O que as primeiras horas de governo indicam sobre a política externa de Bolsonaro?
Pouco mais de 24 horas depois de assumir a presidência da república, Jair Bolsonaro já deu indicações de como será a política externa de seu governo.
Em seu discurso de posse na terça-feira (1º), o capitão reformado repetiu a promessa de livrar as relações internacionais do Brasil de “vieses ideológico”. Além disso, as primeiras horas de sua agenda nesta quarta (2) foram reservadas para reuniões com representantes de outros países.
Veja, abaixo, o que esperar da política externa de Bolsonaro a partir das primeiras horas do governo:
1. EUA contam com Brasil para conter crise na Venezuela
Em uma de suas primeiras atividades no Palácio do Planalto, Bolsonaro reuniu-se com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo. O encontro sela a prometida aproximação com a administração de Donald Trump –Bolsonaro já havia se reunido, em novembro, com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton. Na terça, Trump parabenizou Bolsonaro por seu discurso de posse, dizendo em tuíte que os “EUA estão com você”.
Antes de se sentar com Bolsonaro, Pompeo disse contar com o Brasil para combater “regimes autoritários no mundo”. No encontro, os dois conversaram sobre medidas de cooperação para resolver a crise na Venezuela –o Brasil já recebeu milhares de imigrantes venezuelanos, e Bolsonaro promete não poupar esforços para acabar com a ditadura de Nicolás Maduro.
2. Mudanças no Itamaraty sinalizam expurgo de diplomatas não alinhados
Em Medida Provisória assinada ainda na terça-feira, Bolsonaro autorizou que profissionais de fora da carreira diplomática assumam cargos de chefia no Itamaraty. A decisão dá ao novo titular da pasta, Ernesto Araújo, mais liberdade para nomear pessoas alinhadas ao governo –nesta quarta, o chanceler disse que a medida visa garantir a meritocracia na indicação de funcionários.
Durante o período de transição de governo, Araújo dispensou embaixadores que iriam assumir altos cargos em Brasília e sinalizou que daria postos de chefia a diplomatas menos experientes. Admirador de Donald Trump e figura pouco conhecida até sua nomeação para o ministério de Bolsonaro, Araújo promete dar fim ao que vê como dominação ideológica da esquerda no Iramaraty.
3. Israel será parceiro prioritário do Brasil
Antes mesmo de assumir o poder, Bolsonaro promoveu a primeira visita de um premiê israelense ao Brasil. Binyamin Netanyahu veio a Brasília para a cerimônia de posse e, dias antes, reuniu-se com Bolsonaro no Rio de Janeiro.
O alinhamento de Brasil a Israel é uma novidade nas relações exteriores –até aqui, o Brasil buscava uma posição de neutralidade no conflito entre israelenses e palestinos, mantendo relações diplomáticas com ambos os lados. O novo presidente quer romper os laços com a Autoridade Palestina e promete transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. O apoio de Bolsonaro fortalece Netanyahu em um momento de colapso de sua coalizão conservadora.
4. Populistas na Europa veem em Bolsonaro um aliado importante
Governos populistas de direita na Europa veem com entusiasmo a chegada de Bolsonaro ao poder no Brasil. Nesta quarta-feira, o presidente recebeu no Planalto o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, conhecido por restringir liberdades democráticas e isolar seu país na União Europeia.
Embora não tenha comparecido à cerimônia de posse, o ministro do Interior e homem-forte do governo italiano, Matteo Salvini, também expressa simpatia por Bolsonaro. O apoio de líderes europeus pode ajudar a blindar o Brasil de eventuais sanções da União Europeia por violações ambientais e de direitos humanos associadas ao governo Bolsonaro.