Por que a eleição na Hungria é importante para a Europa?

Vocês acompanharam no último ano um rol e tanto de eleições europeias. A Holanda votou em março de 2017, por exemplo, e a França elegeu Emmanuel Macron dois meses depois. Houve pleito no Reino Unido, na Alemanha e na Itália também — e este Mundialíssimo blog esteve em todos esses países para narrar os seus desdobramentos.

Mas aguentem só mais um pouquinho, porque temos neste domingo (8) mais uma eleição no velho continente: a da Hungria. O premiê húngaro, o populista de direita Viktor Orbán, deve ser reeleito outra vez, após vencer em 2010 e em 2014. Mas vocês talvez estejam se perguntando por que, afinal, deveriam se ater a essas eleições, tão longe, e em uma semana já marcada pela crise política no Brasil?

Mas as eleições húngaras importam, e bastante, para o futuro político da União Europeia. Para lhes convencer, eis aqui cinco argumentos:

1. ORBÁN PODE PERDER SUA SUPERMAIORIA PARLAMENTAR
Ninguém duvida de que o premiê populista vai vencer o pleito. Uma pesquisa do instituto Republikon estima que o partido de Orbán, o Fidesz, terá 49% dos votos. O Jobbik, de direita ultranacionalista, terá 19% enquanto o Partido Socialista Húngaro, de centro-esquerda, terá 17%. Mas é possível que, ao contrário das duas últimas eleições, Orbán não tenha a supermaioria de mais de dois terços da Assembleia Nacional, chamada de Országgyulés. Foi com a supermaioria (hoje, de 131 cadeiras de um total de 199) que Orbán implementou medidas autoritárias nos últimos oito anos, sem oposição, e perdê-la pode impôr um freio a seu regime repressivo. Vizinhos contam com isso.

2. A OPOSIÇÃO PODE SE MOSTRAR MAIS COESA DO QUE ANTES
O partido de oposição mais bem avaliado, o radical Jobbik, tem menos de metade da intenção de voto de Orbán. O cenário é, portanto, pouco alentador para quem não quer reeleger o premiê. Mas, ao contrário das eleições de 2010 e de 2014, a oposição está melhor organizada neste ano. Um indício disso foi sua vitória nas eleições municipais de Hodmezovasarhely, que foi uma fortaleza de Orbán nos últimos 20 anos.  O problema é que, por representar correntes políticas tão díspares –ultranacionalistas e social-democratas– é pouco provável que os principais partidos de oposição consigam entrar em acordo para governar, caso surpreendam e tenham mais de metade dos votos.

Protesto contra o governo húngaro. Crédito Marko Djurica – 15.mar.2018/Reuters

3. O DISCURSO ANTI-MIGRAÇÃO PODE JÁ TER SE DESGASTADO
Orbán tem se ancorado, nos últimos anos, em uma retórica populista contrária a migrantes e refugiados. Esse discurso tem um forte apelo entre sua base mais fiel, como recentemente disse a este Mundialíssimo blog um dos principais analistas do país. Mas há indícios de que as campanhas anti-migração têm cada vez menos impacto no país, e surgem entre a oposição temas paralelos: em especial, o combate à corrupção. Isso é importante porque envia uma mensagem a outros países e partidos nacionalistas na região — não será possível se basear ad eternum neste mesmo tema eleitoral.

4. O RETROCESSO DE ORBÁN PODE AFETAR TAMBÉM A POLÔNIA
Se o premiê húngaro de fato perder assentos na Assembleia Nacional, sua –relativa– derrota também impactará países europeus como a Polônia, que seguem o modelo autoritário de Orbán. O governo polonês, como o húngaro, tem enfrentado a União Europeia em questões como desmatamento ilegal e absorção de refugiados. Esses países formam uma frente unificada crítica às autoridades do bloco econômico, em Bruxelas. Ver que seus discursos estão perdendo força será um golpe e poderá motivar reformulações de suas estratégias.

5. A FRENTE PRÓ-UNIÃO EUROPEIA PRECISA DE BOAS NOTÍCIAS
Os últimos dois anos não foram auspiciosos para quem defende a integração regional dentro da União Europeia. O Reino Unido, por exemplo, decidiu se separar do bloco. Os EUA, por sua vez, elegeram o isolacionista Donald Trump como presidente. Partidos populistas avançaram em grandes economias como a França, a Alemanha e a Itália. O possível baque a Orbán –ainda que ele siga governando, e forte– pode ser uma espécie de boa notícia ao bloco, e um reforço da ideia de que a população do continente ainda acredita em seu projeto.