Entenda a caravana de migrantes da América Central que desafia Trump

Uma caravana com mais de 7.200 migrantes de países da América Central está marchando em direção aos Estados Unidos, em um movimento que desafia a política migratória linha dura do presidente Donald Trump.

Na segunda-feira (22), o grupo cruzou a fronteira com o México, e precisa atravessar mais de 1.800 quilômetros até alcançar a fronteira americana. Em resposta, Trump afirmou que a caravana representa uma “emergência nacional” e ameaçou cortar a ajuda financeira que os Estados Unidos dão aos países de origem dos migrantes.

Entenda a caravana por meio de perguntas e respostas:

  1. Quem são os imigrantes em marcha?

O grupo, que contava com apenas 160 integrantes quando iniciou a jornada no dia 13 em Honduras, gradualmente ganhou adesão de milhares de moradores de El Salvador, Guatemala e Nicarágua que pretendem ingressar nos Estados Unidos. Muitos pegam carona em caminhões que viajam rumo ao norte e, segundo os organizadores do movimento, cerca de 60% dos migrantes devem permanecer no México em vez de completar a viagem.

“Queremos apenas trabalhar, e se aparecer um emprego no México, eu aceitaria. Nós faríamos de tudo, menos coisas ruins”, disse à agência de notícias Associated Press a guatemalteca Ana Luisa Espana, que integra o grupo.

Caravanas semelhantes foram registradas nos últimos anos, mas o grupo atual gerou surpresa devido ao volume de migrantes. Além disso, o movimento aumenta a pressão sobre Trump a poucas semanas das eleições legislativas de 6 de novembro, em que os republicanos correm o risco de perder a maioria no Congresso.

  1. Trump insinuou que há terroristas infiltrados. É verdade?

Trump disse que “criminosos e pessoas do Oriente Médio não identificadas estão misturados” no movimento. A declaração de Trump ocorreu pouco após um âncora do programa matinal Fox & Friends, do qual o presidente é espectador assíduo, alegar que há membros da organização terrorista Estado Islâmico infiltrados na caravana.

No entanto, repórteres da Associated Press que acompanham a caravana não identificaram pessoas do Oriente Médio em meio ao grupo.

“Não há um único terrorista aqui”, disse à Associated Press o hondurenho Denis Omar Contreras, um dos organizadores da caravana. “Nós somos pessoas de Honduras, El Salvador, Guatemala e Nicarágua. E até onde eu saiba não há terroristas nestes quatro governos, a não ser os corruptos do governo.”

  1. Trump disse que democratas financiam o grupo com fins políticos. É verdade?

O presidente também acusou os democratas de financiar a caravana para tentar “prejudicar os republicanos nas eleições legislativas”. No Twitter, ele compartilhou um vídeo que mostra os migrantes recebendo dinheiro, mas não apresentou evidências de que os democratas estejam por trás do movimento.

De fato, não há indícios de que a caravana seja apoiada por grupos americanos com fins políticos. O pouco dinheiro que os migrantes recebem no trajeto é uma ajuda de custo para que comprem água e comida.

Além disso, embora os democratas tenham um discurso menos rígido que o de Trump sobre imigração, o partido não é favorável à abertura das fronteiras. Durante seu governo, Barack Obama (2009-2017) reforçou o policiamento da fronteira e deteve dezenas de milhares de pessoas que tentaram entrar ilegalmente no país.

  1. Como a caravana desafia Trump?

A caravana de migrantes centro-americanos traz à tona, às vésperas das eleições legislativas, o debate sobre imigração, no qual o governo Trump tem colecionado polêmicas.

Poucos dias após tomar posse, em janeiro de 2017, o republicano assinou um decreto barrando viajantes de uma série de países de maioria muçulmana. A medida gerou protestos e foi alvo de uma longa disputa nos tribunais até que a Suprema Corte declarou sua legalidade, em junho.

Além disso, Trump foi alvo de críticas pela política de separar famílias detidas ao cruzar a fronteira, pondo milhares de crianças em campos de detenção. O presidente teve de recuar na iniciativa, mas muitas crianças permanecem separadas de seus pais.

Por fim, até agora Trump não conseguiu entregar a construção de um muro ao longo de toda a fronteira com o México, uma de suas principais promessas de campanha. Uma eventual derrota dos republicanos nas eleições legislativas deve dificultar ainda mais as negociações sobre o projeto no Congresso.