Guerra no Iêmen piora apesar de pressão internacional por trégua; entenda
Os pedidos da ONU (Organização das Nações Unidas) por um cessar-fogo no Iêmen foram frustrados nesta semana, e as forças lideradas pela Arábia Saudita intensificaram a ofensiva contra os rebeldes houthis em Hodeida, cidade portuária às margens do Mar Vermelho.
A guerra civil é responsável por uma grave crise humanitária no Iêmen, o mais pobre dos países árabes. Estimativas oficiais contam ao menos 10 mil mortos até agora, embora alguns estudos apontem um número de vítimas até cinco vezes maior.
Entenda o que está acontecendo no país:
- Guerra resulta de atritos entre Arábia Saudita e Irã
Terreno fértil para conflitos devido à sua divisão entre inúmeras tribos, o Iêmen se tornou um palco importante da disputa entre Arábia Saudita e Irã pela hegemonia no Oriente Médio. O país mergulhou em instabilidade após a deposição do ditador Ali Abdullah Saleh em 2012, na esteira dos levantes populares da Primavera Árabe.
A Arábia Saudita, com o apoio de outros países da região e de potências ocidentais, decidiu intervir no país em março de 2015, após os houthis tomarem a capital, Sanaa, e forçarem o presidente Abdo Rabo Mansur Hadi a fugir do país. Os rebeldes houthis são zaiditas, seguidores de um ramo do Islã xiita, e são vistos como aliados do Irã, embora não seja claro o nível de apoio que a república islâmica oferece ao grupo.
A disputa entre Arábia Saudita e Irã pelo domínio econômico e político do Oriente Médio põe lenha na fogueira do sectarismo –enquanto Riad busca liderar comunidades sunitas da região, o Irã oferece suporte a grupos xiitas. A rixa entre as duas potências se faz notar, para além do Iêmen, na guerra da Síria e na fragmentada política do Líbano.
- Intervenção saudita sufoca população
Além de liderar uma sangrenta campanha militar contra os houthis, a estratégia da Arábia Saudita para o Iêmen inclui um bloqueio econômico que sufoca a população local, altamente dependente de importações.
O flagelo da guerra civil se faz sentir não apenas nos tiroteios e bombardeios, mas também em uma crise de cólera e na fome –até 85 mil crianças com menos de cinco anos morreram por desnutrição desde o início do conflito, segundo relatório divulgado na quarta (21) pela ONG Save The Children.
Ademais, em diversos episódios a coalizão liderada pela Arábia Saudita atingiu alvos de organizações humanitárias, matando civis e deteriorando a já precária rede de assistência no país. Segundo a ONU, mais de 2 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas por causa da guerra, e 20 milhões dependem de ajuda humanitária; o Iêmen tem pouco mais de 28 milhões de habitantes.
- Assassinato de jornalista na Turquia aumenta pressão por paz
O conflito no Iêmen vinha sendo em grande parte ignorado pelas grandes potências, até o jornalista saudita Jamal Khashoggi ser assassinado no consulado de seu país em Istambul no mês passado. O governo turco e a inteligência americana acusam o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, de ter ordenado o crime, o que é negado por Riad.
O incidente jogou luz sobre as atrocidades cometidas pelo reino saudita, levando líderes mundiais e parte da imprensa internacional a intensificar a pressão pelo fim das hostilidades no Iêmen. Alguns países, incluindo Alemanha, Dinamarca e Noruega, chegaram a suspender a venda de armas para Riad.
Por outro lado, o presidente americano, Donald Trump, se negou a retaliar a Arábia Saudita pelo assassinato de Khashoggi e por seu papel na crise do Iêmen, a despeito da crescente pressão da imprensa e de setores do Congresso. “Eles [sauditas] têm sido um grande aliado em nossa importante luta contra o Irã”, disse o republicano na terça (20) ao justificar sua inação.
Enquanto isso, a guerra no Iêmen não dá sinais de trégua e corre o risco de cair novamente no esquecimento.