O que resta da nova esquerda europeia após o fracasso do Syriza na Grécia?
A derrota da coalizão esquerdista Syriza nas eleições da Grécia sinaliza o esgotamento de um ciclo para as forças progressistas na Europa. No domingo (7), os eleitores gregos decidiram pôr fim ao governo de Alexis Tsipras e escolheram como novo primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, do partido conservador Nova Democracia.
O líder do Syriza simbolizava uma nova geração de partidos de esquerda radical surgida na Europa após a crise financeira global de 2008. Estas forças nasceram questionando o receituário neoliberal aplicado nas décadas anteriores pelos principais governos do continente –tanto os de centro-direita, como Nikolas Sarkozy na França (2007-2012), quanto os de centro-esquerda, incluindo Tony Blair no Reino Unido (1997-2007).
Além do Syriza na Grécia, ganharam destaque nos últimos anos o Podemos, na Espanha; o trabalhismo radical de Jeremy Corbyn, no Reino Unido; e, mais tarde, a França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon. Mas o Syriza foi a única destas novas forças progressistas que conseguiu chegar ao governo e testar, na prática, a viabilidade das suas ideias radicais.
Quando alcançou o poder, em janeiro 2015, Tsipras prometia pôr fim às políticas de austeridade fiscal que, dizia, vinham sacrificando as camadas mais pobres da população da Grécia. O país fora um dos mais afetados pela crise na Europa.
Galvanizando a insatisfação da população com o aumento da pobreza e do desemprego, o líder do Syriza venceu um plebiscito em julho de 2015, em que 61% dos eleitores gregos disseram “não” às medidas de ajuste econômico exigidas pelas autoridades europeias em troca do alívio da dívida externa da Grécia.
Apesar do respaldo popular, Tsipras fracassou em convencer os fiadores da Troika (grupo formado pela Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) de que era possível tirar a Grécia do buraco sem o controle rigoroso dos gastos públicos. Indisposto a romper de vez com o bloco regional, o premiê grego passou nos anos seguintes a aplicar as políticas de austeridade que tanto criticava.
“Ao adotar as medidas de austeridade, o Syriza acabou destruindo sua própria base social, o rico tecido de grupos da sociedade civil de onde havia surgido como partido político”, escreveu o filósofo esloveno Slavoj Zizek em artigo recente no jornal britânico The Independent. “O Syriza é, agora, um partido político como os demais.”
PERDA DE FÔLEGO
A derrota do Syriza na Grécia é apenas mais uma indicação de que as novas forças progressistas na Europa estão perdendo o fôlego. Partidos identificados com a esquerda radical já haviam obtido resultados pífios nas eleições para o Parlamento Europeu, em maio.
Por um lado, a nova esquerda europeia parece ter falhado em convencer a maioria da população de que é possível transformar o modelo econômico vigente na região. Em vez disso, parte do ressentimento da população passou a ser mobilizado por forças de direita nacionalista em ascensão –com destaque para a Liga, na Itália; a União Nacional, na França; o Partido do Brexit, no Reino Unido; a AfD, na Alemanha; e o novato Vox, na Espanha.
Além disso, as forças progressistas do continente deram respostas tímidas ao aumento do fluxo de refugiados, que atingiu um pico em 2015, e à série de atentados terroristas que chacoalhou a região entre 2015 e 2017 –os ataques mais sangrentos ocorreram na França e no Reino Unido, mas também houve eventos trágicos na Bélgica, na Espanha e na Alemanha. Embora imigração e terrorismo não estejam relacionados entre si –a grande maioria dos suspeitos de terrorismo não são estrangeiros, são cidadãos europeus–, a coincidência temporal destes fenômenos ajudou a pôr lenha na fogueira da xenofobia, tão bem instrumentalizada pelos líderes de extrema-direita.
Os sucessivos fracassos eleitorais da nova esquerda europeia não significam sua morte política definitiva. Nos últimos anos, agremiações de esquerda radical passaram a ter peso considerável no sistema partidário de vários países do continente, e nada indica que elas desaparecerão no curto prazo. Mesmo o Syriza continua relevante como segunda maior força política da Grécia.
“Em perspectiva, parece haver uma explicação simples para a ascensão e queda rápida da esquerda radical: seu apelo sempre foi mais negativo que positivo”, escreveu Yascha Mounk, professor de ciência política na Universidade Harvard, em artigo recente na revista americana The Atlantic.
“Após uma grande crise econômica, a esquerda radical teve uma oportunidade rara de ir das margens para o mainstream ao canalizar o sentimento anti-establishment de eleitores comuns. Os últimos anos mostraram que a tarefa de manter a onda de apoio inicial é bem mais complicada do que os defensores mais exaltados destes movimentos admitiam.”