Veja o que esperar da política internacional em 2019 – parte 2

Atenção: este post é uma continuação do texto que foi ao ar na quarta-feira (26), o qual pode ser acessado aqui.

andeiras de Israel e Brasil erguidas perto da embaixada brasileira em Israel
Promessa de Bolsonaro de transferir embaixada para Jerusalém causa apreensão sobre a relação com países árabes (Crédito: – Jack Guez/AFP)

6. Israel: possível transferência da embaixada brasileira

Uma das promessas de Jair Bolsonaro para a política externa é a aproximação com Israel. Nesse sentido, o presidente eleito pretende transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém. A cidade santa abriga os prédios da administração israelense, mas não é reconhecida como capital pela maioria da comunidade internacional pois é objeto de disputa territorial com os palestinos.

A iniciativa do capitão reformado segue os passos de Donald Trump, que ordenou a transferência da embaixada americana para Jerusalém em maio, provocando protestos de palestinos. Diferentemente dos Estados Unidos, o Brasil tem muito a perder caso efetive esta decisão simbólica –a eventual transferência da embaixada pode gerar retaliação por parte de países árabes, grandes importadores de proteína animal brasileira. De qualquer forma, os afagos de Bolsonaro são bem recebidos pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu, que enfrenta crescente isolamento interno e arrisca perder o posto nas eleições gerais, antecipadas para abril.

7. Síria: o epílogo da guerra civil

Com os últimos grupos rebeldes encurralados na província de Idlib, o ditador Bashar al-Assad já é considerado vitorioso na guerra civil que assola a Síria desde 2011. O conflito deixou mais de 500 mil mortos e é epicentro de disputas geopolíticas entre potências regionais.

No entanto, a guerra pode prosseguir em novas frentes. Na semana passada, o presidente Donald Trump surpreendeu seus aliados ao ordenar a retirada das tropas americanas em solo sírio –os Estados Unidos vinham dando suporte às forças curdas, que lideram a campanha contra a organização terrorista Estado Islâmico no norte do país. Sem o apoio americano, os curdos ficam mais vulneráveis a ataques da Turquia, que enfrenta uma insurgência da mesma minoria étnica em seu próprio território. Os curdos dizem cultivar um modo de vida democrático e igualitário nas regiões que ocupam na Síria.

Marine Le Pen, líder da legenda ultranacionalista União Nacional, da França (Crédito: Benoit Tessier/Reuters)

8. União Europeia: eleições podem dar fôlego à extrema direita

A Europa enfrentará um novo teste da força dos movimentos de extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu, marcadas para maio. Ancorados em discurso xenófobo, partidos populistas obtiveram votações expressivas em pleitos recentes em importantes países do bloco, como França, Alemanha e Itália.

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, em 2014, partidos de extrema direita conquistaram um recorde de 52 assentos, mas ainda representam uma minoria entre os 751 eurodeputados. Um novo avanço de agremiações ultranacionalistas pode colocar em xeque o já combalido projeto de integração regional da União Europeia, baseado em valores liberais.

9. Argentina: pressionado, Macri busca reeleição

O presidente Mauricio Macri inicia o último ano de seu mandato sob pressão, após mergulhar a Argentina em recessão e pedir socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacional). O programa de austeridade econômica aplicado por Macri é altamente impopular, o que pode dificultar sua empreitada pela reeleição nas eleições de outubro.

Uma das possíveis candidatas no pleito é a ex-presidente Cristina Kirchner (2007 – 2015), que atualmente ocupa uma cadeira no Senado. No entanto, a líder peronista enfrenta inquéritos por corrupção e corre o risco de ser presa. Um eventual duelo entre Macri e Kirchner dará aos dois últimos ocupantes da Casa Rosada uma oportunidade de defender seus legados perante o eleitorado.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, sorri durante sessão do Congresso na Cidade do Cabo (Crédito: Mike Hutchings - 15.fev.2018/AP)
O presidente Cyril Ramaphosa (Crédito: Mike Hutchings – 15.fev.2018/AP)

10. África do Sul: desafio nas urnas ao partido de Mandela

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, buscará um novo mandato nas eleições gerais, previstas para maio. Ramaphosa chegou ao poder em fevereiro, após seu antecessor Jacob Zuma renunciar em meio a escândalos de corrupção.

O pleito será um teste para o Congresso Nacional Africano (CNA), partido do ex-presidente Nelson Mandela. A agremiação domina a política do país desde 1994, quando teve fim o regime de segregação racial conhecido como Apartheid. No entanto, a legenda enfrenta crescente impopularidade devido a sucessivos casos de corrupção e a sua incapacidade em solucionar os problemas crônicos de desigualdade socioeconômica do país. Os principais rivais de Ramaphosa nas eleições deverão ser Mmusi Maimane, da liberal Aliança Democrática, e Julius Malema, dos esquerdistas Lutadores pela Liberdade Econômica.