Ao abandonar conversas com Taleban, Trump prolonga guerra no Afeganistão

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (9) que as conversas de paz que seu governo vinha mantendo com os militantes islamitas do Taleban estão “mortas”. A decisão de abandonar as negociações deve prolongar ainda mais o envolvimento americano na guerra no Afeganistão, que já se arrasta por quase 18 anos.

O anúncio de Trump causou surpresa. Membros de sua administração vinham sugerindo estar perto de alcançar um acordo definitivo e planejavam receber integrantes do Taleban para conversas nos Estados Unidos, mas o encontro foi cancelado no fim de semana após o grupo admitir ser responsável por um ataque que matou 12 pessoas no Afeganistão, incluindo um soldado americano.

“Eles pensavam que precisavam matar gente para se colocar em uma posição de negociação um pouco melhor”, disse Trump, acrescentando que o atentado foi um “grande erro”. Já o Taleban afirmou, por meio de um porta-voz, que os Estados Unidos seriam quem “mais perderia” ao se retirar da mesa de negociação.

Em janeiro, o governo Trump iniciou uma série de rodadas de negociação com representantes do Taleban em Doha, capital do Qatar. As conversas visavam à retirada dos 14 mil soldados americanos que seguem operando no Afeganistão, a fim de encerrar a guerra mais longeva em que os Estados Unidos já se envolveram.

A guerra no Afeganistão deixou quase 150 mil mortos, incluindo 38 mil civis afegãos e 2.400 militares americanos, de acordo com um levantamento do Watson Institute for International and Public Affairs da Universidade Brown.

Iniciada na esteira dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a invasão americana do Afeganistão buscava pôr fim ao regime fundamentalista do Taleban, que vinha dando cobertura a Osama bin Laden e sua rede terrorista Al Qaeda.

As tropas dos Estados Unidos conseguiram expulsar rapidamente o Taleban da capital, Cabul. Mas, uma vez fora do poder, o grupo passou a operar uma insurgência prolongada contra as forças de segurança nos rincões do Afeganistão e no vizinho Paquistão, dando dor de cabeça para sucessivos líderes da maior potência militar do planeta.

FRACASSOS NO AFEGANISTÃO

O presidente George W. Bush, que iniciou a guerra no Afeganistão, encerrou seu mandato em 2009 sem conseguir extinguir o Taleban. Já Barack Obama, que havia sido eleito com a promessa de encerrar as guerras iniciadas por seu antecessor, também fracassou na tarefa e viu o Taleban expandir sua influência em meio à retirada gradual de tropas americanas do país asiático.

Por sua vez, Donald Trump dizia na campanha presidencial de 2016 que a guerra no Afeganistão era um desperdício de dinheiro, mas o fracasso das conversas de paz com o Taleban indica que o conflito deverá prosseguir nos próximos anos. E, mesmo que os Estados Unidos consigam terminar seu envolvimento militar no Afeganistão, nada garante que a população do país finalmente veja o fim de décadas de violência.

“Enquanto os Estados Unidos buscam finalizar um acordo com o Taleban, o país deve se reconciliar com duas verdades contraditórias: uma é que os Estados Unidos erraram gravemente ao pensar que poderiam derrotar uma insurgência no Afeganistão …, e a outra é que o acordo negociado agora pode aumentar em vez de reduzir a violência”, escreveu Laurel Miller, analista do think tank International Crisis Group, em artigo na revista Foreign Policy.

“Entre estas duas verdades há um espaço estreito em que o governo americano pode ao mesmo tempo encerrar sua guerra mais duradoura e evitar uma guerra civil intensificada na sequência. Se o acordo esperado conseguirá atingir estes objetivos dependerá dos detalhes.”