Veja o que esperar da política internacional em 2019 – parte 1
Tal qual reza o clichê futebolístico, a política mundial é uma caixinha de surpresas. As estratégias de cada jogador são redefinidas a todo momento, e às vezes as próprias regras do jogo parecem deixar de fazer sentido.
Dessa forma, fazer previsões sobre as relações internacionais é uma atividade ingrata, e até os melhores analistas têm chances de acerto parecidas às de um macaco jogando cara ou coroa.
Ainda assim, ficam aqui os chutes deste blog Mundialíssimo sobre o que esperar do mundo em 2019 –o post será dividido em duas partes. Que todos e todas tenham um ótimo ano novo.
1. EUA: governo Trump em crise
Enquanto os dois primeiros anos do governo de Donald Trump foram marcados por uma sucessão de crises –da separação de famílias de imigrantes na fronteira com o México à ascensão de grupos radicais de direita–, 2019 promete novos escândalos.
Após perder o controle da Câmara nas eleições legislativas de novembro, o republicano deverá contar com forte oposição dos democratas no Congresso. Além disso, o baixo desempenho do mercado financeiro americano nas últimas semanas deste ano sinaliza dificuldades na economia. Por fim, o promotor especial Robert Mueller está perto de concluir sua investigação sobre a interferência russa nas eleições de 2016, e o resultado do inquérito poderá ter efeitos devastadores sobre o governo Trump.
2. Reino Unido: capítulos finais do ‘brexit’
Com a saída britânica da União Europeia (UE) marcada para 29 março, a primeira-ministra Theresa May corre contra o tempo para aprovar no Parlamento os termos do “brexit” negociados com Bruxelas. Até agora, May fracassou em obter apoio em torno de seu plano de divórcio entre o Reino Unido e o bloco regional.
Uma votação sobre o tema está prevista para as primeiras semanas de janeiro, e um eventual impasse entre parlamentares arrisca levar ao colapso do governo. A oposição, liderada pelo esquerdista Jeremy Corbyn, aposta na derrota de May para convocar eleições antecipadas. Enquanto isso, o futuro do “brexit” segue incerto, e os britânicos já discutem convocar um novo plebiscito para revogar a saída da UE.
3. Venezuela: o regime chavista isolado
Após sobreviver a uma tentativa de assassinato em agosto, o ditador Nicolás Maduro luta para se manter no poder diante do colapso da economia. A inflação passou de um milhão por cento neste ano, levando 3 milhões de venezuelanos (cerca de 10% da população do país) a fugirem do país.
O líder chavista será reconduzido em janeiro para um novo mandato de seis anos, conquistado em maio em eleições fraudulentas. Com o avanço da direita na Colômbia e no Brasil, principais vizinhos da Venezuela, o regime chavista enfrenta crescente isolamento internacional. Alguns líderes da região já cogitam uma intervenção militar para depor Maduro, enquanto Rússia e China redobram seu apoio a Caracas em busca de influência na América do Sul.
4. Iêmen: intervenção saudita posta em xeque
A guerra liderada pela Arábia Saudita contra os rebeldes houthis no Iêmen é responsável por uma das maiores crises humanitárias da atualidade. A ONU (Organização das Nações Unidas) calcula que até 20 milhões de civis dependem de ajuda externa, em um país com pouco mais de 28 milhões de habitantes.
Iniciada em 2015, a intervenção de Riad no conflito iemenita contava com apoio tácito das potências ocidentais, até o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi na embaixada de seu país em Istambul em outubro. O episódio gerou indignação global contra as atrocidades cometidas por Mohammed bin Salman, o poderoso príncipe herdeiro saudita, elevando a pressão por um cessar-fogo no Iêmen. Há duas semanas, o Senado dos Estados Unidos votou pelo fim do apoio militar americano às ações da Arábia Saudita no Iêmen, contrariando a política do governo Trump de apoio irrestrito à monarquia saudita.
5. Coreia do Norte: paz ou guerra?
Após meses de ameaça de guerra nuclear, o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, surpreendeu o mundo ao reunir-se em junho com Donald Trump. O encontro inédito levou a uma trégua nas hostilidades de Pyongyang, embora as perspectivas de um acordo de paz duradouro permaneçam incertas.
A Coreia do Norte ainda tem capacidade de produzir bombas atômicas, e se recusa a desmontar seu programa nuclear enquanto os Estados Unidos mantiverem tropas ao sul da fronteira. Ademais, as sanções internacionais seguem limitando o potencial de desenvolvimento econômico do país. Dessa forma, o regime de Kim pode a qualquer momento retomar seus testes nucleares e balísticos em busca de concessões.
Atenção: este texto continua em outro post, que pode ser acessado aqui.