O que esperar do discurso de Trump sobre o islã?
Este pode ser uma daqueles constrangimentos com dia marcado: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fará um discurso sobre o islã quando visitar a Arábia Saudita no fim deste mês.
Sim. O mesmo presidente que deu diversas declarações islamofóbicas e defendeu impedir a entrada de muçulmanos no país vai falar a uma plateia no território em que o profeta Maomé nasceu e pregou, durante o século 7, e onde estão localizadas as cidades sagradas de Meca e Medina.
O discurso foi anunciado na terça-feira (16) como parte de seu primeiro périplo internacional, com paradas também no Vaticano e em Jerusalém — portanto, os centros das três religiões abraâmicas.
Trump vai se reunir com o rei Salman e líderes muçulmanos de toda a região e falar em público sobre a necessidade de unir países islâmicos contra o terrorismo, que um de seus porta-vozes descreveu como “o inimigo comum de toda a civilização”. O discurso será “inspirador mas direto”.
A decisão é estratégica. Trump quer mostrar, com a viagem, que não há má vontade entre seu governo e o islã. O presidente vai insistir em que o problema não é a religião, mas especificamente o radicalismo. O chanceler da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, disse a repórteres americanos neste mês que a visita “coloca um fim à ideia de que os Estados Unidos são islamofóbicos” — apesar da proposta feita por Trump em 2015 de uma “interrupção completa da entrada de muçulmanos”.
O discurso vai ser acompanhado por todo o mundo muçulmano, como foi também a fala do ex-presidente Barack Obama no Cairo em 2009, um dos marcos de sua relação com o Oriente Médio. Mas, desta vez, com a expectativa de que o evento seja marcado por deslizes — em um país especialmente sensível a visões destoantes — e que aumente, em vez de diminuir, os atritos.