Estado Islâmico passa últimos dias encurralado na Síria; veja trajetória do grupo

O grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que há poucos anos controlava largas porções da Síria e do Iraque reunindo milhares de jihadistas, vive seus últimos dias encurralado no vilarejo sírio de Baghuz.

Nas últimas semanas, milhares de civis e combatentes abandonaram o enclave. Os membros do EI que permanecem no local se preparam para enfrentar uma ofensiva final liderada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), coalizão de milícias curdas e árabes apoiada militarmente pelos Estados Unidos.

A batalha deve pôr fim ao califado proclamado em junho de 2014 pelo líder da facção, Abu Bakr al-Baghdadi –o paradeiro do terrorista iraquiano é desconhecido, e não se sabe se ele está vivo ou morto.

Veja a trajetória do EI:

1999: Fundação e lealdade à Al Qaeda

Em 1999, o extremista iraquiano Abu Musaab al-Zarqawi fundou a milícia Tawhid wa al-Jihad, que mais tarde se transformaria no EI –o grupo é adepto do salafismo, vertente radical do islã sunita. Após a invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003, a facção declarou lealdade à rede terrorista Al Qaeda e participou de batalhas contra os americanos.

Zarqawi foi morto em uma operação militar americana em 2006, e o grupo mergulhou em crise. Em 2010, Baghdadi assumiu o poder e reorganizou a facção, incorporando soldados iraquianos que haviam servido ao ex-ditador iraquiano Saddam Hussein. Posteriormente, o EI se desvinculou da Al Qaeda, acusando-a de ser demasiado moderada.

2014: Expansão territorial e reino de terror

A eclosão da guerra civil na Síria em 2011, somada ao crescente ressentimento da minoria sunita no Iraque em relação ao governo de Bagdá, criou um solo fértil para os jihadistas do EI. O grupo se beneficiou de recursos transferidos para rebeldes na Síria pela Arábia Saudita e o Qatar; além disso, a facção se apoderou de armas americanas abandonadas pelo Exército iraquiano após tomar Mossul (segunda maior cidade do Iraque), em junho de 2014.

A partir de então, o EI se expandiu em velocidade surpreendente em porções de deserto entre a Síria e o Iraque, chegando a controlar um território equivalente à área do Estado de São Paulo. Por onde passava, o grupo implementava um regime teocrático, subjugando mulheres e massacrando minorias étnicas e religiosas, além de decapitar jornalistas e destruir o patrimônio cultural da região.

Abu Bakr al-Baghdadi durante discurso em Mossul, em 2014 (Crédito: Reuters)

2015-2017: EI inspira atentados em outros países

No auge de seu califado, o EI atraiu até 40 mil jihadistas de mais de cem países e serviu de referência para grupos extremistas ao redor do mundo, da Nigéria às Filipinas, passando por Egito e Afeganistão.

Além disso, a facção inspirou diversos atentados além das fronteiras de seu califado: o EI reivindicou a autoria dos ataques em Paris em novembro de 2015 (130 mortos), bem como o massacre na boate LGBT Pulse em Orlando em junho de 2016 (49 mortos) e a explosão na saída de um show de Ariana Grande em Manchester em maio de 2017 (22 mortos). A maior parte dos atentados do EI, porém, tinha como alvos muçulmanos em países do Oriente Médio.

2017-2019: O declínio do califado

O rastro de morte deixado pelo EI motivou uma reação ligeira em diferentes frentes. No Iraque, a facção resistia a ofensivas do Exército de Bagdá e dos combatentes peshmergas curdos, sendo expulsa de sua autoproclamada capital, Mossul, em julho de 2017.

Enquanto isso, na Síria, o grupo passou a ser atacado pelas FDS e pelo regime de Bashar al-Assad, perdendo controle da cidade de Raqqa, seu centro de operações no país, em outubro de 2017. Em ambos os países, o EI se tornou alvo de bombardeios de uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

A ofensiva por todos os lados enfraqueceu o grupo gradualmente, até que ficasse isolado em Baghuz. A derrota militar do EI acaba com seu sonho de construir um califado, mas não há garantias de que a facção encerrará por completo suas operações.