Quem ganha e quem perde com a desvalorização da libra esterlina?

A decisão britânica de separar-se da União Europeia, conhecida como “brexit”, deu um chute na cara da libra esterlina. Na quarta-feira (12), a moeda já tinha se desvalorizado 18% em relação ao dólar, na comparação com os índices anteriores ao fatídico referendo de 23 de junho. Enquanto este Mundialíssimo post era escrito, a libra valia 1,1 euro, ou R$ 3,9. Segundo o “Wall Street Journal”, a moeda nunca valeu tão pouco na comparação com a cesta de outras moedas globais, nem mesmo nas agudas crises das décadas passadas.

Na semana passada, a moeda chegou ao ponto baixo de transformar-se em um “meme”. O gráfico de sua relação com o dólar foi comparado com a imagem de um camelo vomitando, um padrão econômico popularizado há alguns anos no mercado do ouro — dois picos, uma queda brusca e um último pico antes de despencar.

Mas, a não ser que vocês leitores tenham recebido o recém-anunciado prêmio Nobel de Economia, provavelmente estão se perguntando: quem ganha e quem perde nesse cenário, e o que a queda da libra significa para mim?

Vamos lá:

PERDEU, PLAYBOY
Segundo o jornal britânico “Guardian”, os motoristas britânicos são um dos derrotados pelo camelo vomitando libras. Há previsão de aumento no custo do combustível, negociado em dólares. Varejistas também serão prejudicados, já que o custo da importação vai aumentar. Viajantes britânicos são outras vítimas da desvalorização da moeda — o câmbio em aeroportos já está trocando um euro por uma libra. Por fim, pensionistas vivendo fora do Reino Unido (são 100 mil só na Espanha) verão suas aposentadorias serem desvalorizadas, com menor poder de compra: no ano passado, as 120 libras semanais valiam 170 euros, mas agora valem 131 euros.

GANHOU!
O infame camelo vomitador beneficia, por outro lado, quem investiu no mercado de ações. O índice FTSE 100 subiu 22% desde as baixas registradas após o resultado do referendo. Exportadores também podem se dar bem, com seus produtos ficando mais baratos no exterior. Vencem, ainda, os estrangeiros que compram propriedade no Reino Unido — o “Guardian” afirma haver aumento nas consultas de investidores chineses, por exemplo.

E EU?
Você talvez não dirija no Reino Unido nem compre ações, muito menos propriedades em Londres. Mas a desvalorização da libra estimula, por exemplo, o intercâmbio. A Folha publicou em julho uma reportagem sobre como já há aumento no interesse por programas no Reino Unido. “Paguei R$ 5.100 pelo curso, com estadia em casa de família e meia pensão, em dez parcelas sem juros”, disse uma bancária. “Há um ano, o mesmo pacote custava cerca de R$ 9.000.”