Entenda os protestos contra nova lei de extradição em Hong Kong

Uma onda de protestos tomou as ruas de Hong Kong nos últimos dias em resposta a um projeto de lei proposto pelo governo local que permitiria a extradição de suspeitos para a China continental.

Novas manifestações ocorreram nesta quarta-feira (12). A polícia usou canhões d’água e gás lacrimogêneo para dispersar a multidão, que se aglomerava nos arredores do Parlamento local.

Diante da escalada da pressão popular, as autoridades decidiram adiar “para uma data posterior” uma sessão de debate sobre o projeto, que estava marcada para esta quarta, no Legislativo local.

Entenda os protestos em Hong Kong:

1. Críticos temem que lei facilite perseguição política

Caso seja aprovado, o projeto de lei dará ao Executivo de Hong Kong o poder para decidir sobre a extradição de suspeitos acusados de crimes com pena superior a sete anos de prisão para que sejam julgados em tribunais no exterior, inclusive na China continental.

O governo local diz que a lei visa a impedir que o território se torne um refúgio para criminosos internacionais, mas os críticos do projeto temem que as novas regras sejam usadas pelo regime de Pequim para perseguir dissidentes políticos.

“Eu não quero que meu filho cresça em um lugar onde não há sensação de segurança. Embora eles digam que a lei servirá para ir atrás de fugitivos, ela pode ser facilmente usada para fins políticos”, disse a manifestante Grace Chan, 30, ao jornal britânico The Guardian.

2. Protestos são os maiores em décadas

No domingo (9), mais de um milhão de pessoas foram às ruas contra a lei de extradição, segundo os organizadores do protesto. Trata-se da maior manifestação pelo menos desde 1997, quando Hong Kong deixou de ser uma colônia britânica.

Novas manifestações e confrontos com as forças de segurança foram registradas nos dias seguintes. Usando as redes sociais, comerciantes locais anunciaram que fecharão as portas nesta quarta-feira para que seus funcionários possam participar das mobilizações.

A nova onda de protestos revive o espírito democrático da “revolução dos guarda-chuvas”, em 2014, quando milhares de manifestantes ocuparam o centro de Hong Kong por semanas contra um projeto de lei que daria a Pequim mais autoridade sobre a escolha do chefe do Executivo local. Apesar da mobilização, que teve guarda-chuvas amarelos como símbolo, a reforma eleitoral foi aprovada.

3. O que está em jogo é a autonomia em relação a Pequim

Por mais de cem anos, Hong Kong foi uma colônia britânica. Um acordo firmado entre as autoridades de Londres e Pequim estipulou que, após a transferência da soberania em 1997, o território usufruiria de autonomia administrativa por 50 anos antes de ser incorporado integralmente pela China.

De fato, os habitantes de Hong Kong contam com mais liberdades do que os cidadãos da China continental. Nos últimos anos, porém, o governo de Pequim vem recrudescendo o controle sobre o território autônomo.

As novas regras de extradição são vistas justamente como uma tentativa de diluir a separação entre os dois sistemas jurídicos.