Qual é o risco de uma guerra entre Estados Unidos e Irã?
O mundo assistiu, nos últimos meses, a uma intensa troca de hostilidades entre os Estados Unidos e o Irã, criando temores de uma nova guerra envolvendo a maior potência militar do planeta no Oriente Médio.
Os EUA acusam o Irã de apoiar grupos terroristas no Oriente Médio e de buscar desenvolver armas nucleares. Por sua vez, o regime iraniano nega as acusações e diz que Washington quer provocar instabilidade na região.
Entenda a escalada da tensão entre EUA e Irã:
1. Irã ameaça romper com acordo nuclear
O regime de Teerã disse nesta segunda-feira (17) que pretende aumentar seu estoque de urânio enriquecido, violando um acordo assinado em 2015 com potências mundiais para impedir que o país persa pudesse desenvolver bombas nucleares.
O anúncio é uma resposta às sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos desde que o presidente Donald Trump decidiu abandonar o tratado nuclear, em maio de 2018. As sanções americanas atingem as exportações de petróleo, principal fonte de renda do Irã.
As autoridades iranianas dizem que seu programa nuclear tem fins pacíficos, e pedem que potências europeias criem mecanismos para que o país possa acessar o sistema financeiro internacional, garantindo a sobrevivência do acordo nuclear.
“É um momento crucial, e a França ainda pode trabalhar com outros signatários do acordo e ter papel histórico em salvar o pacto em um curto período de tempo”, afirmou nesta segunda-feira o presidente do Irã, Hassan Rouhani, de acordo com a agência de notícias Fars.
2. Ataques no golfo de Omã geram apreensão
Os EUA acusam o Irã de orquestrar ataques contra dois navios petroleiros no golfo de Omã na última quinta-feira (13); incidentes parecidos foram registrados na região em maio.
O Irã nega responsabilidade pelos ataques. Em resposta ao que vê como hostilidade americana, o país ameaça interromper o tráfego de embarcações pelo estreito de Hormuz, por onde passam quase 20% de todo o petróleo consumido no mundo.
O governo americano diz que tomará as ações necessárias para garantir a navegação no Oriente Médio. “Não queremos guerra … Os iranianos devem entender muito claramente que vamos continuar a tomar ações que impeçam o Irã de adotar esse tipo de comportamento”, declarou no domingo (16) o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, à emissora Fox News.
A estratégia americana para lidar com o Irã é incerta. O presidente Trump diz querer firmar um novo acordo de paz com o país persa, mas a escalada retórica de sua administração vai no sentido contrário.
3. Tensões remontam à Revolução Islâmica de 1979
A inimizade entre os EUA e o Irã remonta à Revolução Islâmica de 1979, que derrubou o regime do xá Reza Pahlevi, monarca aliado dos americanos. No ano seguinte, o governo de Washington deu apoio ao então ditador iraquiano, Saddam Hussein, em sua incursão contra a república islâmica inaugurada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini –a guerra entre o Irã e o Iraque terminou em impasse depois de oito anos, deixando mais de 1 milhão de mortos.
Atualmente, o Irã é liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, sucessor de Khomeini. O regime iraniano é acusado de reprimir dissidentes, além de subjugar mulheres e minorias religiosas.
Nos últimos anos, novas guerras no Oriente Médio azedaram ainda mais a relação entre americanos e iranianos. O regime de Teerã oferece apoio ao ditador Bashar al-Assad na guerra civil na Síria, e é acusado de financiar os rebeldes houthis no conflito no Iêmen. Além disso, o país é aliado da milícia xiita libanesa Hizbullah, considerada um grupo terrorista pelos EUA.
As desavenças entre Washington e Teerã geram o risco de guerra. “Todos os ingredientes para uma escalada estão presentes”, diz um relatório de maio do think tank americano International Crisis Group. “Mesmo supondo que nenhum dos lados busque a guerra, o crescimento dos atritos em todas as áreas de risco entre as duas partes significa que intenções podem não bastar para preveni-la”.
Os jornalistas encarregados do noticiário internacional precisaremos reaprender nosso ofício sem a presença de Clóvis Rossi, que morreu na sexta-feira (14) aos 76 anos. Sua voz lúcida e sua defesa intransigente da democracia farão muita falta.