Por que a Rússia está distribuindo terra de graça?
Se algum de vocês, mundialíssimos leitores, for um cidadão russo e precisar de um recanto — atenção. De acordo com o jornal “Moscow Times”, o presidente Vladimir Putin assinou na segunda-feira (2) um decreto que oferece terra nesse país. De graça, mesmo, e sem pagar impostos. Yay!
O detalhe nas letras miúdas é que os terrenos disponíveis estão em províncias no extremo leste do país, como os distritos de Kamchatka, Primorye, Khabarovsk e Amur. Procurei no Google imagens da península de Kamchatka para ilustrar este texto, e a única fotografia que me pareceu relevante foi esta:
Também me chamou a atenção a notícia publicada em 2013 pela RT sobre ataques de ursos em uma remota região leste. Segundo a reportagem, dezenas de ursos foram vistos próximos ao vilarejo de Ryrkaypy. A leitura pode interessar a quem estiver cogitando aceitar a oferta do governo russo e mudar-se para as regiões extremas do país.
Aos desconfiados, cabe também a pergunta deste post: por que a Rússia está oferecendo terra de graça?
O programa, segundo o diário “Moscow Times”, é uma entre diversas iniciativas para incrementar a economia no leste russo. É uma região, segundo o jornal americano “Washington Post”, “rica em recursos naturais”, apesar de pouco explorada. Sua população tem origem em tribos indígenas espalhadas pelo território e em exilados políticos da União Soviética.
Para além dessa questão, uma das preocupações russas é sua fronteira com a China. O governo de Putin preocupa-se com os números dessa região. Há 7,4 milhões de russos em todo o extremo leste do país. Do outro lado da fronteira, no território chinês, há 100 milhões de pessoas. A Rússia, assim, tem passado por um processo de transformação, com a entrada de empresários chineses e o surgimento de comunidades de trabalhadores chineses. A meta é ter 36 milhões de russos por ali.
Segundo a lei assinada por Putin, todo cidadão russo pode candidatar-se para receber um hectare de propriedade pública. O terreno tem que ser utilizado durante os próximos cinco anos. Depois desse prazo, se provarem que a terra teve uso produtivo, os donos podem alugar ou vender a propriedade. A rede britânica BBC resume os detalhes da oferta.
Ainda segundo a BBC, há um debate sobre a viabilidade do projeto. Um hectare de terra não é o suficiente para a agricultura, dizem alguns críticos. Moradores das regiões preocupam-se, também, com a chegada em massa de forasteiros. Houve voto regional para participar ou não da iniciativa do governo.