Condenação de ex-policial reacende debate sobre justiça racial nos EUA
A condenação de uma ex-agente de polícia branca pelo assassinato de seu vizinho negro reacendeu o debate sobre justiça racial nos Estados Unidos nesta semana.
Na quarta-feira (2), um júri no Estado americano do Texas decidiu sentenciar Amber Guyger, 31, a dez anos na prisão por homicídio doloso (quando há a intenção de matar).
O julgamento chamou a atenção do país por ser um dos raros casos em que agentes de segurança sofreram as consequências na Justiça após matarem vítimas negras desarmadas.
Em 6 de setembro de 2018, Guyger entrou no apartamento de seu vizinho Botham Jean, na cidade de Dallas, e disparou contra ele. Jean tinha 26 anos e estava sentado no sofá de sua casa tomando sorvete enquanto assistia à TV.
A defesa de Guyger diz que ela entrou no lar de Jean por engano e atirou contra ele pensando se tratar de um invasor. Com isso, os advogados esperavam conseguir uma condenação por homicídio doloso (quando não há intenção de matar), sujeito a penas mais brandas.
Do lado de fora do tribunal, alguns ativistas protestaram após o anúncio da sentença, considerada curta —a promotoria pedia uma pena de 28 anos atrás das grades.
Já dentro da corte, Brandt Jean, irmão da vítima, abraçou Guyger e disse tê-la perdoado: “Eu não pretendia dizer isso na frente da minha família ou de ninguém, mas eu nem gostaria que você fosse para a cadeia … Eu quero o melhor para você”.
JUSTIÇA RACIAL
Policiais americanos matam aproximadamente mil pessoas por ano, de acordo com estimativas recentes. Cidadãos negros correm três vezes mais perigo de serem mortos pela polícia que pessoas brancas.
No entanto, a condenação de agentes de segurança que extrapolam suas prerrogativas não é uma regra. Um estudo divulgado em março mostrou que, desde 2005, apenas 35 policiais receberam sentenças por mortes provocadas em serviço; destes, apenas três agentes foram condenados por homicídio doloso.
Especialistas apontam que a alta impunidade para policiais que atiram contra pessoas inocentes se deve a falhas do sistema de Justiça, especialmente no processo de seleção de jurados.
O júri que decidiu condenar Guyger neste semana era composto por uma maioria expressiva de pessoas não brancas, o que é incomum.
“Embora algumas pessoas vejam este veredito como uma prova de que o sistema mudou, … a condenação de Guyger é uma anomalia”, escreveu para o site de notícias Vox a ativista Brittany Packnet, fundadora da Campaign Zero, movimento contra a violência policial.
“Ao menos que os integrantes do júri possam identificar o medo, o terror e a dor que Botham Jean deve ter sentido, mas não está vivo para contar, julgamentos de policiais carecerão do contexto necessário para fazer justiça.”