O que está em jogo nas midterms, eleições desta terça nos EUA?
Eleitores americanos irão às urnas nesta terça-feira (6) para escolher os novos integrantes da Câmara e do Senado. A votação representa o primeiro desafio eleitoral do governo de Donald Trump, vencedor da corrida presidencial há dois anos.
As midterms, eleições realizadas na metade do mandato presidencial, servem de termômetro da popularidade do governo e determinam a correlação de forças no Congresso nos anos seguintes. Neste ano, os democratas têm a oportunidade de retomar o controle das duas casas legislativas; caso obtenham sucesso, podem minar a agenda congressual de Trump.
Em seu favor, o presidente conta com índices positivos na economia e aposta na reação do eleitorado conservador a uma caravana com milhares de migrantes da América Central que avança em direção à fronteira com os Estados Unidos. Por outro lado, o republicano pode ser afetado por ataques recentes de extremistas de direita contra negros, judeus e personalidades do Partido Democrata. Na campanha, Trump e seu antecessor, o democrata Barack Obama, têm trocado farpas em comícios de correligionários, em uma disputa de narrativas sobre seus próprios legados.
Entenda o que está em jogo na votação:
1. Republicanos podem perder a maioria no Congresso
Nestas eleições, serão disputados 35 dos 100 assentos no Senado, além de todas as 435 cadeiras na Câmara. Atualmente, o Partido Republicano possui maioria nas duas casas: tem 51 senadores e 240 deputados.
Apesar da maioria estreita, o partido de Trump tem mais chances de manter o controle do Senado, pois a maioria das cadeiras em disputa é ocupada pela oposição. Para reverter a situação, os democratas precisariam defender 26 assentos atualmente controlados pela oposição, além de conquistar algumas das 9 cadeiras que pertencem ao governo. A tarefa é hercúlea porque todos Estados têm a mesma representação no Senado, e os republicanos têm amplo favoritismo em alguns Estados com população pequena e rural –ainda assim, há disputas acirradas em Estados tradicionalmente republicanos, como o Texas. O site FiveThirtyEight, que produz modelos estatísticos com base em pesquisas de intenção de voto, estima que os republicanos têm 85% de chance de manter o controle do Senado.
Por outro lado, os democratas têm mais chances de vencer na disputa pela Câmara –eles precisam conquistar 23 novos assentos para obter a maioria. Aqui, a votação é distrital, com representação relativamente proporcional ao tamanho da população, de modo que os democratas podem surfar na onda de descontentamento com Trump –pesquisas de opinião indicam que a maioria da população está insatisfeita com o governo. Por isso, o FiveThirtyEight projeta que os democratas têm 85% de chance de ganhar a maioria da Câmara.
2. Resultado definirá o futuro do governo Trump
Caso as projeções se confirmem e os republicanos percam a maioria da Câmara, Trump terá problemas para fazer avançar sua agenda legislativa. Até aqui, o presidente obteve sucesso em votações no Congresso que desmontaram regulações ambientais e baixaram os impostos para os mais ricos. Porém, mesmo com maioria nas duas casas, o republicano não conseguiu apoio para entregar importantes promessas de campanha, como a construção de um muro ao longo da fronteira com o México e a extinção do Obamacare, sistema de subsídio de planos de saúde.
A provável manutenção da maioria republicana no Senado dará força para que Trump aprove membros de seu gabinete e indicados para a Suprema Corte, além de ajudar a blindá-lo em um eventual processo de impeachment –a equipe de campanha do republicano é investigada por suspeitas de conspiração com autoridades russas na corrida eleitoral de 2016.
O enfraquecimento de Trump no Congresso deixaria o presidente com mão atadas para lidar com assuntos domésticos que dependem de apoio parlamentar. Isso não significa a inviabilização do governo: presidentes americanos que não têm apoio do Congresso costumam concentrar suas iniciativas na política externa, área na qual o ocupante do Executivo tem amplos poderes.
3. Mulheres alcançam protagonismo inédito
A onda de insatisfação com Trump deu impulso a um número recorde de mulheres disputando cargos legislativos: há 234 candidatas para a Câmara e 22 para o Senado, a maioria filiada ao partido democrata. Ainda assim, as mulheres representam apenas 11,5% do total de candidatos democratas e republicanos ao Congresso.
A participação de mulheres nas eleições reflete o avanço do movimento feminista #MeToo e é uma resposta aos escândalos do governo Trump. Conhecido por sua retórica misógina, o presidente é acusado de assediar mulheres e de pagar pelo silêncio de uma atriz pornô com quem manteve relações extraconjugais. Além disso, mulheres lideraram protestos recentes contra Brett Kavanaugh, jurista escolhido pelo presidente para ocupar uma vaga na Suprema Corte –ele é alvo de denúncias de assédio sexual e deverá ser voto decisivo para reverter a jurisprudência sobre o direito ao aborto no país.
4. Votação pode ter comparecimento acima da média
O voto é facultativo nos Estados Unidos, e os índices de comparecimento às urnas costumam ser baixos nas midterms. Porém, os altos índices de votação antecipada apontam que a participação neste ano poderá ser a maior em 50 anos.
O alto comparecimento às cabines de votação é a grande aposta do Partido Democrata, que trata estas eleições como uma espécie de referendo sobre a figura polarizadora de Trump. As prévias do partido deram resultados expressivos para os Democratas Socialistas, corrente apoiada pelo senador Bernie Sanders, com um programa progressista que mobiliza parte do eleitorado jovem.
5. Alguns Estados terão plebiscitos e eleições para governador
Além de eleger integrantes do Congresso, diversos Estados terão consultas sobre temas que vão da legalização da maconha ao aumento do salário mínimo. Outras propostas em votação dizem respeito ao direito ao voto de pessoas com antecedentes criminais, à legalização de cassinos e ao estímulo ao uso de energias renováveis. Ao todo, 155 propostas serão colocadas para consulta popular em 37 estados.
Ademais, 26 Estados terão eleições para governadores e outros cargos locais; atualmente, os republicanos controlam cerca de dois terços dos Estados do país. Muitos dos governadores eleitos nestas midterms poderão influenciar a próxima rodada de redefinição de distritos eleitorais, que ocorrerá em 2021 –é comum que governantes lancem mão do “gerrymandering”, método em que o desenho de distritos é manipulado para beneficiar um partido. Desse modo, as eleições desta terça poderão ter impactos duradouros em votações realizadas na próxima década.