O que se sabe sobre o suposto atentado contra Nicolás Maduro?

Uma suposta tentativa de assassinato contra o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, no sábado (4), gerou incertezas e apreensão. Ileso, o mandatário responsabilizou opositores e governos estrangeiros pelo episódio –eles negam as acusações. Leia, abaixo, seis perguntas e respostas sobre o incidente.

1. O que aconteceu?

Maduro discursava em um evento comemorativo dos 81 anos da Guarda Nacional Bolivariana na tarde de sábado em Caracas, quando foram registradas explosões. Imagens transmitidas pela TV mostram o ditador interrompendo seu discurso e olhando para cima, apreensivo, enquanto centenas de soldados que assistiam ao pronunciamento saem correndo. Em seguida, seguranças cercaram o mandatário e o retiraram dali. Sete soldados ficaram feridos.

Autoridades venezuelanas dizem que dois drones armados com explosivos foram detonados próximo ao local do discurso com o intuito de assassinar Maduro, e que interruptores de sinal preveniram que o mandatário fosse atingido. Um dos drones teria se chocado contra um prédio nas redondezas.

Os explosivos utilizados, do tipo C4, teriam um raio de alcance de aproximadamente 50 metros. Além disso, os drones utilizados seriam do modelo DJI M-600, com capacidade para grandes cargas –o equipamento é vendido na internet a partir de US$ 4.999 (cerca de R$ 18.500). A DJI, fabricante do drones, afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que deplora o uso de seus produtos “para trazer danos a qualquer pessoa” e disse estar “preparada para ajudar os investigadores em relação a qualquer uso nocivo” de seus equipamentos.

A versão oficial contradiz o relato de três bombeiros, que conversaram com a agência de notícias Associated Press em condição de anonimato. Segundo eles, o incidente foi causado pela explosão de um tanque de gás em um apartamento próximo ao local do discurso, na avenida Bolívar.

Após o incidente, Maduro foi levado para o Palácio de Miraflores, e a segurança de Caracas foi reforçada. Até a publicação deste texto, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil ainda não havia se pronunciado sobre o episódio.

Foto de divulgação do drone do modelo DJI M-600. O equipamento é preto e tem seis hélices (Crédito: Divulgação)
Drone do modelo DJI M-600, que teria sido usado no ataque contra Maduro (Crédito: Divulgação)

2. Quem é responsável pelo ataque?

O regime venezuelano anunciou que ao menos seis suspeitos de organizar o ataque foram detidos, e que dois deles foram indiciados pelos crimes de terrorismo e tentativa de magnicídio.

Ainda não está claro quem está por trás das explosões, mas um grupo opositor autointitulado “Soldados de Franela” (soldados de camiseta, em português) reivindicou, por meio das redes sociais, responsabilidade pelo ataque.

“Demonstramos que são vulneráveis. Não conseguimos, mas é questão de tempo”, diz uma publicação. O grupo afirma ser formado por “militares e civis patriotas que buscam resgatar a democracia (…) com base em argumentos legais e constitucionais”. A autenticidade do grupo não pôde ser verificada.

3. O que diz o regime?

Em pronunciamento transmitido pela televisão horas após o incidente, Maduro responsabilizou setores de extrema direita da Venezuela, da Colômbia e dos EUA pelo ataque, acusando o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, de envolvimento no episódio –o governo de Bogotá negou as acusações, classificando-as de “absurdas”.

O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza, disse ainda que a tentativa de assassinato buscou “gerar a impressão de fratura nas Forças Armadas ou de tentativas de golpe de Estado”.

Apoiadores de Maduro convocaram um protesto nesta segunda-feira (6) para defender o mandatário.

4. O que diz a oposição?

Opositores questionam a versão oficial sobre as explosões, e alguns acusam Maduro de encenar o episódio para recrudescer o controle sobre o país em meio à deterioração econômica –estimativas do FMI (Fundo Monetário Internacional) apontam que a inflação no país deve alcançar 1.000.000% até o fim deste ano.

María Corina Machado, ex-deputada opositora, divulgou um comunicado nas redes sociais afirmando que “ninguém crê” nas declarações oficiais e que o incidente de sábado evidencia “as rachaduras nas bases do regime”. “Queremos Maduro vivo para que possa se submeter à lei e responder aos cidadãos (…) pelos crimes que cometeu contra os venezuelanos”, completa a nota.

5. Há precedentes na Venezuela?

Não é a primeira vez que o regime de Maduro é alvo de supostos atos de violência. No ano passado, Óscar Pérez, um policial desertor, sobrevoou Caracas com um helicóptero e jogou granadas contra prédios públicos. Meses depois, ele foi morto em uma operação policial. Pérez era aliado dos Soldados de Franelas.

Além disso, a Venezuela tem um histórico de violência política. Enquanto o regime de Maduro encarcera rivais e reprime manifestações, a oposição apoiou uma tentativa fracassada de golpe de Estado em 2002 contra o então presidente Hugo Chávez.

No entanto, não há sinais de que o suposto atentado de sábado seja consequência de divisões nas Forças Armadas do país, nem de que os principais partidos de oposição estejam conspirando para tentar assassinar Maduro.

6. O que pode acontecer daqui para a frente?

A situação política na Venezuela vem deteriorando há anos, e as explosões em Caracas podem agravá-la ainda mais. O regime chavista vinha, nas últimas semanas, dando alguns sinais de flexibilização. De modo inédito, Maduro reconheceu, na semana passada, sua responsabilidade pelo caos econômico em que a Venezuela se encontra.

O regime frequentemente acusa a oposição de planejar ataques para derrubar Maduro, reeleito em maio em um pleito contestado por vários países. Agora, o mandatário pode utilizar a suposta tentativa de assassinato para consolidar-se ainda mais no poder, fechando o cerco sobre opositores.

 

Atenção: O texto foi atualizado às 13h28 para incluir declaração oficial da DJI, fabricante dos drones que, segundo o regime venezuelano, foram utilizados no atentato contra Maduro.