Por que regimes autoritários realizam eleições?

Egípcios vão às urnas daqui a um mês, em 26 de março, sem muita perspectiva de se surpreenderem com o resultado. O atual presidente, Abdel Fattah al-Sisi, deve ser reeleito sem dificuldades. Sisi concorre com um só candidato, Moussa Mustafa Moussa, que no Facebook defende a candidatura de… Sisi. Os demais cinco candidatos foram detidos ou desistiram de concorrer.  Organizações de defesa dos direitos humanos dizem que esse pleito será, assim, uma farsa.

Esse tipo de situação leva a uma pergunta recorrente: por que realizar eleições se não há possibilidade de mudança? Foi o questionamento feito, por exemplo, quando Bashar al-Assad concorreu à Presidência da Síria em 2007 — foi o único candidato e venceu com 97,62% dos votos.

Este Mundialíssimo não tem uma resposta para esta pergunta. Mas o sociólogo egípcio Amro Ali tem. Ele publicou a seguinte lista de tuítes neste domingo explicando por que autoritários gostam de ser eleitos:

1. “Uma questão frequentemente feita: por que ditadores realizam eleições quando é óbvio a todos quem será o vencedor? Os seguintes tuítes não se aplicam apenas às eleições egípcias, mas a ditaduras em geral que realizam eleições. Pela própria natureza de sua posição, ditadores projetam extrema insegurança, pois sua legitimidade não vem de uma representação popular ou da prestação de contas democrática, mas do apoio das elites e do establishment de segurança.”

 

 

2. “Ditaduras podem acabar largamente descoladas do público. Com a Primavera Árabe de pano de fundo, a ideia de não estar em contato com a população incomoda os líderes. Mas, em vez de ganhar legitimidade, preferem fabricá-la. Eleições em ditaduras sinalizam a apoiadores por que razão precisam ser cooptados e sinalizam a oponentes que o amplo apoio ao regime leva a mais repressão. Com um toque de ironia, eleições podem prolongar ditaduras.”

 

 

3. “Eleições em ditaduras sinalizam ao mundo que um ‘mandato popular’ foi renovado e que o establishment está unido em torno do chefe de Estado. Líderes internacionais precisam lidar com ele, e não com um ministro da Defesa, com um líder popular de oposição etc. É também ligeiramente mais sedutor (apesar de ainda cômico) que um ditador diga ‘meu povo me apoia e é por isso que eu venci as eleições recentes’ em vez de apenas repetir a fala de que ‘meu povo me apoia’.”

 

 

4. “Eleições em ditaduras oferecem uma certa maneira ‘digna’ para que ditadores expurguem simpatizantes de destaque e reembaralhem os ministros de seu gabinete. Isso dá ao público a ilusão de que existe um ‘reset’ e que os problemas econômicos devem ser atribuídos apenas a esses ministros. Uma eleição em uma ditadura permite que um regime teste a força de uma oposição e aprenda mais sobre ela. O período após as eleições significa que o aparato de segurança vai se reorganizar para intimidar oponentes, tanto reais quanto potenciais.”