Caos na Síria e no Iraque aumenta risco de nova ofensiva do Estado Islâmico
Engana-se quem pensava que o Estado Islâmico (EI) estava morto.
Após perder o controle sobre vastos territórios na Síria e no Iraque, o grupo vinha esperando a hora certa para iniciar uma contraofensiva. Novos desenvolvimentos na região nas últimas semanas sinalizam que esta hora pode estar chegando.
Na Síria, as tropas curdas que lideraram a batalha contra o EI foram abandonadas pelos Estados Unidos, e se preparam para uma invasão iminente da Turquia. Anunciada no domingo (6), a decisão do presidente Donald Trump representou um giro na estratégia antiterrorismo americana e lançou incertezas sobre o status de milhares de jihadistas presos na região.
Já no Iraque, uma série de protestos contra o premiê Adil Abdul-Mahdi vem testando os limites do frágil equilíbrio de forças que tem impedido o país de mergulhar em uma nova guerra civil –até a última segunda-feira (7), havia mais de cem manifestantes mortos e 6.000 feridos. É neste caldo de insatisfação popular que o EI costuma encontrar solo fértil.
Fundado em 1999, o EI alcançou seu auge entre 2014 e 2018, quando aproveitou o caos deixado pela guerra civil na Síria e pela retirada das tropas americanas no Iraque para proclamar um califado e inspirar atentados ao redor do mundo.
Foi assim que o EI se tornou a mais poderosa e temida organização terrorista que o mundo já viu, mas uma reação coordenada entre diversos países levou a facção a perder muito de seu poder e prestígio nos últimos anos.
“Existem oportunidades para o EI assentar suas raízes onde quer que a autoridade governamental seja fraca ou inexistente”, escreveu Patrick Cockburn, correspondente do jornal britânico The Independent no Iraque, em abril, poucas semanas após os combatentes do EI serem expulsos do vilarejo de Baghuz, seu último enclave na Síria.
Na ocasião, Cockburn alertou: “O EI foi eliminado enquanto entidade territorial, mas isso não significa que [a facção] perdeu as capacidades de orquestrar atividades de guerrilha e atentados terroristas”.
Também em abril, o líder do EI, Abu Bakr Al-Baghdadi, que muitos governos acreditavam estar morto, apareceu em um vídeo reafirmando sua autoridade sobre a facção e prometendo conduzir sua “jihad (guerra santa) até o fim dos tempos”.
De fato, enquanto resistia à ofensiva de seus inimigos, o EI deslocou muitos de seus combatentes e armamentos para células dormentes em regiões isoladas da Síria e do Iraque, preparando-se para uma nova insurgência.
Além disso, o EI segue contando com uma rede global de financiadores, formada por facções aliadas nas Filipinas, no Afeganistão e na Nigéria, entre outros países.
“A insurgência do EI deverá crescer porque as áreas que perdeu no Iraque e na Síria ainda não estão estáveis ou seguras”, diz um relatório do Institute for the Study of War publicado em julho.
O estudo alertava que o objetivo da facção era “alimentar a desconfiança da população em relação ao governo do Iraque”, e que uma eventual retirada americana da Síria “criaria ainda mais espaço para o ressurgimento do EI”.
Embora seja cedo demais para decretar a volta do EI, o caos na Síria e no Iraque produz as condições necessárias para o retorno do grupo. Baghdadi e seus seguidores não deixarão a oportunidade passar batida.
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