Líderes mundiais discursam na Assembleia Geral da ONU; veja destaques

Começou nesta terça-feira (25) o período de debates da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), em Nova York. O fórum reúne representantes dos 193 Estados membros do órgão internacional e irá durar até 5 de outubro.

Veja, abaixo, destaques do evento até agora:

Trump ataca instituições multilaterais e provoca risos da plateia

Em discurso de forte teor nacionalista, o presidente americano, Donald Trump, criticou instituições multilaterais. “A paixão que arde nos corações de patriotas e nas almas das nações inspirou reformas e revoluções (…) Devemos proteger nossa soberania e nossa querida independência acima de tudo”, afirmou Trump.

O líder americano defendeu a decisão de seu país de se retirar de acordos internacionais e atacou instituições multilaterais, como o Conselho de Direitos Humanos e o Tribunal Penal Internacional (TPI). “O TPI alega ter jurisdição quase universal sobre cidadãos de todos os países, violando todos os princípios de justiça, razoabilidade e devido processo legal. Jamais entregaremos a soberania americana para um [órgão] burocrático global que não é eleito e que não pode ser responsabilizado”, disse Trump. O TPI, que investiga pessoas responsáveis por crimes contra a humanidade, abriu uma investigação preliminar sobre crimes de guerra cometidos por militares dos EUA na guerra do Afeganistão –os EUA não integram o tribunal.

Além disso, Trump acusou a China de práticas comerciais injustas e, referindo-se à Venezuela, afirmou que o “socialismo promove miséria” e deve ser combatido. O líder americano também centrou fogo contra o Irã, dizendo que o regime do país “não respeita seus vizinhos, fronteiras nem os direitos democráticos das nações”. Antes de entrar no plenário da Assembleia Geral, Trump rejeitou um encontro bilateral com o líder iraniano, Hassan Rouhani, mas disse ter “certeza de que ele é um homem absolutamente adorável”.

Nota-se que Trump não citou em nenhum momento a Rússia, acusada de interferir nas eleições americanas de 2016 bem como de violar a soberania de países vizinhos, como a Ucrânia e a Geórgia.

Trump também provocou risos da plateia, formada por líderes mundiais e diplomatas, ao afirmar que seu governo “teve mais conquistas que quase qualquer outra administração na história do país”. Diante das risadas, Trump disse: “Eu não esperava por essa reação, mas tudo bem”.

Leia a íntegra do discurso de Trump aqui (em inglês).

Michel Temer discursa na Assembleia Geral da ONU (Crédito: Carlo Allegri/Reuters)

Temer se despede da ONU com críticas ao ‘unilateralismo’

O presidente Michel Temer falou perante a Assembleia Geral pela última vez –ele deixará o cargo no fim do ano. Em seu discurso, o mandatário disse que “recaídas unilaterais” ameaçam a integridade da ordem mundial e alertou para o ressurgimento de “velhas formas de intolerância”.

Temer também aproveitou o discurso para ressaltar feitos de seu governo, e afirmou que o país que ele entrega ao próximo presidente “é melhor do que aquele que recebi”. A respeito das eleições presidenciais de outubro, o mandatário ressaltou a importância da alternância de poder e disse que o Brasil é uma “democracia vibrante, lastreada em instituições sólidas” –assim, Temer parece rejeitar a visão de analistas externos segundo a qual candidatos extremistas ameaçam a democracia do país.

Temer foi o primeiro chefe de Estado a discursar, respeitando uma tradição de décadas na qual o Brasil abre a Assembleia Geral. O costume data pelo menos de 1955; desde então, as únicas vezes em que um representante brasileiro não inaugurou os debates foram em 1983 e 1984, quando o americano Ronald Reagan falou primeiro.

Leia a íntegra do discurso de Temer aqui.

Macron alerta para ‘crise das fundações’ da ordem mundial

Em seu discurso, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que as bases da ordem mundial estão em crise. “Penso que estamos diante de uma crise das próprias fundações do mundo de hoje. Estamos perdendo nossas referências e nossos modos de funcionamento”, disse Macron.

O líder francês alertou que “divisões no Conselho de Segurança” da ONU tem impedido a resolução de crises mundiais. “Esta ordem mundial falhou em se regular, e problemas econômicos, financeiros, ambientais e climáticos seguem pendentes.”

Macron disse que o multilateralismo é a única solução para crises globais. “Precisamos estar preparados para ir além das nossas posições históricas, para pensar fora da caixa, com o objetivo real de promover mudanças positivas.”

Em indireta a Donald Trump, Macron críticou o uso de discursos nacionalistas para atacar outros países. “Mesmo quem a critica, todos nos beneficiamos da forma como a ordem mundial é estruturada em torno da globalização”, afirmou.

Líder do Irã diz que sanções contra seu país equivalem a ‘terrorismo econômico’

O presidente do Irã, Hassan Rouhani, fez coro às críticas ao unilateralismo propagado peloa Estados Unidos. Ele criticou a saída de Washington do acordo assinado em 2015 por portências mundiais para por limites ao programa nuclear da república islâmica.

Os EUA recentemente reimpuseram sanções ao Irã, na contramão do acordo nuclear assinado pelo então presidente americano Barack Obama. “Sanções unilaterais, ilegais, constituem em si mesmas uma forma de terrorismo econômico”, disse Rouhani.

Sem citar Donald Trump diretamente, Rouhani atacou o teor isolacionista do discurso proferido pelo líder americano na mesma tribuna algumas horas antes. “Confrontar o multilateralismo não é sinal de força, e sim um sintoma de fraqueza de intelecto”, afirmou o presidente iraniano.

Ademais, Rouhani negou que seu país queira ir à guerra com qualquer outra nação. “O Irã não precisa ser um império. O Irã é um império em termos de sua civilização e cultura, não de dominação política.”

Atualmente, o Irã mantém tropas na Síria para ajudar o regime do ditador Bashar al-Assad a derrotar grupos rebeldes. Além disso, o país é acusado de dar apoio aos rebeldes houthis no Iêmen.

Secretário-geral da ONU alerta para ‘déficit de confiança’

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou em seu discurso que o mundo está sofrendo de um caso grave de “desordem de déficit de confiança”. Guterres também defendeu o multilateralismo, que, segundo ele, “está sob fogo precisamente quando precisamos mais dele”.

“Líderes têm o dever de promover o bem-estar de seus povos”, afirmou Guterres. “Mas, como guardiães do bem comum, também temos o dever de promover e apoiar um sistema multilateral reformado, revigorado e fortalecido.”

Primeira latino-americana a presidir Assembleia Geral defende ‘igualdade de gênero’

Em seu discurso, a presidente da Assembleia Geral da ONU, María Fernanda Espinosa, afirmou que a primeira prioridade do organismo é a promoção da “igualdade de gênero”. Equatoriana, ela é a primeira mulher latino-americana a ocupar o cargo.

Dentre outras prioridades citadas por ela, estão a articulação de um pacto sobre migrantes e refugiados, bem como o combate às mudanças climáticas. “Vivemos em um mundo interconectado, o que nos deixa sem alternativas senão a busca de um diálogo global”, afirmou Espinosa.

Atenção: este post será atualizado conforme novos líderes subam ao púlpito ao longo do dia.