o colunista.

Entenda o processo de nomeação e seleção do Prêmio Nobel da Paz:

1. Quem pode fazer nomeações?

De acordo com a Fundação Nobel, diversas pessoas podem enviar uma nomeação para o prêmio, incluindo os antigos vencedores do Nobel da Paz e os integrantes do comitê que organiza a premiação. Também estão habilitados os juízes da Corte Internacional de Justiça em Haia, membros de certas organizações internacionais e diretores de centros de pesquisa para a paz.

Autoridades de um país podem enviar indicações, desde que sejam chefes de Estado, titulares de algum ministério ou integrantes do Parlamento. Por fim, professores universitários das disciplinas de humanidade, além de diretores e reitores, podem fazer nomeações.

Uma pessoa não pode nomear a si mesma. Os nomes dos indicados para o Nobel permanecem sob sigilo dos organizadores da premiação por 50 anos.

2. Quem decide os vencedores?

O Nobel da Paz é concedido anualmente pelo Comitê Nobel da Noruega, formado por cinco pessoas. Os membros do comitê são escolhidos para um mandato de cinco anos pelo Parlamento do país escandinavo.

Os vencedores recebem o prêmio em cerimônia em Oslo, geralmente organizada no mês de dezembro –o prêmio inclui uma medalha dourada e o equivalente a R$ 3,6 milhões. Os vencedores do Nobel da Paz de 2018 são o médico congolês Denis Mukwege e a ativista iraquiana Nadia Murad por seu trabalho contra a violência sexual em conflitos armados.

3. Por que o prêmio existe?

O Nobel da Paz existe desde 1901, e foi criado conforme pedido expresso no testamento do cientista sueco Alfred Nobel (1833 – 1896). Inventor da dinamite, ele queria que parte de sua fortuna fosse usada para recompensar quem trabalhasse “pela fraternidade entre as nações, pela abolição e redução dos esforços de guerra e pela manutenção e promoção de tratados de paz”.

Além do prêmio pela paz, há Nobéis nas áreas de química, física, medicina e literatura –desde 1968, a Suécia premia trabalhos em economia e o título também é conhecido como Nobel. Jamais um brasileiro recebeu um Prêmio Nobel.

]]>
0
Veja 4 lições dos conflitos no Oriente Médio para a crise na Venezuela https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/veja-4-licoes-dos-conflitos-no-oriente-medio-para-a-crise-na-venezuela/ https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/2019/01/23/veja-4-licoes-dos-conflitos-no-oriente-medio-para-a-crise-na-venezuela/#respond Wed, 23 Jan 2019 12:42:23 +0000 https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/files/2019/01/vene-320x213.jpg https://mundialissimo.blogfolha.uol.com.br/?p=2888 Líderes opositores na Venezuela organizam nesta quarta-feira (23) uma manifestação em Caracas, na expectativa de aumentar a pressão contra o regime do ditador Nicolás Maduro.

Maduro tomou posse no início de janeiro para um segundo mandato presidencial. Países do chamado Grupo de Lima, que inclui o Brasil, não reconhecem a autoridade do líder chavista por considerarem que as eleições presidenciais de maio foram fraudadas.

A Venezuela enfrenta uma grave crise econômica e humanitária. Mais de 3 milhões de pessoas, cerca de 10% da população, fugiram do país nos últimos anos. Enquanto isso, Maduro intensifica a repressão contra dissidentes.

Resolver o impasse na Venezuela é um dos principais desafios da diplomacia na região. A análise de conflitos em outras partes do mundo pode ajudar formuladores de política externa a encontrar saídas para a crise.

Veja quatro lições dos conflitos no Oriente Médio para a crise na Venezuela:

1. Ondas de protestos têm efeitos imprevisíveis

Ainda não se sabe qual será o impacto das manifestações de rua convocadas pela oposição na Venezuela. Nos últimos anos, ondas de protestos violentos foram reprimidas pelas forças de segurança do regime Maduro e terminaram com dezenas de mortos, sem alcançar mudanças expressivas.

No Oriente Médio, as revoltas populares da Primavera Árabe, em 2011, tiveram desfechos diversos. Na Tunísia e no Marrocos, as manifestações levaram a reformas democratizantes, enquanto no Bahrein e, posteriormente, no Egito, houve o recrudescimento de regimes autoritários. Nos piores cenários, os protestos mergulharam a Líbia, a Síria e o Iêmen em guerras civis duradouras.

2. Reconhecer um governo paralelo pode ser uma cilada

A estratégia de alguns governos da América Latina para lidar com a crise na Venezuela passa por reconhecer um governo paralelo encabeçado por Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, controlada pela oposição. Na semana passada, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, recebeu uma delegação de líderes opositores do país vizinho e, nesta quarta, Araújo se referiu a Maduro como “ex-presidente” da Venezuela.

No princípio do conflito na Síria, potências do Oriente Médio e do Ocidente que rechaçavam o regime de Bashar-al Assad passaram a reconhecer a Coalizão Nacional Síria (CNS) como representante legítima do país. Mas a CNS, formada majoritariamente por opositores no exílio, tinha pouca influência sobre as lideranças locais que organizavam a resistência à ditadura de Assad. O resultado foi a formação de um governo paralelo ineficaz e pouco representativo, de modo que o regime sírio gradualmente recuperou sua legitimidade internacional.

3. Intervenções militares podem agravar crise humanitária

O agravamento da crise na Venezuela levou líderes da região a cogitarem uma intervenção militar para derrubar o regime de Maduro. Embora uma invasão ainda não seja a estratégia oficial de nenhum governo, a proposta segue como uma das opções na mesa. A julgar pelos conflitos no Oriente Médio, intervenções militares tendem a agravar crises humanitárias.

Em 2011, uma intervenção da Otan (aliança militar ocidental) ajudou a depor o regime de Muammar Gaddafi, mergulhando o país na anarquia –atualmente, a Líbia é terreno fértil para grupos terroristas e redes de tráfico de pessoas. Da mesma forma, a intervenção liderada pela Arábia Saudita contra os rebeldes houthis no Iêmen desde 2015 sufoca a população local, provocando crises de fome e cólera –hoje, mais de 20 milhões de pessoas dependem de ajuda humanitária no país, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

4. Para ditadores, ter apoio da Rússia pode fazer toda a diferença

Enquanto cresce o isolamento da Venezuela entre governos da América Latina, Maduro estreita seus laços com a Rússia. Em dezembro, o ditador venezuelano visitou o presidente Vladimir Putin em Moscou, onde anunciou o recebimento de ajuda financeira e militar do Kremlin.

Ainda não se sabe até que ponto Putin está disposto a apoiar o regime venezuelano, mas o patrocínio de Moscou pode fazer toda a diferença. Na Síria, a vitória de Bashar al-Assad na guerra civil se deve em grande parte ao apoio da Rússia, que ajudou nos combates a grupos rebeldes e vetou diversas resoluções contra o regime de Assad no Conselho de Segurança da ONU.

]]>
0