O que esperar da visita de Trump a Bruxelas nesta semana?
As cúpulas da Otan, a aliança militar ocidental, não costumam ser dos eventos mais entusiasmantes. Quando os líderes de 29 países como EUA, França, Alemanha e seus amigos se reúnem, procuram apenas reforçar a mensagem central dessa instituição, criada para defender o bloco contra ameaças externas — por muito tempo, a União Soviética.
A participação do presidente americano, Donald Trump, promete no entanto exaltar os ânimos em Bruxelas na reunião deste ano, nesta quarta-feira (11). Trump é um frequente crítico da integração europeia e da aliança militar e tem exigido, desde sua campanha, que a União Europeia incremente suas contribuições para o orçamento de defesa.
Um dia antes da cúpula, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, deu um sinal claro das expectativas de embates. Em um discurso, lançou o que o jornal americano Washington Post chamou de “granada verbal”, pedindo que Trump não confunda aliados com inimigos quando chegar ao bloco europeu. Tusk também publicou uma mensagem na rede social Twitter lembrando o presidente americano de que a União Europeia gasta mais com defesa do que seus rivais. “Espero que você não tenha dúvidas de que esse é um investimento em nossa segurança, o que não pode ser dito com tanta certeza sobre os gastos da Rússia e da China”, escreveu Tusk, com um sorrisinho:
Dear @realDonaldTrump. US doesn’t have and won’t have a better ally than EU. We spend on defense much more than Russia and as much as China. I hope you have no doubt this is an investment in our security, which cannot be said with confidence about Russian & Chinese spending 🙂
— Donald Tusk (@eucopresident) 10 de julho de 2018
Mas quais devem ser, afinal, as prioridades desta cúpula europeia?
1. EVITAR DISSABORES
O objetivo diplomático principal parece ser evitar mais uma crise, como aquela inaugurada recentemente quando Trump criticou de modo público o premiê canadense, Justin Trudeau — o americano lhe chamou de “desonesto” e de “fraco”. Há a sensação de que, com Trump em cena, esse tipo de situação constrangedora está sempre prestes a ser deflagrada. Caso a cúpula de Bruxelas possa chegar ao fim sem grandes surpresas por parte de Trump, já terá sido um bom resultado.
2. REFORÇAR ALIANÇAS
Os países europeus podem tentar reforçar seus laços com os EUA de Donald Trump, que têm se aproximado da Rússia. Trump se reúne na Finlândia nesta segunda-feira (16) com Vladimir Putin, que é hoje o principal antagonista da União Europeia. Tendo isso em vista, o bloco econômico quer lembrá-lo de que Bruxelas é a sua aliada tradicional — e não Moscou. “É sempre bom saber quem é seu amigo estratégico e quem é seu problema estratégico”, disse Tusk às vésperas da cúpula.
3. FALAR SOBRE O ORÇAMENTO
Os gastos europeus com a defesa são um tema amargo que os líderes do bloco prefeririam evitar. Mas essa é uma conversa que eles precisam ter com os EUA. As reclamações americanas não são novas, nem foram inventadas durante o mandato de Trump. Seu antecessor, Barack Obama, também pedia que os europeus contribuíssem mais aos cofres — há a sensação de que os EUA não podem arcar sozinhos com a Otan. O objetivo de Trump é conseguir que os países europeus cumpram até 2024 a meta de gastar 2% do PIB na defesa. A Alemanha, porém, hoje investe 1,3% de sua economia nessa área e só quer chegar a 1,5%. No tuíte reproduzido abaixo em inglês, Trump diz: “Os países da Otan precisam pagar MAIS, os EUA precisam pagar MENOS. Muito injusto!”
NATO countries must pay MORE, the United States must pay LESS. Very Unfair!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 10 de julho de 2018