Quem são os rohingyas, vítimas de genocídio em Mianmar?

A ONU (Organização das Nações Unidas) afirmou, em relatório divulgado nesta segunda-feira (27), que as Forças Armadas de Mianmar cometeram genocídio contra a minoria étnica rohingya em uma campanha militar no último ano.

Os militares birmaneses são acusados de realizarem assassinatos indiscriminados, estuprarem mulheres, atacarem crianças e destruírem dezenas de vilarejos. Estima-se que mais de 10 mil rohingyas tenham sido mortos e cerca de 725 mil tenham fugido do país no período.

Entenda, abaixo, quem são os rohingya:

Os rohingyas não tem cidadania

Muçulmanos em um país de maioria budista, os rohingyas não têm acesso a direitos básicos, dentre eles saúde, educação e mobilidade.

A lei de cidadania de Mianmar, de 1982, reconhece 135 minorias étnicas, mas exclui os rohingyas. Autoridades birmanesas os consideram imigrantes clandestinos de origem bengali, e evitam usar o termo rohingya para denomina-los.

Por isso, a comunidade internacional considera os rohingyas “uma das minorias mais perseguidas do mundo”.

Mas eles vivem na região há gerações

Os rohingyas têm língua e cultura próprias, e contam ser descendentes de comerciantes árabes e outros grupos que habitam Mianmar há gerações –registros apontam que a presença dos rohingyas na região data do século 15.

No início de 2017, havia cerca de 1 milhão de rohingyas em Mianmar, país com 53 milhões de habitantes. Grande parte deles vive no estado de Rakhine, na fronteira com Bangladesh.

A violência contra os rohingyas não é inédita

A perseguição mais recente contra os rohingyas é fruto de uma campanha do Exército birmanês, iniciada em agosto de 2017, sob o pretexto de combater milícias insurgentes em Rakhine. Os militares também atacaram civis de maneira indiscriminada, em atos que podem equivaler a crimes de guerra, de acordo com a ONU.

Não é a primeira vez que as forças de segurança de Mianmar atacam os rohingyas. Uma ofensiva recente, em 2012, levou mais de 140 mil pessoas a deixarem suas casas. Outras campanhas violentas ocorreram entre as décadas de 1970 e 1990.

A tensão étnica reflete um nacionalismo budista crescente

Segundo a ONU, o Exército ataca os rohingyas para reafirmar seu poder no país. Os militares, que governaram o país entre 1962 e 2011, conservam grande influência política e são respaldados por um nacionalismo budista crescente. Partidos budistas em Rakhine, por exemplo, chegaram a pregar o extermínio dos rohingyas antes mesmo dos ataques mais recentes.

Líder do país desde 2016, Aung San Suu Kyi tem sido alvo de críticas por se omitir diante da violência do Exército contra os rohingyas. Ela, que é vencedora do Nobel da Paz, tem perdido títulos internacionais que recebeu por sua luta pela democracia em Mianmar –na semana passada, a cidade de Edimburgo retirou uma homenagem que havia concedido a ela em 2005.

 

Aung San Suu Kyi fala na Assembleia Geral da ONU em 2016 (Crédito: Carlo Allegri - 13.set.2016/Reuters)
Aung San Suu Kyi fala na Assembleia Geral da ONU em 2016 (Crédito: Carlo Allegri – 13.set.2016/Reuters)

Militares podem ser julgados em corte internacional

A ONU recomenda que os militares de Mianmar sejam julgados no Tribunal Penal Internacional sob as acusações de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Para tanto, é preciso que o Conselho de Segurança da entidade encaminhe o caso para a corte.

Uma eventual condenação dos militares ajudaria a reparar a situação dos rohingyas em Mianmar. Até agora, porém, a comunidade internacional não adotou medidas para proteger a minoria.