Quem é Boris Johnson, provável futuro primeiro-ministro do Reino Unido?

A poucos meses do esgotamento do prazo para sair da União Europeia, o Reino Unido está prestes a eleger um novo primeiro-ministro.

A troca no poder ocorre após a premiê Theresa May anunciar sua renúncia, em maio. Ela chegou ao cargo em 2016 com a missão de conduzir as negociações do brexit, mas fracassou em conquistar o apoio do Parlamento e se viu forçada a abandonar o cargo precocemente.

O favorito para sucedê-la é Boris Johnson, um dos líderes da ala eurocética do Partido Conservador, principal força política britânica. Para chegar ao poder, ele precisará convencer a maioria de sua agremiação de que está apto para liderar o país.

Saiba quem é Johnson e entenda o processo de escolha do próximo premiê britânico:

1. Johnson lidera rebelião dentro de seu partido

Jornalista de carreira, Johnson, 55, ingressou na política após ser eleito para o Parlamento britânico em 2001. Entre 2008 e 2016, foi prefeito de Londres e, em seguida, virou secretário do Exterior no governo May.

Partidário de uma ruptura radical com a UE, o político conservador liderou uma rebelião dentro de seu próprio partido por discordar da forma como May vinha conduzindo o brexit e decidiu deixar o gabinete em 2018.

Se chegar ao poder, Johnson pretende comprar briga com as autoridades de Bruxelas, mesmo que isso resulte em uma saída litigiosa do bloco regional quando se esgotar o prazo de negociação, em 31 de outubro, com consequências incertas para o futuro do país.

2. Populista, ele é chamado de ‘mini-Trump’

Conhecido por seus arroubos populistas e seu histórico de declarações xenófobas, Johnson é chamado de “mini-Trump” por parte da imprensa europeia. Ele já disse, por exemplo, que o problema da África é que os colonizadores britânicos “não estão mais no comando”, e comparou mulheres que usam o véu islâmico a “assaltantes de banco”.

Na campanha do plebiscito sobre o brexit, em junho de 2016, Johnson mentiu sobre o volume de repasses à UE, insinuando que a saída do bloco permitiria ao governo aumentar os investimentos ao NHS (National Health Service, o SUS britânico). Ele enfrentou questionamentos na Justiça graças ao episódio, mas o processo foi cancelado no início deste mês.

Partidário do liberalismo econômico, é possível que, uma vez no poder, o político conservador contribua para a desestatização do sistema de saúde e para o desmonte da rede de seguridade social.

3. Mesmo eleito, Johnson terá dificuldades para formar governo

No momento, Johnson enfrenta o desafio de correligionários em uma disputa interna pela liderança do Partido Conservador. Ele já deixou a maioria dos concorrentes para trás, mas ainda falta obter o respaldo da maioria dos membros do partido –o resultado deve sair em 22 de julho.

Mas, mesmo que se qualifique para virar primeiro-ministro, Johnson enfrentará dificuldades para formar um governo. Caso prossiga com seus planos de retirar o Reino Unido da UE mesmo sem acordo prévio, poderá desencadear uma reação da ala moderada conservadora e da oposição trabalhista, precipitando a realização de eleições antecipadas.

Além disso, o Partido conservador atualmente depende do apoio do diminuto DUP (Partido Unionista Democrático), da Irlanda do Norte. Sua visão para o brexit pode acabar resultando na imposição de controles alfandegários na fronteira com a República da Irlanda, a contragosto dos habitantes do local e de seus parceiros de coalizão.

Com ou sem Johnson em Downing Street (endereço da residência oficial do primeiro-ministro britânico), a barafunda do brexit deve prosseguir. Conforme este blog Mundialíssimo já disse em março: “O fato é que os políticos britânicos pró-brexit, ao fazerem promessas irrealizáveis e estimularem os piores sentimentos nacionalistas, mergulharam o Reino Unido em crise permanente. Qualquer que seja o desfecho do brexit, o país estará mais fraco e dividido que nunca”.