5 perguntas sobre o ataque químico na Síria
Com as acusações de outro ataque químico na Síria, culminando nos recentes bombardeios liderados pelos EUA, vocês Mundialíssimos leitores talvez evoquem uma pergunta legítima: o regime sírio ainda tem um arsenal químico? Afinal, alguns de nós se lembram que a Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas) recebeu o Nobel da Paz de 2013 devido a seu trabalho de desarmamento químico na Síria.
O debate em torno desse tema é fundamental para os próximos episódios da guerra civil síria, iniciada em 2011, e também influencia as relações entre potências como EUA, Rússia, Irã, França e Reino Unido. Mas o que de fato sabemos sobreo caso? Vejam abaixo cinco pontos:
DE QUE ATAQUE QUÍMICO ESTAMOS FALANDO?
O ataque em questão — “suposto” porque alguns atores políticos disputam sua veracidade — foi registrado em 7 de abril na cidade síria de Douma, um bastião rebelde. A Organização Mundial da Saúde afirmou que cerca de 500 pessoas foram tratadas por “sinais e sintomas condizentes com a exposição a produtos químicos tóxicos”. Ao menos 43 pessoas morreram devido a essa exposição, segundo a organização. EUA e aliados culpam o regime sírio de Bashar al-Assad.
MAS A SÍRIA AINDA TEM ARMAS QUÍMICAS?
O jornal britânico Guardian fez essa mesma pergunta nesta quarta-feira (18). Após um ataque químico em 2013, a Síria concordou em eliminar seu arsenal. Havia ameaças de um ataque americano, nunca realizado. Uma comissão conjunta entre ONU e Opaq supervisionou a destruição de um estoque de 1.300 mil toneladas. Em 2016, foi declarada a eliminação completa do arsenal. Mas havia já naquela época a suspeita de que 10% dos estoques estivessem escondidos.
QUEM DISCORDA DE QUE A SÍRIA É A CULPADA?
A Rússia tem insistido em que o ataque químico de Douma foi forjado. É a versão na boca de seus porta-vozes e na imprensa controlada por Moscou. Circulam nas redes sociais imagens sugerindo que os vídeos do ataque foram encenados — algo descartado, no entanto, por quem está no terreno na Síria, entre eles, jornalistas e grupos humanitários. A embaixadora do Reino Unido nas Nações Unidas, Karen Pierce, afirmou que as acusações russas são uma “mentira grotesca”.
HÁ REALMENTE ESPAÇO PARA A DÚVIDA?
Depende de a quem vocês perguntarem. Há algum consenso entre potências como EUA e França de que Assad é culpado. Mas diversas vozes alertam alguma cautela. Entre elas, a do jornalista brasileiro Guga Chacra, que escreveu uma coluna ao jornal O Globo sobre como uma ação química de Assad “não tem lógica”. “Para quê, aos 45 do segundo tempo, ele ordenaria um ataque químico cujo único resultado seria provocar os EUA, correndo o risco de ser bombardeado?”
MAS E QUANTO ÀS PROVAS? EXISTEM?
Os EUA e a França dizem ter provas, mas ainda não foram apresentadas evidências concretas relacionando o regime sírio ao ataque. Inspetores da Opaq (Organização para a Proibição de Armas Químicas) tentam agora entrar na região de Douma para recolher informações. A imprensa estatal síria diz que eles já chegaram, mas os EUA negam. Por enquanto, a maior parte das informações é repassada por atores locais.