Violência em protestos xenófobos evoca passado nazista na Alemanha

Alemães fazendo saudação nazista em público. Grupos de extrema direita perseguindo imigrantes nas ruas. Milhares de manifestantes pedindo a expulsão de estrangeiros.

Cenas como essas, que ecoam o período do nazismo, foram registradas na Alemanha no início desta semana. A violência em Chemnitz, cidade localizada no Estado da Saxônia, no leste do país, fez os alemães voltarem a discutir a ascensão de movimentos de extrema direita.

A tensão em Chemnitz teve início no domingo (26), após um alemão de 35 anos ser morto a facadas. Os principais suspeitos do crime são um iraquiano e um sírio, que foram detidos pela polícia.

A notícia do assassinato levou grupos de extrema direita a convocarem um protesto anti-imigrantes no mesmo dia. A manifestação, que atraiu algumas centenas de participantes, se repetiu na segunda-feira (27), reunindo cerca de 6.000 pessoas e provocando confrontos entre neonazistas e militantes de esquerda que participavam de uma manifestação contrária.

O incidente gerou reações das principais autoridades alemãs, além de reacender o debate sobre imigração e xenofobia no país. Entenda, abaixo, o que a violência em Chemnitz representa para a Alemanha:

Multidão participa de protesto da extrema direita em Chemnitz; em um dos cartazes se lê "refugiados não são bem-vindos".Cerca de 6.000 pessoas foram ao protesto da extrema direita na segunda (27) (Crédito: Jens Meyer/Associated Press)

A violência nos protestos deixou feridos

Dezenas de pessoas ficaram feridas, algumas gravemente, em confrontos entre militantes da extrema direita e participantes de uma manifestação contrária. Além disso, segundo o jornal britânico “The Guardian”, a perseguição contra imigrantes ocorrida durante os tumultos deixou um sírio, um búlgaro e um afegão feridos.

A violência nas ruas refletiu o tom das manifestações da extrema direita, em que militantes gritaram palavras de ordem nacionalistas e xenófobas, como “Chemnitz é nossa, fora estrangeiros” e “para cada alemão morto, um estrangeiro morto”. Ao menos dez pessoas estão sendo investigadas por fazerem a saudação nazista, que é proibida na Alemanha.

Há suspeitas de que a polícia colaborou com grupos de extrema direita

As forças de segurança foram duramente criticadas por permitir que a situação em Chemnitz fugisse do controle. Ademais, o vazamento de um relatório sobre o esfaqueamento de domingo para militantes xenófobos levantou suspeitas de que tenha havido colaboração entre agentes da polícia e grupos da extrema direita.

O primeiro-ministro da Saxônia, Michael Kretschmer, acusou a extrema direita de tirar proveito do assassinato de domingo e pediu que os habitantes de Chemnitz “se posicionem juntos dos nossos concidadãos estrangeiros”. A chanceler alemã, Angela Merkel, repudiou a violência xenófoba e declarou que “o que vimos é algo que não tem lugar em uma democracia constitucional”.

Fake news impulsionaram atos xenófobos

As manifestações da extrema direita foram impulsionadas por notícias falsas, incluindo as alegações de que a vítima do esfaqueamento de domingo teria sido atacada ao tentar proteger uma mulher, e de que um outro homem havia sido morto por estrangeiros. A polícia desmentiu essas histórias.

Os principais responsáveis pela disseminação das fake news são organizações de extrema direita, incluindo o grupo que convocou as manifestações em Chemnitz.

A ultradireita não está só nas ruas, mas também no Parlamento

Manifestações da extrema direita não são novidade na Alemanha. Em 2015, protestos convocados pelo grupo xenófobo Pegida reuniram dezenas de milhares de pessoas contra a entrada de refugiados no país. A novidade, agora, é que a extrema direita também está no Parlamento, após o partido AfD (alternativa para a Alemanha, na sigla em alemão) conquistar a terceira maior bancada no Bundestag nas eleições do ano passado.

A representação da extrema direita no Parlamento, fato inédito na Alemanha desde a queda do nazismo, oferece um canal institucional para ideias xenófobas. De fato, alguns líderes da AfD declararam apoio aos manifestantes de Chemnitz. Um dos parlamentares da sigla, Markus Frohnmaier, disse que “se o Estado não protege mais seus cidadãos, então as pessoas devem tomar as ruas e proteger a si mesmas. É simples assim!”.

A xenofobia na Alemanha tem resultados alarmantes

A violência xenófoba na Alemanha não está limitada aos incidentes em Chemnitz. Em 2017, houve mais de mil ataques contra abrigos para refugiados no país. Grande parte dos incidentes foi registrada em Estados do leste da Alemanha, membros do bloco comunista durante a Guerra Fria, mas também houve episódios xenófobos em outras partes do país.

O aumento dos ataques xenófobos na Alemanha é uma reação à chegada de imigrantes e refugiados, que alcançou seu pico em 2015 com a política de portas abertas do governo Merkel –mais de 1 milhão de estrangeiros entraram no país naquele ano. Desde então, o governo tem restringido a imigração, em parte devido à pressão da extrema direita.