Os amigos do jornalista russo Arkadi Babtchenko –e seus filhos– já organizavam uma vigília em sua homenagem depois de receberem na terça-feira (29) as notícias de sua morte em Kiev, capital da Ucrânia. Daí a surpresa quando esse dissidente reapareceu um dia depois, vivo. Ele disse ter forjado sua própria morte em parceria com o governo ucraniano para evitar seu assassinato por seus inimigos russos.

Apesar da celebração pela “ressurreição” do jornalista, que não havia avisado a família sobre o plano, a Ucrânia passou a ser criticada pelo “fake news”. A Rússia, frequentemente acusada de fomentar campanhas de desinformação, disse que o país rival havia instrumentalizado o episódio para sua própria propaganda. Como escreveu o colunista da Folha Nelson de Sá, o temor é de que políticos tenham a partir de agora uma carta branca para negar os fatos.

Mas esta não foi a primeira vez em que a Ucrânia encenou mortes e sequestros, ainda que o caso tenha sido especialmente inesperado. Como lembrou o jornalista britânico Christopher Miller em sua conta na rede social Twitter, há ao menos três outros episódios recentes.

1. OLEKSEI HONTCHARENKO
As autoridades ucranianas forjaram em 2017 o sequestro de Oleksei Hontcharenko, um político alinhado ao presidente Petro Poroshenko. A ideia era usá-lo como isca para o crime organizado, interessado em sua morte. Hontcharenko é um conhecido crítico do governo russo.

2. ALEXANDER POGORELY
Em 2016, as forças de segurança da Ucrânia encenaram a morte do advogado Alexander Pogoreli para, como fez com Babtchenko nesta semana, capturar seu possível assassino. O caso, diz Miller, levou naqueles dias à manchete esdrúxula “advogado morto está vivo”.

3. UM EMPRESÁRIO ANÔNIMO
Um outro caso de destaque na imprensa foi a morte de um empresário do Azerbaijão, falsificada para capturar um conterrâneo em meio a uma disputa comercial. As autoridades ucranianas inclusive divulgaram um vídeo de seu carro explodindo no sudeste do país.