O que ler para entender a crise catalã?

O ex-presidente catalão, Carles Puigdemont, foi detido pela polícia alemã no domingo (25) a pedido da Espanha. O líder separatista, foragido na Bélgica desde outubro, pode ser enviado a Madri. Acusado de rebelião, enfrenta a possibilidade de passar até 30 anos preso.

Este Mundialíssimo blog sabe que essa história pode parecer algo confusa a quem não acompanhou os primeiros capítulos, então propõe uma série de leituras para cobrir os principais meandros da crise.

1. ATRITO ESCALOU RAPIDAMENTE DESDE OUTUBRO
Uma das dificuldades em entender a crise separatista é a velocidade com que os últimos episódios se desenrolaram. Catalães realizaram um plebiscito em 1° de outubro, desafiando o governo central. A consulta venceu com 90% dos votos, mas foi considerada ilegal por Madri por não ter sido realizada em todo o território. Catalães declararam a independência em 27 de outubro e seu governo foi dissolvido.

2. EMBATE ENTRE MADRI E BARCELONA REMONTA A 2006
Apesar de o catalisador da crise separatista ter sido o plebiscito de outubro passado, o embate político entre Madri e Barcelona é um pouco mais antigo. O governo regional aprovou em 2006 seu estatuto de autonomia tratando da Catalunha como uma “nação”, o que à época enfureceu as autoridades espanholas. A Justiça anulou 14 artigos do texto, alimentando uma onda de protestos pela independência.

3. EXISTE UM HISTÓRICO SEPARATISTA NA CATALUNHA
Catalães se ressentem da derrota histórica de 1714, quando o rei espanhol Felipe 5 tomou Barcelona. O autor deste Mundialíssimo blog conversou recentemente com o historiador valenciano Joan Francesc Mira sobre esse processo. “O nacionalismo começou no século 19. O catalão é mais um.  Tchecos, eslovacos, lituanos, finlandeses, irlandeses conseguiram isso. Mas a Catalunha, não”, afirmou o especialista.

4. MADRI E BARCELONA TÊM PERSPECTIVAS DISTINTAS
O embaixador espanhol em Brasília, diz que o projeto separatista catalão tem como um de seus objetivos esconder as inúmeras denúncias de corrupção contra o governo regional. Albert Royo, que foi assessor internacional da Catalunha, tem outra perspectiva: ele diz que a Espanha dinamitou o diálogo com os separatistas, levando ao embate. Essas duas entrevistas mostram os abismos entre as partes.

5. ESPANHA SUBESTIMOU O NACIONALISMO CATALÃO
Em uma terceira opinião, Albert Rivera, líder do partido centrista Cidadãos, argumenta que a Espanha subestimou o nacionalismo catalão. Rivera é ele próprio catalão, e seu partido foi o mais votado nessa região em dezembro passado. A este repórter ele disse que “o governo atual e o de José Luis Zapatero foram os que mais subestimaram o poder do nacionalismo, de sua propaganda”.

6. PUIGDEMONT VEIO DAS MARGENS DA POLÍTICA CATALÃ
Detido na Alemanha, Puigdemont hoje parece ser a grande figura do separatismo catalão. Mas ele era até recentemente um nome às margens do processo nacionalista, como mostra seu perfil. Filho de padeiros de uma comunidade rural próxima à fronteira com a França, não pertence à elite local. Ele foi convidado em janeiro de 2016 para comandar uma coalizão, resolvendo um impasse entre governistas.

7. NEM TODOS OS CATALÃES QUEREM A INDEPENDÊNCIA
Na verdade, o apoio à secessão tem diminuído nos últimos meses. Essa é justamente uma das dificuldades do processo separatista, que não é visto como uma reivindicação consensual. Catalães contrários à independência argumentam que se descolar da Espanha seria um erro histórico. “Para que sairíamos da União Europeia, do euro? Para vender produtos como se fôssemos argentinos?”, pergunta um deles.