Por que o voo do premiê israelense Binyamin Netanyahu desviou da Indonésia?

Diogo Bercito

É a primeira vez que um premiê israelense visita a Austrália, mas a viagem de Binyamin Netanyahu nesta quarta-feira (22) foi notícia na imprensa internacional por outro motivo: seu voo entre Cingapura e Sidney levou 11h. Essa viagem costuma durar 8h30.

A informação aparece em um serviço de rastreamento de aeronaves. O jornal britânico “Guardian” confirmou com a equipe do premiê que a viagem foi de fato alongada. O avião foi provavelmente obrigado ao desvio para evitar o espaço aéreo da Indonésia, o país muçulmano mais populoso do mundo, com cerca de 240 milhões de habitantes. Netanyahu viajava com a companhia aérea israelense El Al, que não costuma sobrevoar países islâmicos.

O périplo alongado do premiê dá conta das complicadas relações diplomáticas israelenses. A Indonésia não tem laços formais com Israel, mas tampouco exige visto a seus cidadãos viajando a turismo, como medida de incentivo econômico. Israel, por outro lado, tem tentado se aproximar do gigante muçulmano — Netanyahu teria dito a jornalistas indonésios ter amigos de Facebook daquele país, em um comentário que causou algum desconforto.

Biniyamin Netanyahu, à esq., e o premiê australiano. Crédito John Reed/Reuters

O estabelecimento das relações entre Israel e Indonésia não deve ser tão simples. A Indonésia respondeu às sugestões de Netanyahu dizendo que os laços só seriam normalizados no caso de que a população palestina tivesse seu próprio Estado. É um cenário cada vez menos provável, depois que os EUA de Donald Trump sinalizaram já não ter interesse em promover uma solução de dois Estados para o conflito entre israelenses e palestinos.

Como lembra o jornal americano “Washington Post”, o trajeto Cingapura-Austrália não foi o único a ziguezaguear pelo mapa-múndi. A viagem de Israel a Cingapura também seguiu estranhos caminhos, desviando a Arábia Saudita e do Iêmen.