Estes 78 ataques terroristas foram realmente ignorados pela imprensa?

O presidente americano, Donald Trump, afirmou erroneamente na segunda-feira (6) que 78 ataques terroristas foram ignorados pela imprensa entre setembro de 2014 e dezembro de 2016. Sua tese é de que a mídia relata menos atentados do que o ocorrido e, portanto, faz com que a ameaça terrorista pareça menos grave. A afirmação está relacionada às polêmicas tentativas do presidente de vetar a entrada de cidadãos de sete países de maioria islâmica.

A declaração foi imediatamente contestada pela imprensa. Diversos veículos, como o americano “New York Times”, publicaram reportagens listando a cobertura de cada um dos ataques citados pelo governo. O “New York Times”, por exemplo, relatou a imensa maioria dos atentados — e sua lista corrige os erros de digitação que constavam do texto da Casa Branca. O USA Today publicou uma relação de mais de 200 reportagens sobre os tais ataques esquecidos.

A lista oficial, reproduzida pelo jornal “Washington post”, incluía além disso diversas ações que foram não apenas cobertas pela imprensa, mas que estiveram nas capas dos diários durante dias. Um exemplo são os ataques de novembro de 2015 em Paris, que deixaram 130 mortos. A Casa Branca também reclamou que as explosões em Bruxelas em março de 2016 e o ataque a tiros em San Bernardino em dezembro de 2015 não foram cobertos, o que não é verdade.

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com repórteres. Crédito Mandel Ngan/AFP
O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com repórteres. Crédito Mandel Ngan/AFP

O porta-voz de Trump, Sean Spicer, afirmou posteriormente: “Ele sente que os membros da mídia nem sempre cobrem esses acontecimentos tão amplamente quanto outros acontecimentos são cobertos. Por exemplo, um protesto é noticiado de modo exagerado, mas um ataque ou um ataque frustrado não recebem a mesma cobertura”.

O governo americano não incluiu na lista, por outro lado, diversos ataques realizados contra muçulmanos, que são as principais vítimas de organizações terroristas como o Estado Islâmico. Ficaram de fora, por exemplo, duas explosões que deixaram dezenas de mortos em Beirute em novembro de 2015, ou a onda de violência promovida pelo Boko Haram na Nigéria. Sumiram ainda da lista da Casa Branca os ataques realizados por não muçulmanos.