Argélia vai às ruas para pedir renúncia do presidente, que está recluso há anos
Milhares de estudantes da Argélia têm saído às ruas nas últimas semanas para pedir o a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika, que é raramente visto em público há anos.
Bouteflika, 82, governa o país com mão de ferro desde 1999. Ele, que reconciliou o país norte-africano após mais de 200 mil pessoas morrerem em uma guerra civil nos anos 1990, anunciou a intenção de concorrer a um quinto mandato em eleições previstas para abril.
Mas o presidente não faz pronunciamentos públicos desde 2013, quando sofreu um derrame que debilitou sua saúde. Atualmente, ele está internado em um hospital na Suíça, de acordo com relatos divulgados na imprensa internacional.
A ausência de Bouteflika na vida pública do país reduziu ainda mais a transparência do governo, cada vez mais controlado pelas Forças Armadas. O comandante do Exército, Ahmed Gaid Salah, insinuou na terça-feira (5) que os participantes dos protestos buscam mergulhar o país em uma nova guerra civil.
“Há setores que desejam que a Argélia retorne aos anos de violência … Um povo que derrotou o terrorismo sabe como preservar a estabilidade e a segurança de sua nação”, afirmou Salah , de acordo com a agência de notícias Associated Press.
Os manifestantes, que ocupam as ruas da capital, Algiers, e outras cidades do país apesar da proibição imposta pelas autoridades, querem a realização de eleições livres. “A juventude hoje não quer um quinto mandato”, disse Omar Belhouchet, editor do jornal argelino El Watan, ao New York Times.
“Eles estão cansados deste governo autoritário que está sufocando a população, que está empurrando seus próprios cidadãos para morrer no Mediterrêneo”, acrescentou Belhouchet, referindo-se aos milhares de imigrantes e refugiados da região que arriscam suas vidas em travessias de barco em busca de asilo na Europa.
Para tentar conter os protestos, o governo prometeu no domingo (3) que, se Bouteflika vencer as eleições –o que é dado como certo–, a Constituição será reformada e novas eleições serão convocadas no futuro. Mas as manifestações não arrefeceram.
RISCO DE VIOLÊNCIA
Há o temor de que as o movimento dos estudantes argelinos leve a uma escalada violenta. Até agora, porém, os protestos têm sido pacíficos, com a exceção de confrontos localizados com as forças de segurança.
Em 2011, os levantes da Primavera Árabe derrubaram governos em vários países do Oriente Médio e do Norte da África, dentre os quais Líbia e Tunísia, vizinhos da Argélia. Na época, o governo de Bouteflika aumentou os investimentos sociais para evitar uma insurreição semelhante.
Desta vez, porém, não há garantias de que o governo irá resistir. “Eles não têm um plano para lidar com os manifestantes, e não há um ‘plano B’ para seguir em frente sem Bouteflika”, George Joffe, professor aposentado da Universidade de Cambridge e especialista em política argelina, disse ao site americano Vox. “Eles não previram isto, e agora eles não sabem o que fazer.”