Eleições distritais em Hong Kong serão termômetro da revolta popular

Os moradores de Hong Kong se preparam para ir às urnas no próximo domingo (24) para eleger representantes distritais, em meio à maior onda de protestos que o território autônomo já viveu.

A votação, que costuma ser inexpressiva e ter altos níveis de abstenção, será um termômetro do descontentamento da população com o governo local, leal às autoridades de Pequim.

Esta será a primeira eleição desde que as manifestações por maior autonomia regional tiveram início em junho, e a única votação feita por meio de sufrágio universal no território.

No total, serão escolhidos 452 integrantes dos 18 conselhos distritais da cidade, responsáveis por decisões administrativas de baixo impacto político, como a alocação de orçamento para trabalhos de zeladoria.

Há 4,1 milhões de pessoas habilitadas a votar, incluindo 390 mil eleitores recém-registrados.

Os partidos da situação, que controlam a maioria dos distritos atualmente, esperam manter sua vantagem contando com os votos de eleitores insatisfeitos com a escalada da violência nas manifestações de rua.

Por sua vez, os partidos de oposição fazem campanha por um voto de protesto a fim de mandar um recado para a cada vez mais impopular líder do governo local, Carrie Lam.

Nas semanas que antecederam a votação, houve ataques contra candidatos dos dois lados do espectro político.

Há ainda o temor de que a votação seja cancelada de última hora devido aos protestos, mas as autoridades locais calculam que adiar a eleição poderia acabar colocando mais lenha na fogueira da revolta popular.

“Esta é uma das poucas vias que sobram para fazer valer nossa voz”, disse Lokman Tsui, professor da Universidade Chinesa de Hong Kong, ao jornal britânico The Guardian.

“Quando você é contínua e estruturalmente marginalizado, você se agarra a qualquer direito que ainda tiver”.

AUTONOMIA REGIONAL

A mais recente onda de protestos em Hong Kong começou como uma reação a um projeto de lei que facilitaria a extradição de suspeitos para a China continental.

As manifestações passaram a abarcar outras demandas pela preservação dos direitos civis e por maior autonomia em relação ao regime de Pequim, que exerce cada vez mais poder no território.

A polícia tem reprimido os protestos com violência, deixando mais de 2.000 feridos e 4.500 manifestantes detidos desde o inicio da revolta.

Nas últimas semanas, os confrontos passaram ao campus da Universidade Politécnica de Hong Kong, onde centenas de manifestantes pró-democracia se encontram sitiados pelas forças de segurança.

Por mais de cem anos, Hong Kong foi uma colônia britânica. Um acordo firmado entre as autoridades de Londres e Pequim estipulou que, após a transferência da soberania em 1997, o território usufruiria de autonomia administrativa por 50 anos antes de ser incorporado integralmente pela China.