Paralisação do governo nos EUA já custa mais que o muro que Trump quer erguer

A paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, que se arrasta por 35 dias, já custa cerca de US$ 6 bilhões (R$ 22,6 bilhões) para a economia do país, segundo estimativas da agência Standard & Poor’s (S&P).

O valor é maior do que os US$ 5,7 bilhões (R$ 21,5 bilhões) pedidos pelo presidente Donald Trump para construir um muro na fronteira com o México. A disputa entre republicanos e democratas no Congresso a respeito da concessão da verba para o muro é o que deu início à paralisação, em dezembro.

A S&P estima que cada semana com o governo fechado tem um impacto negativo de US$ 1,2 bilhões (R$ 4,5 bilhões) no PIB (Produto Interno Bruto) americano. Isto porque, após a reabertura do governo, a administração federal terá de pagar retroativamente os mais de 800 mil funcionários impedidos de trabalhar.

Trump e seus aliados republicanos no Congresso defendem que a construção de uma barreira na fronteira com o México é essencial para impedir a entrada de imigrantes sem documento. A oposição democrata, que passou a controlar a Câmara após as eleições legislativas de novembro, vê o muro como uma proposta populista e ineficaz.

Até agora, não há sinais de que a paralisação, a mais longa da história do país, terá fim. Na quinta-feira (24), o Senado rejeitou duas propostas de orçamento –uma delas foi apresentada pelos republicanos e previa a verba para a construção do muro, enquanto a outra, defendida pelos democratas, não incluía o dinheiro para a barreira. Embora os republicanos controlem a casa legislativa, eles não têm os 60 votos necessários (entre 100 senadores) para aprovar o orçamento.

PARALISAÇÃO POR TEMPO INDEFINIDO

Há algumas semanas, Trump afirmou que poderia manter o governo fechado por “meses ou até mesmo anos” caso não conseguisse o dinheiro para construir seu muro. O presidente também ameaçou declarar emergência nacional e ofereceu concessões para imigrantes irregulares no país em troca da verba, mas não obteve sucesso.

Devido à paralisação, Trump precisou adiar o Discurso sobre o Estado da União, tradicional pronunciamento anual do presidente ao Congresso. O discurso estava inicialmente marcado para o dia 29, mas a liderança democrata na Câmara alertou que o fechamento do governo atrapalharia a organização do evento.

Pesquisas de opinião mostram que a maioria dos americanos culpa Trump pela paralisação, e que a popularidade do presidente caiu alguns pontos desde o início do fechamento do governo. Críticos acusam Trump de usar a paralisação para desviar a atenção do público sobre as suspeitas de conluio entre integrantes de sua campanha eleitoral e autoridades da Rússia.