‘Ataques sônicos’ contra americanos em Cuba podem ter sido apenas grilos, diz estudo

Meses após a reabertura da embaixada dos Estados Unidos em Cuba em 2015, diplomatas passaram a ouvir um barulho esquisito, acompanhado de dores de cabeça e náusea. Suspeitando tratar-se de um tipo de “ataque sônico”, o Departamento de Estado americano ordenou a retirada de dezenas de seus funcionários da ilha.

A história, que parece saída de um romance de ficção sobre a Guerra Fria, pode ter uma causa bastante trivial: grilos. É o que diz uma dupla de cientistas a partir da análise de uma gravação do ruído, divulgada em 2017 pela agência de notícias Associated Press (AP).

Os autores do estudo, Alexander L Stubbs (EUA) e Fernando Montealegre-Zapata (Reino Unido), afirmam que o canto de um grilo caribenho, Anurogryllus celerinictus, possui características “correspondentes ao conteúdo da gravação publicada pela AP”.

“Isto oferece evidência sólida de que o eco do canto de grilos, e não um ataque sônico ou equipamento tecnológico, seja responsável pelo ruído na gravação”, diz o estudo, publicado na sexta-feira (4). O estudo não passou por sistema de avaliação por pares (“peer review”).

Os cientistas recomendam novas pesquisas sobre “as causas dos problemas de saúde descritos pelos funcionários da embaixada”, sem descartar que outro tipo de ataque ou distúrbios psicológicos estejam por trás dos sintomas relatados. O governo americano não comentou os resultados do estudo.

RELAÇÕES EUA-CUBA

Os primeiros sintomas passaram a ser relatados por diplomatas americanos em Cuba em dezembro de 2016, pouco após a vitória de Donald Trump na corrida presidencial. Nos meses seguintes, o FBI (polícia federal americana) investigou os supostos ataques sônicos, mas não encontrou provas – o regime cubano sempre negou responsabilidade sobre os incidentes.

A retirada gradual de diplomatas americanos da ilha caribenha selou a reversão, prometida por Trump, do processo de aproximação diplomática iniciado por seu antecessor, Barack Obama.

A embaixada americana em Cuba foi reaberta por Obama em julho de 2015, após passar 54 anos fechada. Obama acreditava que a aproximação diplomática com Cuba levaria à abertura gradual da ditadura socialista; a estratégia é rechaçada por Trump, que defende o isolamento da ilha.