Por que Greta Thunberg incomoda tanta gente?

Ela é apenas uma adolescente sueca. Como muitos jovens ao redor do mundo, ela não entende por que os adultos têm feito tão pouco para evitar a destruição do planeta. Mas nada do que ela diz é novo: há décadas os cientistas nos avisam da catástrofe ambiental que se aproxima.

Então por que é que tanta gente se incomoda com Greta Thunberg? A julgar por comentários nas páginas de jornal e nas redes sociais, o desconforto com a ativista de 16 anos é um fenômeno tão global quanto as mudanças do clima.

No início do mês, Andrew Bolt, colunista do jornal australiano Herald Sun, disse que Thunberg é “estranha” e “profundamente perturbada”. O comentário foi amplamente interpretado como uma ofensa contra autistas –a ativista é portadora da síndrome de Asperger.

Já na semana passada, o colunista da Folha João Pereira Coutinho escreveu que a atitude da jovem sueca diante da crise climática é uma “neurose”, e que o movimento que ela lidera tem características messiânicas. De acordo com Coutinho, “o fenômeno Greta Thunberg não tem nada de científico nem se pode confundir com qualquer discussão séria sobre o tema”.

Também na semana passada, o magnata britânico Aaron Banks, principal financiador da campanha em favor do brexit, causou indignação ao sugerir que Thunberg poderia morrer em um acidente de barco. “Malditos acidente de iatismo acontecem em Agosto…”, disse Banks em uma rede social.

A ativista acabara de embarcar em um veleiro com destino a Nova York, onde participará de uma conferência sobre o clima na sede da ONU (Organização das Nações Unidas) –ela se recusa a viajar de avião para não contribuir com a emissão de carbono. A jornada transatlântica deve durar duas semanas e pode ser acompanhada em tempo real pela internet.

Thunberg ganhou notoriedade ao longo do último ano, após decidir faltar às aulas às sextas-feiras para protestar em frente à sede do Parlamento sueco, em Estocolmo, para exigir que o governo tomasse ações mais efetivas para combater as mudanças climáticas.

O protesto solitário de Thunberg inspirou mobilizações lideradas por estudantes ao redor do mundo: mais de 1,6 milhão de pessoas participaram de protestos pelo clima em 133 países em 15 de março.

Assim, a jovem sueca se tornou símbolo de uma nova geração de ativistas que lutam por um planeta habitável. Graças à sua defesa do meio ambiente, Thunberg já se encontrou com personalidades como o ex-presidente americano Barack Obama e o papa Francisco. Ela também foi nomeada para o Prêmio Nobel da Paz.

“Nossa casa está pegando fogo. E eu estou aqui para dizer: nossa casa está pegando fogo”, afirmou Thunberg em janeiro durante um discurso para líderes mundiais no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

“Resolver a crise do clima é o maior e mais complexo desafio que o homo sapiens já enfrentou. A principal solução, porém, é tão simples que até uma criança consegue entender. Nós precisamos parar as nossas emissões de gases do efeito estufa.”

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), ligado à ONU, estima que a humanidade tem até 2030 para evitar mudanças irreversíveis no clima. Os principais efeitos de uma catástrofe climática incluiriam secas e ondas de calor recordes, bem como o derretimento acelerados das calotas polares e a elevação dos níveis dos oceanos.

Talvez Thunberg incomode tanta gente justamente por dar visibilidade a uma verdade inconveniente. O movimento que ela inspirou é uma pedra no sapato dos adultos que têm ignorado o tema em nome de seu próprio conforto, bem como dos governantes que seguem insistindo que o aquecimento global é uma farsa.

Mesmo que alguns de seus seguidores errem ao ver na ativista a última esperança contra o apocalipse do clima, a mensagem que ela vocaliza segue sendo pertinente. De fato, diante das críticas e dos ataques recorrentes, Thunberg demonstra mais maturidade que muitos de seus detratores.

“Eu penso que há muito foco sobre mim como pessoa e não sobre o próprio clima”, disse Thurnberg em entrevista à emissora alemã Deutsche Welle. “Acredito que nós devemos nos concentrar mais na questão do clima, porque isto não é sobre mim.”