Captura de navios ucranianos pela Rússia eleva tensão na Europa; entenda

A captura de três navios militares ucranianos pela Rússia durante o fim de semana elevou a tensão entre Moscou e potências ocidentais, gerando a convocação de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).

No domingo (25), guardas de fronteira da Rússia abriram fogo contra dois navios de guerra pequenos e um rebocador ucranianos e os capturaram quando tentavam cruzar o estreito de Kerch. Seus 23 tripulantes, incluindo ao menos três militares feridos no incidente, foram detidos.

A Otan, aliança militar ocidental, acusou a Rússia de violar a soberania ucraniana e exigiu que as autoridades do país liberem as embarcações. Até agora, as autoridades russas não deram sinais de que irão ceder.

Entenda o que aconteceu:

  1. Rússia acusa Ucrânia de ‘provocação’

As Forças Armadas da Rússia acusaram a Ucrânia de realizar “provocação”, desrespeitando as regras de convivência e “executando manobras perigosas”. As embarcações haviam partido de Odessa, no Mar Negro, e viajavam para Mariupol, no mar de Azov –a passagem pelo estreito de Kerch é a única forma de transitar pelo mar entre as duas cidades ucranianas.

Um acordo entre a Rússia e a Ucrânia garante a liberdade de circulação de embarcações dos dois países pelo estreito de Kerch, desde que haja aviso prévio. O governo da Ucrânia disse ter comunicado os russos sobre a passagem dos navios, mas Moscou afirma não ter recebido nenhum alerta.

  1. Em resposta, Ucrânia declara lei marcial

Nesta segunda-feira (26), o Parlamento da Ucrânia aprovou uma moção declarando lei marcial por 30 dias a partir de quarta (28) nas províncias que fazem fronteira com a Rússia.

A lei permite que autoridades restrinjam manifestações e controlem os veículos de comunicação nesses territórios. Parlamentares da oposição temem que o presidente Petro Poroshenko use o incidente para suspender as eleições presidenciais marcadas para 31 de março.

  1. Incidente ocorreu próximo à Crimeia, um território disputado

O incidente aconteceu em águas territoriais da Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia em 2014. A anexação não foi reconhecida pela comunidade internacional, que aplicou sanções contra Moscou.

À época, a Rússia decidiu invadir a Crimeia e estimular milícias separatistas no leste ucraniano após uma crise política levar à deposição o então presidente Viktor Yanukovych, um aliado de Moscou, e à instalação de um governo simpático à União Europeia e a Otan. O conflito entre militares ucranianos e os separatistas pró-russos deixou mais de 10 mil mortos.

  1. Exercícios militares recentes alimentaram clima de tensão

Embora o conflito no leste da Ucrânia tenha entrado em um impasse nos últimos anos, exercícios militares recentes reacenderam o clima de tensão entre a Rússia e o Ocidente.

Em setembro, as Forças Armadas da Rússia realizaram, em parceria com a China, seu maior jogo de guerra desde o desmantelamento da União Soviética, em 1991. Por outro lado, os Exércitos dos 29 países que integram a Otan executaram em outubro um grande treinamento na Noruega, próximo à fronteira com a Rússia.

Com o aumento da tensão entre Moscou e o Ocidente, o desafio para as grandes potências é evitar que, em meio a intensas demonstrações de força militar dos dois lados, incidentes pontuais como o deste fim de semana eventualmente escalem para um confronto aberto.