Quem são e o que pregam as deputadas democratas atacadas por Trump?

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a causar indignação ao redor do mundo na última semana por conta de suas declarações racistas. Em uma série de tuítes no domingo (14), Trump sugeriu que quatro deputadas democratas integrantes de minorias raciais retornassem aos “países totalmente infestados pela criminalidade de onde vêm”, embora sejam cidadãs americanas.

Os ataques presidenciais colocaram as congressistas, conhecidas informalmente como “o esquadrão”, no centro do debate político nacional. Elas são Ilhan Omar, representante de Minessotta; Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York; Rashida Tlaib, de Michigan; e Ayanna Pressley, de Massachusetts.

O episódio levou a Câmara dos Deputados, controlada pela oposição democrata, a aprovar na terça-feira (16) uma moção de repúdio contra o presidente. A casa legislativa também discutiu a abertura de um processo de impeachment, mas a proposta foi derrotada.

Apesar das críticas da oposição e até mesmo dentro de seu próprio partido, Trump insiste que “não tem um osso racista” em seu corpo. Na quarta (17), durante um comício na Carolina do Norte, o presidente voltou a acusar Omar de querer destruir os Estados Unidos, e o público gritou “mande-a de volta!”. No dia seguinte, o republicano ensaiou um mea-culpa, dizendo discordar dos gritos da multidão.

Saiba quem são e o que defendem as deputadas democratas atacadas por Trump:

1. Deputadas representam a renovação da política americana

Apesar de serem novatas –elas foram eleitas no pleito legislativo de novembro–, as congressistas ganharam destaque na oposição contra o governo Trump. Elas representam a renovação da política americana, tradicionalmente dominada por homens brancos.

As deputadas nasceram nos Estados Unidos, com a exceção de Omar, que nasceu na Somália e se naturalizou americana quando era criança. Ocasio-Cortez tem ascendência porto-riquenha, Tlaib é filha de imigrantes palestinos e Pressley é afro-americana.

“Este é um presidente que violou abertamente os valores que este país diz defender”, afirmou Omar em entrevista coletiva na segunda-feira (15). “E para gerar distração, ele lançou um ataque descaradamente racista contra representantes eleitas … Esta é a agenda dos nacionalistas brancos.”

2. À esquerda, ‘esquadrão’ desafia establishment democrata

Além de enfrentarem Trump, as deputadas do “esquadrão” têm comprado brigas com a liderança do Partido Democrata no Congresso para exigir o apoio a políticas progressivas.

Elas defendem, por exemplo, a taxação de grandes fortunas em até 70%, bem como a universalização do sistema de saúde do país, atualmente controlado por empresas privadas. Além disso, as deputadas querem a extinção da ICE, agência responsável pela detenção de imigrantes sem documentos, e sugerem que o governo adote um plano de investimentos para combater as mudanças climáticas.

“O Partido Democrata de hoje acredita que, para vencer, é preciso enfocar um centro hipotético”, disse Saikat Chakrabarti, chefe de gabinete de Ocasio-Cortez, ao Washington Post. “Nós temos uma teoria da mudança completamente diferente: você faz a coisa mais incrível que puder, e isso animará as pessoas a sair para votar.”

3. Ataques racistas revelam estratégia de Trump para buscar reeleição

As declarações racistas de Trump não são novidade. Em sua campanha à Presidência nas eleições de 2016, ele afirmou que imigrantes mexicanos são “traficantes, criminosos, estupradores”. Já no poder, ele disse ver “gente de bem” entre os participantes de uma manifestação violenta convocada pela Ku Klux Klan na cidade de Charlottesville, realizada em agosto de 2017.

Desta vez, os ataques racistas do republicano parecem indicar sua estratégia para buscar a reeleição nas eleições de 2020. Ao colocar o “esquadrão” em evidência, Trump força o Partido Democrata a se unir em defesa de sua ala mais radical, acirrando a polarização do eleitorado.

“Este é o tipo de batalha de que o presidente gosta”, diz uma reportagem do New York Times publicada na terça-feira. “A estratégia de reeleição de Trump é … apresentar seus oponentes não só como quem não gosta dele e de suas políticas, mas como [gente] que não gosta da própria América.”