Qual é a importância da Mesquita Corcunda, destruída em Mossul pelo Estado Islâmico?

A Corcunda desmoronou. A organização terrorista Estado Islâmico destruiu a Mesquita de al-Nuri, um dos símbolos do Iraque. O templo era conhecido por seu minarete inclinado, pelo qual era apelidado. É uma enorme perda para o patrimônio cultural do país, e sua queda marca também um novo momento da milícia radical, que amarga nestes meses importantes derrotas territoriais.

Havia sido justamente ali que Abu Bakr al-Baghdadi oficializara seu auto-proclamado califado islâmico em meados 2014, depois do anúncio feito por seu porta-voz, Abu Mohammad al-Adnani. O Exército iraquiano está prestes a tomar essa região de Mossul, razão pela qual o Estado Islâmico preferiu destruir o local. O gesto é sinal de que a milícia já dá por perdida a batalha em Mossul.

A Mesquita de al-Nuri foi construída pela primeira vez no século 12. Seu estabelecimento está relacionado a Nur al-Din Zangi, uma figura histórica admirada por Baghdadi. Nur al-Din Zangi, que antecedeu Saladino, é conhecido por ter unificado forças muçulmanas para enfrentar os cruzados.

A construção foi renovada pelo império safávida no século 16, mas seu minarete em estilo persa já estava curvado quando o célebre viajante Ibn Battuta visitou a cidade no século 14. O explorador Grattan Geary descreveu a construção no século 19 como “um homem se curvando”. É da inclinação da torre que vem o apelido da cidade de Mossul, conhecida como al-Hadba, a Corcunda — a situação foi piorada depois de bombardeios nos anos 1980 durante a guerra entre Irã e Iraque.

A Mesquita de al-Nuri em 1932.

O minarete é curvo provavelmente devido à ação do vento ou à expansão dos tijolos pelo calor. Há também diversas tradições sobre a razão do encurvamento. Muçulmanos dizem que a torre se inclinou em reverência ao profeta do islã, Maomé, que teria passado por ali rumo ao Paraíso. A explicação esbarra no fato de que a viagem de Maomé teria ocorrido antes, no século 7. Cristãos sugerem que o minarete aponte para a suposta tumba da Virgem Maria, nos arredores.

A Mesquita de al-Nuri era um dos símbolos do Iraque e estampa, segundo o “New York Times”, a nota de 10 mil dinares. O Estado Islâmico destruiu diversos dos patrimônios históricos do país, incluindo a tumba do profeta Jonas, o museu de Mossul e as ruínas de Nimrud. Milhares de livros e pergaminhos foram destruídos também, em um prejuízo histórico ainda não estimado.