Entrega de ajuda humanitária gera risco de conflito na Venezuela; entenda

O fim de semana promete tensão na fronteira com a Venezuela. A tentativa de entrega de ajuda humanitária, prevista para este sábado (23), é novo capítulo da ofensiva regional contra o regime de Nicolás Maduro.

Simpatizantes da oposição venezuelana pretendem marchar até as fronteiras com a Colômbia e o Brasil para buscar toneladas de alimentos e medicamentos. A iniciativa foi articulada pelo autoproclamado presidente interino Juan Guaidó e seus parceiros em Washington, Bogotá e Brasília.

O ditador Maduro vê o movimento como um pretexto para intervenção militar. Na quinta-feira (21), ele ordenou o fechamento da fronteira com o Brasil por tempo indeterminado e ameaçou fazer o mesmo na divisa com a Colômbia.

Veja perguntas e respostas sobre a tentativa de entrega de ajuda humanitária na Venezuela:

1. O que Guaidó pretende alcançar com a iniciativa?

Desde que se declarou presidente interino da Venezuela, em janeiro, Guaidó recebeu o apoio de dezenas de países. Ele lidera a Assembleia Nacional de maioria opositora e se apresenta como alternativa a Maduro, que foi reeleito para um segundo mandato presidencial em votação com indícios de fraude.

A autoridade de Guaidó dentro do país, no entanto, é limitada, pois ele fracassou em obter respaldo de parcelas expressivas das Forças Armadas. A iniciativa de entrega de ajuda humanitária aumenta a pressão sobre os militares, que precisarão decidir entre acatar as ordens de Maduro ou desrespeitá-las para permitir a passagem de comida.

Além da caravana humanitária no sábado, está previsto um show beneficente com vários artistas internacionais nesta sexta-feira (22) em Cúcuta, na Colômbia. O palco foi montado a poucos metros da fronteira com a Venezuela.

2. Qual a posição do governo Bolsonaro?

Aliado de Guaidó, o presidente Jair Bolsonaro ofereceu apoio logístico para que caminhões venezuelanos busquem suprimentos em Pacaraima e Boa Vista, em Roraima. O capitão reformado manteve a operação apesar do anúncio do fechamento da fronteira por Maduro.

Segundo a Folha apurou, os EUA cogitavam enviar tropas para o Brasil e queriam que as Forças Armadas brasileiras participassem da operação de entrega de ajuda à Venezuela. A iniciativa tinha o respaldo de setores do governo, inclusive do chanceler Ernesto Araújo, mas foi rechaçada pelo Exército, que teme a escalada para um conflito.

O vice-presidente Hamilton Mourão foi escolhido para representar o Brasil na reunião do Grupo de Lima, que articula a resposta regional à crise na Venezuela. O encontro será realizado na segunda-feira (25) em Bogotá.

3. Por que há risco de conflito?

A entrega de ajuda humanitária à Venezuela tem todos os ingredientes de uma tempestade perfeita, e seus desdobramentos dependerão da reação das Forças Armadas do país. Caso os militares desacatem as ordens de Maduro e garantam a entrega de suprimentos, a autoridade do ditador será gravemente abalada.

Por outro lado, o Exército poderá permanecer fiel ao líder chavista e usar a força para impedir que os apoiadores de Guaidó busquem ajuda do outro lado da fronteira. A repressão poderia desencadear uma reação regional, encabeçada pelo Brasil e pela Colômbia com o respaldo de 1.000 soldados americanos estacionados em solo colombiano; Maduro conta com o apoio da Rússia e da China.

A Venezuela enfrenta uma recessão brutal que provoca o desabastecimento de produtos básicos –mais de 2,3 milhões de venezuelanos fugiram nos últimos anos. No poder desde 2013, Maduro é acusado de violar os direitos humanos, reprimindo manifestações de rua e prendendo líderes opositores.